A viabilidade econômica devido as condições de riscos e incertezas na agricultura são elevadas, principalmente, quando se trata do cultivo do milho safrinha. Em períodos de incertezas, além da preocupação com os processos produtivos, o produtor deve ficar atento às ações gerenciais e administrativas da propriedade, bem como às condições climáticas e às oscilações do mercado para o momento de comercializar o resultado de sua safra.
Para uma análise econômica de maior credibilidade, a quantidade de informações consideradas pelo avaliador é essencial já que gera resultados mais precisos e maior assertividade na decisão final adotada. Dada a complexidade dos fatores nas atividades agropecuárias, essa avaliação torna-se difícil, pois envolve tanto eventos previsíveis e mensuráveis quanto imprevisíveis, incorrendo o tomador de decisão em maiores riscos e incertezas. Além disso, os resultados finais são impactados pela técnica de análise escolhida.
Uma atividade agrícola considerada de grande risco é a do milho safrinha e – nos principais estados produtores – a sua produção é superior à da primeira safra, apesar das condições adversas que o produtor pode enfrentar, como geadas, redução de chuvas e insolação, o que eleva a probabilidade de perdas de produção.
Marcillo & Miguez (2017) afirmam que o cultivo no inverno eleva o desempenho global da propriedade com mais um período de cultivo de interesse econômico, garante a proteção do solo no período de condições climáticas adversas e promove a elevação de produção da cultura subsequente. No entanto, Marquesa et al. (2012) e Richetti et al. (2018) analisaram o cultivo do milho safrinha em diferentes localidades e identificaram prejuízos. A incerteza quanto ao resultado positivo do cultivo do milho no período da safrinha indica a necessidade de uma análise técnica e econômica de sua adoção.
Milho safrinha no Paraná: atividade lucrativa ou não?
No Paraná, um dos maiores produtores de milho do País e, principalmente, do milho safrinha, esses fatores de risco são determinantes para o sucesso da atividade, por causa da ocorrência comum de baixas temperaturas e da elevada probabilidade de geadas em grande parte do estado nessa época. Somam-se a isso o relevo predominante acidentado na maioria das áreas produtoras e o fato de a maior parcela das propriedades locais serem de pequeno ou médio portes, com recursos financeiros limitados para a absorção de prejuízos decorrentes da adoção equivocada da atividade.
O período de produção do milho safrinha paranaense e a elevação dos riscos de perdas pressionam os produtores a decidirem entre assumir maiores riscos, aumentando o uso de insumos e, consequentemente, os custos de produção, buscando uma maior produção, e reduzir o uso de insumos e a probabilidade de prejuízos, mas esperando níveis baixos de produção, o que poderia inviabilizar o cultivo. Considerar os diferentes custos de produção na análise econômica do milho safrinha pode garantir maior assertividade na escolha dos produtores.
Por isso, foi realizada uma pesquisa com o objetivo central de avaliar a viabilidade econômica da produção de milho no período da safrinha no Paraná confrontando os resultados quando se consideram só os custos operacionais efetivos (COE) e quando se usam os custos totais de produção (CTP).
Foi elaborada uma análise econômica estocástica, em três cenários simulados, pelo uso do método de simulação de Monte Carlo. Como variáveis de entrada nas simulações foram escolhidas o COE, o CTP, a produtividade e o preço de venda do milho no estado. Para todas as variáveis de entrada, empregaram-se os valores das últimas dez safras paranaense, de 2011/2012 até 2020/2021. Como indicador de saída do sistema, utilizou-se o lucro operacional para cada custo de produção.
Tabela 1 – Valores (R$/ha) atribuídos ao COE e ao CTP para as safras de 2011/2012 a 2020/2021.
Os resultados mostraram expressiva diferença no valor final do lucro operacional esperado decorrente da escolha do COE e do CTP como custo base – para o CTP, a viabilidade do milho safrinha tornou-se pequena, com R$ 88,92/ha ao nível de risco de 90% de probabilidade de prejuízos.
Considerando só os custos diretamente relacionados com a produção, a atividade mostrou-se recomendável a produtores com perfil de moderado a elevado de aceitação de riscos, com resultados positivos a partir de 50% de nível de risco e lucro de R$ 276,63/ha. Portanto, o milho safrinha no Paraná mostrou-se uma atividade lucrativa em ambos os custos de produção, mas é indicada a produtores com perfil mais aceitável a maiores riscos a prejuízos.
Como os valores referem-se a uma média estadual, a pesquisa não direcionou a análise para uma localidade ou sistema de produção específicos, mas buscou realizar uma análise abrangente que pudesse ser utilizada para diferentes localidades do estado, independentemente do sistema de produção adotado.
Análise da viabilidade econômica em 2020 no Mato Grosso do Sul do milho safrinha
Em um outro estudo realizado no Mato Grosso do Sul optou-se por uma outra metodologia para formar custos e a análise econômica.
O custo de produção de milho safrinha 2020 foi desenvolvido em quatro partes, sendo a primeira denominada de custo variável, que corresponde ao desembolso que o produtor faz para conduzir a sua lavoura; a segunda se refere ao custo fixo, que é o custo não desembolsado pelo produtor, mas que incide sobre o total do custeio; a terceira parte é a soma do custo variável mais o fixo, sendo denominado de custo operacional, e a quarta parte diz respeito à remuneração dos fatores de produção.
Os preços dos fatores de produção e dos produtos, levantados no mês de novembro de 2019, foram usados para elaborar o custo de produção, estimar o grau de importância dos seus componentes e analisar a viabilidade econômica da cultura do milho na safrinha de 2020. A produtividade média estimada no trabalho foi de 5.400 kg ha-1 para o milho Bt e para o milho Bt + RR, enquanto a do milho convencional foi de 4.800 kg ha -1.
Dentre os insumos, as sementes e os fertilizantes foram os componentes que impactaram fortemente o custo total, correspondendo, em média, em 15,31% e 17,91%, respectivamente.
As operações agrícolas, que englobam a manutenção das máquinas e dos implementos, o combustível e a mão de obra, participaram com 11,43% na composição do custo total. Essa participação é alterada, dependendo do maior ou menor uso das máquinas na lavoura, principalmente na realização das pulverizações de defensivos agrícolas.
Outro componente importante no custo de produção foram os denominados custos administrativos, que englobaram despesas com a gestão da propriedade e custos de comercialização da produção e correspondem, em média, a 17,06% do total.
Outro item não menos importante foi a remuneração dos fatores de produção, representada pela remuneração esperada sobre o capital empregado em máquinas, equipamentos e benfeitorias e a terra, que corresponde ao valor de arrendamento. A soma de todos os componentes que compõem o custo total, para a safrinha de milho 2020, atingiu R$ 2.256,31 por hectare com o milho Bt, R$ 2.329,58 com o milho Bt + RR e R$ 2.140,65 com o milho convencional.
Tabela 2. Custo de produção da cultura do milho safrinha, 2020, em Mato Grosso do Sul.

Assim, foram realizadas:
- análise de sensibilidade que permitiu identificar os limites de variações dos preços dos produtos e das quantidades produzidas sem comprometer a viabilidade econômica do sistema de produção;
- análise de alteração de preços;
- análise das alterações das quantidades produzidas, na época, com a manutenção dos níveis de preços de mercado, tanto do produto quanto dos insumos.
Com esses resultados, foi possível calcular a análise de viabilidade, esta, que indicou ganhos positivos para o produtor com o cultivo do milho na safrinha de 2020. Salientou-se na conclusão que os preços praticados no mercado, no momento da comercialização, devem ser maiores que o preço de nivelamento. Se, porventura, eles estiverem abaixo, possivelmente o produtor terá renda líquida negativa.
Fontes consultadas:
- MARCILLO, G.S.; MIGUEZ, F.E. Corn yield response to winter cover crops: an updated meta-analysis. Journal of Soil and Water Conservation, v.72, p.226-239, 2017. DOI: https://doi.org/10.2489/jswc.72.3.226.
- MARQUESA, R.C.A.; WANDER, A.E.; COSTA FILHO, B.A. da. Análise da rentabilidade da produção de milho, soja, sorgo e cana-de-açúcar no município de Rio Verde-GO. Revista Brasileira de Planejamento e Desenvolvimento, v.1, p.61-75, 2012. DOI: https://doi. org/10.3895/rbpd.v1n1.3098.
- RICHETTI, Alceu et al. Análise de viabilidade econômica da cultura do milho safrinha 2020, em Mato Grosso do Sul. 2020.
- RICHETTI, A.; FERREIRA, L.E.A. da G.; GARCIA, R.A. Rentabilidade da sucessão soja/milho em Maracaju, MS, na safra 2017/2018. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2018. 11p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Comunicado técnico, 246). Disponível em: . Acesso em: 28 jul. 2020.
- SILVA, ., ESPERANCINI, M.. Análise de viabilidade econômica do milho safrinha no Paraná. Revista de Política Agrícola, Local de publicação (editar no plugin de tradução o arquivo da citação ABNT), 30, jul. 2021. Disponível em: <https://seer.sede.embrapa.br/index.php/RPA/article/view/1615>. Acesso em: 02 Fev. 2023.
- SOUZA, A.E. de; REIS, J.G.M. dos; RAYMUNDO, J.C.; PINTO, R.S. Estudo da produção do milho no Brasil. South American Development Society Journal, v.4, p.182-194, 2018. DOI: https://doi.org/10.24325/issn.2446-5763.v4i11p182-194.