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Lagarta Helicoverpa armigera: culturas atacadas, danos e estratégias de controle

Aprenda tudo sobre a lagarta Helicoverpa armigera, pragas que ataca diversas culturas como soja, milho, feijão, algodão e olerícolas. Saiba como monitorar e controlar a Helicoverpa.

A presença da Helicoverpa armigera foi registrada oficialmente no Brasil pela primeira vez em 2013. Posteriormente, surtos atingindo níveis pronunciados em algodão, citros, milho, soja e tomate foram relatados em diferentes regiões do país.

Contudo, inicialmente a H. armigera foi confundida com outras espécies nativas de lagartas como lagarta-das-maças (Chloridea virescens), lagarta das vagens (Helicoverpa gelotopoeon) e lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea).

Sua identificação e notificação ocorreram apenas quando suas populações se tornaram muito altas, apesar da aplicação intensa de inseticidas.

A H. armigera apresenta características importantes que dificultam seu controle, como: polifagia (mais de 180 espécies), grande mobilidade (se dispersa a grandes distâncias) e diapausa opcional (o que facilita a sua sobrevivência em condições desfavoráveis).

Todos estes fatores levaram à rápida evolução de resistência da lagarta Helicoverpa à inseticidas e a proteínas Bt; o que tornou este inseto-praga de muito difícil controle.

Veja neste artigo as características deste inseto-praga, espécies atacadas, danos e métodos de monitoramento e controle.

Qual é o nome comum da praga Helicoverpa armigera? E quais culturas ela ataca?

A Helicoverpa armigera, conhecida por diversos nomes, como lagarta Helicoverpa, lagarta-do-algodão, lagarta-do-tomate ou até mesmo lagarta do Velho Mundo no continente africano, é uma das pragas de insetos mais prejudiciais do mundo, causando perdas econômicas globais estimadas em mais de 3 bilhões de dólares anuais (RIAZ et al. 2021).

Os adultos desta espécie possuem fortes capacidades migratórias (>2.000 km), alta fecundidade e rápidas taxas reprodutivas, completando 4–6 gerações por ano na maioria das regiões agrícolas a até 10-11 gerações em condições de climas tropicais.

Além disso, as larvas são polífagas, com uma ampla e diversificada gama de hospedeiros (181 espécies de plantas em todo o mundo) e possuem a capacidade de entrar em diapausa para sobreviver a condições climáticas adversas.

As culturas mais afetadas pela Helicoverpa armigera incluem:

  • algodão,
  • tomate,
  • soja,
  • culturas de cereais como milho e sorgo,
  • grão de bico e
  • outras leguminosas.

Atualmente, a lagarta Helicoverpa está distribuída pela maior parte da Oceânia, Ásia, África e sul da Europa e recentemente espalhou-se pela América do Sul (Figura 1).

Sua presença pode representar um desafio significativo para os agricultores, demandando estratégias eficazes de controle para preservar as colheitas.

distribuição geográfica da lagarta helicoverpa armigera
Figura 1. Distribuição geográfica da lagarta Helicoverpa armigera no mundo. Fonte: EPPO Global Database, 2023.

Ciclo de vida da lagarta Helicoverpa

A Helicoverpa armigera geralmente é capaz de completar seu ciclo de vida em temperaturas variando entre 17,5 e 32,5°C.

  • Temp. ~25ºC = ideal para crescimento e reprodução.
  • Temp. > 35°C = causa morte das larvas
  • Temp. < 15°C = as pupas entram em estado de diapausa

Geralmente, ela completa seu ciclo de vida dentro de 4–6 semanas no verão, aumentando para 8–12 semanas no outono. O ciclo de vida é ilustrado na Figura 2.

ciclo de vida da lagarta helicoverpa armigera
Figura 2. Ciclo de vida da Helicoverpa armigera. Fonte: Riaz et al. (2021).

Como identificar a Helicoverpa armigera?

A Helicoverpa armigera pertence a um complexo de espécies intimamente relacionadas da subfamília Heliothinae: Helicoverpa zea (lagarta-da-espiga do milho), Helicoverpa gelotopoeon (lagarta-das-vagens) ou ainda Heliothis virescens (lagarta-da-maça).

A diferenciação dessas espécies é difícil, pois as larvas e adultos geralmente são parecidas com outras espécies do complexo.

No entanto, a identificação correta da praga é importante para a adoção das estratégias mais adequadas do manejo, justamente pelas características que essa espécie apresenta.

As lagartas da espécie Helicoverpa armígera apresentam algumas características morfológicas e comportamentais que permitem a sua identificação:

  • A partir do 4º ínstar, apresentam tubérculos abdominais escuros e bem visíveis na região dorsal do primeiro segmento abdominal na forma de semicírculo, no formato de sela (Figura 3), sendo esta característica determinante para a identificação.
  • O tegumento com textura levemente coriácea, diferente das demais espécies de Heliothinae que ocorrem no Brasil, também é uma característica que permite a identificação desta espécie.
  • Quando tocadas, as lagartas apresentam o comportamento de encurvar a cápsula cefálica em direção à região ventral do primeiro par de falsas pernas (Figura 3), provavelmente exibindo comportamento de defesa.
variação no padrão de coloração da lagarta Helicoverpa
Figura 3. Variação no padrão de coloração de Heicoverpa armígera com destaque (setas vermelhas) para estrutura determinante para identificação. Fonte: Jesus-Barros et al. (2014).

Veja no vídeo a seguir algumas dicas de como realizar a identificação visual das principais espécies de lagartas que atacam a soja:

Conforme explicado por Teodoro et al. (2015), logo após a eclosão dos ovos, as lagartas alimentam-se do cório do ovo e, em seguida, da estrutura do tecido da planta na qual o ovo foi depositado (Figura 4A), podendo se direcionar para outras estruturas da planta, sendo que as injúrias são causadas pelos diferentes estádios larvais.

características da Helicoverpa armigera
Figura 4. Características de lagartas de Helicoverpa armigera: orifício de alimentação realizado por lagarta logo após a eclosão (A), lagarta recém-eclodida (B), presença de tubérculos em forma de “C” na região dorsal (C), e variação de cores em lagartas de quarto ínstar (D). Fonte: Teodoro et al. (2015).

No início do desenvolvimento, as larvas apresentam coloração branco-hialina, com cápsula cefálica escura (Figura 4B).

Quando as lagartas estão bem desenvolvidas, geralmente a partir do quarto ínstar, podem ser observados tubérculos no formato de “C”, facilmente visualizados, no primeiro segmento abdominal (Figura 4C).

Durante o desenvolvimento, as lagartas apresentam uma grande variação de cores (Figura 4D). A variação na coloração pode ser influenciada pelo tipo de alimentação utilizado pela lagarta.

A escolha de inseticidas, agentes biológicos de controle, plantas resistentes e/ou outras práticas de gestão podem ser diferentes para cada grupo de pragas, a fim de obter a maior eficiência do controle adotado.

Danos causados pela Helicoverpa armigera

A lagarta Helicoverpa armigera causa danos significativos em diversas culturas devido a características-chave como:

  • polifagia,
  • diapausa facultativa,
  • alta fecundidade e
  • mobilidade.

Na Ásia, é considerada uma das piores pragas, sendo responsável por cerca de metade dos inseticidas usados na região. Em plantações de grão-de-bico, as infestações podem resultar em perdas de até 29% na ausência de controle.

Em tomateiros na Índia, a taxa de infestação pode variar de 16% a 45%, causando perdas de até 55% na produção.

Em culturas como soja e tomate, a lagarta impacta negativamente a formação de frutas ou sementes, reduzindo significativamente o rendimento.

Além disso, fatores como temperatura e época de semeadura influenciam os danos, com infestações mais severas em temperaturas mais altas.

As larvas podem alimentar-se internamente em frutas e vegetais, dificultando a detecção, mas as larvas podem ser encontradas perto de furos em frutas e flores.

Os danos de alimentação externa em ínstares posteriores são facilmente detectados.

O material vegetal deve ser inspecionado cuidadosamente para detectar ovos devido ao seu pequeno tamanho e porque são postos individualmente.

Machos adultos podem ser capturados usando armadilhas específicas de feromônios e adultos de ambos os sexos podem ser capturados em armadilhas luminosas.

No milho:

  • As espigas são invadidas e os grãos em desenvolvimento são consumidos.
  • Existem duas a três gerações por ano na cultura.
  • Os ovos são postos nas plantas durante ou perto da floração.
  • O milho é o principal hospedeiro da lagarta Helicoverpa, mas outras plantas também são atacadas, como tomate, plantas daninhas e, em certas áreas, algodão.
  • As larvas que se alimentam podem ser vistas na superfície das plantas, mas geralmente estão escondidas nos órgãos das plantas.
  • Os furos podem ser visíveis, mas caso contrário é necessário abrir a planta para detectar a praga.
  • As infecções secundárias são comuns.

Em algodão:

  • As larvas atacam botões e cápsulas, causando perda direta de rendimento.
  • Os ovos são depositados principalmente em grupos de folhas recém-formadas.
  • A partir do aparecimento dos primeiros botões, desenvolvem-se três gerações na cultura, sendo as duas primeiras as mais prejudiciais.
  • Esta espécie desenvolveu resistência a numerosos inseticidas (e a tecnologia do algodão Bt) e é atualmente considerada uma das pragas mais graves do algodão no mundo.

Como controlar a Helicoverpa?

As medidas tradicionais de controle como os inseticidas químicos não tiveram sucesso sustentado devido ao desenvolvimento de resistência aos inseticidas, sugerindo uma abordagem mais integrada para alcançar controle eficaz e limitar o seu impacto econômico no setor agrícola.

Várias medidas de controle já foram testadas ou propostas para o controle desta praga, incluindo inseticidas sintéticos, fitopesticidas, pesticidas microbianos, agentes de macrobiocontrole (parasitóides e predadores) e o desenvolvimento de culturas geneticamente modificadas (por exemplo, algodão Bt).

O controle bem-sucedido exige a utilização de uma abordagem de manejo integrado de pragas (MIP), onde medidas de controle biológico, químico e físico são combinadas para obter a maior eficácia de controle.

Estratégias básicas para prevenção e controle da Helicoverpa armigera

  • Uso de armadilhas: A infestação pode ser prevista pelo uso de armadilhas de feromônios sexuais ou armadilhas luminosas.
  • O controle deve ser realizado já nas larvas de primeiro estágio. Normalmente, uma única aplicação não é suficiente para cobrir todo o período de eclosão.
  • O controle biológico, utilizando Trichogramma spp., pode dar bons resultados.
  • O controle de plantas daninhas pode reduzir os problemas com esta praga.
  • Necessidade de considerar toda a paisagem, de áreas cultivadas a não cultivadas, devido à polifagia da lagarta.
  • Adoção da tecnologia Bt (soja biotecnológica expressando a proteína Cry1Ac). Lembrando da necessidade de adoção de área de refúgio.

Principais inseticidas

  • Para milho: alfa-cipermetrina, Bacillus thuringiensis, beta-cipermetrina, cipermetrina, deltametrina, fenvalerato, lambda-cialotrina.
  • Para algodão: Metomil.

O manejo químico da Helicoverpa armigera envolve o uso de inseticidas sintéticos, que são considerados essenciais na proteção de culturas agrícolas. Estes inseticidas, como flubendiamide, chlorantraniliprole, spinosad, e outros, têm sido eficazes no controle da praga.

 No entanto, o uso contínuo desses produtos levou ao desenvolvimento de populações resistentes de H. armigera em várias regiões, incluindo resistência a organofosforados, carbamatos, piretroides e outros inseticidas.

A resistência aos pesticidas é abordada através da rotação de diferentes classes de inseticidas e pelo uso de programas de manejo de resistência.

Estratégias incluem a combinação de inseticidas sintéticos com patógenos microbianos, monitoramento regular da susceptibilidade da praga aos inseticidas, plantio antecipado para evitar infestações tardias e o uso de resistência de plantas hospedeiras.

Além dos pesticidas sintéticos, fitoquímicos derivados de extratos de plantas têm ganhado popularidade. Estes fitopesticidas, menos tóxicos e mais eco-friendly, incluem extratos de plantas como Azadirachta indica, Citrullus colocynthis, Nicotiana tabacum, entre outros, que mostraram potencial no controle da H. armigera, com alguns sendo tão eficazes quanto os pesticidas sintéticos em determinados casos.

Conclusões

A Helicoverpa armigera é uma praga de insetos cosmopolita que atualmente causa bilhões de dólares em danos a importantes culturas agrícolas em todo o mundo a cada ano.

Apesar de ter sido controlada com sucesso no passado por meio de inseticidas sintéticos e culturas geneticamente modificadas (por exemplo, algodão Bt), o desenvolvimento de resistência a esses métodos de controle ameaça novamente as indústrias agrícolas em escala global.

O futuro controle da H. armigera requer uma abordagem de manejo integrado de pragas (MIP), na qual medidas biológicas, químicas e físicas são combinadas para obter a maior eficácia no controle.

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Referências

OEPP/EPPO, Diagnostic protocols for regulated pests. Bulletin OEPP/EPPO Bulletin 33, 245–247. Disponível em: https://gd.eppo.int/taxon/HELIAR/documents. Acesso: 09 de novembro de 2023.

POMARI-FERNANDES, A.; BUENO, A.F.; SOSA-GÓMEZ, D.R. Helicoverpa armígera: current status and future perspectives in Brazil. Current Agricultural Science and Technology. v. 21, p. 1-7, 2015.

RIAZ, S.; JOHNSON, J.B.; AHMAD, M.; FITT, G.P.; NAIKER, M. A review on biological interactions and management of the cotton bollworn, Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae). Journal of Applied Entomology. v. 00, p. 1-32, 2021. DOI: 10.1111/jen.12880.

TEODORO, A.V.; SILVA, S.S.; PASSOS, E.M.; SANTOS, J.M.; NEGRISOLI JUNIOR, A.S.; GUZZO, E.C. Biologia e reconhecimento das principais lagartas-praga do milho de ocorrência no Agreste e Zona da Mata de Alagoas, Bahia e Sergipe. Comunicado Técnico 173, 2015. EMBRAPA.

Sobre a autora

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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