O que é Ecofisiologia da Soja na Produção Agrícola?
De acordo com Larcher (2006), Ecofisiologia Vegetal é a ciência que trata dos processos e das respostas vitais das plantas em função das mudanças nos fatores ambientais. A produção total de massa seca (biomassa) por um vegetal é resultante da fotossíntese líquida, que por sua vez é decorrente da fotossíntese bruta, descontada a energia gasta nos processos de respiração e fotorrespiração (fisiologia C3).
Todo o metabolismo destinado à produção de matéria seca a partir da fotossíntese consiste em rotas bioquímicas variáveis e complexas, envolvendo desenvolvimento e crescimento de organelas e tecidos específicos nos processos de construção da arquitetura foliar da parte aérea, absorção de água e assimilação de nutrientes entre outros, com participação direta dos hormônios endógenos que atuam na expressão gênica. Até aqui nos reportamos aos eventos que ocorrem dentro do vegetal.
Entretanto, no meio externo à planta existem muitos fatores denominados flutuantes, pois suas ocorrências no ambiente natural se manifestam diariamente e de forma dinâmica, destacando-se a radiação solar (qualidade e intensidade), temperatura, umidade e fotoperíodo (duração do período de luz solar dentro do período de 24 horas do dia terrestre). As reações fisiológicas que as plantas podem apresentar perante as mudanças nesses fatores ambientais são objeto de análise e pesquisa da Ecofisiologia Vegetal.
Quando tais estudos são direcionados às interações existentes entre uma espécie cultivada e o seu respectivo ambiente de produção, tem-se a Ecofisiologia da Produção Agrícola ou, em se tratando de uma cultura específica como, por exemplo, a soja, tem-se a Ecofisiologia da Produção de Soja ou, simplesmente, Ecofisiologia da Soja.
Ecofisiologia da Soja
Luz, Fotossíntese e Área Foliar
A matéria prima básica da fotossíntese bruta da soja corresponde aos carboidratos, que ao serem respirados liberam energia e vários metabólitos intermediários que são utilizados, durante as fases vegetativa e reprodutiva de seu ciclo fenológico, para a construção das raízes e nódulos; alongamento da haste principal e suas ramificações; formação e expansão das folhas; inflorescências; vagens e grãos.
Na medida em que constrói o arcabouço foliar, aumenta a sua capacidade de interceptar a radiação solar incidente sobre o dossel da cultura e consequentemente, a taxa de fotossíntese líquida. O crescimento da área foliar da parte aérea da soja atinge o auge entre os estádios de frutificação plena e o início da granação das vagens, podendo atingir valores de índice de área foliar em torno de nove, isto é: 9,0 m2 de superfície foliar por m2 de solo cultivado.
No manejo da soja é crucial que se estabeleça um adequado programa de nutrição vegetal, simultaneamente às estratégias de proteção fitossanitária, de maneira a garantir nutrição equilibrada da cultura e a manutenção mais duradoura de área foliar sadia e isenta do ataque de pragas e doenças desfolhadoras. Em relação ao ambiente é desejável que não ocorra deficiência hídrica durante a fase vegetativa, para que haja a máxima expansão da área foliar de cada trifólio.
Temperatura
No trajeto dos raios solares em direção à superfície do dossel vegetal ocorrem vários eventos físicos que vão diminuindo a energia contida na luz, tais como desvios, transmissões, absorção pelas moléculas dos gases atmosféricos, além da dissipação na forma de calor. Embora não forneça energia diretamente ao ambiente, sua mensuração através de escalas térmicas como a de graus Célsius, pode ser relacionada com a quantidade e disponibilidade de energia no sistema em um dado momento.
Quanto mais energia disponível (maior temperatura), maior a velocidade das reações bioquímicas dos processos metabólicos da planta acelerando o seu crescimento; quanto menor a disponibilidade de energia no ambiente (menor temperatura) mais lenta se tornam essas reações, desacelerando o crescimento e desenvolvimento da planta. A temperatura exerce influência em todos os momentos do ciclo fenológico da cultura.
Na instalação da soja, o solo do leito de semeadura deve se apresentar, preferencialmente, com valores de temperatura entre 27 e 30º C, faixa térmica considerada ótima para os eventos de germinação da semente, elevação da alça do hipocótilo, crescimento inicial das raízes, desenvolvimento dos nódulos e fixação biológica do nitrogênio.
Durante a fase vegetativa, a ocorrência de temperatura média diária do ar com valores entre 27 e 30ºC favorece a atividade fotossintética e a absorção e assimilação de nutrientes minerais. Já na fase reprodutiva, a ocorrência de temperaturas mais amenas do ar (23 a 25ºC) favorecem os estágios do florescimento, frutificação e formação das sementes dentro das vagens. Temperaturas do ar na faixa de 20 a 22ºC promovem melhor maturação e qualidade fisiológica das sementes.
Umidade
A disponibilidade hídrica regular ao longo do ciclo de produção das lavouras de soja do Brasil é considerada como o principal fator de garantia da alta produtividade de grãos, em condições de ambiente tropical.
Germinação da semente, florescimento, frutificação e formação das sementes no interior das vagens são, assertivamente, os momentos fenológicos da soja mais cruciais quanto à disponibilidade de água no sistema solo-planta-atmosfera.
Tanto a deficiência, quanto o excesso de umidade são altamente prejudiciais à expressão do potencial produtivo dos cultivares. Precipitação entre 500 e 800 mm bem distribuída ao longo do ciclo fenológico é suficiente para proporcionar elevada produtividade agrícola.
Fotoperíodo
Literalmente, fotoperíodo é o período de luz, isto é, a duração do período de luz dentro do período de 24 horas do dia terrestre. O valor do fotoperíodo no ambiente oscila ao longo do ano e entre as latitudes do planeta. As espécies que mudam da fase vegetativa para a reprodutiva em resposta às variações diárias do fotoperíodo (Fotoperiodismo) são classificadas como fotossensíveis.
A soja (Glycine max (L.) Merrill) é uma espécie fotossensível de dia curto, sendo induzida ao florescimento quando os valores de fotoperíodo no ambiente de produção passam a ser inferiores ao valor do fotoperíodo crítico do cultivar. Entretanto, a planta estará fisiologicamente apta a perceber o ambiente foto indutor, somente quando finalizar a sua juvenilidade ou período juvenil.
A fotossensibilidade da soja continua se manifestando significativamente nos cultivares modernos, independente do tipo de crescimento e do grupo de maturidade relativa, razão pela qual se deve atentar para a orientação técnica da melhor janela de plantio dos cultivares em suas respectivas regiões de recomendação.
A Importância da Época de Semeadura
De todos os fatores de manejo envolvidos na produtividade agrícola, a escolha da época de semeadura é a mais impactante, principalmente em espécies fotossensíveis como a soja.
Ao definir a época de semeadura da soja, busca-se obter a simultaneidade de ocorrência entre os requerimentos ecofisiológicos da cultura em seus momentos mais críticos, com a pronta disponibilidade de luz, temperatura e umidade por parte do clima regional, a partir da data escolhida para o plantio.
Se as condições da Ecofisiologia da soja forem adequadas, conseguiremos obter o máximo rendimento produtivo da cultura.
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Referência
LARCHER, W. Ecofisiologia Vegetal. / Walter Larcher – São Carlos, SP: RiMa, 2006. 550 p.
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