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Fenologia da soja aplicada no dia a dia

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O conhecimento da fenologia da soja está diretamente ligado as técnicas de manejo empregadas na lavoura. Aprenda como aplicar a escala fenológica no seu dia a dia e aumente seu rendimento.

A soja ocupa o posto de cultura mais cultivada do país. De acordo com informações da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil alcançou um marco histórico ao se tornar pela primeira vez, o principal produtor global desse cultivo ao término da safra 2019/2020, registrando uma impressionante colheita de 124 milhões de toneladas.

Neste momento, o Brasil detém 30% da superfície destinada ao plantio de soja em escala mundial, contribuindo com significativos 36% da produção total do grão.

Esses números ressaltam de forma contundente a relevância do Brasil no contexto do fornecimento global.

Por isso, conhecer a fenologia da soja é tão importante! Com conhecimento é possível aumentar ainda mais essa produção.

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O que é a fenologia da soja?

A fenologia da soja é o estudo do desenvolvimento da planta ao longo do tempo. Isso inclui o acompanhamento das mudanças nas características físicas e fisiológicas da planta em resposta às condições ambientais e às práticas de manejo empregadas.

Acompanhar a fenologia da soja é levar em conta a “idade fisiológica” e não a “idade cronológica” da planta. Isso permite uma melhor representação do exato momento em que a planta se encontra e das necessidades em termos de condições ambientais e de práticas de manejo mais adequadas para cada estágio da cultura.

Além disso, a ‘’idade fisiológica’’ adequada permite que a planta demostre ao máximo sua capacidade produtiva. A frente, entenderemos um pouco mais sobre a fenologia da soja.

Como se divide a fenologia da soja?

O período vegetativo (V) é onde a planta está crescendo e produzindo folhas. Começa com a germinação da semente e termina com o início do florescimento.

Os estádios vegetativos são identificados pela letra V seguida de um número ou uma letra, que indica a quantidade de nós ou de folhas trifolioladas na planta. A partir de agora vamos conhecer os estádios fenológicos da soja:

VE: emergência da plântula, onde os cotilédones ficam acima do solo. É um estádio crítico ao ataque de pragas e doenças de solo.

VC: cotiledonar, onde os cotilédones se encontram totalmente desenvolvidos e abertos, e as folhas unifolioladas não mais se tocam. Também é um estádio sensível ao ataque de patógenos e pragas de solo. Por isso, o monitoramento da lavoura é primordial.

V1: primeiro nó ou primeira folha trifoliolada, onde os bordos das folhas não mais se tocam. Neste estádio, inicia-se a nodulação e a fixação biológica do nitrogênio na planta.

V2: segundo nó ou segunda folha trifoliolada, onde os bordos das folhas não mais se tocam. Neste estádio, a nodulação deve aumentar e a matocompetição deve ser controlada, por isso, cada produtor deve adotar o manejo e monitoramento da propriedade com base em cada realidade.

V3 a V(n): terceiro nó ou terceira folha trifoliolada até o último nó ou última folha trifoliolada antes do florescimento, onde os bordos das folhas não mais se tocam. Neste período, a planta continua crescendo e acumulando reservas para a fase reprodutiva.

O período reprodutivo (R) é onde a planta está formando flores, vagens e grãos. Começa com o florescimento e termina com a maturação dos grãos.

Os estádios reprodutivos são identificados pela letra R seguida de um número ou uma letra, que indica o grau de desenvolvimento das estruturas reprodutivas na planta. Agora vamos conhecer cada estádio reprodutivos:

R1: Início do florescimento, onde há pelo menos uma flor aberta em qualquer nó da planta. Neste estádio, a planta entra no período crítico ao estresse hídrico e à deficiência nutricional.

R2: Florescimento pleno, onde há uma flor aberta no nó superior da planta. Neste estádio, a planta atinge o máximo de altura e número de nós.

R3: Início do enchimento de vagens, onde há pelo menos uma vagem com 5 mm de comprimento em qualquer nó da planta. Neste estádio, a planta inicia o processo de formação dos grãos e demanda mais água e nutrientes.

R4: Enchimento pleno de vagens, onde há pelo menos uma vagem com 2 cm de comprimento no nó superior da planta. Neste estádio, a planta atinge o máximo de número de vagens e grãos por planta.

R5: Início do enchimento de grãos, onde há pelo menos uma vagem com um grão que ocupa 50% do espaço interno no nó superior da planta. Neste estádio, a planta inicia o processo de acúmulo de matéria seca nos grãos e é o mais sensível ao estresse hídrico. O processo de enchimento de grãos tem início na fase R5. Essa etapa é composta por cinco fases distintas, cada uma delas representando um estágio crucial no desenvolvimento dos grãos, que são: R5.1, R5.2, R5.3, R5.4 e R5.5.

R6: Enchimento pleno de grãos, onde há pelo menos uma vagem com um grão que ocupa todo o espaço interno no nó superior da planta.

Neste estádio, a planta atinge o máximo de peso dos grãos por planta e inicia o processo de senescência das folhas.

R7: Início da maturação, onde há pelo menos uma vagem com cor típica da maturidade em qualquer nó da planta. Neste estádio, a planta completa o ciclo reprodutivo e inicia o processo de secagem dos grãos e das vagens.

R8: Maturação plena, onde 95% das vagens têm cor típica da maturidade. Neste estádio, a planta está pronta para a colheita e os grãos têm umidade ideal para o armazenamento.

fenologia da soja: estádios vegetativos e reprodutivos
Figura 1. Conhecendo a soja. Fonte: Pulse (2018).

Estádios fenológicos da soja e o manejo agrícola

Durante esses estágios (vegetativo e reprodutivo), é importante realizar atividades como controle de pragas e doenças, irrigação (se necessário) e adubação complementar.

O controle de pragas na cultura da soja é importante para garantir uma colheita bem-sucedida.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma técnica que combina métodos de controle cultural, biológico e químico para gerenciar as populações de pragas de maneira sustentável e ambientalmente amigável.

O monitoramento regular do campo é importante para detectar sinais de infestação de pragas e tomar medidas de controle apropriadas.

A rotação de culturas e o uso de variedades resistentes são exemplos de métodos de controle cultural.

O controle biológico pode ser feito através do uso de inimigos naturais, enquanto o controle químico pode ser feito através do uso inseticidas com moléculas específicas.

Durante os estádios reprodutivos, é importante continuar realizando essas atividades, além de monitorar o desenvolvimento dos grãos em função dos estádios fenológicos de cada cultivar.

Portanto, existem diversos fatores que podem afetar o desenvolvimento da soja, desde a germinação até a colheita, incluindo condições ambientais como temperatura, umidade do solo e luminosidade; características genéticas da cultivar utilizada; e práticas de manejo como adubação, irrigação e controle de pragas e doenças.

estádios fenológicos da soja
Figura 2. Estádios fenológicos da soja com destaque para os estádios reprodutivos. Fonte: University of lilinois (2019).

Qual é o ciclo da soja? E o que é grupo de maturação?

A duração dos estádios fenológicos da soja ou ciclo da soja, que vai desde a germinação até a maturação, varia de acordo com as condições ambientais e as características genéticas da cultivar utilizada.

Em geral, o ciclo completo da soja pode durar entre 90 e 150 dias e os principais fatores que determinam essa duração são a latitude e o fotoperíodo.

A classificação de cultivares de soja mais antiga classificava os cultivares como precoce, médio e tardio. Mas na prática quando alguém dizia que uma cultivar era tardia significava apenas que para determinado local de cultivo este material tinha um ciclo mais longo que um de ciclo médio. Mas este “mais longo” traduzia-se em quantos dias ou semanas? Não era possível determinar.

Pensando na necessidade de informações mais precisas, o Brasil começou a utilizar a classificação de cultivares em grupos de maturação, através da Monsoy Company na safra de 1998-1999 (Penariol, 2000). A partir daí, a classificação por grupos de maturação passou a ser adotada no Brasil: a extensão territorial brasileira foi dividida em faixas de latitude, que determinam os grupos de maturação.

Grupos de Maturação da Soja

Os grupos de maturação são representados pelos números 000, 00, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10, totalizando 13 grupos de maturação.

Cada grupo de maturação abrange uma faixa de latitudes e está relacionado ao tempo de duração do ciclo da soja.  Quanto maior o número do grupo, mais próxima o cultivar de soja está da linha do Equador (Figura 3).

Grupos de maturação relativa e ciclo da soja
Figura 3.  Distribuição dos grupos de maturidade relativa de cultivares de soja no Brasil, em função da latitude. Fonte: Fundação Meridional.

Cultivares pertencentes a grupos de maturação mais baixos (por exemplo, 000, 00) são mais adaptados a regiões de climas mais frios e dias mais curtos – regiões mais próximas aos pólos (altas latitudes)

Por sua vez, os cultivares de grupos de maturação mais altos (por exemplo, VIII, IX, X) são indicados para regiões mais quentes e com dias mais longos – próximos à linha do Equador (latitude 0°).

Classificação do Ciclo da Soja

Considerando a duração do ciclo da soja e os grupos de maturação é possível classificar os ciclos de cada cultivar da seguinte forma:

  • Grupo de maturação relativa abaixo de 6.0: superprecoces;
  • Grupo de maturação relativa de 6.0 a 6.5: precoces;
  • Grupo de maturação relativa próximo de 7.0: ciclo normal;
  • Grupo de maturação relativa próximo ou igual a 10: tardias.

É importante ressaltar que a classificação de ciclo da soja pode variar de acordo com as regiões geográficas e as condições climáticas específicas. Além disso, a escolha do cultivar certo depende de vários fatores, incluindo temperatura, fotoperíodo, altitude e outras características do ambiente de cultivo.

Fatores que afetam o desenvolvimento da soja

Existem diversos fatores que podem afetar o desenvolvimento da soja, incluindo condições ambientais como temperatura, umidade do solo e luminosidade; características genéticas da cultivar utilizada; e práticas de manejo como adubação, irrigação e controle de pragas e doenças:

Época de semeadura: A época ideal para semear varia conforme as condições climáticas locais e o calendário de semeadura para cada região do Brasil.

Adoção do plantio direto: O plantio direto pode aumentar a produtividade e a longevidade produtiva do solo.

Preparo profundo do solo: O preparo profundo do solo pode aumentar a capacidade de armazenamento de água e nutrientes para as plantas.

Semeadura: A semeadura deve ser realizada de forma adequada para garantir o bom desenvolvimento das plantas.

Ajuste da adubação: A adubação deve ser ajustada de acordo com as necessidades das plantas e as características do solo.

Controle de pragas, plantas daninhas e doenças: O controle de pragas, plantas daninhas e doenças é fundamental para garantir o sucesso da lavoura.

Manutenção: A manutenção adequada da lavoura é importante para garantir o bom desenvolvimento das plantas.

Investimento em tecnologia: O investimento em tecnologia pode ajudar a otimizar o manejo da lavoura e aumentar a produtividade.

Conclusões

A fenologia da soja é uma ferramenta importante para os produtores que desejam maximizar o potencial produtivo de suas lavouras.

Ao acompanhar o desenvolvimento da planta ao longo do tempo e realizar manejos adequados em cada estágio fenológico, é possível otimizar o crescimento e a produção da cultura.

Além disso, ao levar em conta os grupos de maturação da soja e os fatores que podem afetar seu desenvolvimento, é possível tomar decisões mais informadas sobre como conduzir a lavoura.

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Referências

BORÉM, Aluízio; SILVA, Felipe; SEDIYAMA, Tuneo; CAMARA, Gil. Soja: do Plantio à Colheita – 2ª Edição 2022. Viçosa: UFV, 2022.

EMBRAPA. 500 Perguntas 500 Respostas: Soja. Brasília: Embrapa, 2018

FAGAN, E. P.; et al. Fisiologia da Produção de Soja. Piracicaba: ESALQ/USP, 2004

PENARIOL, A.  2000.  Soja:  Cultivares no lugar certo.  Informações Agronômicas.  90:13 –14

UMBURANAS RC, KAWAKAMI J, AINSWORTH EA, FAVARIN JL, ANDERLE LZ, DOURADO-NETO D, REICHARDT K. Changes in soybean cultivars released over the past 50 years in southern Brazil. Scientific Report. v. 11; artigo 508, 2022. doi: 10.1038/s41598-021-04043-8.

TRENTIN, Roberto et al. Subperíodos fenológicos e ciclo da soja conforme grupos de maturidade e datas de semeadura. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 48, p. 703-713, 2013.

Sobre o autor:

Este post tem um comentário

  1. Gabriela Lima

    O conteúdo foi muito explicativo e me auxiliou muito, eu sou acadêmica em agronomia e sempre procuro novos conteúdos, e o de vocês sempre é atualizado e de fácil entendimento, com certeza me candidataria a vaga de estágio nessa empresa ou trabalharia nela. Parabéns!

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