As épocas de plantio (propagação vegetativa) ou épocas de semeadura (propagação por sementes) constituem-se em uma decisão de manejo de alto impacto sobre a produtividade agrícola das culturas.
Isto porque, a escolha da época de plantio ou de semeadura visa propiciar a “desejada” coincidência entre a ocorrência de condições climáticas favoráveis no ambiente de produção e os estádios de desenvolvimento da cultura, em que tais condições sejam requeridas.
As principais condições de clima favoráveis ao crescimento e desenvolvimento vegetal e à produtividade agrícola se referem à qualidade, intensidade e duração da radiação solar; disponibilidade de energia no ambiente, associada à sensação térmica no mesmo (temperaturas) e frequência e quantidade de água precipitada (chuva) e, principalmente, tempo de armazenamento desta no solo.
Os valores extremos de cada elemento descrito anteriormente variam de local para local e de ano a ano, principalmente, em grandes regiões sob efeito direto do clima tropical, como é o caso do Brasil.
Felizmente, conta-se com um vasto e diversificado banco de registros climáticos que tem proporcionado o estabelecimento de Zoneamentos Agrícolas Climáticos para as principais culturas, identificando-se as melhores regiões de produção para a maioria das espécies cultivadas e, dentro de cada região e para cada cultura, as melhores épocas, mais favoráveis à instalação das espécies, genericamente conhecidas como “janelas de plantio”.
Instalando-se a cultura fora de sua melhor época, aumenta-se o risco da ocorrência de adversidades climáticas ao desempenho dos cultivos, durante o ano agrícola correspondente, principalmente com relação à extremos de precipitação, ora por deficiências hídricas, ora por excedentes, geralmente acompanhados por radiação solar e temperaturas desfavoráveis.
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Ano climático normal e regiões do Brasil
Cabe aqui, o conceito de ano climático normal para a atividade agrícola, que pode ser compreendido como o ano em que os níveis verificados para os principais elementos de clima (temperatura, regime de distribuição das chuvas, etc.), correspondem às respectivas normais climáticas (série histórica de dados climáticos de 30 ou mais anos consecutivos) de uma determinada região de produção, conforme define a Organização Meteorológica Mundial (OMM) referenciada pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera – IPMA (2020) e descrito em Silva et al. (2020, no prelo).
Considerando-se esse conceito, tem-se que as diferenças básicas entre as regiões Sul-Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil residem na época em que se inicia a estação chuvosa e na intensidade das precipitações. Nas regiões Sul-Sudeste as chuvas regulares, isto é, que conferem segurança para a semeadura/plantio das culturas e emergência das plântulas, iniciam-se na primeira quinzena de outubro, regularizando-se a partir da segunda.
Para a região Centro-Oeste as chuvas (em grande parte da região) se iniciam na 2ª quinzena de outubro e se regularizam a partir de novembro. Nesta região e no Sudeste do Brasil, o decréscimo das precipitações ocorre a partir dos meses de março e abril, enquanto na região Sul tem-se outono e inverno mais chuvosos, permitindo a sucessão contínua de culturas de verão seguidas por culturas de safrinha ou de inverno.
Para alguns estados da região Norte a temporada de chuvas regulares se inicia em janeiro e para a região Nordeste, o regime de precipitação é o oposto do verificado para as regiões Sul-Sudeste.
Janelas de semeadura e de plantio em primavera/verão
Considerando-se como exemplos, as culturas da cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, as melhores épocas de plantio e de semeadura associadas à expressão de altas produtividades dessas culturas e historicamente observadas nas regiões Sul-Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, são apresentadas na tabela 1.
Curtos períodos de deficiência hídrica (10 a 20 dias) dentro da estação de chuvas, normalmente associada à ocorrência de temperaturas elevadas, caracteriza o fenômeno conhecido como “veranico”.
Regiões que apresentam recorrência desse evento demandam maior conhecimento sobre o clima histórico regional, a fenologia da espécie e a duração do ciclo do cultivar, para melhor precisão na escolha da época de semeadura ou plantio.
Também devem ser identificados os períodos da estação de crescimento das culturas, em que o risco de ocorrência de excedentes hídricos ou de geadas tende a ser mais frequente.
Tabela 1. Melhores épocas (“janelas”) de plantio ou de semeadura para as culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão associadas à expressão de altas produtividades agrícolas nas regiões Sul-Sudeste e Centro-Oeste do Brasil
Veranicos nos meses de novembro, dezembro, janeiro ou fevereiro, coincidentes com as fases de formação de colmos da cana-de-açúcar e de formação dos frutos e das sementes nas culturas de soja e milho de verão, são os principais agentes responsáveis pela quebra de safra dessas culturas.
Excedentes hídricos do meio para o final da maturação resultam em perda de qualidade dos produtos, como aumento de impurezas minerais na cana-de-açúcar; grãos ardidos e mofados nas culturas de soja e de milho; apodrecimento de capulhos e formação de fibra de baixa qualidade do algodão.
As culturas de 2ª safra, quando semeadas em atraso, correm sério risco de quebra de produtividade, seja por ocorrência de outono e inverno muito secos (parte do Sudeste e Centro Oeste) e ou muito frios (parte do Sudeste e Sul), com temperaturas de congelamento (geadas).
Considerações Finais
O planejamento das épocas de plantio e de semeadura das culturas no Brasil deve receber os mesmos cuidados e atenções destinadas à escolha das boas sementes e dos bons híbridos, cultivares e variedades.
Referências
IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera (Org.). Normais Climatológicas. Disponível em <https://www.ipma.pt/pt/oclima/normais.clima>. Acesso em: 13 out. 2020.
SILVA, F. L da.; CÂMARA, G. M. S.; SOARES, M. M.; SILVA, A. F. da; SEDIYAMA, T.; BORÉM, A. Épocas de semeadura e população de plantas. In: Soja: do plantio à colheita / Tuneo Sediyama; Felipe Lopes da Silva; Aluízio Borém; Gil Miguel de Sousa Câmara. – coordenadores. Viçosa-MG: Editora UFV (“no prelo”).
Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.