O que é a prática da fosfatagem?

Descubra o que é a fosfatagem e fertilizantes fosfatados dentro do ambiente de produção agrícola, saiba da evolução dos fertilizantes fosfatados dentro do cultivo.
Sumário

O que é a fosfatagem?

A fosfatagem é uma prática que busca elevar os níveis de fósforo (P) no solo, principalmente com o uso de fertilizantes de baixa solubilidade, e aumentar a eficiência da adubação fosfatada, realizada com fertilizantes solúveis, por meio da saturação dos sítios de adsorção de fósforo. 

Algumas considerações sobre a fosfatagem

Diferente da adubação fosfatada, que visa fornecer fósforo às plantas, a fosfatagem fornece P para o solo, por isso, é um tipo de prática corretiva. Nesta prática, o P é distribuído em área total e incorporado superficialmente (10 a 20 cm), geralmente com grade niveladora. A fosfatagem deve ser feita após a calagem, pois o P é menos fixado em condições de acidez corrigida, ou seja, com o aumento do pH (Figura 4). As fontes pouco solúveis são as mais recomendadas devido ao menor preço, e a sua solubilização gradual no solo. Em se tratando da utilização de fontes de menor solubilidade, o material aplicado normalmente é encontrado na forma de pó, visando aumentar velocidade de reação. 

quantidade de fósforo fixado no solo fosfatagem
Figura 4. Picos e vales da fixação de P em função do pH do solo.
Fonte: Adaptado de Price (2006). 

Quais são as fontes mais adequadas para a fosfatagem?

Para reconhecer a fonte adequada, primeiro é necessário saber que há diferentes extratores que determinam a concentração de P2O5 em um fertilizante. 

Geralmente, os fertilizantes fosfatados utilizados para adubação das plantas contêm a maior parte do seu fósforo solúvel em (1) água, como é o caso, por exemplo, do fosfato monoamônio (MAP), fosfato diamônio DAP, superfosfato simples e superfosfato triplo. Nestas fontes, o P é facilmente solubilizado e prontamente disponibilizado para absorção pelas plantas. Outros tipos de extratores são o (2) citrato neutro de amônio + água (CNA + H2O), ou soluções ácidas, como é o (3) ácido cítrico (HCi) e (4) ácido fórmico. Estes extratores tentam representar condições análogas à rizosfera, onde há exsudação de compostos e ácidos orgânicos que modificam as características do meio em torno das raízes.  

Aqui, os extratores foram numerados em ordem crescente quanto ao potencial de extração do P do fertilizante, ou seja, uma fonte que possui P2O5 solúvel apenas em ácido fórmico é menos solúvel que uma fonte que possui P2O5 solúvel em água, por exemplo. 

As fontes mais recomendadas para a fosfatagem, são aquelas que possuem P solúvel em CNA + H2O, HCi ou ácido fórmico, características geralmente encontradas em alguns tipos de fosfatos naturais. No entanto, é preciso saber também que existem vários tipos de fosfatos disponíveis no mercado.

Tipos de fosfatos naturais           

São conhecidos por fosfatos naturais as rochas fosfáticas, que podem ter origem ígnea (apatitas), metamórfica ou sedimentar (fosforita). Os fosfatos de origem ígnea e metamórfica são muito pouco reativos, pois possuem estrutura cristalina compacta, e pequena área de superfície específica. Já os fosfatos de origem sedimentar apresentam estrutura microcristalina pobremente consolidada, com grande superfície específica, características que fazem eles sejam mais reativos.

Os tipos de fosfatos naturais encontrados no mercado são definidos, segundo a legislação, como:

Fosfatos naturais (FN): Obtidos por meio de moagem e peneiramento de apatitas. Garantias: 5% P2O5 total, sendo 15% do teor total solúvel em ácido cítrico a 2%.

Fosfato naturais reativos (FNR): Obtidos por meio da extração e moagem de fosforitas e, opcionalmente, beneficiamento por meio do processo de homogeneização hidropneumática ou flotação. Garantias: 12% P2O5 total, sendo 30% do teor total solúvel em ácido cítrico a 2%.

Fontes recomendadas para a fosfatagem

Para a adequada utilização dos fosfatos naturais, é necessário saber sua origem e solubilidade. Os fosfatos naturais reativos (fosforitas) podem ser utilizados in natura para a prática da fosfatagem. Já os fosfatos de origem ígnea (apatitas) ou metamórfica não são indicados em sua forma natural devido à sua baixa reatividade, mas eles podem passar por tratamentos químicos ou térmicos que os tornam fontes adequadas para esta prática. 

Há no mercado dois tipos de fontes derivadas do tratamento de fosfatos naturais que são indicadas para a fosfatagem. São eles o termofosfato magnesiano e o fosfato precipitado, os quais são definidos, segundo a legislação, como:

Termofosfato magnesiano (TFM): Obtido por meio do tratamento térmico da rocha fosfática, concentrado apatítico ou outras fontes de fósforo com adição de compostos calcíticos, Magnesianos e Silícicos. Garantias: 17% P2O5, sendo 11% solúvel em ácido cítrico a 2%.

Fosfato precipitado (FP): Obtido por meio de secagem, moagem e peneiramento do material resultante do tratamento de efluentes da solubilização de rochas fosfáticas por via ácida, pela adição de óxido de cálcio e carbonato de cálcio e magnésio. Garantias: 7% P2O5, com teor de P2O5 mínimo de 3% solúvel em CNA + H2O.

Na Tabela 1, encontramos algumas fontes de fosfato precipitado (FP), fosfato natural reativo (FNR) e termofosfato magnesiano (TFM), recomendados para a fosfatagem.

Tabela 1. Fontes de P2O5 recomendadas para fosfatagem.

Recomendações da Fosfatagem

Alguns técnicos não defendem a prática de fosfatagem em solos argilosos devido ao seu elevado poder de fixação, característica que faz com que as doses necessárias de P2O5 sejam muito altas. Mas neste artigo iremos apresentar a recomendação de adubação fosfatada corretiva segundo Sousa et al. (2006), que leva em consideração a capacidade tampão de fósforo em solos com até 70% de argila, sendo:

Dose de P2O5 (kg ha-1) = (Nível crítico de P no solo – teor atual de P no solo) x CT

Onde CT é a capacidade tampão de fósforo (= dose de P2O5 a ser aplicada ao solo para elevar em 1 mg dm-3 o teor de P no solo determinado pelos extratores Mehlich 1 e resina, com base na análise da camada de 0 a 20 cm). Como a própria equação sugere, solos com teor de P acima do nível crítico não necessitam de fosfatagem.

Os níveis críticos e valores de CT em função do teor de argila do solo estão apresentados nas Tabela 2 e 3, para análises de solo em que o extrator foi, respectivemente, P Mehlich 1 e Resina.

Tabela 2. Nível crítico (Mehlich 1) e capacidade tampão de fósforo em função do teor de argila do solo.

Tabela 3. Nível crítico (Resina) e capacidade tampão de fósforo em função do teor de argila do solo.

Exemplo prático:

Solo com 35% de argila e teor de P (resina) de 8 mg dm-3:

Dose de P2O5 (kg ha-1) = (15 – 8) x 10

Dose de P2O5 (kg ha-1) = 70 kg ha-1 de P2O5.

Deve-se considerar o teor de P2O5 total para calcular a quantidade a ser aplicada da fonte escolhida. 

Considerações Finais

O fósforo é um dos elementos que mais limitam a produtividade agrícola devido à sua baixa disponibilidade na solução dos solos brasileiros, e a fosfatagem é uma prática que pode auxiliar a superar este problema. Sabemos que o P2O5 é um recurso natural e finito, sendo que há alguns prognósticos de que as jazidas em exploração podem se esgotar em algumas centenas de anos, por isso, este nutriente deve ser utilizado com muita sabedoria.

Neste sentido, pesquisas e técnicas que busquem aumentar a eficiência dos fertilizantes fosfatados são cada vez mais necessárias! A demanda por uma agricultura cada vez mais eficiente, por meio da produção de mais alimentos por hectare, é uma realidade imediata, e sem o aporte de fósforo isso não é possível. Cabe a nós, agricultores e agricultoras, fazer o que está ao nosso alcance para não decepcionar, e em tempos tão competitivos isso só é possível por meio de aplicação de cada vez mais conhecimento por hectare!


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Referências bibliográficas

PRICE, G. Australian Soil Fertility Manual; Fertilizer Industry Federation of Australia, Inc. & CSIRO: Collingwood, Australia, 2006. Disponível em: Australian Soil Fertility Manual | CSIRO Publishing.

SOUSA, D. M. G.; LOBATO, E.; REIN, T. A. Recomendação de adubação fosfatada com base na capacidade tampão de fósforo para a região do Cerrado. Reunião Brasileira de Solo e Nutrição de Plantas, v. 27, 2006.

Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

Sobre a autora:

Bianca de Almeida Machado

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Respostas de 15
  1. Excelente matéria, Bianca. Bem esclarecedora e util para a agricultura brasileira. Parabéns.

  2. Tenho pastagens no Pará solo arenoso 8%
    Preciso fazer adubação de superfície sem mexer no solo
    Qual adubo usar ou Fosfatado ou K2O

  3. Quanto mais se sabe,menos se faz errado. Importante informação para o público comum,que põe a mão na terra. Ótimo conteúdo, obrigado.

  4. Excelente, Bianca! A agricultura brasileira precisa se adequar aos novos tempos, buscando práticas sustentáveis e amparadas cientificamente.

  5. Muito bom o conteúdo, Bianca. Parabéns.

    Fiquei com dúvida em duas questões exploradas no texto…

    (1) No texto diz:
    “As fontes pouco solúveis são as mais recomendadas devido ao menor preço, e a sua solubilização gradual no solo.”

    (2) No texto diz:
    “uma fonte que possui P2O5 solúvel apenas em ácido fórmico é menos solúvel que uma fonte que possui P2O5 solúvel em água, por exemplo. ”
    “As fontes mais recomendadas para a fosfatagem, são aquelas que possuem P solúvel em CNA + H2O, HCi ou ácido fórmico, características geralmente encontradas em alguns tipos de fosfatos naturais. No entanto, é preciso saber também que existem vários tipos de fosfatos disponíveis no mercado.

    A frase (1) contradiz a frase (2).

    Poderia me explicar essa questão por favor?

    1. Fiquei confuso nesse parte também! Entendi inicialmente que as fontes fosfato solúveis em água são mais recomendadas.. MAP DAP SS ST…. Mas depois é comentado abaixo que as fontes mais recomendadas são aquelas que possuem P solúvel em CNA+H20…..

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