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4 Principais doenças de final de ciclo da soja

As principais doenças de final de ciclo da soja são a antracnose, crestamento foliar, mancha parda e mancha olho-de-rã e estão agrupadas desta forma porque normalmente são constatadas no final do ciclo da cultura, que é quando a necessidade de controlá-las se torna mais evidente.

Saber reconhecer e manejar as doenças de final de ciclo na cultura da soja é fundamental para garantir uma boa produtividade. Saiba diferenciar cada uma dessas doenças neste artigo

Principais doenças de final de ciclo da soja

Antracnose

Em algumas áreas de produção, tem se tornado a principal doença da cultura. As espécies Colletotrichum truncatum, C. plurivorum e C. musicola já foram encontradas associadas à doença no Brasil (ROGÉRIO et al., 2017; BARBIERI et al., 2017; DAMM et al.,2019; BOUFLEUR et al., 2020).

A antracnose pode ocorrer durante todo o ciclo da cultura, mas sua ocorrência é tradicionalmente constatada em estádios reprodutivos. Seus sintomas são:

  • o escurecimento de nervuras e pecíolos (Figura 1a),
  • manchas alongadas de cor marrom em hastes (Figura 1b),
  • manchas escuras em vagens (Figura 1c),
  • além de vagens retorcidas e que se abrem prematuramente.

Seu enorme potencial destrutivo, de 90 kg/ha para cada 1% de aumento em incidência da doença tem preocupado produtores (DIAS et al., 2016). Ainda não há cultivares resistentes à doença, mas uma medida indispensável em seu controle é o uso de sementes sadias, pois o patógeno pode chegar ao campo nas próprias sementes infectadas.

O tratamento de sementes com fungicidas também é indicado. Durante o cultivo o produtor deve estar atento à lavoura principalmente em épocas de alta precipitação, já que os respingos de chuva possibilitam a disseminação do fungo. Temperaturas elevadas também favorecem o estabelecimento da doença.

A pulverização da parte aérea com benzimidazois, triazois e estrobilurinas também é recomendada.

Em áreas onde a doença é um problema muito sério, o produtor pode realizar um pequeno ensaio semeando algumas cultivares diferentes para verificar a reação que elas apresentarão à população do fungo que está presente em sua área, a fim de identificar e evitar cultivares mais suscetíveis à doença, para a população do patógeno que está presente em sua região.

doenças de final de ciclo da soja: antracnose
Figura 1. Sintomas de antracnose em folha (A), em hastes (B) e em vagens de soja (C). Fontes: Fotos da autora (A, B); H.-C. Yang, Compendium of Soybean Diseases and Pests, American Phytopathological Society (C).

Crestamento foliar e mancha púrpura

Cercospora kikuchii é o fungo responsável pelo crestamento foliar e mancha púrpura na soja. Também é um fungo que pode ser disseminado em sementes infectadas, assim, o uso de sementes sadias é uma medida de controle.

Os sintomas da doença em órgãos vegetativos normalmente são percebidos em R5 e R6 (WARD-GAUTHIER et al., 2016) e se iniciam com pontuações castanho-avermelhadas em folhas e hastes, que se expandem formando manchas (Figura 2a).

A desfolha prematura pode ocorrer, prejudicando o enchimento de grãos. Manchas castanho-avermelhadas em vagens e de cor púrpura em grãos (Figura 2b) também são características da doença, que é favorecida em condições de alta temperatura e precipitação.

O uso de sementes sadias, tratamento de sementes e a pulverização de fungicidas em parte aérea no início do período reprodutivo (R1-R2) e em R4 são indicados, sendo que os triazois têm apresentado uma melhor eficácia que as estrobilurinas (WARD-GAUTHIER et al., 2016)

doenças de final de ciclo da soja:  crestamento foliar
Figura 2. Sintomas de crestamento foliar (A) e de mancha púrpura (B) em soja. Fonte: Daren Mueller, Iowa State University, Bugwood.org.

 

Mancha-parda ou septoriose

A mancha-parda é causada pelo fungo Septoria glycines e pode ocorrer no início do desenvolvimento da soja com manchas marrom-escuras de formato irregular nas folhas unifolioladas.

Em condições favoráveis, os primeiros trifólios também podem ser atingidos. Um segundo surto da doença é comum na fase de enchimento de grãos e os sintomas nos trifólios começam com manchas de cor parda e formato irregular, que se tornam marrom-escuras com halo amarelado (Figura 3).

Sob alta severidade, ocorre a desfolha e maturação precoce, que comprometem o enchimento de grãos e a produtividade, com perdas que podem ultrapassar 30% (ALMEIDA et al., 2005).

O manejo inclui o uso de sementes sadias, tratamento químico de sementes e pulverizações com fungicidas em R5. Triazois, benzimidazois, estrobilurinas e carboxamidas estão entre os produtos indicados. A nutrição equilibrada, principalmente em potássio, e a rotação de culturas quando viável, também ajudam no controle da doença (ALMEIDA et al., 2005).

É importante que o produtor fique atento em períodos chuvosos pois as chuvas atuam na disseminação do patógeno e podem permitir que as folhas permaneçam molhadas por um longo período, levando a um aumento da incidência e da severidade da doença (HARTMAN, 2016).

doenças de final de ciclo da soja: mancha parda (septoriose)
Figura 3. Sintomas de mancha parda (septoriose) em folha de soja. Fonte: G.L. Hartman, Compendium of Soybean Diseases and Pests, American Phytopathological Society.

É comum a mancha-parda ocorrer de forma associada ao crestamento foliar (Cercospora kikuchii), formando o chamado complexo de doenças de final de ciclo (ALMEIDA et al., 2005).

Mancha olho-de-rã

Esta doença é causada pelo fungo Cercospora sojina e é favorecida em condições de alta temperatura e precipitação. Seus sintomas normalmente se iniciam na época de florescimento da soja, a partir de R1 (BYAMUKAMA, 2020). Os sintomas começam com pontos de aspecto encharcado que evoluem para lesões de cor castanho-clara com bordos castanho-escuros bem definidos (Figura 4a).

No final do enchimento de grãos, também são comuns sintomas nas hastes e vagens. As lesões são alongadas de cor acinzentada e bordos castanho-avermelhados nas hastes e circulares de cor castanho-escura nas vagens (Figura 4b) (WISE; NEWMAN, 2016).

O controle mais recomendado é o uso de cultivares resistentes. Outras medidas incluem o uso de sementes sadias, tratamento químico de sementes e a pulverização da parte aérea com fungicidas quando houver 5 a 10 manchas nas folhas mais afetadas e 10 a 15 dias após a primeira aplicação (ALMEIDA et al., 2005). Benzimidazois, dimetilditiocarbamatos, carboxanilida e triazois são indicados para a doença.

doenças de final de ciclo da soja: mancha olho-de-rã
Figura 4. Sintomas da mancha olho-de-rã em tecido foliar (A) e em vagens de soja (B). Fontes: Clemson University – USDA Cooperative Extension Slide Series, Bugwood.org (A); J. T. Yorinori, Compendium of Soybean Diseases and Pests, American Phytopathological Society (B).

Considerações finais

Embora as doenças de final de ciclo da soja ganhem evidência nas fases reprodutivas, seu manejo começa na implantação da cultura, com a escolha de cultivares resistentes, no caso da mancha olho-de-rã, e com o uso de sementes sadias e tratamento de sementes para as demais doenças.

Quando a produção de sementes é realizada pelo próprio produtor, atenção especial deve ser dada ao controle destas doenças, já que todas elas são veiculadas por sementes.

Na aplicação de fungicidas em parte aérea, para evitar que estes produtos deixem de funcionar devido ao surgimento de patógenos resistentes, é importante que diferentes ingredientes ativos sejam rotacionados e/ou utilizados em misturas (já disponíveis comercialmente).

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Referências

AGROFIT. Informações sobre agrotóxicos fitossanitários registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons> Acesso em 28/09/2020.

ALMEIDA, A.M.R.; FERREIRA, L.P.; YORINORI, J.T.; SILVA, J.F.V.; HENNING, A.A; GODOY, C.V.; COSTAMILAN, L.M.; MEYER, M.C. Doenças da soja. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A. Manual de Fitopatologia, v.2. Doenças de plantas cultivadas. São Paulo: Ceres, 2005. p.569-588.

BARBIERI, M. C. G.; CIAMPI-GUILLARDI, M.; MORAES, S. R. G.; BONALDO, S. M.; ROGÉRIO, F.; LINHARES, R. R.; MASSOLA, N. S. First Report of Colletotrichum cliviae Causing Anthracnose on Soybean in Brazil. Plant Disease, v. 101, n. 9, p. 1677– 1677, 2017. BYAMUKAMA. E. Frogeye Leaf Spot Developing in Soybeans. Disponível em: <https://extension.sdstate.edu/frogeye-leaf-spot-developing-soybeans> Acesso em 29/09/2020.

BOUFLEUR, T. R.; CASTRO, R. R. L.; ROGÉRIO, F.; CIAMPI-GUILLARDI, M.; BARONCELLI, R.; MASSOLA JUNIOR, N. S. First Report of Colletotrichum musicola Causing Soybean Anthracnose in Brazil. Plant Disease, v. 104, n. 6, p.1858, 2020.

DAMM, U. et al. The Colletotrichum dracaenophilum, C. magnum and C. orchidearum species complexes. Studies in Mycology, v. 92, p. 1–46, 1 mar. 2019.

DIAS, M. D.; PINHEIRO, V. F.; CAFÉ-FILHO, A. C. Impact of anthracnose on the yield of soybean subjected to chemical control in the north region of Brazil. Summa Phytopathologica, v. 42, n. 1, p. 18–23, 2016.

HARTMAN, G. L. Brown Spot. In: HARTMAN, G. L.; RUPE, J. C.; SIKORA, E. J.; DOMIER, L. L.; DAVIS, J. A.; STEFFEY, K. L. Compendium of soybean diseases and pests. 5.ed. St. Paul: APS Press, 2016.

ROGÉRIO, F.; CAMPI-GUILLARDI, M.; BARBIERI, M. C. G.; BRAGANÇA, C. A. D.; SEIXAS, C. D. S.; ALMEIDA, A. M. R.; MASSOLA JR., N. S. Phylogeny and variability of Colletotrichum truncatum associated with soybean anthracnose in Brazil. Journal of Applied Microbiology, v. 122, n. 2. p. 402–415, 2017.

WARD-GAUTHIER, N. A.; SCHNEIDER, R. W.; CHANDA, A.; SILVA, E. C.; PRICE, P. P.; CAI, G. Cercospora Leaf Blight and Purple Seed Stain. In: HARTMAN, G. L.; RUPE, J. C.; SIKORA, E. J.; DOMIER, L. L.; DAVIS, J. A.; STEFFEY, K. L. Compendium of soybean diseases and pests. 5.ed. St. Paul: APS Press, 2016.

WISE, K. A.; NEWMAN, M. E. Frogeye Leaf Spot. In: HARTMAN, G. L.; RUPE, J. C.; SIKORA, E. J.; DOMIER, L. L.; DAVIS, J. A.; STEFFEY, K. L. Compendium of soybean diseases and pests. 5.ed. St. Paul: APS Press, 2016.

Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

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Sobre a autora:

Ísis Tikami

Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)

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