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Reações do fósforo no solo e práticas para minimizar efeitos

Entenda as complexas reações do fósforo no solo e conheça as estratégias para otimizar sua disponibilidade para as plantas.

Atualizado: 05/05/2024

O Fósforo do solo 

O fósforo (P) integra importantes componentes vitais, destacando-se fosfolipídeos, que compõem as membranas de todas as células, moléculas de ATP, que fornecem energia para o funcionamento metabólico, e ácidos nucleicos, que carregam e expressam toda a informação genética de um indivíduo. Sua importância, portanto, é incontestável, o que faz deste elemento um macronutriente para as plantas.

Mesmo sendo o macronutriente geralmente requerido em menores quantidades pelas plantas, a complementação de P via adubação é indispensável para a obtenção de boas produtividades. Isso porque os teores de P nos solos brasileiros são naturalmente baixos devido aos processos de intemperização, que são intensificados pelo clima tropical do país.

No entanto, a adubação fosfatada é um caso interessante, porque vai muito além do simples fornecimento do P2O5 que é extraído e/ou exportado pelas culturas. Por isso, neste artigo iremos abordar sobre as peculiaridades deste elemento no solo e práticas que visam melhorar e eficiência de uso pelas plantas.

Frações de Fósforo (P) no solo

Embora o teor total de P nos solos varie entre 200 e 3.000 mg kg-1, menos de 0,1% deste total costuma se encontrar disponível para a absorção pelas plantas. Em solos agrícolas, os teores de P disponível na solução do solo com frequência encontram-se entre 0,002 e 2 mg L-1.

Esta discrepância entre o teor de P total e o disponível ocorre devido às interações deste elemento com o solo, que faz com que o P seja encontrado de diferentes maneiras, conhecidas como P-não lábil, P-lábil e P-solução (Figura 1).

fósforo no solo
Figura 1. Formas de fósforo no sistema solo-planta; interdependências e equilíbrios.
Fonte: Adaptado de Novaes et al. (2007).

O P-solução é o P presente na solução do solo que está prontamente disponível para a absorção pelas raízes. Nesta imagem, o P-solução encontra-se dentro de uma caixa menor, representando a menor fração do P total contida no solo. O P-lábil consiste em uma fração de P que não está prontamente disponível para absorção, mas que mantém uma relação de equilíbrio com a solução, disponibilizando P à medida em que ele é absorvido (Figura 2).

O P-não lábil consiste na fração de P que está irreversivelmente fixada às partículas do solo. Neste esquema, o P-não lábil encontra-se em uma caixa maior, pois representa a maior parte do P total contida no solo.

Sistemas de Vasos Comunicantes

Na Figura 2, representados por um sistema de vasos comunicantes, observamos que a relação de equilíbrio entre o P-lábil e o P-solução é governada pelo fator capacidade, o qual consiste na resistência do solo a mudanças na concentração de P na solução. O estoque de P-lábil abastece a solução do solo à medida em que o P é retirado do meio, seja por perdas (fixação) ou pela absorção radicular.

A relação entre a quantidade de P-lábil e P-solução costuma ser bem grande, em latossolos, por exemplo, a fração de P-lábil é 20 mil vezes maior que a concentração do P-solução, no entanto, esta relação tende a diminuir à medida em que se diminui a fração argila do solo (solos mais arenosos).

vasos comunicantes
Figura 2. Representação esquemática da relação de equilíbrio entre o P-lábil e o P-solução.
Fonte: Adaptado de Novaes et al. (2007).

Neste contexto, pode-se dizer que quanto maior o teor de argila de um solo, maior será a sua retenção de fósforo na fração lábil, e menor será sua concentração relativa em solução. Este comportamento caracteriza uma espécie de poder tampão à adubação fosfatada, mas enquanto este fósforo permanecer na fração lábil, ele será gradualmente disponibilizado na solução e utilizado pelas plantas. O grande problema está na formação do P-não lábil.

Como o Fósforo (P) se torna não lábil?

Precipitação de fósforo

O P em solução pode precipitar junto com outros íons. Em solos ácidos, a precipitação ocorre com as formas iônicas de Fe e Al, enquanto em solos neutros ou calcários, a precipitação ocorre por meio de ligações com o Ca2+:

fósforo não lábil reação de precipitação do fósforo no solo

O P permanece não lábil enquanto precipitado, mas modificações no pH do meio podem voltar solubilizar os compostos precipitados formados.

Fixação de fósforo

O P torna-se não lábil a partir da sua fixação nos coloides de argila compostos por oxidróxidos de ferro e alumínio. São vários os tipos de argila, mas os óxidróxidos de ferro e alumínio são predominantes nos solos brasileiros, pois tratam-se dos tipos de argila do mais alto grau de intemperização, e o clima tropical do nosso país contribui para a sua formação. O processo inicia-se por uma atração eletrostática entre as cargas do íon fosfato (H2PO4– ) e as cargas positivas da argila, sendo que a adsorção vem em seguida, havendo troca de ligantes, como o OH e OH2+, da superfície dos óxidos pelo H2PO4 da solução.

A fixação acontece quando ocorrem duas ligações coordenadas com a superfície da argila. Estas duas ligações, ao contrário de uma única, não permitem dessorção do P (Figura 3). Em uma pesquisa realizada por Gonçalves et al. (1989), mais de 95% do P aplicado a um latossolo vermelho (55% de argila), na dose de 150 mg kg-1 (ou 687 kg ha-1 de P2O5), se transformou em P-não lábil 300 dias após a aplicação.

formação do fósforo no solo
Figura 3. Esquema representativo da adsorção do P por meio de ligações mono e bidentadas (binucleadas), proporcionando a formação de fósforo não lábil no solo. Fonte: Novais et al. (2007).

A fixação que transforma o P em não lábil é a grande razão pela baixa eficiência da adubação fosfatada. É este fenômeno que faz com que as quantidades de P aplicadas sejam muito maiores do que a real necessidade da planta.

Como contornar os problemas de fixação e precipitação do P no solo?

Os manejos mais adotados visando a diminuição da fixação ou precipitação de fósforo no solo, e consequentemente o aumento do seu uso pelas plantas, são a correção da acidez do solo, prática da fosfatagem, adição de matéria orgânica ao solo, uso de plantas mais eficientes em extrair fósforo e aplicação localizada do fertilizante.

A correção da acidez, faz com que haja aumento das cargas negativas na superfície das argilas e matéria orgânica, aumentando a repulsão entre o fosfato e os colóides adsorventes, além de precipitar Fe e Al, os quais podem se ligar aos fosfatos tornando-o indisponível. A adição de matéria orgânica, reduz as perdas do fosfato devido ao bloqueio dos sítios de adsorção pelos ácidos orgânicos. A prática da fosfatagem busca aumentar a eficiência da adubação fosfatada por meio da saturação dos sítios de adsorção de fósforo.

Trata-se de uma prática corretiva, que tem como objetivo aumentar o teor de P do solo, por meio do uso de fontes de baixa solubilidade, para que a adubação de implantação, feita com uma fonte solúvel, seja mais eficiente e traga maiores respostas das plantas. A adubação localizada além de manter o nutriente próximos às raízes das plantas, minimiza o contato da fonte de P com o solo. Ao se concentrar todo o fertilizante no sulco, os sítios de fixação de P são parcialmente saturados ao redor do local de aplicação, possibilitando que maior concentração de P fique disponível na solução do solo.

Consideração final

Em um cenário de necessidade de incremento da produção de alimentos, demanda crescente e aumento dos preços dos fertilizantes, a adoção de práticas corretivas, como calagem e fosfatagem, plantio direto (aporte de matéria orgânica e menor revolvimento do solo) e aplicação eficiente dos fertilizantes fosfatados (forma localizada), são manejos que devem ser imperativos visando o aumento da eficiência de uso do fósforo pelas plantas e da sustentabilidade no sistema agrícola.

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Referências bibliográficas

GONÇALVES, J.L.M.; NOVAIS, R.F.; BARROS, N.F.; NEVES, J.C.L.; RIBEIRO, A.C. Cinética de transformação de fósforo-lábil em não-lábil, em solos de cerrado. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.13, p.13-24, 1989.

NOVAIS, R. F.; SMYTH, T. J.; NUNES, F. N. Fósforo. In: NOVAIS, R. F.; ALVAREZ V., V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.; CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. Fertilidade do Solo. Viçosa, MG, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. p. 471-550.

Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

Sobre a autora:

Bianca de Almeida Machado

Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)

Este post tem 5 comentários

  1. Aqui é a Fernanda Lima , gostei muito do seu artigo tem
    muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.

  2. Ryutaro Takahashi

    Boa noite.
    No mercado de adubos estão comercializando fósforo na forma de Ortofosfato. Fosforo prontamente disponível.
    Você tem a relação entre um ortofosfato e um MAP purificado? Esse ortofosfato age mais rapido em relação ao MAP quantas vezes? Quanto de ortofosfato equivale a quanto de MAP?

    Ryutaro Takahashi – Eng. agronomo. Jaíba/Mg

  3. Marcelo de Queiroz Pereira da Silva

    Parabéns Bianca, muito didático e extremamente útil. Materila importante.

  4. Daniel Silveira

    Muito bom o artigo, bem didático e prático. Parabéns!!!

  5. Edvaldo Franco

    Sensacional. Muito bem explicada as formas de fósforo no solo, as reações que levam às perdas do fósforo aplicado e as estratégias para disponibilizá-lo às plantas.

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