Reações do fósforo no solo e práticas para minimizar efeitos

Entenda as complexas reações do fósforo no solo e conheça as estratégias para otimizar sua disponibilidade para as plantas.
Sumário

O Fósforo do solo 

O fósforo (P) integra importantes componentes vitais, destacando-se fosfolipídeos, que compõem as membranas de todas as células, moléculas de ATP, que fornecem energia para o funcionamento metabólico, e ácidos nucleicos, que carregam e expressam toda a informação genética de um indivíduo. Sua importância, portanto, é incontestável, o que faz deste elemento um macronutriente para as plantas.

Mesmo sendo o macronutriente geralmente requerido em menores quantidades pelas plantas, a complementação de P via adubação é indispensável para a obtenção de boas produtividades. Isso porque os teores de P nos solos brasileiros são naturalmente baixos devido aos processos de intemperização, que são intensificados pelo clima tropical do país.

No entanto, a adubação fosfatada é um caso interessante, porque vai muito além do simples fornecimento do P2O5 que é extraído e/ou exportado pelas culturas. Por isso, neste artigo iremos abordar sobre as peculiaridades deste elemento no solo e práticas que visam melhorar e eficiência de uso pelas plantas.

Frações de Fósforo (P) no solo

Embora o teor total de P nos solos varie entre 200 e 3.000 mg kg-1, menos de 0,1% deste total costuma se encontrar disponível para a absorção pelas plantas. Em solos agrícolas, os teores de P disponível na solução do solo com frequência encontram-se entre 0,002 e 2 mg L-1.

Esta discrepância entre o teor de P total e o disponível ocorre devido às interações deste elemento com o solo, que faz com que o P seja encontrado de diferentes maneiras, conhecidas como P-não lábil, P-lábil e P-solução (Figura 1).

fósforo no solo
Figura 1. Formas de fósforo no sistema solo-planta; interdependências e equilíbrios.
Fonte: Adaptado de Novaes et al. (2007).

O P-solução é o P presente na solução do solo que está prontamente disponível para a absorção pelas raízes. Nesta imagem, o P-solução encontra-se dentro de uma caixa menor, representando a menor fração do P total contida no solo. O P-lábil consiste em uma fração de P que não está prontamente disponível para absorção, mas que mantém uma relação de equilíbrio com a solução, disponibilizando P à medida em que ele é absorvido (Figura 2).

O P-não lábil consiste na fração de P que está irreversivelmente fixada às partículas do solo. Neste esquema, o P-não lábil encontra-se em uma caixa maior, pois representa a maior parte do P total contida no solo.

Sistemas de Vasos Comunicantes

Na Figura 2, representados por um sistema de vasos comunicantes, observamos que a relação de equilíbrio entre o P-lábil e o P-solução é governada pelo fator capacidade, o qual consiste na resistência do solo a mudanças na concentração de P na solução. O estoque de P-lábil abastece a solução do solo à medida em que o P é retirado do meio, seja por perdas (fixação) ou pela absorção radicular.

A relação entre a quantidade de P-lábil e P-solução costuma ser bem grande, em latossolos, por exemplo, a fração de P-lábil é 20 mil vezes maior que a concentração do P-solução, no entanto, esta relação tende a diminuir à medida em que se diminui a fração argila do solo (solos mais arenosos).

vasos comunicantes
Figura 2. Representação esquemática da relação de equilíbrio entre o P-lábil e o P-solução.
Fonte: Adaptado de Novaes et al. (2007).

Neste contexto, pode-se dizer que quanto maior o teor de argila de um solo, maior será a sua retenção de fósforo na fração lábil, e menor será sua concentração relativa em solução. Este comportamento caracteriza uma espécie de poder tampão à adubação fosfatada, mas enquanto este fósforo permanecer na fração lábil, ele será gradualmente disponibilizado na solução e utilizado pelas plantas. O grande problema está na formação do P-não lábil.

Como o Fósforo (P) se torna não lábil?

Precipitação de fósforo

O P em solução pode precipitar junto com outros íons. Em solos ácidos, a precipitação ocorre com as formas iônicas de Fe e Al, enquanto em solos neutros ou calcários, a precipitação ocorre por meio de ligações com o Ca2+:

fósforo não lábil reação de precipitação do fósforo no solo

O P permanece não lábil enquanto precipitado, mas modificações no pH do meio podem voltar solubilizar os compostos precipitados formados.

Fixação de fósforo

O P torna-se não lábil a partir da sua fixação nos coloides de argila compostos por oxidróxidos de ferro e alumínio. São vários os tipos de argila, mas os óxidróxidos de ferro e alumínio são predominantes nos solos brasileiros, pois tratam-se dos tipos de argila do mais alto grau de intemperização, e o clima tropical do nosso país contribui para a sua formação. O processo inicia-se por uma atração eletrostática entre as cargas do íon fosfato (H2PO4– ) e as cargas positivas da argila, sendo que a adsorção vem em seguida, havendo troca de ligantes, como o OH e OH2+, da superfície dos óxidos pelo H2PO4 da solução.

A fixação acontece quando ocorrem duas ligações coordenadas com a superfície da argila. Estas duas ligações, ao contrário de uma única, não permitem dessorção do P (Figura 3). Em uma pesquisa realizada por Gonçalves et al. (1989), mais de 95% do P aplicado a um latossolo vermelho (55% de argila), na dose de 150 mg kg-1 (ou 687 kg ha-1 de P2O5), se transformou em P-não lábil 300 dias após a aplicação.

formação do fósforo no solo
Figura 3. Esquema representativo da adsorção do P por meio de ligações mono e bidentadas (binucleadas), proporcionando a formação de fósforo não lábil no solo. Fonte: Novais et al. (2007).

A fixação que transforma o P em não lábil é a grande razão pela baixa eficiência da adubação fosfatada. É este fenômeno que faz com que as quantidades de P aplicadas sejam muito maiores do que a real necessidade da planta.

Como contornar os problemas de fixação e precipitação do P no solo?

Os manejos mais adotados visando a diminuição da fixação ou precipitação de fósforo no solo, e consequentemente o aumento do seu uso pelas plantas, são a correção da acidez do solo, prática da fosfatagem, adição de matéria orgânica ao solo, uso de plantas mais eficientes em extrair fósforo e aplicação localizada do fertilizante.

A correção da acidez, faz com que haja aumento das cargas negativas na superfície das argilas e matéria orgânica, aumentando a repulsão entre o fosfato e os colóides adsorventes, além de precipitar Fe e Al, os quais podem se ligar aos fosfatos tornando-o indisponível. A adição de matéria orgânica, reduz as perdas do fosfato devido ao bloqueio dos sítios de adsorção pelos ácidos orgânicos. A prática da fosfatagem busca aumentar a eficiência da adubação fosfatada por meio da saturação dos sítios de adsorção de fósforo.

Trata-se de uma prática corretiva, que tem como objetivo aumentar o teor de P do solo, por meio do uso de fontes de baixa solubilidade, para que a adubação de implantação, feita com uma fonte solúvel, seja mais eficiente e traga maiores respostas das plantas. A adubação localizada além de manter o nutriente próximos às raízes das plantas, minimiza o contato da fonte de P com o solo. Ao se concentrar todo o fertilizante no sulco, os sítios de fixação de P são parcialmente saturados ao redor do local de aplicação, possibilitando que maior concentração de P fique disponível na solução do solo.

Consideração final

Em um cenário de necessidade de incremento da produção de alimentos, demanda crescente e aumento dos preços dos fertilizantes, a adoção de práticas corretivas, como calagem e fosfatagem, plantio direto (aporte de matéria orgânica e menor revolvimento do solo) e aplicação eficiente dos fertilizantes fosfatados (forma localizada), são manejos que devem ser imperativos visando o aumento da eficiência de uso do fósforo pelas plantas e da sustentabilidade no sistema agrícola.

Quer saber mais sobre correção do solo? Baixe agora mesmo, gratuitamente, o nosso Guia Avançado de Calagem, Gessagem e Fosfatagem:

Referências bibliográficas

GONÇALVES, J.L.M.; NOVAIS, R.F.; BARROS, N.F.; NEVES, J.C.L.; RIBEIRO, A.C. Cinética de transformação de fósforo-lábil em não-lábil, em solos de cerrado. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.13, p.13-24, 1989.

NOVAIS, R. F.; SMYTH, T. J.; NUNES, F. N. Fósforo. In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V., V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. Fertilidade do Solo. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p. 471-550.

Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

Sobre a autora:

Bianca de Almeida Machado

PESQUISAR
COMPARTILHAR
Mais Lidos Da Semana
CATEGORIAS
VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR:
Metarhizium anisopliae
Metarhizium anisopliae: conheça o fungo usado no controle biológico de pragas como brocas e cigarrinhas
Considerado um dos mais eficazes agentes microbiológicos de controle de insetos,...
Ler Mais »
image-56
Manejo do nitrogênio na cultura do feijão
O manejo do nitrogênio na cultura do feijão é muito importantes no cultivo do feijão,...
Ler Mais »
fertilidade do solo
Fertilidade do solo e a alta produtividade na lavoura
Entenda como a fertilidade do solo está correlacionada com a produtividade agrícola...
Ler Mais »

Respostas de 5

  1. Boa noite.
    No mercado de adubos estão comercializando fósforo na forma de Ortofosfato. Fosforo prontamente disponível.
    Você tem a relação entre um ortofosfato e um MAP purificado? Esse ortofosfato age mais rapido em relação ao MAP quantas vezes? Quanto de ortofosfato equivale a quanto de MAP?

    Ryutaro Takahashi – Eng. agronomo. Jaíba/Mg

  2. Parabéns Bianca, muito didático e extremamente útil. Materila importante.

  3. Sensacional. Muito bem explicada as formas de fósforo no solo, as reações que levam às perdas do fósforo aplicado e as estratégias para disponibilizá-lo às plantas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *