Entenda a adubação foliar

Entenda os conceitos sobre adubação foliar e os principais aspectos aplicáveis na cultura agrícola. Leia e aplique os conceitos em seu cultivo!
adubação foliar
Sumário

Conheça as principais características e vantagens deste método de adubação foliar

Com toda certeza você já deve ter se deparado com esta dúvida: Adubação foliar realmente funciona? Muitas vezes os debates são acalorados, mas nossa missão aqui é conceituar e detalhar tecnicamente os princípios desta técnica.

O emprego da adubação foliar é fundamental para obtenção de alta produtividades nas lavouras. Todavia, existem práticas que devem ser consideradas para garantir alta eficiência.

Aplicação foliar de fertilizantes

A aplicação foliar de fertilizantes consiste em explorar a capacidade das folhas em absorver e transportar nutrientes. Ela é amplamente empregada por produtores no mundo inteiro sendo indispensável para a obtenção de altas produtividades.

Entretanto, quando a comparamos com o fornecimento radicular de fertilizantes, a adubação foliar é ainda incipiente. Tal fato faz com que os processos de absorção de transporte e metabolização dos nutrientes não sejam tão bem caracterizados como os radiculares.

Do ponto de vista comercial, o mercado de nutrição foliar trata-se de um dos mais importantes setores do agronegócio movimentando em 2018, 7,6 bilhões de reais.

Atualmente estão ativas no Brasil mais de 500 empresas produtoras de fertilizantes foliares e especialidades.

A junção destes fatores acarreta em um setor intensamente populoso, extremamente tecnológico e em constante mudança.

Neste artigo abordaremos alguns fatores que devem ser considerados para prática da adubação foliar.

Por que fazer adubação foliar?

Uma vez que os fertilizantes são aplicados diretamente nas folhas, a adubação foliar se mostra eficaz para o rápido fornecimento de nutrientes às plantas, ou em condições em que o solo não é capaz de fazê-lo de maneira eficiente. Por exemplo:

• Condições pH elevado no qual ocorre diminuição da disponibilidade de micronutrientes metálicos (Zn, Fe, Mn e Cu).

• Solos com alta taxa de adsorção ou complexação pela matéria orgânica presente nele.

• Regiões com intensas perdas por lixiviação.

Como os nutrientes entram na folha?

Existem três vias de absorção de nutrientes pelas folhas, a penetração pela cutícula, a passagem por rachaduras e imperfeições e a absorção via estômatos e tricomas. 

Figura 1. Corte Transversal da superfície de uma folha.
Fonte: Gomes, et al. (2019).

Penetração via cutícula

A penetração via cutícula trata-se da passagem dos nutrientes por esta camada de cera presente na superfície das folhas. Para que transpassem a cutícula, os nutrientes necessitam estar solúveis em água ou presentes em partículas extremamente pequenas, entre dois e cinco nanômetros (1 nanômetro = 10-9 m ou 0,000000001 metro).

Rachaduras e Imperfeições

Outra via de absorção é a passagem dos nutrientes por rachaduras ou imperfeições presentes na superfície da folha. Tais aberturas são causadas nas folhas por ações físicas, como por exemplo o esbarrão de um maquinário agrícola ou ação de pragas e doenças. Nestas condições, a penetração de algumas partículas maiores poderá ocorrer.

Figura 2. Penetração de uma suspensão de ZnO via rachadura em folha de tomate. Fonte: Alexander & Hunsche, 2016.

Estômatos e Tricomas

Conjuntamente, a absorção dos nutrientes pode se dar pelos estômatos e tricomas espalhados na superfície das folhas. Vale relembrar que os estômatos são aberturas presentes nas folhas especializadas na realização de trocas gasosas enquanto os tricomas são os pêlos presentes nas folhas.

Para os tricomas, assim como na cutícula, os nutrientes necessitam estar solúveis em água ou em partículas muito pequenas para que ocorra a penetração. Já para os estômatos, partículas maiores podem ser absorvidas, visto que a cavidade em seu interior possui entre 20 e 80 nm.

Fatores que afetam a absorção

Os fatores que influenciam a adubação foliar podem ser divididos em internos e externos. Os internos são aqueles intrínsecos a planta, enquanto os externos contemplam os fatores exteriores a ela.

Internos

• Dentre os fatores internos que influenciam a absorção foliar da planta pode-se destacar:

• Espécies e variedades: Espécies diferentes e variedades diferentes dentro da mesma espécie podem apresentar comportamentos diferentes quanto a absorção de nutrientes.

• Estado nutricional da planta: Uma planta já deficiente apresenta menor capacidade de assimilar nutrientes via folha.

Idade da folha: Folhas mais novas tem maior facilidade em absorver nutrientes do que folhas velhas. Consequentemente, o estágio fenológico em que a planta se encontra também afeta sua capacidade de absorver nutrientes.

Externos

Como fatores externos, pode-se enfatizar:

• Ambiente: Fatores ambientais como luminosidade, temperatura e umidade relativa tem influência direta na absorção foliar de nutrientes. Altas luminosidades e temperaturas conjuntamente a baixa umidade relativa influenciam negativamente a absorção foliar uma vez que alteram características tanto nas plantas quanto nos fertilizantes.

• Fertilizante: A fonte de nutriente utilizada na formulação juntamente com os aditivos empregados alteram as características do fertilizante e consequentemente sua absorção. Como exemplo de características tem-se concentração, solubilidade, carga elétrica, pH, ângulo de repouso e tempo de secagem.

Principais Fontes Disponíveis

As principais fontes utilizadas atualmente podem ser divididas em sais inorgânicos, quelatos complexos de origem orgânica ou inorgânica e suspensões concentradas micronizadas. As principais diferenças entre elas se dá quanto a sua solubilidade em água e a forma com que o nutriente é disponibilizado para a planta.

Sais Inorgânicos

Os sais inorgânicos são os fertilizantes à base de sais solúveis, como por exemplo sulfatos, cloretos e nitratos.

Neste tipo de fertilizante, o nutriente é disponibilizado na forma íon prontamente disponível para a planta, como por exemplo Zn2+. Sendo assim, os nutrientes provindos desta fonte são rapidamente absorvidos. Além disso, ao serem fontes simples, apresentam baixo custo.

Por outro lado, ao estarem prontamente disponíveis, seus nutrientes podem ser fixados pela camada de cera das folhas, não sendo absorvidos e causar fitotoxidez quando aplicadas em excesso.

Um outro ponto negativo deste tipo de fonte é sua dificuldade operacional. Elas apresentam baixa concentração de nutriente por volume de fertilizante e dificuldades para se misturar com defensivos no mesmo tanque.

Complexos e Quelatos

Os complexos e quelatos são fontes também solúveis em que os nutrientes são fornecidos conectados a ligantes orgânicos ou inorgânicos. Como exemplos de fontes complexadas pode-se citar os nutrientes ligados a aminoácidos e fosfitos. No tocante as fontes quelatizadas temos como principal exemplo os fertilizantes formulados com EDTA.

A principal diferença entre essas duas fontes se encontra na força com que o agente quelante/complexante é capaz de se ligar com o nutriente. A força de ligação de uma molécula quelatizada é maior do que uma complexada e consequentemente seu nutriente mais fortemente retido.

Estas fontes, quando comparadas com os sais inorgânicos, apresentam facilidade de mistura com defensivos e baixa retenção pela camada de cera da planta.

Em contra partida, sua absorção é um pouco mais lenta, seu custo mais elevado e sua concentração de nutriente por volume de fertilizante baixa.

Suspensões concentradas micronizadas

As suspensões concentradas tratam-se de fontes de nutrientes de baixa solubilizada, moídas até o tamanho micrométrico e estabilizadas com aditivos. Por exemplo suspensões de ZnO, CuO e MnCO3.

Nestes produtos, a concentração de nutriente por volume de fertilizante é alta e sua mistura com defensivos é fácil, o que torna simples a sua utilização.

Todavia, por terem baixa solubilidade, a absorção dos nutrientes provindos destas é muito lenta.

Sais Solúveis

Quelatos/ComplexosSuspensões Concentradas Micronizadas

Vantagens

DesvantagensVantagensDesvantagensVantagens

Desvantagens

Baixo custo

Dificuldade de misturaFacilidade de misturaCusto ElevadoAlta Concentração / Volume

Absorção muito lenta

Absorção RápidaFitotoxidezBaixa Adsorção na CTC foliarAbsorção moderada

Facilidade de mistura

 
 Baixa Concentração / Volume 

Baixa Concentração / Volume

  
 Adsorção na CTC foliar    

 

Considerações Finais

Em conclusão, observamos que a adubação foliar sofre impacto de diversos fatores. Para seu emprego eficiente, devemos levar em consideração desde a cultura de interesse e seu momento morfológico, as condições ambientais presentes no momento da aplicação e a formulação fertilizante escolhido.

O importante é sempre procurarmos entregar para a planta o nutriente certo, no tempo certo nas condições certas. Para tal, existem diversas tecnologias disponíveis para facilitar a vida do produtor. Cabe a você selecionar aquela que atende suas necessidades naquele determinado momento.

Todavia, temos consciência de que mesmo com toda essa tecnologia de ponta, atender todos estes “certos” trata-se de uma tarefa extremamente difícil.

 

 

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Respostas de 4

  1. Muito boa a matéria. Gostei muito e gostaria de compartilhar com colegas e produtores, porém, não consigo, não achei um link de compartilhamento pelo celular.

  2. Para um estudante de Agronomia, terceiro período, é muito importante essas matérias na qual só traz enriquecimento intelectual. Grato.

    1. Olá Elbio.
      Nós da Agroadvance ficamos satisfeitos em saber que as informações apresentadas foram úteis e relevantes para você.
      Nosso objetivo é fornecer conteúdo enriquecedor e informativo para estudantes e profissionais do setor agrícola.
      Se você tiver alguma dúvida ou sugestão sobre outros tópicos que gostaria de ver abordados em nossos artigos, sinta-se à vontade para compartilhar conosco.
      Estamos sempre buscando maneiras de atender às necessidades e interesses dos nossos leitores.
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