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Controle Biológico de Pragas: conheça os agentes e programas para um manejo eficiente

Com certeza já ouviu falar em controle biológico de pragas. Você sabe quais agentes são utilizados neste tipo de manejo de praga, conhece os tipos de programas passiveis de serem realizados?
Se ficou curioso e deseja saber mais sobre as bases desta tecnologia leia o artigo abaixo para ficar por dentro de tudo!

Atualizado: 21/06/2023

O que é o Controle Biológico de Pragas?

Ainda na década de 60, Paul de Bach (1964) definiu controle biológico (CB) como a ação de parasitoides, predadores e micro-organismos na manutenção de outra população de organismo em média menor do que ocorreria na ausência destes.

De acordo com Parra et al (2002) controle biológico é um fenômeno natural que consiste na regulação do número de plantas e animais por inimigos naturais, os quais se constituem nos agentes de mortalidade biótica.

Assim, toda as espécies de plantas e animais têm inimigos naturais atacando seus vários estágios de vida. Em outras palavras, quando um organismo controla outra espécie de organismo.

De uma maneira geral na ausência do ser-humano todos os organismos estão em equilíbrio com suas populações se autorregulando em seus habitats.

Devido a necessidade de se produzir alimentos e comodities o homem quebra este equilíbrio natural e desta forma as pragas surgem. O controle biológico em linhas gerais busca trazer novamente este equilíbrio perdido.

Tipos de agentes de Controle Biológico de Pragas

Podemos dividir os agentes de controle biológico de pragas em micro-organismos e macro-organismos.

  • Micro-organismos: Fungos (Fig 1A), Bactérias, Vírus, Nematoides e protozoários.
  • Macro-organismos: Insetos parasitoides e predadores, (Fig 1B), ácaros predadores, aves, animais passíveis de serem observados a olho nu.

 controle biológico de pragas com o fungo entomopatogênico Beauveria bassianaMacro organismos

Figura 1. (A) Exemplo de microrganismo entomopatogênico, o fungo, Beauveria bassiana, sobre a lagarta-do-coqueiro (Brassolis sophorae).  (B) Um macrorganismo predador, o crisopídeo Ceraeochrysa sp. (Fotos: Tiago C. da Costa Lima- Embrapa Semiárido).

Observações: Chamamos a atenção que a partir deste momento o texto abordará apenas o controle biológico, no contexto agrícola, realizado por macro-organismos (com exceção de ácaros predadores).

 

Tipos de macro-organismos

Parasitoides: Deve-se tomar cuidado para se diferenciar parasitoides de parasitas, o sufixo “oide” vem do grego que significa “que imita”, desta forma parasitoides “imitam” o comportamento de parasitas em alguns aspectos.

As diferenças entre parasitas e parasitoides para o controle biológico de pragas reside no fato que parasitas, normalmente não matam seus hospedeiros, já parasitoides em algum momento do seu próprio desenvolvimento obrigatoriamente matam seu hospedeiro.

Outra diferença, entre parasitas e parasitoides é que parasitas tem um ciclo de vida complexo com diferentes fases de desenvolvimento, precisam de mais de uma espécies de hospedeiro para completar seu ciclo, já parasitoides necessitam de apenas um hospedeiro para completar seu ciclo que é mais simples, possuem fase de ovo, larva, pupa e adulto de vida livre.

Os parasitoides colocam seus ovos no interior, sobre ou próximo ao hospedeiro.

Sua progênie se alimenta do hospedeiro, como mencionado antes, causando a morte deste. Em geral são menores ou do mesmo tamanho que o hospedeiro, e os adultos são de vida livre. Ex.: Trichogramma (Fig. 2 a).

Predadores: É um organismo de vida livre durante todo o ciclo, em geral maior que as presas. Matam várias presas para conseguir completar o ciclo. Ex.: joaninhas e percevejos Podisus sp. (Fig. 2 b e C).

parasitoide de ovoslarvas de joaninhas matando pulgõespercevejo e lagarta

Figura 2. A) Exemplo de parasitoide de ovos Trichogramma galloi, parasitando ovos de Diatraea saccharalis.  B) Exemplo de um macro-organismo predador, larvas (imaturos de joaninha Cocinilidae) predando pulgões. C) Outro predador, um percevejo do gênero Podisus predando uma lagarta de Anticarsia gemmatalis (Fotos: Heraldo Negri de Oliveira).

Programas de Controle Biológico de Pragas com macro-organismos

Controle Biológico de pragas Clássico ou inoculativo

De acordo com Parra et al. (2002) este tipo de programa é definido pela importação e colonização de parasitoides ou predadores, visando ao controle de pragas exóticas (eventualmente nativas).

De uma maneira geral, as liberações são realizadas com um pequeno número de insetos (liberações inoculativas), por uma ou mais vezes no mesmo local.

Por isso, o controle biológico, nesse caso, é visto como uma medida de controle a longo prazo, pois a população dos inimigos naturais tende a aumentar com o passar do tempo, e portanto, somente se aplica a culturas perenes ou semi-perenes.

O primeiro caso de sucesso de controle biológico moderno, deu-se com a introdução da joaninha predadora Rodolia cardinalis Mulsant no ano de 1888, que foi importada da Austrália para o controle do pulgão-branco-do-citros Icerya purchasi Maskel, um ano após a sua liberação a praga já deixou de causar grandes perdas econômicas.

De uma maneira geral, o controle biológico clássico ou inoculativo, era muito mais utilizado no passado quando as técnicas de criação de insetos eram incipientes, pouco desenvolvidas.

Desta forma, o que se fazia era localizar o centro de origem da praga, e identificar os principais inimigos naturais da praga em seu centro de origem e introduzir eles no país onde a praga causa problemas.

Este tipo de programa de controle biológico ainda tem espaço, principalmente quando pragas novas são introduzidas, e as técnicas de criação dos inimigos naturais são muito difíceis de serem realizadas em escala massal.

Uma característica de programas de controle biológico clássico ou inoculativo é que geralmente são programas executados por órgão públicos governamentais, uma vez que exige uma série de testes prévios para garantir que o inimigo natural não irá se tornar um problema.

Além disso, devido ao fato de após algum tempo o inimigo natural se estabelecer no campo e efetuar o controle da praga naturalmente, o que não gera interesse econômico à empresas do ramo.

Conservativo ou natural

Programas de controle biológico de pragas natural ou conservativo são aqueles referentes à população de inimigos naturais que ocorrem naturalmente, atendendo a um dos preceitos básicos de controle biológico, ou seja, conservação (Parra et al., 2002).

Os referidos parasitoides e predadores devem ser preservados (e, se possível, aumentados) por meio da manipulação de seu ambiente de forma favorável.

Usar inseticidas seletivos em épocas corretas, reduzir doses de produtos químicos, evitar práticas culturais inadequadas, preservar hábitats ou fontes de alimentação para inimigos naturais também são práticas utilizadas.

Já no século III a.C. os chineses utilizavam esta tecnologia de controle biológico de pragas, preservando e melhorando a locomoção da formiga predadora Oecophylla smaragdina para o controle de lagartas desfolhadoras e coleobrocas em citros (figura 3).

Outra técnica empregada neste tipo de programa é a utilização de “plantas banqueiras” (geralmente sem valor comercial), estas plantas servem como uma banco de parasitoides e/ou predadores que se desenvolvem nas pragas que alimentam-se das referidas plantas banqueira, sem prejuízos ao agricultor.

Outra tática muito utilizada dentro do contexto do controle biológico conservativo é a utilização de inseticidas seletivos, ou seja, inseticidas que matam as pragas sem matar os inimigos naturais.

Dentro da seletividade dos inseticidas existem duas categorias:

  1. seletividade fisiológica, no qual a molécula inseticida tem pouco efeito sobre o inimigo natural, exemplo inseticidas inibidores da síntese de quitina, que afetam muito pouco os parasitoides e predadores já adultos;
  2. seletividade ecológica, na qual evita-se o contato do inseticida com os inimigos naturais, pode ser obtida utilizando-se inseticidas granulados no solo, quando sabe-se que a maioria dos inimigos naturais estão na parte aérea da planta.
 forrageamento de formigas predadoras
Figura 3. Modelo de “pontes” para facilitar o forrageamento de formigas predadoras, utilizados em pomares de citros por chineses no século III a.C.

Aplicado ou Aumentativo

Programas de controle biológico de pragas aplicado (CBA) são aqueles que usam liberações inundativas de parasitoides ou predadores, após a criação massal em laboratório, visando a redução rápida da população da praga para seu nível de equilíbrio (Parra et al. 2002).

Este tipo de programa de controle biológico é bem-aceito pelos agricultores, pois tem um tipo de ação rápida, muito semelhante à de inseticidas convencionais.

Como comentado anteriormente, quando apenas existia o controle biológico clássico, uma vez que as técnicas de criação eram incipientes, uma das desvantagens do controle biológico era sua ação lenta e sua aplicação exclusivamente em cultura perenes e semiperenes.

Parra et al. (2002) comentam que com o desenvolvimento do CBA, tais desvantagens foram superadas. O CBA teve grande evolução a partir da década de 1970 com a evolução das dietas artificiais.

Esses “inseticidas biológicos” são mais utilizados para parasitoides ou predadores nativos, embora possam ser aplicados a inimigos naturais exóticos (Parra et al., 2002).

Neste tipo de controle não se espera o estabelecimento dos indivíduos liberados nas áreas visadas. Existem diferentes casos de sucesso de CBA ao redor do mundo, sendo mais frequentemente citados os que utilizam Trichogramma spp.

 

Consideração final

Com o acima exposto espera-se que os conceitos básicos sobre controle biológico de pragas sejam absorvidos pelos leitores, logicamente que as táticas com uso de outros organismos, como por exemplo micro-organismos serão abordados em futuras publicações.

É importante que se saiba diferenciar o controle biológico de pragas de outras táticas de controle, como por exemplo extratos de plantas inseticidas e utilização de extratos de fermentados por bactérias (espinosinas) que não se enquadram como controle biológico.

Quer continuar lendo mais sobre o assunto? Confira nosso artigo de controle biológico de nematóides.

Referências

De Bach, P., 1974. Biological control by natural enemies. London, Cambridge University Press.323 p.

Parra, J. R. P., P. S. M. Botelho, B. S. Corrêa-Ferreira and J. M. S. Bento. 2002. Controle Biológico: terminologia, pp. 1-13. In J. R. P. Parra, P. S. M. Botelho, B. S. Corrêa-Ferreira and J. M. S. Bento (eds.), Controle biológico no Brasil – parasitóides e predadores. Manole, Barueri, Brazil.

Atualizado por: Beatriz Nastaro Boschiero

Este post tem um comentário

  1. Souza

    Achei muito bom este site! Fizeram um ótimo trabalho.
    Parabéns!!!

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