A área plantada com soja nos EUA na safra 2023/2024 cobriu 33,83 milhões de hectares e a previsão é de crescimento de 3% para a Safra 2024/2025 – atingindo 35 milhões de hectares, conforme estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A produção por sua vez, foi de 113,344 milhões de toneladas de grãos, com estimativa de alcançar 121,109 milhões de toneladas na próxima safra (2024/2025) – um crescimento de 7%. Os EUA são, hoje, o segundo maior produtor de soja do mundo.
No ano de 2012, a Associação de Soja de Illinois (ISA) estabeleceu uma meta de produzir e vender 600 milhões de bushels de soja (ou 16,3 milhões de toneladas) em Illinois até o ano de 2020.
Apesar de muitas acharem que a produção estivesse estagnada, o conselho da ISA acreditava que a produtividade das lavouras de soja poderia aumentar ainda mais, caso fossem adotados manejos mais intensivos e melhores tecnologias.
Pensando nisso, a ISA financiou um estudo pioneiro que buscava respostas as seguintes perguntas: quais práticas de manejo geravam mais produtividade e quais delas eram mais crucias para atingir o sucesso?
O responsável pelo desenvolvimento do projeto foi o Ph.D Fred E. Below, professor de Fisiologia dos Cultivos (Crop Physiology), no Departamento de Ciência dos Cultivos na Universidade de Illinois. Sua pesquisa estava focada em entender os fatores limitantes para a produtividade das lavouras, principalmente de soja e milho.
Ele desenvolveu os “Seis segredos do Sucesso da Soja” como ferramenta para ensinar os produtores e profissionais da área o valor de decisões assertivas no manejo, e tem usado os conceitos de sua pesquisa para encontrar sistemas de produção capazes de alcançar altas produtividades de soja sustentavelmente.
Fatores que diferenciam a produção de soja nos EUA
De acordo com a pesquisa do Professor Below, os seis fatores que diferenciam a produção de soja nos EUA são:
1-Clima
O fator que mais afeta a produtividade da soja, porém está fora de nosso controle.
2-Fertilidade
Uma fertilização proativa pode aumentar a produtividade em 60 bushels por acre (o equivalente a cerca de 67,25 sacas por hectare).
A soja obtém entre 25 e 75% do nitrogênio das plantas do solo, com o equilíbrio fornecido pela fixação simbiótica. “Quando chegamos a 85 bushel por acre, estamos extraindo 100 libras do solo”, diz ele.
A típica adubação de um produtor norte-americano era adubar o milho e adicionar um “extra” para a soja ou deixar a leguminosa limpar os restos de nutrientes encontrados no solo. Quando os produtores esperavam baixas produtividades, como 40 a 60 bushels por acre, essa prática era aceitável.
Atualmente os produtores estão buscando produções de 60 a 80 bushels, ou ainda mais. Isso requer uma adubação específica para a soja. A maioria dos produtores de alta produtividade estão seguindo um programa abrangente de fertilidade que inclui todos os macros e micronutrientes.
Nitrogênio
A soja nos EUA precisa de mais N do que ela consegue fixar pelos nódulos. Pesquisadores demonstraram que quando a produtividade ultrapassa 50 a 60 bushels, a planta depende cada vez mais das reservas do solo ou do nitrato e N mineralizado . Assim, nessas condições a suplementação da adubação é importante.
Fósforo e Potássio
A planta absorve 3,5 libras (1,5 kg) de K2O por dia em um período de 50 dias após o início da formação de vagens, e guarda K no caule e pecíolos com objetivo de ficarem rapidamente disponíveis para preenche-las. Entretanto, apenas 40% do K é extraído com os grãos e o resto permanece na palhada e retorna para o solo.
Baseado em campos experimentais da Universidade de Illinois, a aplicação de P (não tanto de K) tem o impacto significativo na produtividade. Isso ocorre, pois, a soja utiliza a maior parte do K necessário de restos culturais encontrados no solo.
Muitas pessoas pensam que o potássio é o principal nutriente da soja, diz Below. Embora seja importante, o estoque de milho pode fornecer metade do potássio que a soja precisa. O fósforo, diz ele, “é o maior problema, e provavelmente é devido à maneira como fertilizamos o milho.” O fósforo é rapidamente imobilizado no solo e pode não estar disponível em quantidade suficiente.
Tabela 1. Absorção de nutrientes, extração e índice de colheita para 60 bushels por acre.
3-Proteção foliar
Fungicidas e inseticidas protegem a folhagem e previnem perdas de produtividade.
Produtividade de soja é influenciada pelo número de vagens por planta e a diferença entre uma produtividade de 50 e 60 bushels por acre é principalmente o número de vagens no terço médio da planta.
Pesquisas em Illinois mostraram que o fungicida foliar junto ao inseticida, aplicados em R3, aumentam a produtividade em 2,5 bushels por acre em um manejo convencional e 3,5 bushels por acre em um manejo para altas produtividades (Tabela 3).
4-Genética
As variedades mais tardias para a região resultam nos maiores aumentos de produtividade quando adotados manejos intensivos.
Variedades de soja diferem em sua resposta à fertilidade e proteção foliar, então caso faça um manejo para altas produtividades, utilize uma variedade que tenha respostas conhecidas. As variedades mais tardias obtiveram as maiores respostas ao manejo intensivo.
5-Espaçamento entre linhas
Espaçamento de 20, 15 polegadas ou ainda mais estreitos respondem melhor ao manejo mais intensivo
Espaçamentos menores (20 vs. 30 polegadas) podem ter um grande impacto na produtividade final, e os espaçamentos mais estreitos são mais responsivos à manejos intensivos.
Tabela 2. Efeitos do espaçamento com e sem manejo de altas produtividades
Espaçamento | 30 polegadas | 20 polegadas | Ganho |
Manejo tradicional | 70 | 74,2 | 4,2 |
Manejo Intensivo* | 75,7 | 84,2 | 8,5 |
6-Tratamento de sementes
Proteção pré-semeadura protege o potencial produtivo.
A pesquisa americana mostra que o tratamento de sementes completo aumenta em média 1,5 bushel por acre em um manejo convencional e 2,5 bushels por acre em um manejo de altas produtividades (Tabela 3).
Resultados
O estudo que verificou a importância de cada fator para a produtividade da soja nos EUA, utilizou o um delineamento experimental de adição/omissão. Nesse delineamento, por exemplo, seleciona-se um fator do manejo de altas produtividades, e o adiciona ao manejo convencional.
Assim se fez para todos os fatores em diversas combinações. Foi testado também a produção do manejo de altas produtividades caso se omitisse um dos fatores. Na tabela abaixo estão diferenciados os manejos convencional e de altas produtividades da soja nos EUA.
Tabela 3. Manejo convencional vs. Manejo de altas produtividades (intensivo)
Na tabela a seguir estão as diferenças que cada fator tem na produtividade da soja nos EUA:
Tabela 4. Resultados compilados dos experimentos de soja nos EUA
*Diferença significativa em P<=0,05 / Média de 10 experimentos em 2014 e 2015 com duas variedades em cada experimento.
Conclusões
As condições climáticas e o tipo de solo influenciam grandemente o potencial de rendimento da soja nos EUA, como indicado pela variação de 28 bushels por acre nas médias de localização dos testes de omissão medidas em 2012. Embora o potencial de rendimento máximo em uma localização seja finalmente limitado pela disponibilidade de água, temperatura e duração da estação, os resultados da Pesquisa do Professor Below mostram que ganhos de rendimento ainda são alcançáveis através do manejo. Os resultados destacam a importância de escolher uma variedade adaptada localmente e de alto rendimento, e de gerenciá-la com fertilidade melhorada e uma gama completa de produtos de proteção de culturas.
Fatores que afetam a produtividade da soja nos EUA: Para os produtores norte-americanos, caso sejam conservadores e queiram limitar os custos da lavoura, a aplicação de fósforo é o melhor investimento. Diminuir o espaçamento para 15-20 polegadas também é um excelente investimento, caso você já tenha uma semeadora adequada.
O manejo de altas produtividades produziu quase 15 bushels por acre a mais que o manejo convencional. Com o bushel a US$10, isso significa um incremento de US$150 por acre, ou seja, manejar a soja é rentável.
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Sobre o autor:
Atualizado por:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)