Dessecação das plantas de cobertura: importância de se manejar adequadamente

Sumário

A dessecação das plantas de cobertura é uma prática feita para produzir resíduos vegetais cobrindo o solo para a cultura sucedânea nos sistemas agrícolas em plantio direto, bem como eliminar toda vegetação presente na área e controlar pragas e doenças antes da semeadura da cultura em sucessão, como o milho e soja (Calonego et al., 2005; Rosolem et al., 2005).

O encerramento dessas coberturas usando métodos certos e no momento correto é o ponto principal para garantir o plantio em tempo hábil e evitar que as culturas de cobertura compitam com as culturas comerciais.

A palhada (cobertura morta) formada pelas plantas de cobertura dessecadas é uma tecnologia adotada no campo como prática sustentável que protege o solo da erosão acarretada pelas chuvas, além de conferir melhores condições ao solo pela manutenção da umidade e menor oscilação térmica, de forma a melhorar a qualidade da germinação das sementes e o estabelecimento inicial das plantas.

Além disso, no período de cultivo das plantas de cobertura durante a safra de inverno e/ou entressafra, pode haver o aumento das pragas e doenças e a dessecação das plantas elimina o hospedeiro na lavoura e acarreta quebra do ciclo dessas patologias e dos insetos.

Assim, a maioria das espécies requer algum tipo de manejo no cultivo para melhorar a eficiência de sua utilização, o tempo de terminação para formação de palhada e a liberação de nutrientes pelos resíduos vegetais.   

Benefícios da dessecação

Dentre os principais benefícios da dessecação no momento correto das plantas de cobertura, destacam-se:

  • Facilitar o manejo das pragas e doenças antes e durante o ciclo da cultura subsequente;
  • Reduzir os efeitos alelopáticos das coberturas ou plantas daninhas;
  • Melhorar a semeadura (campo uniforme e limpo), permitindo melhor corte da palhada pela semeadora e distribuição de sementes;
  • Promover melhor desenvolvimento inicial de plantas, sem competição por luz, água e nutrientes;
  • Aumentar a produtividade das culturas em sucessão.

Liberação de nutrientes

Ao dessecar as plantas de cobertura, há o aumento dos restos culturais na área.

Posteriormente, a decomposição desse material disponibiliza nutrientes ao longo dos outros cultivos. Inicialmente, o processo de decomposição da palhada é mais rápido na fase inicial com a liberação principalmente de potássio (K) e nitrogênio (N) nos primeiros 30 dias após o manejo das plantas (Aita, 2001; Momesso et al., 2019; 2021).

Como efeito de resíduos vegetais, a mobilidade de cátions no solo aumenta e os microrganismos reduzem os ligantes orgânicos no processo de decomposição da palhada (Franchini et al., 2001; Miyazawa et al., 2002).

Escolha do momento adequado

A prática de dessecação anterior à semeadura requer o planejamento da época de semeadura da cultura a ser implantada (Figura 1). Em geral, a dessecação das plantas de cobertura deve ser realizada cerca de 20 a 30 dias antes da semeadura (Embrapa, 2004).

Se a dessecação for realizada muito próxima ao dia da semeadura, a produtividade da cultura de interesse comercial é prejudicada (Constantin et al., 2005).

No caso do cultivo de milho, a semeadura da cultura logo após a dessecação da aveia pode acarretar germinação desuniforme e desenvolvimento inicial inadequado (estiolamento) das plântulas de milho, e recomendam um intervalo de pelo menos duas a três semanas entre o manejo da aveia e a semeadura do milho (Calegari et al., 1998).

Isso porque quando o intervalo entre a dessecação e a semeadura da cultura comercial é um período curto e pode causar clorose nas folhas das culturas sucedâneas nos estádios iniciais de crescimento devido ao efeito alelopático.

Compostos alelopáticos afetam negativamente outras plantas inibindo a germinação e o desenvolvimento, sendo esses efeitos acentuados quando há curto intervalo entre as operações.

Dentre eles, estudos indicam que intervalos reduzidos na dessecação provocam quedas na produtividade de soja após o cultivo do sorgo (Peixoto e Souza, 2002), bem como o desenvolvimento vegetativo da soja após Brachiaria decumbens (Melhorança e Vieira, 1998).

Uma forma de diminuir esse efeito é aguardar um período maior para a implantação das culturas sobre a cobertura dessecada (Melhorança e Vieira, 1998).  

Outra vantagem da dessecação com um longo intervalo de tempo entre as operações, é garantir a completa terminação das plantas de cobertura pois dependendo das espécies, há tempo necessário para que o agricultor não tenha dificuldade de manejar essas plantas.

É importante ressaltar que esse período deve ser menor àqueles que favorecem o surgimento de rebrotes de cobertura vegetal ou emergência de plantas daninhas.

Portanto, há a necessidade de que o agricultor avalie o melhor momento para realizar a aplicação visto que o intervalo de dessecação afeta a cultura sucedânea e algumas espécies são de maior dificuldade de manejo, dependendo do estágio de crescimento para o ideal controle.

Dessecação de plantas de cobertura
Figura 1. Sistema agrícola com dessecação das plantas de cobertura.

Evitar perdas na produtividade

A dessecação antes da semeadura evita perdas causadas por potenciais pragas e plantas daninhas.

A competição entre a cultura e as plantas invasoras podem inviabilizar o desenvolvimento das culturas nos estádios iniciais por causa das plantas indesejáveis terem características de agressividade/rusticidade que conferem maior competição e sobrevivência no campo, uma vez que têm germinação rápida, alta capacidade de absorção de água e nutrientes no solo e a grande disseminação.

Algumas delas ainda têm efeito alopático e podem prejudicar o crescimento das plantas na lavoura, provocando uma desuniformidade e diminuindo a produtividade na colheita. Essa operação quando adequadamente manejada gera ganhos em produtividade por manter a cobertura vegetal no solo e liberar quantidades expressivas de nutrientes.

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Referências

Aita, C., Basso, C.J., Ceretta, C.A., Gonçalves, C.N., Ros, C.O. Plantas de cobertura de solo como fonte de nitrogênio ao milho. R. Bras. Ci. Solo, 25:157-165, 2001. https://doi.org/10.1590/S0100-06832001000100017

Calegari, A., Heckler, J.C., Santos, H.P., Pitol, C., Fernandes, F.M., Hernani, L.C., Gaudêncio, C.A. Culturas, Sucessões e Rotações. In Sistema Plantio Direto. O produtor pergunta a Embrapa responde. Dourados: EMBRAPA-CPAO, p. 59-80, 1998.

Calonego, J.C., Foloni, J.S.S., Rosolem, C.A. Lixiviação de potássio da palha de plantas de cobertura em diferentes estádios de senescência após a dessecação química. R. Bras. Ci. Solo, 29(1), 99-109, 2005. https://doi.org/10.1590/S0100-06832005000100011

Constantin et al., 2005 CONSTANTIN, J. et al. Dessecação em áreas com grande cobertura vegetal: alternativa de manejo. Infor. Agron., 111, 7-9, 2005.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Tecnologias de produção de soja Londrina: 2004. 239 p.

Franchini, J.C. et al. Potencial de extratos de resíduos vegetais na mobilização do calcário no solo por métodos biológicos. Sci. Agric., v. 58, n. 2, p. 357-360, 2001. https://doi.org/10.1590/S0103-90162001000200020 

Momesso, L., Crusciol, C.A.C., Soratto, R.P., Vyn, T.J., Tanaka, K.S., Costa, C.H.M., Ferrari Neto, J., Cantarella, H. Impacts of nitrogen management on no-till maize production following forage cover crops. https://doi.org/10.2134/agronj2018.03.0201

Momesso, L., Crusciol, C.A.C., Soratto, R.P., Nascimento, C.A.C., Rosolem, C.A., Moretti, L.G., Kuramae, E.E., Cantarella, H. Early nitrogen supply as an alternative management for a cover crop-maize sequence under a no-till system. Nutr. Cycl. Agroecosyst. In press, 2021. https://doi.org/10.1007/s10705-021-10158-1

Melhorança, A.L., Vieira, C.P. Efeito da época de dessecação sobre o desenvolvimento e produção da soja. In: Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, 21., 1999, Dourados. Resumos… Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 1999. p. 224-225.

Miyazawa, M., Pavan, M.A., Franchini, J.C. Evaluation of plant residues on the mobility of surface applied lime. Braz. Arch. Biol. Technol., 45(3), 251-256, 2002.

Peixoto, M.F., Souza, I.F. Efeitos de doses de imazamox e densidades de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) em soja (Glycine Max (L.) Merril) sob plantio direto. Ciência e Agrotecnologia, 26(2):252-258, 2002.

Pitelli, R.A., Pitelli, R.L.C.M. Biología e ecofisiologia das plantas daninhas. In: Vargas, L., Romam, E.S. (Eds.). Manual de manejo e controle de plantas daninhas. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2004. p. 29-56.

Rosolem, C.A., Calonego, J.C., Foloni, J.S.S. Potassium leaching from millet straw as affected by rainfall and potassium rates. Communications in Soil Science and Plant Analysis, 36, 1063-1074, 2005.

Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.

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