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Aplicação de cloreto de potássio a lanço: 5 requisitos que precisam ser atendidos

A aplicação de cloreto de potássio a lanço em em pré-semeadura é uma opção interessante de manejo da adubação principalmente pensando em eficiência operacional. Contudo, algumas condições básicas precisam ser atendidas para o adequado aproveitamento do nutriente pelas plantas. 

 Condições como o tipo de solo (teor de argila, saturação por bases e capacidade de troca de cátions), teor de K no solo, além da declividade do local e presença de palhada precisam ser considerados antes da antecipação da adubação de semeadura. 

 Vamos discutir nesse artigo como é o comportamento do potássio no solo para entendermos as alternativas de aplicação do nutriente à campo e a viabilidade da antecipação da adubação de semeadura. 

 

Demanda de K pela planta

O potássio (K) é um íon monovalente de pequeno raio iônico, apresentando alta mobilidade na planta. Ele não faz parte de nenhum composto orgânico no tecido vegetal, estando presente principalmente no citoplasma da célula – atuando como ativador enzimático. 

As plantas apresentam alta demanda de K, principalmente devido a sua baixa afinidade com ligantes orgânicos como as enzimas (Fancelli, 2022). Assim, a deficiência desse nutriente gera uma série de respostas morfológicas e fisiológica das plantas. 

Juntamente com o nitrogênio, o K é o nutriente mais requerido para culturas como soja e milho, sendo, contudo, pouco exportado pelos grãos, uma vez que a maior parte do potássio permanece nos restos culturais da planta que ficam no campo (Figura 1). 

quantidade de potássio extraída por milho, soja, trigo, algodão

Figura 1. Quantidade de potássio extraída e exportada, em quilos por tonelada, por diferentes espécies de plantas cultivadas. Fonte: Fancelli, 2022. 

 

Fornecer potássio para as plantas é o primeiro passo em busca de altas produtividades. E como a demanda pela planta é alta, as doses recomendadas podem variar de 85 a 150 kg ha-1 de K2O, dependendo do teor do elemento no solo e da produtividade desejada. Mas além da quantidade fornecida é preciso se atentar a outro ponto importante: como e onde esse nutriente será fornecido? 

Para garantirmos que o K aplicado via adubação seja de fato absorvido e aproveitado pelas plantas precisamos inicialmente entender o comportamento do nutriente no sistema solo-planta-atmosfera e depois definirmos o melhor manejo adotado a cada situação particular. 

 

Comportamento do KCl no solo

O potássio é fornecido às plantas, via adubação, principalmente na forma de cloreto de potássio (KCl). Tal fertilizante é extraído principalmente de minerais como carnalita e silvita, mas também de outros processos. 

O Cloreto de Potássio, seguido as normas do MAPA, deve possuir no mínimo 50% de K2O solúvel em água e 39% de Cloro e tem a característica de possuir elevada solubilidade (58%). 

A principal vantagem em sua utilização é o alto teor de potássio fornecido e sua rápida disponibilização para as plantas na forma K+ 

Contudo, sua alta solubilidade torna o produto susceptível à lixiviação (dependendo das condições de solo) e a presença de cloro pode causar problemas de salinidade quando altas doses do fertilizante são utilizadas.  

 

Lixiviação de potássio no perfil do solo

Um dos grandes problemas de perdas de K no sistema solo-planta é a lixiviação. Isso porque a maioria dos solos brasileiros possui baixo potencial de cargas, capazes de reter o K no solo – como é o caso de grande parte dos solos da região dos Cerrados. Como o K apresenta apenas uma carga de valência (K+) ele é pouco adsorvido nos coloides do solo, ficando susceptível à perdas ao permanecer na solução do solo (Ernani et al., 2007).  

O movimento radial de K em direção às raízes das plantas ocorre por fluxo de massa e principalmente por difusão, porém o movimento vertical ocorre fundamentalmente por fluxo de massa. Condições de altas precipitações associadas com solos de textura arenosa, podem proporcionar o carreado do K para profundidades além daquelas ocupadas pelas raízes, onde o nutriente é perdido por lixiviação. 

A lixiviação do K está diretamente ligada às doses aplicadas. Rosolem & Nakagawa (2001), observaram que a lixiviação de K, no perfil de um solo de textura média, aumentou muito, quando foram aplicadas doses de K2O acima de 80 kg ha-1 por ano, independentemente do modo de aplicação do fertilizante. 

 

Efeito salino do cloro

O aumento da concentração eletrolítica da solução do solo provocado pelo aumento da concentração de cloro adicionado via KCl pode ocasionar problemas na germinação e no desenvolvimento inicial das raízes, com reflexos negativos na população e no desenvolvimento das plantas (Figura 2). 

Efeito salino do KClaplicação de cloreto de potássio a lanço em pré-semeadura

  

Figura 2. Efeito salino de altas doses de KCl aplicados a três cm da semente no sulco de semeadura. 

 

A alta concentração de sais dificulta a absorção de água pelas sementes e pelas radicelas, devido ao aumento da pressão osmótica externa às células. Assim, além dos prejuízos na germinação, o excesso de sais pode prejudicar o desenvolvimento radicular e o vegetativo (Silva et al., 2001; Souza et al., 2007).  

 

Modo de aplicação do cloreto de potássio (KCl)

 

Aplicação de KCl no sulco de plantio e parcelamento em cobertura

A fim de evitar perdas de K por lixiviação e problemas de efeito salino na germinação das plantas, a recomendação dos manuais de adubação é que parte do fertilizante seja aplicado no sulco de plantio e parte em cobertura (BERNARDI et al., 2009). 

A dose máxima de K2O adicionado no sulco de plantio não deve ultrapassar 45 a 50kg K2O ha-1. O restante do K deve ser aplicado em cobertura e pode ser parcelado em mais de uma vez dependendo da necessidade total e das condições de solo. 

Essa recomendação é a clássica para o modo de adubação potássica.  

 

Aplicação de KCl a lanço em pré-semeadura

A alternativa de se aplicar o KCl a lanço em pré-semeadura tem despertado interesse de muitos produtores principalmente devido às vantagens em rendimentos operacionais, como:

  • maior flexibilidade no período de execução da adubação,
  • maior rendimento operacional de máquinas,
  • maior facilidade de distribuição a lanço,
  • economia de tempo e de mão-de-obra,
  • possui menor custo operacional de máquinas,
  • além de redução no gasto de combustível, lubrificante e reparos. 

Estudos indicam que essa antecipação pode sim ser feita, desde que sejam atendidos alguns requisitos mínimos do solo e do local onde esse manejo será adotado, como veremos a seguir. 

 

Requisitos para Aplicação de Potássio a lanço em Pré-Semeadura

 

Solo com teor de argila > 30%

Isso porque, como vimos, o potássio é um elemento que pode ser lixiviado, principalmente em solos arenosos. 

Solos com teor de argila maior do que 30% possuem maior Capacidade de Troca de Cátions (CTC) e por isso conseguem reter o potássio aplicado em pré-semeadura e evitar que ocorram perdas por lixiviação do nutriente. 

 

Solo com CTC > 5 cmolcdm-3 ou 50 mmolc dm-3

A capacidade de troca de cátions do solo (CTC) representa a quantidade de cátions que um solo é capaz de reter por unidade de peso ou volume.   

A energia de retenção dos cátions trocáveis (como Al3+, Ca2+ , Mg2+, H+, K+  e NH4+) nos coloides do solo, segue uma série liotrópica, que leva em consideração a carga e o tamanho do íon hidratado. O K é o quinto elemento desta série e por isso tende a ser mais lixiviado comparado com cátions bivalentes.  

Portanto, em solos bem drenados e com menor CTC, a lixiviação de K é maior. Ter uma CTC mínima de 5 cmolc dm-3, portanto, aumentam as chances desse nutriente ficar retido nos colóides e não ser perdido por lixiviação. 

 

Solo Corrigido

A presença de um solo corrigido (saturação por bases próxima a ideal para a cultura) é essencial quando pesamos na antecipação da adubação com potássio. Isso porque para evitar perdas por lixiviação o nutriente precisa ficar retido nos colóides do solo.

Para isso, é preciso que a quantidade de Al3+ e H+ presente nos colóides do solo seja baixa, o que é atingido quando realizamos a calagem. 

 

Teores de potássio no solo acima do nível crítico

Para teor de K acima do nível crítico é realizada a adubação de manutenção. Isso garante que o solo tem um nível mínimo necessário do nutriente para garantir o desenvolvimento da planta. Assim não é preciso se atentar tanto se o fertilizante ficará próximo a semente durante o crescimento inicial da planta. 

Para teores de K no solo abaixo do nível crítico: a recomendação é aplicação no sulco de plantio. Não se deve fazer adubação à lanço nessas condições! 

Baixa declividade e presença de palhada no solo

Depois de considerar os fatores de solo listados acima ainda existe outra condição primordial para a realização da adubação de K a lanço em pré-semeadura: a declividade do terreno e a presença de palha acima do solo. Isso é fundamental para evitar as perdas por escorrimento superficial, também chamada de run off. 

A antecipação da adubação do K não deve ser realizada em áreas declivosas e que não apresentem palhada na superfície do solo para “segurar” o fertilizante aplicado após uma chuva intensa, por exemplo. 


Conclusão

O KCl é a principal fonte de K utilizado na adubação no Brasil. Devido aos problemas de lixiviação de K e salinização do solo pela alta concentração de Cl se recomenda que o adubação potássica seja parcelada: no máximo 45 a 50 kg ha-1 de K2O no sulco de plantio e o restante em uma ou mais aplicações de cobertura, dependendo da dose e do tipo de solo.

Com o intuito de aumentar o rendimento operacional, contudo, alguns produtores têm antecipado a adubação potássica a lanço antes da semeadura da cultura principal.

Como discutimos neste artigo, a adubação de potássio a lanço em pré-semeadura pode ser realizada, desde que atenda concomitantemente a cinco requisitos importantes! Ser realizada em solos com teor de argila > 30%, com > 5 cmolc dm-3, corrigidos (com V% próximos ao ideal para a cultura), com teores de K acima do nível crítico e que apresentem baixa declividade e palhada no solo.

Além da aplicação de potássio a lanço, também há produtores que consideram a aplicação de fósforo a lanço. Se você quer saber mais sobre o assunto veja o vídeo abaixo do Professor Fancelli sobre porque não se deve fazer aplicação de fósforo a lanço:

Adubação de fósforo a lanço

Referências

BERNARDI, A.; OLIVEIRA JÚNIOR, J.P.; LEANDRO, W.M.; MESQUITA, T.G.S.; FREITAS, P.L.; CARVALHO, M.C.S. Doses e formas de aplicação da adubação potássica na rotação soja, 40 milheto e algodão em sistema plantio direto. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 39, n. 2, p. 158-167, 2009. 

ERNANI, P. R. et al. Mobilidade vertical de cátions influenciada pelo método de aplicação de cloreto de potássio em solos com carga variável. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 31, n. 2, p. 393-402, 2007. DOI: 10.1590/S0100-06832007000200022. 

Fancelli, 2022. Nutrição e Adubação de milho. Curso: Expert Soja e Milho. Agroadvance. 2022. 

SILVA, P. R. F.; SANGOI, L.; ARGENTA, G.; STRIEDER, M. L. Arranjo de plantas e sua importância na definição da produtividade em milho. Porto Alegre: Evangraph, 2006. 64 p.  

SOUZA, F. S.; FARINELLI, R.; ROSOLEM, C. A. Desenvolvimento radicular do algodoeiro em resposta à localização do fertilizante. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 31, p. 387-392, 2007.

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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