Você está visualizando atualmente Enxofre nas plantas: 7 respostas morfológicas e fisiológicas à deficiência

Enxofre nas plantas: 7 respostas morfológicas e fisiológicas à deficiência

Entenda o papel do enxofre nas plantas: quais as formas absorvidas, suas funções na planta e os sintomas da deficiência de enxofre. Saiba como o S afeta o crescimento e a fisiologia das plantas, além de influenciar a qualidade dos alimentos. Entenda também a interação entre o enxofre, nitrogênio e carbono.

Atualizado: 30/11/2023

O enxofre desempenha um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento das plantas, influenciando sua fisiologia e a qualidade dos alimentos produzidos.

Isso porque o enxofre é constituinte de três aminoácidos essenciais aos vegetais: cisteína, cistina e metionina. A falta deles irá influenciar inúmeros processos na planta.

A compreensão das respostas morfológicas e fisiológicas das plantas à deficiência de enxofre é essencial para garantir uma nutrição adequada das culturas e maximizar sua produtividade.

Leia este artigo para entender tudo sobre o papel do enxofre na fisiologia das plantas!

Sem tempo para ler agora? Baixe este artigo em PDF!

Quais as formas de enxofre absorvidas pelas plantas?

As plantas têm a capacidade de absorver e utilizar diferentes formas de enxofre.

Enquanto o enxofre atmosférico, como o dióxido de enxofre (SO2), pode ser absorvido e utilizado por partes aéreas das plantas, a principal fonte de enxofre é o sulfato inorgânico (SO42−).

O SO42- é absorvido pelas raízes das plantas e assimilado em uma variedade de metabólitos-chave, incluindo os aminoácidos cisteína e metionina, bem como vários grupos protéticos.

Quais plantas precisam de enxofre? Todas, mas as espécies vegetais diferem consideravelmente em sua demanda por S, que geralmente diminui na ordem: Cruciferae > Leguminosae > Graminae

Qual é a função do enxofre nas plantas?

O enxofre representa de 0,1 a 0,5% da massa seca da planta e apresenta duas funções principais: estruturais e metabólicas

  • Constituinte de metabólitos orgânicos e componentes celulares: como cisteína, metionina, glutationa, ferredoxina e metabólitos secundários como glucosinalatos e aliínas;
  • No transporte de elétrons: Na forma reduzida, o S é um componente chave de vários grupos prostéticos nas proteínas Fe-S, como a ferredoxina, que medeia a transferência de elétrons na cadeia fotossintética de transporte de elétrons.

Quais plantas precisam de enxofre?

Todas as plantas precisam de enxofre para completar o seu ciclo reprodutivo, uma vez que ele é um dos macronutrientes essenciais. Para a maioria das culturas agrícolas a necessidade de enxofre a ser fornecido via adubação varia de 10 kg a 30 kg/ha. No entanto, existe uma diferença importante da demanda entre leguminosas e gramíneas: as leguminosas normalmente demandam maior quantidade de enxofre, uma vez que a exportação do nutriente pelas plantas é maior, conforme mostrado na tabela 1.

Tabela 1. Extração e exportação de enxofre (S) por espécies de plantas gramíneas e leguminosas.

CulturaS extraído pela planta inteira (Kg Mg-1)S exportado pela colheita (Kg Mg-1)
Soja8,33,0
Feijão16,05,7
Milho3,01,1
Trigo3,51,2
Fonte: Pauletti, 2004.

Sintomas de deficiência de enxofre nas plantas

Os principais sintomas visuais de deficiência de S nas plantas são:

  • Clorose de folhas jovens – Os sintomas são tipicamente muito semelhantes à clorose geral encontrada em plantas deficientes em N, mas em algumas espécies a clorose internerval prevalece, semelhante aos sintomas que ocorrem em plantas deficientes em Fe.

As diferenças na aparência das folhas não são totalmente compreendidas, mas provavelmente estão relacionadas à extensa interação com N e Fe durante a deficiência de S.

  • Crescimento atrofiado.
  • Antocianose
  • Floração prematura e reduzida
  • Redução na quantidade de sementes

Os sintomas de excesso de enxofre nas plantas, por sua vez, também podem resultar em clorose nas folhas novas, além de necrose e desfolhamento. As folhas tendem a ser pequenas e a planta apresentará internódios curtos. Porém o excesso de S não é um problema comum.

O que acontece com a falta de enxofre nas plantas? 7 Respostas morfológicas e fisiológicas

Conforme ilustrado em artigo de Bang et al. (2021) a deficiência de enxofre causa uma série de alterações na morfologia e fisiologia da planta, que culminam com o aparecimento dos sintomas visuais de deficiência de nutrientes.

Nós já mostramos em outros artigos tais alterações na planta para a deficiência de nitrogênio, fósforo, potássio e cálcio.

Vejamos detalhadamente quais os processos são afetados pela deficiência de enxofre nas plantas.

Enxofre nas plantas: modelo esquemático do que causa a deficiência

Figura 1. Modelo esquemático mostrando como o enxofre (S) afeta o crescimento e a fisiologia das plantas. A explicação para o que ocorre em cada modelo (de 1 a 7) se encontra abaixo. Fonte: Bang et al. (2021).

1. Absorção e assimilação de enxofre

A principal fonte de enxofre disponível às plantas é o sulfato inorgânico (SO42-) absorvido pelas raízes por transportadores localizados nas membranas (SULTR).

Após ser absorvido pelas raízes, o sulfato (SO42-) é reduzido à sulfito (SO32-) e depois incorporado em aminoácidos; da mesma forma que ocorre com o nitrato que é reduzido a nitrito (NO2) antes de ser incorporado à aminoácidos.

A incorporação do SO42− em moléculas orgânicas nas plantas ocorre após redução a sulfeto (S2−).

Entre os macronutrientes, o S é notável devido à sua capacidade de mudar entre os estados de oxidação + 6 e −2. A mudança no estado de oxidação de + 6 para −2 é altamente dependente de energia e consome 732 kJ mol−1.

Em comparação, a assimilação de NO3 e C requer apenas 347 e 478 kJ mol−1 respectivamente.

Contudo, tanto o sulfeto (SO32-) como o nitrito (NO2) são tóxicos para as plantas e para evitar problemas de toxidez, é importante equilibrar a quantidade de enxofre em relação aos compostos de nitrogênio e carbono na planta.

Por isso, quando há uma falta de carbono ou nitrogênio, as plantas diminuem a quantidade de enxofre que assimilam.

Plantas deficiente em S detectam a quantidade do elemento no ambiente solo-raiz através do nível de precursores da cisteína no tecido.

Quando as plantas são expostas à deficiência de S, transportadores de alta afinidade de SO42- da família SULTR, que funcionam co-transportando SO42− juntamente com prótons, são regulados para facilitar a absorção do elemento pela rizosfera (Figura 1.1).

2. Afeta a síntese de compostos contendo enxofre

O S é constituinte de metabólitos essenciais em plantas, incluindo os aminoácidos cisteína e metionina, além de compostos de baixa solubilidade molecular, como a glutationa (Figura 1.2).

Após absorção, o SO42− é primeiramente ativado a adenosina 5′-fosfossulfato (APS) pela reação catalítica com a ATP sulfurilase. A APS pode então ser direcionada para a síntese de cisteína ou usada para a formação de metabólitos secundários.

A cisteína pode ainda ser convertida em metionina, glutationa e todos os outros metabólitos contendo S reduzido.

A glutationa (GSH) é um metabólito secundário solúvel de baixo peso molecular com funções complexas e multifacetadas associadas ao seu grupo tiol reativo.

 Este grupo tiol permite que a glutationa doe elétrons para catálise enzimática, controle a homeostase redox e funcione como um antioxidante e uma molécula sinalizadora em respostas e desenvolvimento ao estresse.

A glutationa também está envolvida no armazenamento e transporte de longa distância de S reduzido da parte aérea para as raízes e atua como substrato para a síntese de fitoquelatinas, desempenhando assim um papel importante na hiperacumulação de metais.

3. Afeta a síntese de metabólitos secundários

As plantas contêm inúmeros metabolitos secundários contendo S, como os glucosinolatos (GSLs), que servem como defesas contra insetos e pragas (Figura 1.3).

Exemplos de importantes metabólitos contendo S são glucosinolatos, aliinas, camalexina e peptídeos ricos em S dos grupos tionina e defensina.

Glucosinolatos são um grupo diversificado de compostos que consistem em um núcleo de tioglicose com dois átomos de S ligados a diferentes aminoácidos, resultando em > 100 compostos diferentes.

Eles constituem um grande pool de S, até 30% do S total, em tecidos de Brassica e o conteúdo de glucosinolato das plantas reflete diretamente seu status de S, sendo aumentado em nutrição com alto teor de S e diminuído sob crescimento limitado por S.

Durante a deficiência de S, a glutationa e os glucosinolatos são degradados para regular o metabolismo primário de S (PAS, adenosina 5′-fosfosulfato; PAPS, 3′-fosfoadenosina-5′-fosfosulfato).

Metabólitos secundários contendo S, como glucosinolatos e as aliínas não são apenas importantes compostos de defesa, mas também a base do cheiro e sabor de vegetais crucíferos, cebola e alho.

A influência positiva do estado nutricional de S no conteúdo de metabólitos contendo S secundário foi documentada para uma variedade de espécies de culturas, em alguns casos mostrando uma interação positiva com o status de N, em outros não.

4. Afeta a qualidade e valor nutricional dos alimentos

A deficiência de S reduz o teor de proteínas e o teor de aminoácidos contendo S. Isto tem consequências para a qualidade e o valor nutricional dos gêneros alimentícios e dos alimentos para animais (Figura 1.4).

A metionina é um aminoácido essencial na nutrição humana e muitas vezes representa um fator nutricional limitante em dietas ricas em sementes.

O enxofre tem um efeito pronunciado na composição proteica do grão de cereal, ao contrário do N, que geralmente afeta o teor de proteína.

A disponibilidade reduzida de S favorece a síntese e o acúmulo de proteínas de armazenamento pobres em S ou com baixo teor de S, como x-gliadina e subunidades de alto peso molecular da glutenina.

Isso afeta a qualidade do cozimento do trigo, porque a ponte de dissulfeto é essencial para a polimerização da fração de glutelina durante a preparação da massa – criando o volume ideal do pão.

5. Afeta o crescimento e causa sintomas de deficiência nas folhas

A deficiência de S leva à redução da síntese, funcionalidade e qualidade proteicas, produção de antocianinas, crescimento atrofiado, folhas jovens cloróticas e floração prematura/reduzida (Figura 1.5).

A deficiência de enxofre nas plantas resulta em menor assimilação de carbono fotossintético e em uma reprogramação do metabolismo para garantir a produção de sementes.

Na forma reduzida, o S é um componente chave de vários grupos prostéticos nas proteínas Fe-S, como a ferredoxina, que medeia a transferência de elétrons na cadeia fotossintética de transporte de elétrons.

Assim, uma característica chave da deficiência de S é uma supressão acentuada da eficiência fotossintética e um rápido desenvolvimento de folhas cloróticas.

Plantas deficientes em enxofre tornam-se cloróticas e permanecem cloróticas por um período prolongado até desenvolverem necrose.

Os sintomas são tipicamente muito semelhantes à clorose geral encontrada em plantas deficientes em N, mas em algumas espécies a clorose intermediária é predominante, semelhante aos sintomas que ocorrem em plantas deficientes em Fe.

As diferenças na aparência das folhas não são totalmente compreendidas, mas provavelmente estão relacionadas a uma extensa interação entre N e Fe durante a deficiência de S.

A clorose será, na maioria dos casos, internerval devido a um maior suprimento de S ao redor das nervuras foliares.

No entanto, o alto teor de antocianina pode, em alguns casos, mascarar esse sintoma.

A clorose induzida pela deficiência de S raramente evolui para necrose, como é o caso, por exemplo, de Mg, K e N, mas a estratificação dos sintomas depende do status de N.

6. Interação enxofre, nitrogênio e carbono

A absorção de SO42- é coordenada juntamente com a absorção e assimilação de N. A deficiência de S leva à redução da absorção de nitrato e da atividade da NR. A deficiência de N leva à redução da captação de sulfato e da atividade da APS redutase. 

Uma característica em diferentes espécies de plantas sob deficiência de enxofre é o acúmulo marcante de NO3– no tecido radicular, combinado com uma redução na atividade de NR.

Isto mostra que plantas deficientes em S são incapazes de utilizar N em seu metabolismo e, consequentemente, tornam-se deficientes em N e passam a apresentar sintomas de deficiência de N (Figura 1.6).

Por isso um dos distúrbios metabólicos causados pela deficiência de S nas plantas é a diminuição da fixação livre e simbiótica do N2 atmosférico.

7. Afeta a translocação e remobilização

Os sintomas de deficiência de S aparecem primeiro nas folhas mais jovens (estratificação basipetal; descendente). A remobilização de S é aumentada pela baixa disponibilidade de N (Figura 1.7).

Folhas maduras (fonte) tornam-se cloróticas sob deficiência de N devido à degradação de proteínas e exportação de amida para folhas jovens de sumidouro (estratificação acropetal).

Em contraste, a falta de S primeiro e mais forte afeta as folhas jovens (estratificação basípeta).

A razão para essa diferença é uma mobilidade muito maior de NO3 entre o vacúolo e o citosol sob demanda do que no caso do SO42-.

Além disso, o S organicamente ligado só é exportado para o floema sob deficiência de N, porque este último é necessário para desencadear a atividade da protease levando à remobilização dos aminoácidos contendo S (mobilidade condicional)

Plantas saudáveis em enxofre são capazes de ajudar a plantas no combate de pragas e doenças, conforme relatados no vídeo abaixo:

Nesse vídeo o Dr. Daniel Debona , da UTFPR e professor do nosso Curso Expert Nutrição e Fertilizantes, explica esse processo.

Conclusões 

O enxofre desempenha um papel crucial nas plantas, sendo necessário para a síntese de aminoácidos e metabólitos secundários.

Sua deficiência pode resultar em sintomas como clorose, crescimento atrofiado e redução da floração e produção de sementes. Além disso, a falta de enxofre afeta a qualidade e o valor nutricional dos alimentos.

É importante garantir um suprimento adequado de enxofre para as plantas, equilibrando-o com outros nutrientes essenciais, como nitrogênio e carbono, para um crescimento saudável e uma produção de alimentos de qualidade.

Quer entender os processos relacionados à deficiência dos outros macronutrientes? baixe nosso guia técnico:

Referências 

Bang, T. C., Husted, S., Laursen, K. H., Persson, D. P., & Schjoerring, J. K. The molecular‐physiological functions of mineral macronutrients and their consequences for deficiency symptoms in plants. New Phytologist, v. 229, p. 2446-2469, 2021. https://doi.org/10.1111/nph.17074

VITTI, G.C.; LIMA, E.; CICARONE, F. Cálcio, Magésio e enxofre. In: Fernandes, M.S. (ed) Nutrição Mineral de Plantas. Viçosa: SBCS, 2006. P. 299-325.

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

Deixe um comentário

Não perca nenhuma novidade do agronegócio!

Fique por dentro das últimas tendências do agronegócio com a newsletter da Agroadvance. É gratuito e você ainda receba notícias, informações, artigos exclusivos, e-books e muito mais.