Entenda o vazio sanitário da soja e o calendário de semeadura de 2023 que contém a época de plantio da soja e como eles ajudam no controle da ferrugem asiática da soja – a principal e mais temida doença da cultura que podem resultar em até 90% de perdas na lavoura.
A ferrugem asiática da soja teve seu primeiro relato no país em 2001. As condições climáticas brasileiras, aliadas às grandes áreas de produção da cultura, facilitaram o estabelecimento de seu agente causal.
O custo médio para controlar a doença no Brasil em cada safra é estimado em US$ 2,8 bilhões, de acordo com o Consórcio Antiferrugem. E o setor não consegue abrir mão dessa conta, pois a ferrugem pode derrubar em até 90% a produtividade das lavouras.
A ferrugem asiática da soja é causada por um fungo biotrófico (Pakospsora pachyrhizi) que, portanto, precisa da planta hospedeira viva para sobreviver.
Por isso, com o intuito de diminuir a quantidade de inóculo presente no início da safra, o MAPA instituiu em maio de 2021, através da Portaria nº 306, o Programa Nacional de Controle da Ferrugem-asiática da soja – Pakospsora pachyrhizi (PNCFS), estabelecendo duas medidas principais:
- O vazio sanitário como medida para controle do fungo causador da ferrugem asiática da soja; e
- O calendário de semeadura- contendo a época de semeadura da soja, como medida fitossanitária para racionalizar o número de aplicações de fungicidas.
Vejamos a seguir o que são tais medidas e como elas ajudam na prevenção e controle desta preocupante doença nas lavouras de soja.
Sem tempo para ler agora? Baixe este artigo em PDF!
O que é o vazio sanitário da soja?
O vazio sanitário é o período definido e contínuo, de no mínimo 90 dias, em que não deve haver plantas vivas de soja em qualquer fase de desenvolvimento na lavoura durante a entressafra.
Nesse período toda e qualquer planta de soja voluntária deve ser eliminada.
O fungo P. pachyrhizi só sobrevive e se multiplica em plantas vivas e essa estratégia tem como objetivo reduzir o inóculo do fungo durante a entressafra em razão da ausência do hospedeiro.
Mas quem define as datas do vazio sanitário e quando isso é feito?
As datas do vazio sanitário para cada ano agrícola são definidas anualmente pela Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS).
Elas são definidas com base nas sugestões dos Órgãos de Defesa Sanitária Vegetal (ODFVs) enviadas à coordenação nacional do Programa Nacional de Controle de Focos de Infecção (PNCFS) até 31 de dezembro.
Para que serve o vazio sanitário da soja?
Como resultado da implantação do vazio sanitário, espera-se que ocorra um atraso nas primeiras ocorrências de ferrugem na safra, diminuindo a possibilidade de ocorrência da doença no período vegetativo, e consequentemente, podendo reduzir o número de aplicações de fungicidas necessárias para o controle.
Qual a época do vazio sanitário da soja?
Para o ano agrícola de 2023, o período de vazio sanitário foi definido pela Portaria nº 781 do MAPA e limita o plantio o calendário de plantio em 100 dias para todos os estados brasileiros. Nos principais estados produtores de soja no País, esse período se concentra entre os meses de junho-julho a setembro (Figura 1).
Figura 1. Período de vazio sanitário soja para a safra 2023/2024. Fonte: Portaria Nº 781, MAPA, 2023.
Nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, houve uma redução de 40 dias na janela de semeadura em relação ao calendário de 2022, o que praticamente inviabilizou o plantio de soja safrinha. Por esta razão os produtores gaúchos pedem que o MAPA revisem esse calendário para a região.
Os estados do Pará, Rondônia, Maranhão e Piauí são divididos em municípios. Para saber detalhadamente qual município se enquadra em que região, consultar a Portaria do MAPA.
Veja na reportagem abaixo, a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudine Seixas, explicando sobre o vazio sanitário da soja.
Como devemos realizar o vazio sanitário da soja?
Para cumprir a legislação e realizar o vazio sanitário é preciso:
- Não plantar e nem manter plantas de soja vivas no período estipulado;
- Eliminar por meio de controle químico ou mecânico as plantas de soja voluntárias que tenham nascido na área no período estipulado;
- Aguardar o período estipulado para sua região – sem plantas de soja na área.
Vazio sanitário soja 2024/2025: Qual as datas de plantio da soja? Calendário de semeadura da soja 2024 para a safra 2024/2025
As datas de plantio de soja devem seguir a determinação do calendário de semeadura da soja do MAPA, a fim de racionalizar o número de aplicações de fungicidas.
Para a safra 2024/2025, o calendário de semeadura da soja foi definido pela Portaria nº 1.111 do MAPA para 21 unidades da Federação (Tabela 2).
Tabela 2. Períodos de semeadura da soja no Brasil para a safra 2024/2025
UF | PERÍODO DE SEMEADURA |
Acre | 21 de setembro de 2024 a 08 de janeiro de 2025 |
Alagoas | 02 de abril de 2025 a 10 de julho de 2025 |
Amapá | 01 de março de 2025 a 10 de junho de 2025 |
Amazonas | 11 de setembro de 2024 a 21 de dezembro de 2024 |
Bahia | 25 de setembro de 2024 a 31 de dezembro de 2024 |
Ceará | 01 de fevereiro de 2025 a 31 de maio de 2025 |
Distrito Federal | 01 de outubro de 2024 a 08 de janeiro de 2025 |
Goiás | 25 de setembro de 2024 a 02 de janeiro de 2025 |
Maranhão | Região I 1 – 01 de outubro de 2024 a 08 de janeiro de 2025 Região II 2 – 01 de novembro de 2024 a 08 de fevereiro de 2025 Região III 3 – 01 de dezembro de 2024 a 09 de fevereiro de 2025 |
Minas Gerais | 01 de outubro de 2024 a 08 de janeiro de 2025 |
Mato Grosso | 07 de setembro de 2024 a 07 de janeiro de 2025 |
Mato Grosso do Sul | 16 de setembro de 2024 a 31 de dezembro de 2024 |
Pará | Região I 4 – 16 de setembro de 2024 a 14 de janeiro de 2025 Região II 5 – 01 de novembro de 2024 a 28 de fevereiro de 2025 Região III 6 – 16 de novembro de 2024 a 14 de março de 2025 |
Paraná | Região I 7: 20 de setembro de 2024 a 18 de janeiro de 2025 Região II 8: 01 de setembro de 2024 a 30 de dezembro de 2024 Região III 9: 21 de setembro de 2024 a 19 de janeiro de 2025 |
Piauí | Região I 10 – 01 de dezembro de 2024 a 20 de março de 2025 Região II 11 – 01 de novembro de 2024 a 18 de fevereiro de 2025 Região III 12 – 30 de setembro de 2024 a 27 de janeiro de 2025 |
Rio Grande do Sul | 29 de setembro de 2024 a 06 de janeiro de 2025 |
Rondônia | 11 de setembro de 2024 a 09 de janeiro de 2025 |
Roraima | 19 de março de 2025 a 26 de junho de 2025 |
Santa Catarina | Região I 13: 13 de outubro de 2024 a 10 de fevereiro de 2025 Região II 14: 02 de outubro de 2024 a 30 de janeiro de 2025 Região III 15: 02 de outubro de 2024 a 30 de janeiro de 2025 Região IV 16: 02 de outubro de 2024 a 10 de janeiro de 2025 |
São Paulo | Região I 17: 01 de setembro de 2024 a 29 de dezembro de 2024 Região II 18: 13 de setembro de 2024 a 10 de janeiro de 2025 Região III 19: 16 de setembro de 2024 a 24 de dezembro de 2024. |
Tocantins | 01 de outubro de 2024 a 15 de janeiro de 2025 |
Fungicidas para o controle da ferrugem da soja
Os fungicidas para o controle da ferrugem possuem três mecanismos de ação (Tabela 3), atuando:
- Na biossíntese de ergoesterol, importante componente da membrana celular dos fungos, inibindo a Desmetilação do C-14 (DMI) e
- na respiração mitocondrial dos fungos,
- no complexo II, como Inibidores da Succinato Desidrogenase (SDHI) ou
- no complexo III, como Inibidores da QWuinona Oxidase (Qol).
Tabela 3. Mecanismos de ação dos principais fungicidas utilizados para o controle da ferrugem (Pakospsora pachyrhizi).
NOME COMUM | SÍTIO DE AÇÃO | NOME DO GRUPO | NOME COMUM |
Inibidores da biossíntese de ergosterol | Desmetilação do C-14 | DMI, “triazóis” Inibidores da Desmetilação do C-14 | ciproconazol, epoxiconazol, flutriafol, metconazol, propiconazol, protioconazol, tebuconazol, tetraconazol |
Inibidores da respiração | Complexo II | SDHI, “carboxamidas” Inibidores da Succinato desidrogenase | Benzovindiflupyr, fluxapyroxad |
Inibidores da respiração | Complexo III | Qol, “estrobirulinas! Inibidores da Quinona Oxidase | azoxistrobina, picoxistrobina, piraclostrobina, trifloxistrobina |
Estratégias antirresistência
De acordo com o Consórcio antiferrugem, algumas estratégias podem ser utilizadas para evitar o surgimento de resistência do fungo aos fungicidas utilizados para o controle da doença:
- Incluir todos os métodos de controle de doenças dentro do programa de manejo integrado;
- Utilizar sempre misturas comerciais formadas por dois ou mais fungicidas com modo de ação distintos;
- Aplicar doses e intervalos recomendados pelo fabricante;
- Os fungicidas devem ser usados preventivamente. Evitar aplicações em alta pressão de doença e de forma curativa.
- Não utilizar mais que duas aplicações do mesmo produto em sequência e utilizar no máximo dias aplicações de produtos contendo SDHI por curativo;
- Não utilizar SDHI quando a doença estiver bem estabelecida.
Considerações
Embora o controle da ferrugem asiática ainda seja um desafio constante para o setor, a implementação do vazio sanitário e do calendário de semeadura representa avanços significativos no combate a essa doença.
Com a adoção correta dessas medidas, é possível reduzir as perdas na lavoura e garantir a sustentabilidade da produção de soja.
É fundamental que produtores, pesquisadores e órgãos de defesa agropecuária continuem trabalhando juntos para aprimorar as estratégias de controle da ferrugem asiática e desenvolver novas soluções.
Somente com um manejo adequado e uma abordagem integrada, poderemos enfrentar os desafios impostos por essa doença e assegurar a saúde e a produtividade da cultura da soja.
Conheça o nosso Curso: Expert em Soja e Milho e domine o manejo das culturas
Referências
CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM. Folder Ferrugem asiática da soja. Disponível em: http://www.consorcioantiferrugem.net/#/conteudos/view/3. Acesso em 17/07/2023.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)