Como identificar o solo compactado? Sempre que visitamos um campo de milho, soja, café, feijão ou outra cultura de interesse econômico, podemos nos deparar com plantas com o desenvolvimento prejudicado. São características clássicas clorose (planta amarelada), raquitismo (quando a planta não acompanha o crescimento da lavoura) ou até murcha (falta de água).
Na agricultura muitos são as causas prováveis para desenvolvimento inadequado das plantas. Dentre elas destaca-se a compactação do solo, que curiosamente é a última causa a ser investigada dentro das fazendas. Geralmente, procuramos diversas explicações relacionadas a fertilidade solo (“…essa mancha de solo é problemática.”), a operação (“Há! Meu operador executou incorretamente a manobra na distribuição do adubo/composto.”), ou culpamos o sistema de irrigação (“… o pivô está sem pressão.”).
Quando na verdade o impedimento é fisco (estou falando de física do solo)! Assim, é fundamental visualizar alguns indicativos associados ao histórico da área para solicitar uma avaliação da compactação do solo. Quando entramos no assunto solo compactado uma série de perguntas veem a nossa cabeça, como: O que é um solo compactado? Como observo isso no campo? O que fazer quando o solo está compactado?
Vamos entender tudo isso neste artigo! Ótima Leitura!
O que é um solo compactado?
O que caracteriza um solo compactado é a falta de “espaços vazios” (poros) entre as suas partículas. A compactação é à redução da porosidade do solo gerada pela compressão das partículas de solo (fração mineral) que expulsa a água e o ar do solo (Figura 1). Para mais informações teóricas sobre esse fenômeno acesse nosso artigo sobre compactação do solo.
Vamos fazer um exercício: pense em como devemos plantar uma muda de café na lavoura ou uma roseira em um jardim. O solo tem que estar preparado: todo “solto”, como dizem na roça “fofinho”. Quando fazemos esse trabalho de preparar a cova estamos garantindo que o solo terá poros por onde a água e o ar entrem em equilíbrio e comunicando-se com a atmosfera e o subsolo (Figura 1. a).
Agora imaginemos uma estrada de terra por onde circulam muitos veículos, bem consolidada (“solada”), essa estrada é um exemplo de solo compactado (Figura 1. d). As partículas do solo (areia, silte e argila) estão tão próximas que até uma máquina tem dificuldades para escavar. Nesse solo a porosidade é tão baixa que nenhuma planta daninha se desenvolve. Os fatores fundamentais para vida e saúde do solo (água e o ar) encontram-se indisponíveis, pois a compactação reduz a capacidade do solo em reter água e fornecer oxigênio às raízes das plantas.
O modelo de um solo ideal
Na Figura 2 podemos observar a representação de um solo ideal. Mas por que é tão importante esse equilíbrio? Os solos possuem várias funções que garantem a existência dos seres vivos na Terra. Uma dessas funções é garantir suporte ao crescimento de plantas, sendo habitat natural de várias espécies (animais, vegetais e microrganismos).
Assim, para desempenhar esse papel de suporte as nossas lavouras, o solo deve possuir essa relação equilibrada para estabelecer
- adequada aeração às raízes e biodiversidade do solo: fornecer oxigênio e permitir as trocas gasosas com a atmosfera;
- permeabilidade do solo: a água das chuvas deve passar pelo perfil do solo, sendo conduzida sem obstáculos ao subsolo (infiltração) permanecendo na quantidade necessária para vida no solo;
- abrigar a biodiversidade: é dentro da porosidade do solos que acontecem as principais fases da dinâmica de ciclagem de nutrientes, onde está toda vida (animais, vegetais e microrganismos) que promove a ciclagem.
Densidade do solo e compactação do solo
A densidade do solo consiste na relação massa de solo por unidade de volume do solo, geralmente expressa em g/cm3. Ela compreende e se relaciona com as duas frações fundamentais do solo a porosidade (espaço preenchido por ar e água) e os sólidos do solo (matéria orgânica do solo e minerais) (Figura 1).
A densidade do solo pode variar dependendo de vários fatores, como o tipo de solo, a granulometria e a quantidade de matéria orgânica presente.
Ao pensarmos em granulometria (textura do solo) garantindo condições de estrutura comparáveis, quanto mais argiloso o solo, menor será a sua densidade quando comparados a solos arenosos.
Em resumo a densidade do solo é um indicador indireto da compactação do solo. Assim, quanto mais elevada a densidade do solo, maior a compactação, maior a desagregação da estrutura e menor a porosidade total do solo.
Compactação do solo na agricultura: causas e efeitos
Em áreas agrícolas a compactação do solo pode ser ocasionada principalmente pelos equipamentos (tratores, máquinas e implementos agrícolas) utilizados na mobilização do solo e durante a condução do cultivo.
Tráfego de máquinas
Quem nunca ouviu falar no pé de grade ou pé de arado? As estratégias de manejo são inúmeras, podemos listar em uma lavoura de milho e soja em preparo convencional algumas operações com máquinas como:
- gradagem pesada ou aração,
- gradagem leve para nivelamento,
- plantio,
- sucessivas pulverizações de pré e pós-emergência,
- distribuição de adubo e ou composto,
- colheita e transporte (com graneleiro e caçamba).
Imagine o solo suportando todo esse movimento de máquinas e implementos agrícolas duas vezes ao ano!
O tráfego de máquinas em condições de alta umidade no solo é a principal causa a compactação (Figura 3).
Pisoteio de animais
O trânsito frequente de animais pode compactar o solo em áreas de pastagem.
“Nossos causos: É RARO, MAS ACONTECE MUITO…”
Tombamento na lavoura de feijão – em uma área de preparo convencional, embaixo de um pivô central, abrimos um plantio de feijão vermelho. Dadas as condições foi realizado todo manejo de preparo do solo e tratamento adequado das sementes (fungicida). Após 16 dias da emergência do feijão, em ¼ do pivô central de 50 ha, as plantas começaram a tombar.
Então surgem os questionamentos: Por que as plantas estão tombando? Por que apenas em ¼ do pivô?
Em conversa com o produtor ele diz que realizou a subsolagem, mas que o implemento quebrou justamente na quando iria entrar naquela parte do pivô. Então, mãos-a-obra, solicitei a abertura de uma trincheira nas proximidades da área afetada e “lá estava o famigerado pé de grade” (Figura 4).
A falta de permeabilidade em uma pequena camada abaixo do solo preparado não permitiu uma boa drenagem, associado ao manejo de irrigação inadequado, beneficiou o rápido desenvolvimento dos fungos.
Veja no vídeo abaixo uma explicação bem didática e ilustrativa, do Professor Roberto Cherubin, da ESALQ/USP, de como a compactação do solo pode afetar a distribuição de água no perfil do solo, favorecendo o processo erosivo ou dificultando o acesso de água do perfil do solo para as plantas em condições de ressecamento do solo:
Como medir a compactação do solo?
Ao desconfiarmos de compactação do solo o ideal é solicitar a visita de um técnico de campo para fazer o diagnóstico preciso.
A avaliação pode ser realizada através de equipamentos como penetrógrafos ou penetrômetros (Figura 5) que associados a umidade do solo nos fornecem a resistência mecânica a penetração do solo (KPa).
Uma outra alternativa é a abertura de uma trincheira (por um técnico de campo) para verificação do perfil de solo, geralmente são coletadas amostras indeformadas que irão para o Laboratório de solos. Um modo mais prático para fácil visualização é verificar a resistência do perfil com uma faca (por um técnico de campo), onde há dificuldade de inserção, temos um forte indicativo de compactação.
Uma vez diagnosticado o problema, uma das alternativas é a operação de subsolagem.
Essa operação é considerada uma das mais caras em termos de demanda energética e potência do trator. Por isso, para sua realização um diagnóstico bem feito deve ser realizado. O emprego do subsolador promove a desagregação tridimensional das camadas compactadas mais profundas, podendo chegar até 0,8 m do solo, sem provocar a mobilização efetiva do solo.
Para realização de uma boa subsolagem os seguintes aspectos devem ser levados em conta: compactação existente, a umidade do solo, sua estrutura e textura, cobertura vegetal existente na camada superficial do solo, assim como as características do implemento onde se enquadram a profundidade de trabalho, a potência necessária, o espaçamento entre as hastes, dimensões e seu formato.
A profundidade de trabalho do subsolador é determinada de acordo com a profundidade da camada compactada do solo. Embasando-se na profundidade encontrada deve-se realizar a operação a uma profundidade de 5 a 10 cm mais profunda que a camada a ser desagregada (Figura 6).
O número de hastes a serem utilizadas no subsolador é variável de acordo com a disponibilidade de potência fornecida pelo trator que irá executar a tração. O espaçamento entre hastes está diretamente relacionado à largura de corte do implemento, que é proporcional a capacidade de campo.
Vale ressaltar que a subsolagem é o recurso final para manejar a compactação do solo. Estratégias como rotação de culturas, escarificação (depende da profundidade), devem ser levadas em conta antes da sua execução. Além disso, com a agricultura de precisão podemos mapear as áreas que realmente precisam dessa operação evitando esse procedimento em área total.
No dia a dia na fazenda nem sempre temos como solicitar apoio de um técnico; o que podemos fazer para detectar a existência ou não da compactação do solo?
Em situações como realização de uma subsolagem podemos verificar sua efetividade utilizando uma haste para perfurar o solo preparado. Solos com condições ideais irão permitir a passagem haste após a profundidade de trabalho, solos compactados em subsuperfície oferecerão grande resistência.
Conclusão
A compactação do solo é um processo condicionado pela ação do homem, que interfere nas características físicas do solo, como a porosidade e a permeabilidade, que são reduzidas. Como a resistência do solo aumenta, torna-se um obstáculo a penetração do sistema radicular das culturas, diminuindo a área de exploração das raízes, consequentemente dificultando a absorção de nutrientes. Assim, a adoção de boas práticas de manejo do solo são fundamentais para prevenção e manejo da compactação do solo.
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Referências
BRADY, N.C.; WEIL, R.R. The nature and properties of soils. 15ª edição, 2017.
LANÇAS, K.P. Subsolagem ou escarificação. Cultivar Máquinas, set/out., p.34-37. 2002.
HORN, R. Stress-strain effects in structured unsaturated soils on coupled mechanical and hydraulical processes. Amsterdan, Geoderma, n.116, p.77-88, 2003. DOI: 10.1016/S0016-7061(03)00095-8
Sobre a autora:
Carla da Penha Simon
Consultora Agrícola - DRCS soluções inteligentes
- Engenheira Agrônoma (IFES - Campus Santa Teresa)
- Mestra em Agricultura Tropical (UFES - Campus São Mateus)
- Doutora em Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP)