Confira o que é erosão do solo, quais os tipos de erosivo, quais os impactos na agricultura e aprenda como contornar ou evitar essa situação através de manejos assertivos.
O solo é um componente extremamente importante para a vida humana, além de ser habitat natural de muitos organismos que contribuem para o equilíbrio do ecossistema, ele garante suprimentos básicos para nossa sobrevivência.
O solo é tão impactante para nossa vida, que existe uma ciência específica para estudar e entender esse recurso, bem como as interações e conceitos por trás desse.
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O solo é um recurso tão complexo que não existe uma definição única:
- Para um geólogo, o solo pode ser entendido como um resultado do ciclo geológico.
- Para um engenheiro civil é a matéria prima e base para muitas construções.
- Para um agrônomo o solo pode ser visto como um ambiente complexo que sustenta diversas reações e interações que nos possibilita a produção de alimentos e, por assim dizer, a vida.
No entanto, o solo não é isento de problemas, e por sinal passa por diversas complicações. Em um estudo realizado por Pravaler (2021), apontou-se que existem 17 processos de degradação da terra, sendo a erosão do solo um dos mais impactantes.
Mas afinal, o que seria erosão do solo? Se você se interessa por esse tema e quiser ler mais sobre o perfil de solo e ver como construir um solo produtivo, leia o artigo do blog “O que é perfil do solo e como construir?”
O que é erosão do solo?
A palavra erosão (do latim erosio.onis) pode ser entendida como o desgaste do solo ou da superfície terrestre provocado pela ação (mecânica ou química) das águas, chuva ou agentes erosivos.
Isto é, o processo pelo qual o solo e rochas se desgastam, e que ocorre de forma natural (relativo à natureza, como pelo vento ou pela água das chuvas e mares) ou por ações antrópicas (causadas pelo homem) é conhecido como erosão.
A erosão é tida como uma das principais e prejudiciais formas de degradação do solo, isto porque ela diminui a capacidade produtiva das culturas agrícolas, pois com o deslocamento dos sedimentos, muitos nutrientes são retirados e deverão ser supridos, além de causar danos ambientais, como assoreamento, poluição das fontes da água e solos desuniformes (em relevo e nutrição) (Zartl et al., 2001; Cogo et al., 2003).
Vale salientar ainda que para Romkens et al. (2001) a erosão é um fenômeno de extrema complexidade, e que entre as partes envolvidas neste processo estão a desagregação e transporte das partículas de solo, a infiltração da água no solo, armazenamento de uma porcentagem da água precipitada e escoamento superficial.
Como curiosidade, vale citar que uma das sete maravilhas do mundo natural, o Grand Canyon, originou-se a partir de processos erosivos que ocorreram por milhares de anos, sendo os principais agentes dessa formação o impacto do rio Colorado, a força das chuvas, o atrito do vento e o congelamento e descongelamento.
Agentes de erosão: o que influencia na erosão do solo?
A erosão de fato é prejudicial aos solos e as atividades realizadas nesses, como a agricultura e pecuária. No entanto, a relevância e a magnitude dos impactos causados por esse fenômeno dependem e estão interligados a uma série de fatores, sendo estes:
- o clima,
- o tipo de solo,
- a topografia da região,
- as práticas de manejo do solo utilizadas,
- a cultura produzida na lavoura,
- se são utilizadas práticas conservacionistas, além das
- condições antecedentes de umidade e tamanho da área considerada.
Queremos abordar os 3 principais: clima, topografia e vegetação.
Clima — um dos principais fatores que desencadeia a erosão dos solos.
O clima engloba:
- Precipitação da chuva – que provoca impacto ao entrar em contato com as partículas do solo,
- Vento – que faz a dispersão das partículas,
- Temperatura e incidência do sol,
- Sazonalidade climática – que são os grandes eventos climáticos que transportam os sedimentos por longas distâncias, como furacão, terremoto, derretimento, desbarrancamento e outros.
Topografia — a superfície de uma área também é extremamente relevante para o nível de erosão, bem como as características dessa topografia.
A altitude é um fator decisivo na erosão, porque áreas de altas altitudes tendem a sofrer mais com processos erosivos do que as mais baixas.
A composição da rocha que deu origem ao solo também é um fator impactante (solos arenosos estão sujeitos mais facilmente do que solos argilosos, que por sua vez, são mais resistentes à erosão).
Vegetação — a presença de vegetação no solo faz com que o processo erosivo tenha menor eficiência, e ocorra lentamente, isto porque as raízes do solo compactam as partículas do solo, o que diminui o impacto das gotas da chuva, dificultando o transporte por ação do vento.
A matéria orgânica apresenta-se como importante e relevante fator no processo de proteção dos solos contra a erosão. Vale salientar que as áreas mais erodidas, os desertos, caracterizam-se pela ausência de vegetação.
Quais são os tipos de erosão do solo?
Os tipos de erosão podem ser classificados conforme o agente responsável pela formação desse processo. Entre os principais tipos de erosão, temos:
Erosão antrópica
Como o nome já indica, a erosão antrópica ocorre devido às ações humanas, que provocam desgaste do solo e translocação de sedimentos.
Podemos citar, por exemplo, o desmatamento, que modifica toda a paisagem do ambiente, alterando a estrutura do solo, tornando-o suscetível à erosão.
Muitas atividades relacionadas ao agronegócio entram no grupo de erosão antrópica, que diferente de todas as outras que virão, é considerada a que traz maiores impactos prejudiciais para a natureza, uma vez que ocorre de maneira acelerada e abrupta.
Erosão eólica
Outro fator extremamente impactante no processo erosivo são as ações do vento, que por sua vez tem a capacidade de transportar sedimentos do solo em grandes distâncias.
Regiões arenosas podem sofrer grandes impactos erosivos, como as tempestades de areia nos desertos, que transportam sedimentos por quilômetros e em grande quantidade. No entanto, em condições normais, esse processo é lento e as modificações podem ser percebidas depois de
Erosão fluvial
Como a palavra já indica, a erosão fluvial ocorre devido a força dos rios. Esse é o processo de desgaste das rochas e solos pela força da água.
A erosão fluvial pode ocorrer verticalmente (no leito) ou lateralmente (nas margens). Enfatiza-se ainda que a força da erosão varia de acordo com a vazão do rio, quanto maior a velocidade corrente das águas, maior a capacidade erosiva.
Erosão glacial
Geleiras e neves também podem causar o processo erosivo ao longo do tempo, visto que ambos possuem capacidade abrasiva quando entram em contato com os solos, isto é, possuem a capacidade de desgastar, polir ou lixar as rochas.
Salienta-se que a erosão glacial é mais forte que comparada com a fluvial, isto por causa do processo de congelamento e descongelamento, que provoca dilatação e compressão das partículas.
Erosão marinha
O processo erosivo nas regiões litorâneas também é bem marcante, e esse ocorre devido a força do mar. Paisagens como restingas, praias, cavernas, colunas de rochas são geradas através da erosão marinha.
Erosão pluvial
O processo erosivo causado pelas chuvas também é bem marcante, principalmente em regiões tropicais e equatoriais. Esse tipo de erosão é bastante marcante em território brasileiro, e pode trazer grandes impactos dentro da agricultura, uma vez que muitos solos perdem sua estrutura física e nutricional, e depois é muito difícil ou quase impossível reverter a situação, tornando a área improdutiva.
Quais são os impactos da erosão na agricultura?
A erosão é responsável por boa parte da degradação da camada superficial do solo (erosão laminar), que é essencial nos desenvolvimentos agrícola, devido seu alto teor de nutrientes, e por isso, a estimativa é de que, para repor os nutrientes, gasta-se entre US$ 110 a US$ 200 bilhões (Organização das Nações Unidas).
Ainda segundo a FAO, 80% dos solos do mundo que servem de algum modo para atividades do agronegócio estão degradados e sofreram processos erosivos.
Outro impacto relevante causado pela erosão é o deslocamento de defensivos agrícolas e adubos até os lagos, rios, fontes, provocando o desequilíbrio, ou até mesmo a morte, da fauna e flora.
A erosão contribui de forma indireta, nas regiões mais baixas, para a formação de enchentes e alagamentos, uma vez que provoca assoreamento de rios. Já nas regiões mais elevadas, pode causar deslizamentos e desbarrancamentos devido a degradação das partículas que promovem a adesão no solo.
Salienta-se que uma das culturas mais envolvidas com a degradação do solo e o processo erosivo é a cana-de-açúcar. Muitos estudos ao redor do mundo atrelam a cultura a alta erosão em sulcos (Abdalla et al., 2019; Bezerra e Cantalice, 2006), perda de nutrientes do solo, inclusive carbono (Gomes et al., 2019; Martins Filho et al., 2009), presença de voçoroca, isto é, formação de grandes buracos de erosão no canavial (Bezerra et al., 2020; Li et al., 2021a).
Dados de pesquisa mostram que a cana-de-açúcar apresenta alto nível de perda anual de solo apenas durante o ano de plantio (2,55 Mg·ha−1) devido à perturbação do solo durante o estabelecimento da cultura e à ausência de cobertura de dossel, cobertura morta e sistema radicular (YOULTON et al. 2016).
Segundo os autores, o nível de erosão da terra com cana-de-açúcar diminui no segundo ano de cultivo (0,43 Mg·ha−1). Assim, o maior risco de erosão com a cana-de-açúcar ocorre durante o ano de estabelecimento.
Sendo assim, pode-se afirmar que se não manejarmos corretamente a cultura da cana, prejudicaremos a sustentabilidade ambiental e nosso próprio planeta terra.
Por isso é importante estar por dentro das novas tendências, os novos manejos, atualizando-se constantemente sobre as inovações nas culturas. E para ficar por dentro do que há de mais atual, conheça o nosso curso Expert em Cana-de-açúcar.
Se você quiser saber mais sobre a saúde do solo, e em como este está atrelado à alta performance produtiva, a sustentabilidade dos sistemas agrícolas e a conservação do meio ambiente, leia o artigo do blog “Qualidade do solo: conceitos e integração dos 3 indicadores para avaliar a saúde do solo”.
Como evitar a erosão do solo e/ou contorná-la?
Diversas são as técnicas de manejo que podem contribuir para o controle da erosão do solo, ou pelo menos retardar o processo erosivo, no entanto, a mais utilizada em solos brasileiros é o plantio direto.
Segundo uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o sistema de plantio direto configura-se como principal técnica no Brasil para combater o processo de erosão do solo. A eficiência dessa técnica pode chegar a 95% na diminuição da erosão.
Os três grandes fatores que sustentam o plantio direto são: ausência do revolvimento do solo, aumento da cobertura do solo e rotação de culturas.
O revolvimento do solo afeta a camada superficial é rica em nutrientes, também facilitando o processo erosivo pela descompactação das partículas do solo.
Como o Brasil não sofre com questões de baixas temperaturas, o revolvimento do solo não é uma ação justificável, além de só prejudicar a saúde do solo.
Por meio de cobertura do solo, como palhada, garante-se uma camada extra de proteção do solo, diminuindo o impacto causado pelas gotas da chuva, pela força do vento, diminuindo a degradação do solo na área cultivada, além de manter o solo nutritivo.
Já a rotação de culturas, além de contribuir na composição físico, químico e biológico do solo, contribui na diminuição da ocorrência de pragas e doenças na área cultivada.
No entanto, vale salientar sobre a importância de conhecer quais as técnicas e ferramentas utilizadas atualmente no manejo das culturas. E para aprimorar seus conhecimentos e se manter em constante evolução profissional, não deixe de conferir nossos cursos: cursos Agroadvance.
Conclusões
Independente da intensidade do processo erosivo do solo, ele não pode ser ignorado, principalmente em regiões agricultáveis, pois os danos podem ser irreversíveis e chegar a causar perdas totais na porcentagem da área degradada, por isso é extremamente importante saber manejar e controlar esse tipo de efeito prejudicial ao solo.
O solo faz parte dos recursos indispensáveis à vida e ele deve receber atenção e ser cuidado de maneira apropriada, certifique-se de sempre tomar a melhor decisão possível no manejo do solo.
E se você possui alguma dúvida sobre esse tema, conheça nosso informativo técnico e fique por dentro do que há de mais atual no agronegócio: clique em saiba mais!
Referências
Conheça os 6 tipos de erosão do solo e as diferenças entre os processos. Pensamento Verde, 2017. Disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/conheca-os-6-tipos-de-erosao-solo-e-diferencas-entre-os-processos/. Acesso em:
CORREA, E. A.; MORAES, I. C.; CUNHA, C. M. L. da; PINTO, S. dos A. F. Influência do cultivo de cana-de-açúcar nas perdas de solo por erosão hídrica em cambissolos no estado de São Paulo. Revista Brasileira de Geomorfologia, [S. l.], v. 19, n. 2, 2018. DOI: 10.20502/rbg.v19i2.1303. Disponível em: https://www.rbgeomorfologia.org.br/rbg/article/view/1303. Acesso em: 14 ago. 2023.
CORRÊA, E. A.; MORAES, I. C.; PINTO, S. dos A. F.; LUPINACCI, C. M. Perdas de solo, razão de perdas de solo e fator cobertura e manejo da cultura de cana-de-açúcar: primeira aproximação. Revista do Departamento de Geografia, [S. l.], v. 32, p. 72-87, 2016. DOI: 10.11606/rdg.v32i0.116671. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rdg/article/view/116671. Acesso em: 14 ago. 2023.
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Giovanni Ometto
Analista de Go-To-Market na Agroadvance
- Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP)
- MBA em MKT digital (ESALQ/USP)