O fosfato (P2O5) é a fonte de fósforo dos fertilizantes fosfatados utilizados mundialmente na agricultura, cuja matéria-prima são as rochas minerais fosfática – único recurso global. Apesar de alguns rumores de escassez desse recurso finito, relatório publicado em abril de 2023 indica que não haverá escassez da rocha fosfática nos próximos três séculos e meio (IFA & Argus, 2023).
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Fósforo – um macronutriente essencial
O fósforo (P) foi o primeiro elemento a ser considerado essencial ao crescimento das plantas, sendo absorvido na forma de fosfato (P2O5).
As principais funções do fósforo no metabolismo vegetal são a síntese de ATP (adenosina trifosfato) – principal fonte de energia para as plantas e a síntese de ácidos nucleicos – componentes do DNA e do RNA – essenciais para o crescimento e desenvolvimento vegetal. A deficiência de fósforo irá reduzir a maturidade das plantas e a produtividade das culturas.
O fósforo é um dos três principais macronutrientes na nutrição das plantas, juntamente com o nitrogênio (N) e o potássio (K). O consumo global de fósforo na agricultura em 2020 foi de 49Mt P2O5 (Figura 1).
Figura 1. Consumo global de N, P2O5 e K2O em 2020. Fonte: IFA, 2022.
Além disso, o fósforo também desempenha um papel fundamental na nutrição animal – manutenção do esqueleto, regulação de energia e crescimento celular. Cerca de 10% da produção global de fosfato é usada para fabricar suplementos alimentares para animais – outro aspecto importante da segurança alimentar (IFA & Argus, 2023).
A demanda de fosfato para usos industriais, como a produção de detergentes, aditivos para alimentos e bebidas, tratamento de água e creme dental representa cerca de 5% (IFA & Argus, 2023).
Rocha fosfática – principal matéria prima de fosfato (P2O5)
“Rocha fosfática” é um termo generalizado para depósitos contendo fosfato de diversas origens, concentrações químicas e características físicas.
A rocha fosfática, encontrada em jazidas de todo o mundo, é a principal matéria-prima para a produção de quase todos os fertilizantes fosfatados. Este material é moído e processado, passando posteriormente por tratamento químico, (ex: com ácido sulfúrico para obtenção do superfosfato simples ou com ácido fosfórico 50% para obtenção do superfosfato triplo) para, enfim ser utilizado como fertilizante na agricultura.
Os principais produtos são fosfato diamônico (DAP, 18-46-0), fosfato monoamônico (MAP, 11-52-0), superfosfato triplo (TSP, 0-46-0) e fertilizantes compostos multinutrientes (NPK) disponíveis em uma ampla gama de especificações (Figura 2).
Figura 2. Consumo global de P2O5 por produto, em 2020. Fonte: IFA & Argus (2023).
Depósitos de fosfato
Existem três tipos de depósitos de rochas fosfáticas: as ígneas, as sedimentares e os bioenergéticas, sendo os dois primeiros os mais importantes do ponto de vista econômico.
A figura 3 sinaliza os depósitos de rocha fosfáticas que se encontram atualmente em exploração, os que foram explorados no passado e aqueles que demonstram ser potencialmente econômicos.
Figura 3. Distribuição mundial dos depósitos de fosfato. Fonte: IFA & Argus (2023).
As rochas fosfatas ígneas contém apatita como forma de P, juntamente com outros minerais – na maioria das vezes de baixo conteúdo, embora materiais com até 40% de P2O5 já terem sido relatados. Tais minerais são poucos reativos e por isso não são adequados para aplicação direta nos solos cultivados (Fixen, 2009).
As rochas fosfatas sedimentares representam cerca de 80% da rocha fosfática produzida no mundo. Apresentam propriedades físicas e químicas bastante variadas: desde materiais soltos, não consolidados, até rochas endurecidas; desde fluorapatita, quase sem substituição de carbonatos, até 6-7% de carbonatos substituindo fosfatos (Fixen, 2009).
Onde se localizam as reservas de rocha fosfática?
Embora as reservas de rocha fosfática sejam abundantes, as principais reservas se concentram em poucos países, como Marrocos, China e Rússia. O Marrocos é o maior produtor e exportador de rocha fosfática do mundo, respondendo por cerca de 75% das exportações globais. A China é o segundo maior produtor de rocha fosfática, enquanto a Rússia é o terceiro (Figura 4).
Figura 4. Principais revisões históricas das reservas globais de rocha fosfática, 2000-21. Fonte: IFA & Argus (2023).
Um incremento muito grande nas reservas de rocha fosfática foi observado no ano de 2010, devido à revisão das reservas no Marrocos, que aumentou a estimativa de 5,7 Gt das reservas do país para 51 Gt. Desse total, 28 Gt foram em Khouribga, 22 Gt em Gantour e 1 Gt em Boucraa, em termos de concentrado comercializável (IFA & ARGUS, 2023).
Estimativa de recursos de rocha fosfática disponíveis
As estimativas atuais são que os recursos globais de rocha fosfática sejam de 342 Gt (270 – 420 Gt) contendo 65 Gt de P2O5 (45 – 88 Gt de P2O5). Esses números são relatados in-situ, representando a massa de rocha no solo, sem nenhuma perda de mineração ou beneficiamento aplicada (Tabela 1).
Tabela 1. Divisão regional dos recursos de rocha fosfática, 2021. Fonte: Fonte: IFA & Argus (2023)
Desses recursos, estimou-se uma base de reserva de 189Gt (148 – 211Gt) contendo 36Gt P2O5 (26 – 48Gt P2O5), representando os volumes in-situ de minério que são tecnicamente recuperáveis usando “Tecnologias Tradicionais” (Tabela 2). Isso é aproximadamente equivalente a 97Gt (70 – 116Gt) em termos de concentrado de P2O5 a 30% de fósforo (29Gt P2O5).
Tabela 2. Divisão regional da base de reserva (incluindo apenas tecnologias tradicionais), 2021. Fonte: Fonte: IFA & Argus (2023)
Base de reserva é a parte de um recurso identificado que atende aos “critérios físicos e químicos mínimos relacionados às práticas atuais de mineração e produção” (ou seja, material que é tecnicamente lavrável, mas pode ser antieconômico).
Por quanto tempo as reservas de rocha fosfática poderão ser exploradas?
O tempo de exploração futuro desse recurso finito depende, obviamente, do consumo deste.
As projeções de consumo mundial das rochas fosfáticas realizadas no relatório da IFA, consideraram 3 cenários de consumo de fosfato pelas principais culturas agrícolas mundiais, principal consumidora do recurso: baixa, média e alta eficiência do uso do fertilizante fosfatado pelas plantas.
Com as taxas de uso projetadas e usando as atuais tecnologias de extração de P2O5, os depósitos seriam suficientes para o processamento e fornecimento deste recurso por cerca de 350 anos (Figura x), indicando que não há escassez global de rocha fosfática pelos próximos séculos.
Figura 5. Perfil de esgotamento da Base de Reserva de rochas fosfáticas no mundo (somente incluindo as tecnologias tradicionais empregada atualmente). Fonte: IFA & Argus (2023).
Desenvolvimento Sustentável e Consciente
O relatório do IFA também destaca a importância do desenvolvimento sustentável da exploração de rocha fosfática, uma vez que essa atividade pode causar impactos ambientais significativos, como a poluição de rios e a contaminação do solo. Por isso, são necessárias medidas de gestão e conservação para garantir a disponibilidade de rocha fosfática a longo prazo.
Além disso, destaca-se a importância da inovação e melhoria da eficiência na produção de fertilizantes fosfatados, como forma de garantir a segurança alimentar global e reduzir o impacto ambiental associado à agricultura.
As estimativas de longevidade das rochas fosfáticas de cerca de 350 anos, encontradas no relatório produzido pela Argus Media e IFA não pressupõem nenhum avanço na tecnologia de mineração e processamento dos dias atuais e pode ser visto como uma estimativa baixa. Em teoria, se considerarmos os recursos globais totais disponíveis, a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis e o uso cada vez mais eficiente dos fertilizantes é possível que a longevidade desse recurso chegue a 1.000 anos, de acordo com a IFA.
A oferta abundante não deve impedir as empresas de trabalhar em direção aos objetivos de sustentabilidade, incluindo a melhoria da eficiência do uso agrícola, a reciclagem de nutrientes de vários fluxos de resíduos e a maximização da eficiência dos processos de mineração e extração de fosfato. Essas ações maximizarão a longevidade das reservas de fosfato.
Conclusão
No recente relatório da IFA & Argus (2023), estimou-se em mais de 300 bilhões de toneladas os recursos globais de rocha fosfática in situ, das quais cerca de 200 bilhões de toneladas de minério tecnicamente recuperável (base de reserva). Considerando o cenário de demanda intermediária e a estimativa de base de reserva central, projeta-se que a base de reservas dure cerca de 350 anos.
Referências
Fixen, P.E. Reservas mundiais de nutrientes dos fertilizantes. Informações Agronômicas, nº 126, 2009. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~nutricaodeplantas/reservas.pdf. Acesso: 11 de maio de 2023.
IFA. IFASTAT Consumption (Plant Nutrition) Database. https://www.ifastat.org/databases/plant-nutrition (2022)
IFA; Argus Media. Phosphate Rock Resources & Reserves. 2023. Disponível em: https://www.fertilizer.org/wp-content/uploads/2023/04/2023_Argus_IFA_Phosphate_Rock_Resources_and_Reserves_Final.pdf. Acesso: 11 de maio de 2023.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)