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Adubo para café recém-plantado e em produção: o que muda?

Entenda os princípios para a adubação do café e como escolher o adubo para café recém-plantado e em produção: veja como é calculada a dose de nutrientes em diferentes fases da cultura. Tire suas dúvidas sobre a prática da adubação e otimize o crescimento e desenvolvimento da sua lavoura.

A adubação desempenha um papel fundamental no cultivo do café, tanto em estágios iniciais quanto durante a produção.

Para cafezais recém-plantados, a atenção à fertilização é crucial para estabelecer um bom sistema radicular e promover o crescimento vegetativo vigoroso das mudas. Para isso é importante garantir o fornecimento adequado de nutrientes como cálcio (fornecido previamente via calagem), nitrogênio, fósforo e boro (que devem ser fornecidos via adubação).

Já em cafezais em produção, a adubação adequada é uma ferramenta estratégica para a formação dos frutos e aumento da produtividade da lavoura. Nessa fase de desenvolvimento da planta os nutrientes mais demandados são nitrogênio e potássio.

Em ambos os casos, uma abordagem cuidadosa é essencial para garantir o bom desempenho da cultura e evitar erros/prejuízos (que só podem ser reparados após, no mínimo, um ano).

Nesse artigo você entenderá qual a diferença entre a adubação para um café recém-plantado (em formação) e um café em produção e aprenderá como é calculada a dose de nutrientes para ambos.

Princípios para a adubação do café

Antes de realizarmos a recomendação da adubação do cafeeiro é importante entendermos os princípios básicos que regem esta prática, que são 3 (três):

  • exigência e estado nutricional da planta: quanto de nutrientes a planta precisa?
  • disponibilidade de nutrientes no solo: quanto de nutrientes o meu solo pode fornecer?
  • eficiência da adubação: como será o aproveitamento dos nutrientes que eu forneci via adubação pela planta?

Vejamos a seguir cada um desses 3 pilares detalhadamente.

Exigência e estado nutricional da planta

A demanda de nutrientes do cafeeiro depende, basicamente, da produção de biomassa total: frutos + vegetação.

Os frutos são os drenos principais (mais fortes) e, por isso, demandam mais nutrientes.

Aqui já deu para perceber que as quantidades de nutrientes variam ao longo do crescimento e desenvolvimento da lavoura e nos anos de produção, não é?

A análise foliar do 3º ou 4º par de folhas totalmente expandidas a partir do ápice dos ramos com frutos o terço médio da planta indica o estado nutricional da planta. Esta análise é feita entre os meses de dezembro e fevereiro.  

Na tabela 1 você encontra os valores de referência. É como um exame de sangue. A análise foliar te mostra quais as concentrações de nutrientes a planta possuem e os valores da tabela a seguir são as referências para comparar e ver se está tudo ok.

Esses valores (juntamente com a análise do solo) te darão um “norte” de como proceder com a adubação.

Tabela 1. Faixas para interpretação de teores de macro e micronutrientes nas folhas de cafeeiro, coletadas em ramos com frutos.

NutrienteBaixoAdequadoAlto
 ———————– g kg-1 ———————–
N<2525-30>30
P<1,51,5-2,0>2,0
K<2020-30>30
Ca<1010-15>15
Mg<3,03,0-5,0>5,0
S<1,51,5-2,0>2,0
 ———————– mg kg-1 ———————–
B<6060-100>100
Cu<1010-20>20
Fe<5050-200>200
Mn<5050-200>200
Zn<2020-40>40
Mo<0,10,5-2,0>0,2
Fonte: Quaggio et al. (2022).

Disponibilidade de nutrientes no solo

Assim como as faixas para interpretação de teores de nutrientes nas folhas, há também as classes de teores de nutrientes no solo para verificar se o solo está fértil para a produção de café.

Aqui também é como um exame de sangue. A análise de solo te mostra quais os teores que o seu solo possui e os valores da tabela a seguir são as referências para comparar e ver se está tudo ok.

A adubação deve focar em manter os teores de nutrientes na faixa “adequada”.

A partir da análise de solo você terá uma referência dos nutrientes que devem ser mais ou menos priorizados na adubação de acordo com as necessidades do cafeeiro.

Tabela 2. Classes para interpretação de nutrientes no solo para café.

Classes de teoresP-resinaKMgV%BCuMnZn
mg dm-3—- mmolc dm-3 —-——- mg dm-3 ——-
Baixo<16<1,6<5<50<0,6<2<5<5
Adequado16-401,6-35-950-700,6-12-55-105-10
Alto>40>3>9>70>1>5>10>10
Fonte: Quaggio et al. (2022).

A análise de solo para o cafeeiro deve ser feita anualmente (após a colheita) na faixa de solo onde são aplicados os adubos, de preferência próximo da projeção da copa do cafeeiro (0,5 m para dentro e 0,5 m para fora, misturando ambas). Deve-se coletar amostras de 0-20 cm e, a cada dois anos, 20-40 cm de profundidade.

Eficiência da adubação

A eficiência da adubação é influenciada, principalmente, pela fonte do nutriente, o método e a época de aplicação dos fertilizantes.

Determinar o valor exato da eficiência da adubação é algo complexo e deve-se considerar inúmeros fatores.

Mas calma, você não precisará saber isso diretamente na hora de realizar a adubação. Os boletins de recomendação de adubação já consideram uma eficiência média para cultura e região.

No entanto, as pesquisas apontam que a eficiência da adubação é aproximadamente 50% para o nitrogênio, 70% para o potássio e menos de 20% para o fósforo.

Agora que você entendeu quais são os princípios básicos para a adubação do café veja como é feita a adubação em diferentes estágios de uma forma mais prática.

Adubo para café recém-plantado até a produção (em formação)

Após ter feito um bom preparo da cova/sulco de plantio com adubo orgânico, fósforo em profundidade e, claro, correção da acidez do solo como indicado no nosso artigo de plantio de café, seguiu-se o plantio.

Certo! Aí vem a dúvida: como proceder com a adubação daqui em diante? Vamos lá!

O café em formação produzirá biomassa vegetativa incluindo raízes, ramos e folhas e em menor quantidade em relação ao café em produção. Por isso, a exigência de nutrientes é menor.

adubo para café recém-plantado
Figura 1. Mudas de café recém-plantadas. Foto: Laís Teles.

Nesta fase, N, P, Ca e B são muito importantes para o desenvolvimento dessa biomassa vegetativa. Todos os nutrientes devem ser mantidos nos teores adequados de acordo com as tabelas 1 e 2.

A quantidade de fertilizantes pode ser calculada de várias formas. Porém, a mais “prática” para quem é leigo no assunto é com o auxílio das tabelas do manual de recomendação de adubação oficial do seu estado.

Aqui vamos abordar as recomendações do estado de São Paulo que estão mais atualizadas – o Boletim 100.

O manual recomenda aplicar as doses de nutrientes de acordo com a tabela 3, divididas em pelo menos quatro parcelas com intervalos de aproximadamente 30 a 45 dias, até o final do período chuvoso (setembro a março).

Além disso, sugere aplicar os fertilizantes em faixas ao lado das plantas, na projeção da copa.

Tabela 3. Recomendações de adubação para cafeeiro em formação, em função da idade da planta e da análise do solo.

IdadeNP resina, mg dm-3K+ trocável, mmolc dm-3
<1616-40>40<1,61,6-3,0>3,0
AnosKg ha-1 de N— kg ha-1 de P2O5— kg ha-1 de K2O —
0-1903020030200
1-2140604020906030
2-31609060401209060
Fonte: Quaggio et al. (2022).

Fontes de adubo para cafés recém-plantado normalmente incluem o: sulfato ou nitrato de amônio, superfosfato simples ou triplo e cloreto de potássio. Já para o café em formação normalmente incluem estas fontes e mais algumas formulações como: 20-05-20, 30-00-10 e 20-10-10. Mas, lembre-se sempre que as formulações devem atender as condições específicas do solo da sua propriedade, por isso é sempre importante procurar um engenheiro agrônomo em casos de dúvida na recomendação da adubação.

Adubação para café em produção

No terceiro ano após o plantio a planta estará maior e produzirá sua primeira carga. Logo, terá uma maior exigência nutricional.

adubo para café em produção
Figura 2. Café em produção. Foto: Laís Teles.

Nesta fase a quantidade de fertilizantes é determinada em função da produtividade esperada e dos teores de nutrientes no solo, exceto N, para o qual pode considerar-se o teor da análise foliar.

Existem várias formas de calcular a dose de fertilizantes para o café em produção.

De posse da análise química do solo, você também pode utilizar o manual de recomendação de adubação do seu estado (tabelas).

Veja as recomendações do Boletim 100 para o café em produção na tabela 5.

Tabela 5. Recomendação de adubação para cafeeiro em produção em função das análises de solo e folhas e classe de produção.

Classes de produção (café beneficiado)(1)N foliar, g kg-1P resina, mg dm-3K+ trocável, mmolc dm-3
<2525-30>30<1616-40>40<1,61,6-3,0>3,0(2)
Kg ha-1kg ha-1 de Nkg ha-1 de P2O5kg ha-1 de K2O
<120016014012020202016010060
1200-180018016014040202018012080
1800-2400220200160604020200140100
2400-3000260220180806040240180120
3000-3600300240200806040280200160
3600-42003502602201008060360280180
4200-48004003002401208060400300200
>480045035024014010060450320220
(1) Devido à bienalidade do ciclo de produção do cafeeiro, no ano de safra baixa recomenda-se utilizar a produtividade média do bi6enio para o cálculo da adubação. Conversões médias para unidades em café: 2,2 kg de café em coco geram 1 kg de café beneficiado e 1,2 kg de casca.
(2) Para solos com teores muito altos de K (>6,0 mmolc dm-3) e de P (>80 mg dm-3) não aplicar K e P para evitar desequilíbrios entre nutrientes.
Fonte: Quaggio et al. (2022).

Formulações de adubo que podem atender as exigências para cafés em produção incluem o: 20-05-20, 20-10-10 e 30-00-10. Mas, novamente lembro que as formulações devem atender as condições específicas do solo da sua propriedade e o engenheiro agrônomo é o profissional recomendado para te auxiliar.

O manual de SP também sugere parcelar a adubação em três aplicações, sendo a primeira com 40% da dose e as demais com 30% cada entre outubro e março.

Além disso, aplicar até o final de dezembro 70% das doses de N e K.

Em solos arenosos ou com recomendações de doses muito altas de nutrientes, parcelar a aplicação em quatro vezes, evitando aplicar mais do que 80 kg ha-1 de N ou de K2O por parcelamento.

Lembre-se que você também pode usar adubos orgânicos e considerar os nutrientes neles contidos, complementando-os com adubos minerais.

Adubação do café com enxofre

O enxofre (S) deve ser aplicado na proporção de aproximadamente 1:8 kg de S por 1 kg do N aplicado no período chuvoso para o café em produção.

Essa aplicação pode ser dispensada se a análise de solo indicar teores acima de 20 mg dm-3 de S na camada de 20-40 cm.

No caso do café recém-plantado, normalmente a adubação com superfosfato simples feita na cova ou no sulco de plantio supre a demanda inicial.

O gesso agrícola, com cerca de 15% de enxofre, é a opção mais econômica para fornecer enxofre ao cafeeiro.

Adubação com micronutrientes para café em formação e em produção

A deficiência de boro (B) e zinco (Zn) são as mais comuns na cafeicultura entre os micronutrientes.

Para plantas com menos de três anos, é recomendável realizar quatro aplicações anuais de B e Zn via foliar, entre outubro e maio.

Em talhões adultos, o boro deve ser aplicado preferencialmente via solo. A forma mais fácil de aplicação é a utilização de ácido bórico dissolvido em solução de herbicidas, como o glifosato.

Geralmente, são feitas de duas a três aplicações anuais de herbicidas, utilizando um volume de calda de 200 L ha-1, na qual é possível dissolver a dose de 1 kg ha-1, de B, ou seja, 6 kg ha-1 de ácido bórico.

Outra opção é o uso de misturas NPK com B, sendo crucial que a fonte de B seja pelo menos 70% solúvel em água.

Veja na tabela 6 as recomendações de boro e zinco para o cafeeiro em produção de acordo com o manual de recomendação do estado de SP.

Tabela 6. Recomendações de boro via solo e zinco via folhas para cafeeiro em produção, em função dos teores dos nutrientes no solo e cultivares.

Teor no soloCultivares
Porte baixoPorte alto
mg dm-3———– kg ha-1 de nutriente ———–
BoroAplicar via solo
<0,64,03,0
0,6-1,03,02,0
>1,02,01,0
ZincoAplicar via foliar
<5,04,03,0
5,0-10,02,02,0
>10,01,01,0
Fonte: Quaggio et al. (2022).

Quando houver sintomas de deficiência de Mn e Cu, sugere-se realizar três pulverizações foliares entre outubro e fevereiro.

Pode-se utilizar 6 a 10 g L-1 sulfato de manganês e soluções contendo 5 g L-1 de hidróxido de cobre.

Práticas para otimizar a adubação do cafeeiro e promover o maior aproveitamento do adubo para cafés recém-plantados (em formação) e em produção

Além da dose certa, calculada de acordo com a demanda da cultura, outras práticas também podem ser adotadas para aumentar a eficiência da adubação.

Uma delas é a aplicação do fertilizante no local certo. No caso do café, na projeção da copa onde se encontra as raízes absorventes que aproveitarão melhor os nutrientes.

Outra é a aplicação no tempo certo. Fornecer os fertilizantes na época de maior demanda da cultura e em condições climáticas favoráveis.

Ademais, a eficiência pode ser melhorada através do uso de adubos de liberação lenta/controlada contendo inibidores, ou adubos orgânicos/organominerais, os quais liberam nutrientes gradualmente.

Por fim, o uso de consórcio com gramíneas como a braquiária também contribui com a eficiência da adubação. Entre vários benefícios, ela conserva a umidade do solo (que é bom para o aproveitamento do adubo), melhora a ciclagem de nutrientes, aumenta o teor de matéria orgânica e aumenta a atividade dos microrganismos – torna o solo mais vivo.

Café em produção em consórcio com a braquiária
Figura 3. Café em produção em consórcio com a braquiária. Foto: Laís Teles.

Conclusão

A adubação para o café nos diferentes estágios, desde o plantio até a produção, é uma prática crucial para o sucesso da cultura.

Os manuais de recomendações de adubação dos estados produtores proporcionam orientações práticas para a aplicação de nutrientes nos diferentes estágios.

A atenção às quantidades, parcelamento adequado e aplicação de micronutrientes ao longo do cultivo é essencial para maximizar o crescimento e o potencial produtivo da sua lavoura.

Não se esqueça: mantenha sempre a planta bem nutrida e os teores de nutrientes no solo adequados.

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Referências 

QUAGGIO, J. A., THOMAZIELLO, R. A., van Raij, B., CANTARELLA, H. Café. In: CANTARELLA, H., QUAGGIO, J. A., MATTOS Jr. D., BOARETTO, R. M., van Raij, B. BOLETIM 100: recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico, 2022, p. 165-176.

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