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Manejo de micronutrientes na cana-de-açúcar

O manejo nutricional de micronutrientes em cana-de-açúcar ainda necessita de estudos, mas faz parte do sistema de produção como qualquer outro fator e não deve ser deixado de lado na busca de altas produtividades.

Atualizado: 18/10/2023

Cada vez mais os produtores de cana-de-açúcar estão adeptos a novas tecnologias visando atingir patamares mais altos de produtividade e maior rentabilidade de sua produção, sendo que mesmo assim, estas conquistas ainda não são realidades em várias regiões produtoras do Brasil.

Quando falamos em manejo de micronutrientes em cana-de-açúcar é comum encontrar áreas com baixos níveis deste elemento. Em estudo de Vale, Araújo e Vitti (2008), que avaliou 890 amostras de solo e folhas diagnósticas de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, demostrou-se que 80% das amostras estavam com teores de micronutrientes abaixo do nível crítico.

Apesar disso observa-se que grande parte dos canaviais do estado ainda não recebem a atenção adequada para adubação com micronutrientes o que tem influenciado negativamente na produtividades dos canaviais.

Com isso, para uma boa rentabilidade e eficiência do sistema de produção de cana-de-açúcar em grandes áreas, com produtividades médias de três dígitos (acima de 100 toneladas por hectare) além de um bom manejo dos outros fatores de produção, o manejo nutricional com micronutrientes é indispensável.

Deficiência de micronutrientes em cana-de-açúcar

Quando nos referimos ao manejo nutricional, é preciso saber em quais condições de fertilidade se encontram as áreas em que irão ser cultivadas, sendo fundamental a realização de análise de solo e foliar na época correta, sendo esta, no caso da cana-de-açúcar, na época de máximo crescimento vegetativo (cana planta: 6 meses após a germinação; cana soca: 4 meses após a germinação).

Além disso, o reconhecimento dos sintomas de deficiência dos micronutrientes na cultura da cana-de-açúcar pode facilitar o diagnóstico das áreas, sendo os principais sintomas encontrados em condições de cultivo brasileiro, representados nas imagens a seguir.

Sintomas de deficiência de micronutrientes na cana-de-açúcar

Vale ressaltar também, que muitas vezes os sintomas de deficiência de micronutrientes em lavouras de cana-de-açúcar, mesmo em solos com baixos teores destes elementos, podem não ser perceptíveis devido ao fato da cultura apresentar o fenômeno da “fome oculta”, conforme pontuado por Orlando Filho, Rosseto e Casagrande (2001), influenciando negativamente na produtividade do canavial sem apresentar sintomas visuais.

Adubação com micronutrientes em cana-de-açúcar

Na literatura são escassos os trabalhos modernos que visam avaliar e entender o papel dos micronutrientes na produtividade de novas variedades de cana-de-açúcar, sendo que estes poucos existentes, juntamente com alguns outros mais antigos, apresentam alta amplitude de resposta, variando de acordo com o local, variedade e clima.

Outro fator que pode contribuir para esta variabilidade de resposta da cana, é a grande utilização de subprodutos da indústria, os quais muitas vezes possuem certas quantidades de micronutrientes (PENATTI, 2014).

Contudo, com o desenvolvimento do sistema de produção, muitas usinas e produtores perceberam bons ganhos de produtividade com a aplicação de micronutrientes, através de testes in loco em áreas comerciais, passando a adotar esse manejo.

Procurando retomar os estudos com micronutrientes e aperfeiçoar o manejo destes em cana-de-açúcar, Mellis et. al. (2016), avaliaram a influência da aplicação destes elementos no sulco de plantio, encontrando respostas interessantes para produtividade em 11 locais do Estado de São Paulo, além do aumento de perfilhamento, proporcionado pela aplicação de zinco e boro.

Tabela 1. Efeito da aplicação de micronutrientes no sulco de plantio no perfilhamento, produtividade e ATR da cana-de-açúcar (análise conjunta de 11 locais).

* Valores diferem estatisticamente a 10% do tratamento controle pelo teste de Dunnett. Fonte: Mellis et. al., (2016).

Assim, com alguns trabalhos recentes indicando respostas das variedades cultivadas atualmente a aplicação de micronutrientes, principalmente no sulco de plantio (a qual também apresenta um bom efeito residual), e procurando adequar o manejo nutricional dessas novas variedades, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) atualizou a recomendação de adubação de micronutrientes para cana-de-açúcar, conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2. Interpretação e recomendação de adubação de plantio para micronutrientes em cana-de-açúcar.

Interpretação e recomendação de adubação de plantio para micronutrientes em cana-de-açúcar.
(1) Realizar aplicação de boro na operação de quebra-lombo. Fonte: Mellis, (2016). Instituto Agronômico de Campinas – Novo Boletim 100.

Outra estratégia que vem sendo adotada e pautada por apresentar bons ganhos de produtividade em trabalhos realizados em áreas comerciais de usinas e produtores, é a adubação foliar com micronutrientes, visando complementar o fornecimento via solo.

Os melhores resultados obtidos foram principalmente com a aplicação conjunta de nitrogênio com molibdênio, zinco e boro, na época de máximo crescimento do canavial (novembro, dezembro e janeiro). Além disso, o boro também pode ser aplicado junto a produtos utilizados como “pré-maturadores”, para potencializar o acúmulo de sacarose nos colmos.

Com relação as doses para a adubação foliar, geralmente são utilizados 8 a 10 kg ha-1 de nitrogênio, 50 a 120 g ha-1 de molibdênio, 100 a 300 g ha-1 de boro,  300 a 500 g ha-1 de zinco.

Quanto as áreas, deve-se priorizar canaviais que não estejam “estressados” por qualquer fator, com maior potencial de resposta, sendo elas: cana planta, soqueiras de mudas, soqueiras com boas médias de produtividade (maior ou igual a 80 t ha-1) e sem falhas.

No mercado há diversos produtos com micronutrientes sendo utilizados para adubação foliar em cana-de-açúcar, contudo, também são escassos, os resultados científicos com ampla variação e poucos conclusivos.

Vale ressaltar, caso decida-se realizar a adubação foliar, a necessidade do produtor atentar-se as fontes a serem utilizadas, como já mencionado em artigo publicado neste blog (“Fontes para adubação foliar”), devendo preferencialmente serem escolhidas fontes de alta solubilidade.

Em resumo, a aplicação de micronutrientes em cana-de-açúcar pode ser adotada conforme as práticas a seguir, cabendo a cada produtor decidir a forma que irá lhe oferecer maior eficiência operacional e rentabilidade.

  • Cana Planta
    1. Sulco de plantio
    2. Via tolete (na operação de cobrimento)
    3. Quebra-lombo
    4. Via herbicida (boro)
    5. Via foliar (associado com N, na época de máximo crescimento vegetativo, ou com produtos utilizados como “pré-maturadores” antecedendo a colheita)
  • Cana soca
    1. Via formulado
    2. Via herbicida (boro)
    3. Via corte de soqueira (associado ao inseticida)
    4. Via foliar

Conclusão

É fato que mais pesquisas ainda devem ser realizadas visando entender o papel e as respostas dos micronutrientes na produtividade da cana-de-açúcar, para ajustarmos o seu manejo.

Contudo não podemos negligenciar os resultados das análises de solo e folha, devendo ser realizadas aplicações de micronutrientes, principalmente via solo, em canaviais que possuírem teores destes elementos abaixo dos níveis críticos.

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Referências

BECARDI, G. R. G. Resposta da cana-planta à aplicação de micronutrientes. 72p. 2010. Dissertação (Mestrado) – Instituto Agronômico, Campinas, 2010.

DE SIQUEIRA, G. F. Aplicação de boro e maturadores na pré-colheita da cana-de-açúcar em início e final de safra. 2014. 139 p. Tese (Doutorado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista, Botucatu-SP, 2014.

MELLIS, E. V. “Novas recomendações de micronutrientes para a cana-de-açúcar”. FertBio 2016. Goiânia, Goiás. 20 out. 2019.

MELLIS, E. V.; QUAGGIO, J. A.; BECARI, G. R .G.; TEIXEIRA, L. A. J.; CANTARELLA, H.; DIAS, F. L. F. 2016. Effect of micronutrients soil supplementation on sugarcane in different production environments: Cane plant cycle. Agronomy Journal 108: 2060–2070.

ORLANDO FILHO, J.; ROSSETO, R.; CASAGRANDE, A. A. Cana-de-açúcar. In: FERREIRA, M. E.; CRUZ, M. C. P.; RAIJ, B. Van.; ABREU, C. A. (Ed.). Micronutrientes e elementos tóxicos na agricultura. Jaboticabal: CNPq/FAPESP/POTAFOS, 2001. P.335-369.

PENATTI, C. P. 2014. Adubação da cana-de-açúcar: 30 anos de experiência. Ottoni, Itu.

VALE, F.; ARAUJO, M.A.G. ; VITTI, G.C. . Avaliação do estado nutricional dos micronutrientes em áreas com cana-de-açúcar. In: XXVIII Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, 2008, Londrina/PR. XXVIII Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, 2008.

VITTI, G.C.; OTTO, R.; FERREIRA, L. R. P. Nutrição e adubação da cana-de-açúcar: manejo nutricional da cultura da cana-de-açúcar. In: BELARDO, G. C.; CASSIA, M.T.; SILVA, R. P., editores. Processos Agrícolas e Mecanização da Cana-de-Açúcar. Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola – SBEA; 2015. 608 p.

Sobre o autor:

Atualizado por: Beatriz Nastaro Boschiero (Editora-chefe na Agroadvance)

Este post tem 3 comentários

  1. Guilherme Silveira

    Parabéns Gabriel, ótimo artigo.

  2. juliano

    oi. gostei muito do seu site, vou verificar toda semana as atualizações.Obrigado

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