A soja, conhecida cientificamente por Glycine max, é muito mais que simplesmente uma cultura agrícola ou uma commodity global. Economicamente, ela desempenha um papel crucial, fornecendo proteína vegetal para bilhões de pessoas e servindo de matéria-prima para inúmeros produtos.
No contexto agrícola, a soja é o alicerce de muitas regiões produtoras, sendo, uma peça-chave na economia brasileira, que é a maior produtora e exportadora mundial do grão. Mas quão profundamente você compreende os detalhes da cultura e do sistema de produção?
Quais são as melhores estratégias para obter sucesso na produção de soja? Como extrair o máximo potencial produtivo da cultura? Como manter a qualidade dos grãos após a colheita? Como este produto é processado e utilizado? Como o preço de venda da soja é determinado?
Este guia completo com 8 seções ajudará você a desvendar todos os aspectos da cultura da soja. Vamos explorar desde os fundamentos até as estratégias de sucesso, para que você possa dominar essa commodity essencial.
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1. Origem e importância socioeconômica da soja
O centro de origem da espécie Glycine max (L.) Merrill Ásia, mais especificamente da China Antiga, por volta de 2.383 a.C. Contudo, existem registros de seu cultivo datando de pelo menos 5.000 anos, quando essa planta da família Fabaceae era utilizada no consumo humano como importante fonte de proteína.
A soja, no entanto, só chegou às Américas no século XVIII, quando missionários jesuítas espanhóis e portugueses levaram a planta para a América do Sul, incluindo o Brasil. Ela se adaptou bem ao clima e ao solo do país, especialmente nas regiões do Centro-Oeste e Sul, e gradualmente se tornou uma cultura agrícola importante.
A produção comercial de soja no Brasil só ganhou impulso nas décadas de 1960 e 1970, devido à redução da safra na Rússia e à incapacidade dos Estados Unidos de suprir a demanda mundial.
A migração de produtores do café para o cultivo da soja após uma grande geada em 1975 também contribuiu para o crescimento da cultura no país.
O Brasil se tornou competitivo no mercado internacional devido à adoção de genótipos adaptados, condições climáticas favoráveis, práticas modernas de manejo e investimentos em infraestrutura.
Os Estados Unidos, foram, até 2017 o maior produtor mundial de soja, sendo posteriormente ultrapassados pelo Brasil. Mas o que tornava os norte-americanos tão importantes como produtores? No artigo: Soja nos EUA: 6 segredos do sucesso listamos fatores como: clima, fertilidade do solo, proteção foliar, genética, espaçamento entre linhas e tratamento de sementes como favorecedores da produção.
Mas o Brasil mudou esse cenário. Atualmente, somos o maior produtor e exportador mundial de soja e a oleaginosa é um dos principais produtos agrícolas do País, desempenhando um papel significativo na economia nacional. Na safra de 2022/2023 a produção brasileira foi superior a 153 milhões de toneladas – 42% da produção mundial.
2. Ecofisiologia e exigências edafoclimáticas para a cultura da soja
A ecofisiologia vegetal é a ciência que explora os processos vitais das plantas em resposta às mudanças nos fatores ambientais. Na produção de biomassa, a fotossíntese desempenha um papel crucial, sendo influenciada por diversos fatores, incluindo a radiação solar, temperatura, umidade e duração da luz solar.
O crescimento da soja depende da sua capacidade de interceptar a luz solar, aumentando a taxa de fotossíntese à medida que produz biomassa foliar. Durante seu ciclo fenológico, a soja utiliza os carboidratos resultantes da fotossíntese para desenvolver raízes, hastes, folhas, inflorescências, vagens e grãos.
À medida que a planta cresce em condições favoráveis de temperatura, umidade, fotoperíodo e radiação solar favorecemos a sua produtividade.
Assim, a escolha da época de semeadura é crucial para aproveitar essas interações ecofisiológicas. A época de semeadura deve coincidir com a disponibilidade adequada de luz, temperatura e umidade para atender às necessidades da cultura, considerando o fotoperíodo crítico da cultivar.
3. Preparo do solo
O preparo do solo é o conjunto de práticas agrícolas realizadas antes do plantio com o objetivo de propiciar as condições ideais para o crescimento saudável das plantas. A seguir estão elencadas algumas das etapas que devem ser verificadas antes da implantação da cultura da soja:
Análise de solo e correção da acidez
No período de entressafra é importante realizar a análise do solo para diagnóstico da fertilidade e determinação da necessidade de correção da acidez do solo e adubação da cultura.
Após tal análise é preciso realizar a interpretação da análise de solo e determinar a necessidade de calcário que deve ser aplicado e a quantidade de nutrientes que devem ser fornecidos via adubação.
Como explicado neste artigo “CALAGEM: por que preciso fazer todo ano? 7 causas da acidificação dos solos” a acidificação do solo é um processo natural que ocorre gradualmente e precisa ser corrigido periodicamente.
A calagem é a operação de maior custo-benefício que o produtor pode realizar na área, sendo fundamental para a construção da fertilidade ao longo do perfil do solo.
Ela garante, além do fornecimento de cálcio e magnésio, que o solo seja capaz de reter nutrientes catiônicos de interesse (fornecido via fertilizantes) para que a planta possa os absorvê-los conforme sua demanda nutricional. Além disso, garante a neutralização do alumínio, extremamente tóxico às plantas.
Dependendo das condições de solo pode ser necessária a gessagem. Para correção do teor de alumínio em profundidade (acima de 20 cm) e fornecimento de enxofre.
Práticas de conservação do solo
A conservação do solo é importante para a preservação do principal recurso natural do sistema de produção: o solo. Dois pontos de atenção aqui são: a compactação do solo e a erosão – ambos com potencial de afetar negativamente a produtividade agrícola e a qualidade do solo.
A compactação do solo ocorre quando o solo é pressionado ou pisoteado com força excessiva, resultando na compressão das partículas do solo. Isso pode prejudicar a aeração e a permeabilidade do solo, tornando-o menos capaz de absorver água e nutrientes. A compactação do solo afeta negativamente o crescimento das raízes das plantas e pode gerar perdas de até 20 sacas/hectare para a soja.
Para evitar esse problema, é fundamental utilizar técnicas como a rotação de culturas e a adoção de práticas de cultivo mínimo. Além disso, o uso de equipamentos agrícolas adequados e a redução da circulação em áreas úmidas são medidas que ajudam a prevenir a compactação do solo.
A erosão do solo, por sua vez, refere-se à remoção gradual da camada superior do solo devido a fatores como a água da chuva, o vento e a atividade humana. Essa perda de solo é prejudicial, pois carrega nutrientes essenciais para as plantas e pode resultar na degradação da qualidade do solo ao longo do tempo.
Para combater a erosão, práticas como o terraceamento e plantio em nível devem ser adotadas.
Dessecação das plantas de cobertura
É muito importante realizar uma adequada dessecação das plantas de cobertura em sistemas de plantio direto que envolvem culturas sucessivas, como soja e milho. Tal prática ajuda no controle de pragas e doenças, protege o solo contra a erosão, além de propiciar a ciclagem de nutrientes.
A dessecação deve ocorrer de 20 a 30 dias antes da semeadura das culturas comerciais. Dessecação muito próxima à semeadura pode prejudicar a produtividade e causar efeitos alelopáticos nas culturas, afetando negativamente o crescimento inicial da cultura de interesse.
4. Implantação da lavoura de soja
A implantação da lavoura de soja é um processo crucial que requer atenção a detalhes importantes para garantir uma safra saudável e produtiva.
Vamos discutir neste tópico as etapas essenciais para a implantação da cultura da soja, abordando os tópicos-chave relacionados a diferentes aspectos do processo.
Época de plantio: calendário de semeadura da soja
No Brasil o calendário de semeadura da soja é determinado por Portaria do MAPA (este ano, a Portaria Nº 840) e ocorre após um período chamado de “vazio sanitário”, que é uma medida fitossanitária equivalente ao período definido e contínuo de 90 dias ou mais sem a presença de plantas vivas de soja na área.
Tal medida tem o intuito de diminuir a quantidade de inóculos do fungo biotrófico Phakospsora pachyrhizi causador da ferrugem asiática da soja – principal doença da cultura que pode causar até 90% de perdas de produtividade nas lavouras.
Em 2023, o primeiro estado com data liberada para o plantio na safra principal foi o estado do Paraná, a partir de 11 de setembro. Para os estados de SP, MT, MS essa data foi 16 de setembro, e para o RS em 1 de outubro.
Tratamento de sementes e inoculação
O primeiro passo para garantir a sanidade da lavoura é utilizar sementes tratadas e inoculadas.
O tratamento de sementes envolve a aplicação de produtos químicos (como fungicidas), biológicos ou outros nas sementes antes do plantio, com o propósito de protegê-las contra pragas, doenças e outros fatores que podem prejudicar seu desenvolvimento.
Os benefícios do tratamento de sementes são diversos, incluindo o aumento da germinação e vigor das sementes, melhoria na emergência das plântulas e aumento da resistência das plantas a doenças e pragas. Além disso, o tratamento adequado das sementes pode reduzir a necessidade de defensivos agrícolas, diminuindo os custos de produção e o impacto ambiental da atividade agrícola.
A inoculação das sementes, por sua vez, consiste na aplicação de doses de inoculantes que contém a bactéria Bradyrhizobium japonicum, responsável pela fixação nitrogenada na cultura da soja, que garante o fornecimento de todo o nitrogênio necessário durante o ciclo de desenvolvimento das plantas.
Plantabilidade: você está fazendo certo o plantio?
A plantabilidade, que se refere à distribuição uniforme de sementes ao longo do sulco de plantio, desempenha um papel crítico na cultura da soja. Três fatores definem a plantabilidade: a uniformidade na distribuição das sementes, a população correta e a profundidade adequada.
A uniformidade na distribuição de sementes é essencial para o potencial de rendimento da lavoura, já que qualquer falha no plantio pode resultar em perdas significativas de produtividade. Além disso, a profundidade adequada de plantio, geralmente entre 3 a 4 centímetros, é crucial para o sucesso da soja, considerando o tipo de solo e umidade.
A ausência de uniformidade no plantio pode levar a problemas como falhas duplas, afetando negativamente a competição por recursos entre as plantas. Além disso, a velocidade de plantio desempenha um papel importante, pois está diretamente relacionada à uniformidade das sementes no solo.
Para garantir a plantabilidade adequada, é essencial considerar fatores como a qualidade das sementes, regulagem e manutenção das máquinas, tipo de solo e umidade no momento do plantio.
5. Tratos culturais e manejo integrado de pragas e doenças na cultura da soja
A adoção de práticas de manejo integrado que abordem tanto os aspectos culturais quanto a gestão de pragas e doenças é fundamental para uma produção de sucesso.
Neste tópico, exploraremos os principais tratos culturais e estratégias de manejo que os produtores de soja podem implementar para otimizar a produção e minimizar perdas:
Rotação de Culturas
A rotação de culturas é uma prática eficaz que ajuda a interromper o ciclo de vida de pragas e doenças específicas da soja. Alternar a soja com outras culturas, como milho ou trigo, pode reduzir a pressão desses organismos e melhorar a saúde do solo.
Escolha de Variedades Resistentes
Optar por variedades de soja que possuam resistência genética às principais pragas da cultura como lagartas e brocas é uma estratégia eficaz de manejo. Algumas variedades também oferecem tolerância a herbicidas como glifosato e dicamba. As empresas de sementes frequentemente oferecem variedades com resistência incorporada.
Um desses exemplos é a soja Intacta 2 XTEND, que possui resistência a lagartas e a tolerância ao herbicida dicamba.
Principais pragas e doenças da cultura da soja
As principais pragas da cultura da soja incluem:
Lagartas
- Complexo de Spodopteras (S. frugiperda, S. cosmioides, S. eridania)
- Helicoverpa (Helicoverpa armigera)
- Falsa-medideira (Chrysodeixis includens e Rachiplusia nu)
- Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
Ácaros
- Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus)
- Ácaro-vermelho (Tetranychus desertorum)
- Ácaro-rajado (Tetranychus urticae)
- Percevejo-marrom (Euschistus heros)
- Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii)
- Percevejo-verde (Nezara viridula)
- Percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus e D. furcatus)
Outras pragas:
- Tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus),
- Vaquinha-verde-amarela (Diabrotica speciosa)
- Mosca-branca (Bemisia tabaci)
- Nematoide das galhas (Meloidogyne sp.);
- Nematóide dos cistos (Heteredore glycines)
- Nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus)
- Nematoide reniforme (Rotylenchus reniformis)
Na figura 2 se encontram as principais pragas, bem como a época do ciclo de cultivo em que é mais comum ocorrer o ataque.
Por sua vez, as principais doenças são:
- Ferrugem asiática da soja (Phakospsora pachyrhizi);
- Mancha-alvo (Corynespora cassiicola)
- Antracnose (Colletotrichum truncatum)
- Mancha olho de rã (Cercospora sojina)
- Mancha-parda ou septoriose (Septoria glycines)
- Oídio (Microsphaera diffusa)
- Mofo-branco (Sclerotinia scletotiorum)
- Crestamento foliar de cercospora e mancha púrpura da semente (Cercospora Kikuchii)
Cada doença ataca em um período específico do ciclo da soja. A maior parte das doenças ocorrem no final do ciclo da soja. Veja na figura 3, o período de ocorrência de cada doença na cultura.
Outro problema que vem crescendo nas últimas safras nas lavouras do Mato Grosso é a podridão de grãos e vagens e quebramento em hastes de soja cuja causa ainda é pesquisada.
Monitoramento no campo
O monitoramento da lavoura no campo ao longo do ciclo de cultivo é essencial para identificar rapidamente a presença de pragas e doenças na lavoura. O uso de armadilhas, inspeções regulares e ferramentas de monitoramento digital pode ajudar a detectar problemas antes que eles se tornem graves.
Manejo de plantas Daninhas
O controle de plantas daninhas é importante para evitar a mato-competição com a soja. Métodos químicos, mecânicos e biológicos podem ser empregados, dependendo das necessidades específicas.
Atualmente, dentre as plantas daninhas mais problemáticas da cultura da soja, destaca-se o capim-amargoso (Digitaria insularis) e a buva (Conyza bonariensis), cujo grande entrave no controle é o desenvolvimento de resistência da espécie ao herbicida glifosato.
Controle químico
Quando necessário, o uso de defensivos agrícolas, como fungicidas e inseticidas, deve ser feito com responsabilidade e seguindo as recomendações técnicas. Procure sempre um Engenheiro Agrônomo para orientação técnica.
O manejo integrado de pragas desse sempre ser adotado e visa minimizar a dependência de produtos químicos e buscar controles alternativos, como o controle biológico.
Estratégias de Controle Biológico
A introdução de inimigos naturais das pragas, como insetos predadores, pode ser uma alternativa sustentável ao controle químico. Isso promove o equilíbrio ecológico na lavoura.
O uso de controle biológico para o controle dos nematoides foi profundamente abordado neste nosso artigo: Controle biológico de nematoides: 5 microrganismos utilizados como bionematicidas no Brasil .
6. Manejo nutricional da soja e efeitos dos estresses abióticos na produtividade da cultura
A nutrição adequada da soja é importante para obtenção de altas produtividades e influencia a qualidade dos grãos. Além disso, pode ajudar a planta a enfrentar estresses bióticos e abióticos.
Nesta seção, vamos tratar sobre alguns aspectos importantes no manejo nutricional e algumas estratégias que podem minimizar os danos causados por estresses.
Manejo de macronutrientes na cultura da soja
O manejo nutricional da soja é realizado com base em critérios técnicos que avaliam a fertilidade do solo.
- Nitrogênio: fornecido via Fixação biológica de N
A soja possui capacidade de adquirir todo o nitrogênio necessário para o seu crescimento e desenvolvimento através da fixação biológica de nitrogênio. que ocorre nos nódulos radiculares em simbiose com bactérias do gênero Bradyrhizobium. Portanto, a recomendação técnica para o manejo do nitrogênio na cultura da soja inclui a correta inoculação com essas bactérias.
- Fósforo e Potássio:
A recomendação de adubação para fósforo (P) e potássio (K) deve levar em consideração a fonte, a dose, a forma e a época de aplicação desses nutrientes. Além disso, as recomendações variam de acordo com o teor de argila no solo e a capacidade tampão de fósforo (CTP) para o P, bem como o teor de potássio no solo para o K.
As recomendações variam de estado para estado, de acordo com o boletim de recomendação de adubação de cada região.
Em solos com baixos teores de fósforo é recomendado fazer uma adubação corretiva ou fosfatagem, visando elevar os níveis desse nutriente até o limite mínimo adequado para a cultura da soja.
Em solos com teores adequados ou altos de fósforo, é indicada a adubação de manutenção, que visa repor a quantidade de fósforo exportada pela cultura. A quantidade recomendada depende da expectativa de produção.
A adubação potássica deve ser feita de acordo com a disponibilidade de potássio no solo. É importante avaliar a interpretação dos níveis de potássio no solo e ajustar a adubação de acordo com a produtividade esperada. Caso o produtor deseje realizar a aplicação de potássio a lanço deve-se atentar para os critérios necessários para a aplicação de potássio a lanço.
Análise foliar na cultura da soja
Realizar a análise foliar da soja é importante para detecção do estado nutricional da cultura e definição de necessidades nutricionais que podem ser sanadas, por exemplo através da utilização da adubação foliar.
De acordo com a Embrapa, a época ideal para a coleta de folhas varia dependendo do tipo de crescimento das cultivares de soja.
- Para as cultivares de crescimento determinado, a amostragem deve ser realizada no início do florescimento/florescimento pleno (Estádios R1 e R2).
- Já para as cultivares de crescimento indeterminado, a amostragem deve ocorrer no estádio R2, podendo ser estendida até o início do estádio R3, desde que as plantas estejam no estádio vegetativo V8/V10
Quais folhas coletar? Para obter uma amostragem representativa do campo de soja, colete o terceiro ou quarto trifólio da haste principal de no mínimo 25 plantas. Essas folhas devem ser coletadas sem o pecíolo, e é importante garantir que estejam livres de poeira e de possíveis contaminações por produtos aplicados via foliar.
As folhas coletadas devem ser acondicionadas em sacos de papel para secagem à sombra.
Manejo de macronutrientes na cultura da soja
Os micronutrientes são importantes para nutrição da cultura da soja, com destaque para o boro (B), cobre (Cu), manganês (Mn), zinco (Zn) e ferro (Fe).
A faixa de disponibilidade de micronutrientes no solo acompanhada pela análise de solo e a diagnose foliar são as ferramentas utilizadas para ver a necessidade de adubação com micronutrientes na soja.
- Aplicação de boro na soja
O manejo do boro na soja é importante uma vez que a cultura, em particular, é sensível à deficiência de boro. Tal nutriente desempenha várias funções nas plantas, incluindo a síntese da parede celular, transporte de açúcares, lignificação, respiração, metabolismo de fenóis e ácido indol acético, frutificação e crescimento do tubo polínico.
Para garantir um fornecimento adequado de boro para a cultura da soja, é essencial realizar análises de solo e de tecido foliar, aplicar boro via solo preferencialmente agregado a fertilizantes NPK e complementar a adubação com aplicações foliares parceladas durante o ciclo da cultura.
- Aplicação de Cobalto e Molibdênio na soja
O cobalto (Co) e o molibdênio (Mo) são essenciais para a fixação biológica do nitrogênio. As recomendações indicam a aplicação de quantidades mínimas desses micronutrientes, geralmente na faixa de 2 g ha-1 a 3 g ha-1 de Co e 12 g ha-1 a 25 g ha-1 de Mo.
Essas doses podem ser aplicadas via tratamento de semente ou em pulverização foliar nos estádios de desenvolvimento V3-V5.
Nutrição vegetal e o estresse abiótico
A nutrição mineral de plantas desempenha um papel crítico no aumento da resistência aos estresses abióticos: radiação solar, déficit hídrico, fotoperíodo e temperaturas extremas, entre outros. Os macronutrientes desempenham diversas funções que ajudam na mitigação do estresse abiótico.
O nitrogênio (N), por exemplo ajuda na mitigação do estresse oxidativo, influenciando a abertura estomática e ativando enzimas antioxidantes, enquanto o potássio (K) contribui para a resistência ao estresse hídrico, o desenvolvimento radicular e a manutenção da turgidez das plantas.
O suprimento adequado desses macronutrientes permite que as plantas se adaptem a condições estressantes, evitando danos celulares e promovendo a homeostase vegetal.
Da mesma forma, os micronutrientes e os elementos benéficos, em doses adequadas, podem agregar características de resistência aos estresses abióticos, combatendo as espécies reativas de oxigênio, por meio da ativação do metabolismo antioxidante.
Microrganismos benéficos à nutrição da soja
Os microrganismos desempenham um papel fundamental na promoção da saúde e do crescimento das plantas, e na cultura da soja, dois grupos de microrganismos benéficos se destacam: os fungos micorrízicos arbusculares e os microrganismos solubilizadores de fósforo.
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) são microrganismos simbióticos que estabelecem uma relação mutualística com as raízes das plantas, incluindo a soja. Esta simbiose é altamente benéfica para a planta e para o microrganismo. Aqui estão os principais benefícios dos FMA para a soja:
- Aumento da Absorção de Nutrientes: Os FMA ampliam a capacidade de absorção de nutrientes pelas raízes da soja. Eles estendem as hifas (estruturas semelhantes a filamentos) para o solo, aumentando a área de absorção de água e nutrientes, especialmente fósforo e nitrogênio.
- Melhoria da Tolerância ao Estresse: Os FMA podem ajudar a soja a resistir a estresses bióticos e abióticos, como pragas, doenças e condições adversas do solo. Isso contribui para um crescimento mais robusto e saudável.
- Estímulo ao Crescimento Radicular: A presença dos FMA no sistema radicular estimula o crescimento das raízes da soja, o que resulta em maior absorção de nutrientes e uma planta mais resistente.
- Redução da Necessidade de Fertilizantes: Devido à sua capacidade de aumentar a absorção de nutrientes, os FMA podem reduzir a dependência de fertilizantes químicos, tornando a agricultura mais sustentável.
Os microrganismos solubilizadores de fósforo são bactérias e fungos que têm a capacidade de converter o fósforo inorgânico no solo em formas solúveis que as plantas, incluindo a soja, podem assimilar mais facilmente.
Eles agem não apenas solubilizando fosfatos, mas também promovendo o crescimento das plantas e o rendimento das culturas, produzindo hormônios vegetais promotores do crescimento das plantas, como auxinas, giberelinas e citocininas e antibiose contra patógenos (desaminase do ácido 1-aminociclopropano-1-carboxílico), que aumenta o crescimento das plantas sob condições de estresse.
7. Pós-colheita, armazenamento, beneficiamento e processamento da soja.
A colheita da soja deve ser realizada quando os grãos estiverem com umidade entre 13% e 15%. Muitas vezes o produtor pode optar por realizar a dessecação da soja, para antecipar a colheita.
As perdas na colheita de soja podem ser evitadas garantindo uma boa dessecação e colhendo na umidade recomendada dos grãos. Além disso, é essencial realizar uma boa regulagem das máquinas de colheita – 64% das perdas de colheita são atribuídas à problemas de regulagem com a barra de corte da plataforma de colheita. A velocidade da colheitadeira deve estar na faixa de 4 km/h a 6,5 km/h para otimizar a eficiência.
A maior parte das deteriorações dos grãos ocorre principalmente no momento da colheita (embora também possam ocorrer durante a produção e armazenamento dos grãos) e podem prejudicar a qualidade da matéria prima. Essas avarias incluem:soja ardida, fermentada, brotada, chocha, entre outros
8. Mercado da soja: definição de preço e utilização dos subprodutos
A soja é uma commodity agrícola, caracterizada por não ser facilmente perecível, ser padronizada, amplamente negociada globalmente e possuir muitos produtores e compradores. Com isso, o seu preço se define globalmente.
O preço da soja é definido em função da oferta e demanda global e adotando como principal referência a Bolsa de Chicago. Assim, os produtores têm pouca influência sobre os preços, que são determinados pelas forças de mercado.
Assim sendo, as variações no equilíbrio entre oferta e demanda causam variações significativas nos preços da soja. Menos estoques globais geralmente levam a preços mais altos, enquanto uma oferta excessiva em relação à demanda resulta em queda de preços.
Embora os custos de produção da soja tendem a aumentar ao longo do tempo, afetando os preços, são as flutuações na oferta e demanda que causam variações abruptas nas cotações.
Outro fator relevante no preço da soja é a vulnerabilidade a quebras de safra. Isso porque Brasil, Estados Unidos e Argentina respondem por 80% da produção mundial. Uma quebra significativa de safra em qualquer um desses países pode afetar a oferta global da oleaginosa e, consequentemente, os preços.
A demanda por soja geralmente apresenta um padrão previsível de crescimento ao longo dos anos, mas sem variações dramáticas. No entanto, a dependência da China como maior consumidor torna o mercado suscetível a eventos que afetem a demanda chinesa, como a peste suína africana.
Alguns fatores externos podem afetar a formação de preços da soja, como guerras comerciais, que podem influenciar as cotações.
E o que é feito com tanta soja produzida? Confina neste artigo os destinos e usos da soja e seus subprodutos.
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Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
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