Superfosfato triplo, superfosfato simples, fosfato monoamônico (MAP) e fosfato diamônico (DAP) são as principais fontes de fósforo utilizadas na adubação das culturas.
O fósforo é um dos nutrientes mais limitantes da produtividade das culturas agrícolas, apresentando baixos teores inorgânicos em solos tropicais. Por isso, o produtor já se acostumou a fazer a adubação fosfatada no plantio com elevadas doses deste nutriente.
A deficiência de fósforo desencadeia uma série de respostas morfológicas e fisiológicas na planta que culminam no surgimento nos sintomas de deficiência nutricional, como crescimento reduzido, folhas de coloração anormal, baixa produção de flores e frutos e redução de produtividade das culturas.
Apesar de ser encontrado em grandes quantidades no solo, a quantidade de fósforo disponível para as plantas (fósforo inorgânico) é extremamente baixa, devido à dinâmica do P no solo, que sofre fixação e precipitação.
De todos o fósforo aplicado às culturas através de fertilizantes, apenas 30% são utilizados pelas plantas, e o restante é perdido por adsorção/fixação na fração argilominerais do solo (BENÍCIO, 2022).
Dentre as fontes disponíveis para utilização na adubação fosfatada, os fosfatos solúveis são os que proporcionam maior eficiência de aproveitamento pelas plantas. E é justamente deles que vamos tratar neste artigo.
De onde vem os fertilizantes fosfatados utilizados na agricultura?
A rocha fosfática é a principal matéria-prima para a produção de quase todos os fertilizantes fosfatados utilizados mundialmente, sendo um recurso finito cujas projeções mais recentes indicam que durarão cerca de 350 anos.
O termo “rocha fosfática” é um termo genérico que se refere a qualquer depósito que contém fosfato, independente da origem (ígnea, metamórfica ou sedimentar), das características físicas e das concentrações químicas.
Para ser utilizado como fertilizante, as rochas fosfáticas podem passar basicamente por três diferentes processos: somente moagem, moagem e concentração ou calcinação
- somente moagem – dá origem aos fosfatos naturais e fosfatos naturais reativos que possem baixa solubilidade e menor eficiência de uso pelas plantas a curto prazo.
– No Brasil se utilizam para produção as apatitas brasileiras (Araxá/MG, Jacupiranga/SP, Catalão/GO);
- Moagem e concentração – passando posteriormente por tratamento químico com ácidos.
– É o processo que dá origem às quatro fontes de fertilizantes solúveis que trataremos neste artigo: superfosfato simples, superfosfato triplo, fosfato monoamônico (MAP) e fosfato diamônio (DAP). A seguir detalharemos mais o processo de produção de cada fonte.
– Neste processo são usadas as rochas fosfatadas sedimentares (que representam cerca de 80% das rochas fosfáticas produzidas no mundo), como as reservas do Norte da África, China, Oriente Médio e EUA. No Brasil são utilizadas as rochas ígneas (apatitas).
- Calcinação ou fusão: processos que dão origem aos termofosfatos ou fosfatos calcinados utilizando tratamento térmico. Podem ainda ser obtidos por meio da adição de outros materiais, como o silicato de magnésio.
– O processo de produção dos termofosfatos se dá por aquecimento de fosfato rocha por calcinação (900 a 1200 °C) ou fusão (1400 a 1500 °C). Estes fertilizantes fosfatos têm baixa solubilidade em água, mas são altamente solúveis em ácido cítrico. Isto significa que são uma fonte de fósforo com liberação gradual promovida pela acidez natural da solução do solo ou influência das raízes.
Fertilizantes fosfatados solúveis
Fertilizantes fosfatados solúveis: superfosfato simples, superfosfato triplo, MAP e DAP
Uma característica dos fertilizantes fosfatados solúveis é a alta solubilidade em água (Tabela 1), que confere, por consequência, alta eficiência de aproveitamento pelas plantas, devido à liberação rápida no solo.
Tabela 1. Características de alguns fertilizantes fosfatados solúveis
| Fertilizante | Abreviação | % N | % P2O5 | % S | % total de P disponível | Composição |
| Fosfatos de cálcio | ||||||
| Superfosfato simples | SSP | – | 16-22 | 11-12 | 80-85 | Ca(H2PO4)2 |
| Superfosfato triplo | TSP | – | 44-52 | 1-2 | 90-95 | Ca(H2PO4)2 |
| Fosfatos de amônio | ||||||
| Fosfato de monoamônio | MAP | 11-13 | 48-62 | 0-2 | 100 | NH4H2PO4 |
| Fosfato de diamônio | DAP | 18-21 | 46-53 | 0-2 | 100 | (NH4)2HPO4 |
Vejamos a seguir, mais características de cada uma dessas fontes.
De acordo com INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 39, DE 8 DE AGOSTO DE 2018, os fertilizantes minerais comercializados no Brasil devem apresentar garantias mínimas. Para os fertilizantes fosfatados discutidos neste artigo tais exigências contam na Tabela 2.
Tabela 2. Especificação para os fertilizantes minerais simples contido na legislação brasileira de fertilizantes do MAPA.
| FERTILIZANTE | TEOR E FORMA DO NUTRIENTE (Garantia Mínima) | SOLUBILIDADE DO NUTRIENTE/GRANULOMETRIA (Garantia Mínima) | OBTENÇÃO | OBSERVAÇÃO |
| Superfosfato Simples | 18% de P2O5 16% de Ca 10% de S | Fósforo teor solúvel em Citrato Neutro de Amônio mais água e mínimo de 16% em água Cálcio e Enxofre teores totais | Reação da rocha fosfática moída com Ácido Sulfúrico. | |
| Superfosfato Triplo | 41% de P2O5 10% de Ca | Fósforo teor solúvel em Citrato Neutro de Amônio mais água e mínimo de 36% solúvel em água Cálcio teor total. | Reação da rocha fosfática moída com Ácido Fosfórico. | |
| Fosfato Monoamônico (MAP) | 9% de N 48% de P2O5 | Nitrogênio teor total e P2O5 teor solúvel em Citrato Neutro de Amônio mais água e mínimo de 44% solúvel em água. | Reação do Ácido Fosfórico com Amônia. | Nitrogênio na forma Amoniacal. |
| Fosfato Diamônico (DAP) | 17% de N 45% de P2O5 | Nitrogênio teor total e P2O5 teor solúvel em Citrato Neutro de Amônio mais água e mínimo de 38% solúvel em água. | Reação do Ácido Fosfórico com Amônia. | Nitrogênio na forma Amoniacal. |
Superfosfato simples (SSP)
- Processo de obtenção: É fabricado a partir da reação direta entre a rocha fosfática moída e ácido sulfúrico (H2SO4) na presença de água (65-75% de ácido sulfúrico), em reações complexas, resultando em um material de aspecto sólido.
- Características:
- Pode ser utilizado na forma de pó ou granulado (predominante),
- Foi o primeiro fertilizante mineral comercial a ser produzido,
- Principal fertilizante fosfatado utilizado no Brasil,
- Alta solubilidade em água (80%),
- Baixa concentração de fósforo (18% de P2O5 solúvel em CNA (citrato neutro de amônio + água).
- Além de P, é fonte de outros dois nutrientes: cálcio e enxofre (16% de Ca e 10% de S).
- Obtêm-se no processo de produção do superfosfato simples: ácido fosfórioco (matéria-prima para obtenção dos demais fertilizantes fosfatados solúveis) e gesso agrícola (ou fosfogesso).
- Constituição: principalmente fosfato monocálcico [Ca(H2PO4)2·H2O] e o sulfato de cálcio (CaSO4·0,5H2O), mas também contém misturas como como fosfatos de ferro e alumínio, sílica ou ácido fosfórico.
- Composição: mínimo de 18% de P2O5, 16% de Ca e 10% de S.
Superfosfato triplo (TSP)
- Processo de obtenção: é fabricado a partir da reação direta entre a rocha fosfática moída e o ácido fosfórico (H2PO4).
- Características:
- Possui a maior concentração de fósforo dentre os fertilizantes secos que não contém nitrogênio.
- Pode ser utilizado na forma de pó ou granulado (predominante),
- Alta solubilidade em água (+ de 90%),
- Alta concentração (45-46% de P2O5),
- Fonte de Ca (10% de Ca).
- Constituição: principalmente fosfato monocálcico [Ca(H2PO4)2·H2O].
- Composição: mínimo de 41% de P2O5 e 10% de Ca.
Fosfato de monoamônio (MAP) e Fosfato diamônico (DAP)
- Processo de obtenção: MAP e DAP são fertilizantes produzidos através da neutralização de ácido fosfórico com amônia líquida.
A diferença entre os dois é a proporção de reagentes na reação: o DAP necessita de uma quantidade maior de amônia, gerando um produto com maior concentração de N.
- Características:
- O MAP a fonte mais rica em fósforo entre os fertilizantes sólidos, com uma composição que varia de 10 a 12% de N (mínimo de 9% exigido pela legislação) e de 48 a 61% de P205.
- Suas vantagens são o alto conteúdo de nutrientes, alta solubilidade em água e maior conteúdo de P2O5, além de ser completamente compatível com todos os outros componentes normalmente utilizados nos fertilizantes mistos.
- O DAP é o fertilizante fosfatado mais amplamente utilizado em todo o mundo. Apresenta 17% de N e 45% de P2O5.
- dentre os fertilizantes fosfatados é o mais largamente utilizado e comercializado internacionalmente. Isto se dá pelo fato de, além da alta solubilidade, ele também apresentar maior relação N/P, adequando-se melhor às recomendações agronômicas, principalmente em países de clima temperado, que, via de regra, são os maiores consumidores de fertilizantes no mundo.
O consumo dessas fontes se alterou significativamente ao longo do tempo. O uso de superfosfato simples (SSP) e superfosfato triplo (TSP) diminuíram em relação às fontes de fosfato de NH4 (Figura 2).
Conclusões
As fontes solúveis de fertilizantes fosfatados se destacam pela alta solubilidade em água, o que permite uma rápida disponibilidade do fósforo no solo, resultando em um aumento na eficiência de uso pelas plantas. Cada uma dessas fontes possui características únicas:
- Superfosfato simples (SSP): É fabricado a partir da reação entre rocha fosfática moída e ácido sulfúrico. Possui alta solubilidade em água, mas uma concentração relativamente baixa de fósforo. Também fornece cálcio e enxofre às plantas.
- Superfosfato triplo (TSP): Fabricado a partir da reação entre rocha fosfática moída e ácido fosfórico. Possui a maior concentração de fósforo entre os fertilizantes secos que não contêm nitrogênio.
- Fosfato de monoamônio (MAP) e Fosfato diamônio (DAP): São produzidos pela neutralização de ácido fosfórico com amônia líquida. O DAP contém uma quantidade significativamente maior de nitrogênio em comparação ao MAP.
É importante destacar que a escolha da fonte de fertilizante fosfatado dependerá das necessidades específicas da cultura e das características do solo. Além disso, as regulamentações do governo estabelecem garantias mínimas para a comercialização desses fertilizantes, garantindo a qualidade e segurança dos produtos utilizados na agricultura.
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Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
Respostas de 2
Material muito interessante
Excelente material.