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Defensivos agrícolas: 5 moléculas mais comercializadas no Brasil em 2022

Conheça as 5 moléculas de defensivos agrícolas mais comercializadas no Brasil em 2022: glifosato, 2,4-D, atrazina, mancozebe e acefato lideram a lista. Veja tudo sobre esses produtos.

Atualizado: 09/01/2024

O Brasil utiliza grande quantidade de defensivos agrícolas (herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas e outros) para a proteção de cultivo, uma vez que o país se destaca como um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo.

O clima tropical do país favorece a biodiversidade, possibilita a produção de grande variedade de culturas e de até 3 safras por ano, dependendo da cultura, permitindo alcançar recordes seguidos de produção e produtividade. 

Esse mesmo clima que favorece o cultivo de alimentos propicia condições ideais para o ataque de pragas e doenças nas plantas cultivadas. As condições climáticas tropicais, variam predominantes entre clima seco e úmido. Nas estações da primavera e verão, temos maior umidade e altas temperaturas, já no outono e inverno, períodos mais secos e com temperaturas mais amenas.  

Para impedir o ataque de pragas e doenças faz-se necessária a proteção do cultivo, ou seja, a utilização de defensivos agrícolas. E não à toa que o Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo, uma vez que para manter os elevados patamares produtivos a proteção da lavoura deve ser efetiva, especialmente nas condições tropicais (Figura 1).  

defensivos agrícolas

 

Figura 1. Importância e reflexos da proteção de cultivos no Brasil. Fonte: Sindiveg 

O que são defensivos agrícolas?

Defensivos agrícolas são produtos químicos ou biológicos utilizados na agricultura para proteger as plantações contra pragas, doenças e plantas daninhas.

Esses produtos incluem herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas e outros agentes que têm o objetivo de controlar ou eliminar organismos indesejados que possam prejudicar o crescimento e o desenvolvimento das culturas

Mas afinal, por que os defensivos químicos são utilizados na lavoura?

Os defensivos agrícolas são utilizados por uma série de razões, que incluem:

  • Controle de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas: o que é fundamental para manter a produtividade e a qualidade dos produtos agrícolas.
  • Proteção dos Cultivos: Os defensivos agrícolas são utilizados como uma estratégia preventiva para proteger as safras de insetos, fungos, bactérias e plantas daninhas.
  • Aumento da Eficiência na Produção: O controle de pragas e doenças permite que as plantas cultivadas não tenham seu potencial de crescimento prejudicados.
  • Manutenção da Segurança Alimentar: O uso controlado de defensivos agrícolas ajuda a garantir a disponibilidade de alimentos seguros e saudáveis.

Defensivos agrícolas mais utilizados no Brasil em 2022

 O Ibama divulgou, agora em dezembro de 2023, os dados de consumos de defensivos agrícolas no Brasil no ano de 2022. Vejamos abaixo os números sobre a comercialização de defensivos agrícolas no País.

Os herbicidas representaram 47-49% do total do volume aplicado com defensivos agrícolas no Brasil nos anos de 2021 e 2022, seguido por inseticidas e fungicidas, onde cada um representou aproximadamente mais 20 a 22%% do volume aplicado (Figura 2). 

Houve um aumento de 7,31% da área tratada com defensivo agrícola no Brasil de 2021 para 2022. No último ano, os inseticidas foram utilizados em 26% da área tratada no país, seguido pelos herbicidas (24%) e outros (24%).

Com relação ao valor de produto aplicado, em milhões de dólares, houve um aumento de 37,7% com gastos de defensivos agrícolas em 2022 em relação ao ano de 2021. Os herbicidas foram responsáveis por 37% dos gastos, enquanto os inseticidas representaram 27% e os fungicidas 25%. Por fim vieram os insumos “para tratamento de sementes e outros produtos”, com 10% do total (Figura 2). 

Destaca-se em 2022 o grande aumento no uso de herbicidas, principalmente glifosato, como veremos a seguir.

defensivos agrícolas: Percentagem da área tratada, valor do produto aplicado e volume de produto aplicado com fungicidas, inseticidas, herbicidas e tratamento de semente
Figura 2. Percentagem da área tratada, valor do produto aplicado e volume de produto aplicado com fungicidas (vermelho), inseticidas (amarelo), herbicidas (verde); tratamento de semente (roxo) e outros (cinza) nos anos de 2021 e 2022 no Brasil. Fonte: Sindeveg/ Spark Consultoria, 2024.  

Para os produtos classificados como “Químicos e Bioquímicos”, as vendas em 2022 foram de 800.652 toneladas de ingredientes ativos (i.a.), o que representa um aumento de aproximadamente 11% em relação ao ano anterior (2021), cujas vendas foram de 720.870 toneladas.

Segundo dados do último relatório publicado pelo IBAMA em 2021, das cinco moléculas mais comercializadas no país no ano de 2021, três pertencem à classe dos herbicidas, uma à classe dos fungicidas e uma à classe dos inseticidas (Tabela 1). 

Tabela 1. Cinco ingredientes ativos mais vendidos no Brasil em 2022 de defensivos agrícolas 

Os 5 ingredientes ativos mais vendidos no Brasil – 2022
Unidade de medida: toneladas de IA
Ingrediente ativo (IA)Vendas (ton. de IA)Ranking
Glifosato e seus sais382.783,91
2,4-D101.887,18
Atrazina77.028,18
Mancozeb50.532,33
Acefato50.275,61
Fonte: IBAMA / Consolidação de dados fornecidos pelas empresas registrantes de produtos técnicos, agrotóxicos e afins, conforme art. 41 do Decreto nº 4.074/2022.

GLIFOSATO E SEUS SAIS

O Glifosato é o defensivo agrícola mais vendido no Brasil e no mundo. Somente no Brasil foram 382 mil toneladas vendidas em 2022, quase quatro vezes mais do que o segundo defensivo mais comercializado, o 2,4-D.  

O glifosato, N-(fosfonometil) glicina, é um herbicida sistêmico e não seletivo que está registrado no Brasil desde o final da década de 70 e é utilizado para controlar plantas daninhas anuais e perenes, monocotiledôneas ou dicotiledôneas, em muitas culturas, incluindo soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e diversas frutíferas, podendo controlar mais de 150 espécies de plantas daninhas 

É um dos principais responsáveis pela viabilização e pelo crescimento da área com Plantio Direto no mundo e, em especial, no Brasil. 

glifosato

Apesar de ser um ácido é aplicado nas lavouras na forma de sal (sal de isopropilamina, amônio, potássio). As formulações de glifosato são geralmente comercializadas como concentrados solúveis em água ou como granulados dispersáveis em água.  

O mecanismo de ação do glifosato está bem entendido e documentado: ele inibe a enzima EPSPS (5-enolpiruvato-chiquimato-3-fosfato sintase) da via metabólica do ácido chiquímico, impedindo a síntese de determinados aminoácidos aromáticos (tirosina, triptofano e fenilalanina) essenciais ao crescimento das plantas (MALIK et al., 1989; FRANZ et al., 1997).  Com isso ocorre uma parada do crescimento da planta, disfunção celular e consequente morte da planta.   

A ampliação da utilização do produto se generalizou, sobretudo, a partir dos anos 1990, com o desenvolvimento de espécies de soja, milho e algodão resistentes ao herbicida, que propiciaram ao agricultor a possibilidade do uso do glifosato em pós-emergência.  

Para aumentar a eficiência na eliminação de plantas daninhas, o glifosato é utilizado com misturas de outros herbicidas, tais como formulados à base de 2,4-D, terbutilazina, simazina, alaclor e diuron, por exemplo. 

O glifosato também pode ser usado como dessecante; uniformiza a lavoura e permite a antecipação da colheita. 

 2,4-D 

Também pertencendo ao grupo dos herbicidas, o 2,4-D, ou 2,4-Diclorofenoxiacético, é utilizado para o controle de plantas daninhas eudicotiledôneas (folhas largas). 

Foi o primeiro herbicida orgânico sintetizado pela indústria química, em 1941.  

Seu mecanismo de ação é de mimetização das auxinas naturais das plantas (Figura 3). Embora seu mecanismo de ação não esteja completamente elucidado, em nível molecular, três eventos principais são bem caracterizados: ocorre a alteração da plasticidade da parede celular, alteração no conteúdo de proteínas e aumento da produção de etileno (SONG, 2014). 

herbicida 2,4-D

Figura 3. Similaridades estruturais entre o herbicida 2,4-D e a auxina natural ácido indolacético (AIA). Adaptado de Song et al. (2014). 

 

Seus efeitos podem ser percebidos mesmo quando pequenas quantidades deste herbicida entram em contato com plantas sensíveis. Por isso o outro nome pelo qual este grupo de herbicidas é conhecido – herbicida hormonal. 

A maior polêmica relacionada ao uso dos mimetizadores da auxina e do 2,4-D em particular é o potencial que a deriva oriunda da aplicação desses produtos a campo pode causar em culturas sensíveis próximas ao local de aplicação, mesmo em doses muito baixas.  

As misturas de 2,4-D ao glifosato apresentam importante contribuição no controle de plantas daninhas tolerantes ou resistentes ao glifosato, como a corda-de-viola, a trapoeraba e a buva. 

ATRAZINA 

A atrazina, nome comum para 2-cloro-4-etilamino-6-isopropilamino- s –triazina, pertence ao grupo das triazinas, e é um herbicida pré-emergente e pós-emergente precoce, que atua inibindo o fotossistema II 

É o terceiro defensivo agrícola mais vendido no Brasil, sendo muito utilizado na produção de milho e, assim como o 2,4-D, controla plantas daninhas eudicotiledôneas (de folhas largas).  

É um herbicida mais barato em comparação com os demais, e com a perda de eficiência do glifosato, tornou-se mais procurado. 

No Brasil, possui autorização para ser aplicado nas plantações de abacaxi, cana-de-açúcar, milho, milheto, pinus, seringueira, sisal e sorgo. 

A molécula de atrazina foi banida na União Européia porque estudos não conseguiram comprovar que o ingrediente ativo não contamina os lençóis freáticos. Outras pesquisas associaram o agrotóxico a impactos no sistema reprodutivo em população de sapos (HAYES et al., 2003). 

 

Quer entender como é o mecanismo de ação dos herbicidas? Veja a explicação da professor Aline Deon feita em um de nossos cursos:

MANCOZEB 

O fungicida mancozeb é o quarto defensivo agrícola mais vendido no Brasil, sendo também o mais antigo e originário da década de 1940.  

É um fungicida protetor do grupo químico dos ditiocarbamatos. Possui ação multissítio (Figura 4), com amplo espectro, controlando inúmeras doenças fúngicas que causam danos econômicos em várias culturas.  

mecanismo de ação mancozeb

Figura 4. Locais de ação dos fungicidas multissítios na célula fúngica. Fonte: Balardin et al. (2017) 

 

O mancozeb é amplamente utilizado para controlar uma das principais doenças da soja, a ferrugem asiática. 

Embora o uso de mancozebe sozinho seja ainda significativo, o ingrediente ativo tem sido aplicado em formulações com outros ingredientes ativos, geralmente com um fungicida sítio-específico sistêmico, como triazóis, estrobirulinas ou carboxaminas (BALARDIN et al., 2017). Nesse caso, o mancozebe é incluído como ferramenta para auxiliar a gestão de resistência e ampliar o espectro do produto. 

O mancozeb é praticamente insolúvel em água e na maioria dos solventes. Sendo assim, são necessários alguns cuidados na aplicação (como utilização de adjvantes tensoativos, boa agitação no tanque de pulverização, entre outros) para que não haja entupimento de filtros e bicos, aquecimento do selo da bomba ou rompimento de alguma estrutura da bomba. 

ACEFATO 

O inseticida acefato é o quinto produto mais vendido no Brasil, tornando-se popular devido à sua eficácia geral no controle de muitas espécies de insetos.   

O acefato (O,S-dimetil acetilfosforamidotioato) pertence ao grupo dos organofosforados e é ingrediente ativo (IA) de vários produtos inseticidas e acaricidas.  

É um inseticida sistêmico que tem um poder de ação grande (generalista) e pode matar muitas espécies.   

Agem inibindo a enzima acetilcolinesterase, resultando em acúmulo de Acetilcolina na sinapse causando hiperexcitabilidade devido à transmissão contínua e descontrolada de impulsos nervosos: incluem tremores, convulsões e, eventualmente, colapso do sistema nervoso central e morte. 

É muito utilizado no país para controle do percevejo, inseto sugador que reduz muito a produtividade das lavouras de grãos, principalmente da soja, e do bicudo do algodoeiro, uma das principais pragas do algodão. 

O acefato é autorizado nos EUA, mas foi banido na União Europeia. Isso porque estudos relacionaram o produto à perda de fertilidade masculina. Além disso, a UE argumentou que seu resíduo pode causar morte de aves e espécies marinhas, como anfíbios e peixes. 

No Brasil, pode ser aplicado nas culturas de algodão, amendoim, batata, citros, feijão, melão, milho, soja e tomate (somente fins industriais). Porém, desde 2013, a aplicação do produto ficou mais restrita: só pode ser feita por máquinas e não pode ocorrer em ambientes fechados, como estufas. 

 Referências 

BALARDIN, R.S.; MADALOSSO, M.G.; STEFANELLO, M.T.; MARQUES, L.N.; DEBORTOLI, M.P. Mancobeb: muito além de um fungicida. Editora Bookman. 2017. 147 p. 

FRANZ, J.E.; MAO, M.K.; SIKORSKI, J.A. Glyphosate: a unique global herbicide. ACS Monograph 189, American Chemical Society, Washington, DC. pp 163-175. 1997. 

GRISOLIA, Cesar Koppe. Agrotóxicos: mutações, câncer e reprodução. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2005. 392 p. 

HAYES, T.; HALSTON, K.; TSUI, M.; HOAG, A.; HAEFFLE; C.; VONK, A. Atrazine-induced hermaphroditism at 0.1 ppb in American leopard frogs (Rana pipiens): laboratory and field evidence. Environmental Health Perspectives v. 111, p. 568–575. 2003. doi: 10.1289/ehp.5932 

MALIK, J.; BARRY, G.; KISHORE, G. 1989. The herbicide glyphosate. Biofactors 2(1): 17-25.
US EPA. 1993a. Reregistration eligibility decision-(RED): glyphosate. Office of Prevention, Pesticides and Toxic Substances – US Environmental Protection Agency, Washington, DC. 

SONG, Y. Insight onto the mode of action of 2,4-Dichlorophenoxyacetic acid (2,4-D) as na herbicide. Journal of Intefrative Plant Biology. V.56, p. 106-113, 2014.doi: 10.1111/jipb.12131

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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