Investir na construção do perfil de solo em profundidade é um dos principais manejos que um produtor rural pode realizar visando a longevidade da sua lavoura para altas produtividades.
Quer conhecer as principais estratégias de manejo para construção de perfil de solo e saber como aplicar na sua lavoura?
Acompanhe este conteúdo!
O que é perfil do solo?
O perfil do solo é uma seção vertical que atravessa todas as suas camadas ou horizontes do solo, estendendo-se da superfície até o material de origem (Curi et al., 1993).
Essas camadas são formadas da ação simultânea dos processos químicos, físicos e biológicos, que ocorrem no solo.
A classificação dessas camadas considera propriedades como textura, cor, agregação, matéria orgânica, composição, entre outras.
Como o perfil do solo se forma?
A formação do perfil do solo resulta da interação de fatores como rocha matriz, clima, organismos, relevo e tempo. O intemperismo atua na decomposição da rocha matriz, enquanto processos biológicos e físicos contribuem para a diferenciação dos horizontes. Atividades agrícolas podem modificar esse perfil, influenciando sua estrutura e composição.
Principais horizontes do solo
A configuração mais comum do perfil do solo inclui os horizontes O e A, que compõem as camadas superficiais, e os horizontes B, C e R, que formam as camadas subsuperficiais (Figura 1).
- Horizonte O: camada superficial composta predominantemente por matéria orgânica em decomposição, como restos de plantas e animais.
- Horizonte A: camada mineral superficial, geralmente escura devido ao acúmulo de matéria orgânica bem decomposta, sendo a principal zona de atividade biológica e de interação com as raízes.
- Horizonte B: camada mineral situada abaixo do horizonte A, caracterizada pelo acúmulo de materiais eluídos das camadas superiores, como argilas, óxidos de ferro e alumínio. Geralmente apresenta coloração mais intensa e estrutura mais coesa.
- Horizonte C: composto por material de origem pouco intemperizado, ainda com características semelhantes à rocha que deu origem ao solo.
- Horizonte R: rocha-matriz não intemperizada, geralmente compacta e contínua.
Além desses, pode ocorrer a presença do horizonte E, uma camada mineral clara, resultado do processo de eluviamento — a remoção de argilas, óxidos de ferro e matéria orgânica. Esse horizonte está geralmente localizado entre os horizontes A e B, quando presente.
A sequência, espessura e presença dos horizontes variam conforme os fatores de formação do solo, como clima, material de origem, relevo, tempo e atividade biológica.

Por que conhecer o perfil do solo é importante na agricultura?
Compreender o perfil do solo é vital para:
- Avaliar a fertilidade e o potencial produtivo.
- Planejar correções e adubações adequadas.
- Determinar a profundidade ideal de preparo.
- Identificar impedimentos físicos e químicos ao crescimento radicular.
O que significa o termo “construção de perfil do solo”?
No contexto de aumentar a produtividade a construção de perfil de solo é uma série de práticas de manejo que são adotadas com o intuito de construir um sistema de produção que possibilite o desenvolvimento radicular em subsuperfície.
Esse processo envolve solos com menor compactação, baixo ou nulo teor de alumínio em profundidade, disponibilidade de cálcio, formação de agregados e alta atividade biológica.
Um grande desafio, não é mesmo? Mas saiba que já é uma realidade em muitas lavouras e consequentemente, muitas delas são lavouras de alta performance, como altos tetos de produtividade.
Como construir o perfil de solo?
É um processo gradativo para corrigir e melhorar todos os impedimentos químicos, físicos e restabelecer a atividade biológica do sistema de produção.
Vale ressaltar que há diversos manejos para construção de um perfil favorável ao enraizamento profundo.
Eles variam de acordo com o investimento financeiro, tempo e resultados. É de grande importância a capacitação técnica dos envolvidos nesse processo
Impedimentos Químicos x Perfil do Solo
Os solos agrícolas brasileiros, geralmente são solos ácidos e de baixa fertilidade natural.
Então dada as circunstâncias, a construção de perfil do solo vai iniciar nas camadas iniciais do solo e seguir construindo o perfil em profundidade.
Ao mesmo tempo que construímos o perfil, também desenvolvemos a fertilidade do solo.
O primeiro passo é fazer uma análise de solo das camadas superficiais e subsuperficiais.
Muitas lavouras, ainda realizam apenas a análise superficial, onde se concentra a maior parte do sistema radicular. Porém, se na subsuperfície, os aspectos químicos e físicos do solo estão desequilibrados, haverá um impedimento para as raízes continuarem se desenvolvendo.

Ou seja, o primeiro passo é conhecer o seu solo, para realizar as práticas corretivas (calagem, gessagem e fosfatagem) e adubação visando atender a construção de perfil.
Impedimentos Físicos x Perfil de Solo
Quando se fala em impedimentos físicos, automaticamente pensamos na compactação! Um dos grandes impedimentos para o crescimento radicular, com prejuízos que podem chegar a 20 sacas por hectare.
Em áreas de plantio convencional, é comum recorrer a intervenções mecânicas, que muitas vezes contribuem ainda mais para a compactação do solo após um curto período de tempo se não forem realizadas adequadamente.
Já em áreas de plantio direto, como boa parte das lavouras do Cerrado, onde a intervenção mecânica é mínima, uma boa estratégia para descompactação e melhoria dos aspectos físicos do solo é a utilização de plantas de cobertura.

As diferenças no desenvolvimento do sistema radicular de diferentes culturas permitem o planejamento da rotação de cultura com base nas características da planta e solo, sendo uma importante ferramenta no manejo da compactação. Além de melhorar a estrutura física do solo, favorecendo a aeração e infiltração de água.
Aspectos biológicos e Perfil do solo
A microbiologia do solo tem influência direta na produtividade e qualidade da lavoura.
Além da ciclagem de nutrientes e decomposição da matéria orgânica, alguns microrganismos são capazes de controlar nematoides e patógenos do solo, promover a fixação biológica do nitrogênio, maximizar o aproveitamento de nutrientes, colaborar para o desenvolvimento radicular, entre muitos outros benefícios.
O processo de construção de perfil de solo em profundidade também envolve práticas capazes de restabelecer funções do microbioma, que muitas vezes se perderam em decorrência de manejos adversos nas safras anteriores.
Benefícios da construção de perfil de solo
O solo está sujeito a erosões, compactação, comprometimento da atividade biológica, ao ser degradado, o solo perde parte do potencial produtivo.
Se nós temos um manejo que possibilite o aprofundamento do sistema radicular, é possível mitigar os danos causados por condições adversas, como déficit hídrico. Descubra abaixo os benefícios da construção de perfil do solo.
- Utilizar a água das camadas subsuperficiais;
- Maior aproveitamento de nutrientes móveis, como nitrogênio, boro e enxofre;
- Minimiza as perdas causadas por doenças radiculares e nematoides;
- Contribui para a atividade biológica do solo;
- Formação de agregados do solo;
- Ciclagem de nutrientes;
- Adição de carbono em profundidade.
Desafios para a construção de perfil do solo
Construir o perfil do solo é um processo, muitas vezes perdura por vários anos, mas que pode garantir altos tetos de produtividade.
- Resultado é gradativo;
- Pode demorar muitos anos para atingir o resultado esperado;
- Demanda alto conhecimento técnico;
- Maiores investimentos financeiros.
Conclusão
O perfil de solo é um dos principais fatores limitantes para o desenvolvimento radicular e altas produtividades. O baixo desenvolvimento de raízes, torna a lavoura mais suscetível aos déficits hídricos, menor quantidade de nutrientes explorados no solo e maximiza as perdas decorrentes do ataque de patógenos.
Com o constante avanço genético em sementes altamente produtivas, defensivos de elevada tecnologia e novas tecnologias, é preciso desenvolver no solo as condições necessárias para que a planta desempenhe o seu potencial produtivo.
Investir na construção de perfil do solo é investir na longevidade da sua lavoura e altas produtividades. A formação de um perfil favorável ao enraizamento, além da melhoria química também contribui para a melhoria física e biológica das camadas subsuperficiais.
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Referências
CURI, N.; LARACH, J. O. I.; KAMPF, N.; MONIS, A. C.; FONTES, L. E. F. Vocabulário de ciência do solo. Campinas: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1993.
DE SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E.; REIN, T. A. Uso do gesso agrícola nos solos do cerrado. Embrapa Cerrados-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2005.
Artigo escrito por: Nathalia Sartore (Engenheira Agrônoma / ESALQ/USP)