A lagarta do cartucho é uma praga que pertence à ordem dos lepidópteros, que são insetos que possuem asas cobertas por escamas. O nome científico da lagarta do cartucho é Spodoptera frugiperda, que significa “fruto perdido”.
Esse nome se deve ao fato de que essa praga se alimenta de diversas culturas agrícolas, como milho, sorgo, algodão, arroz, soja, feijão e hortaliças.
A lagarta do cartucho tem esse nome porque ela se enrola nas folhas do milho, formando um tubo ou cartucho. Esse comportamento serve para protegê-la dos predadores e dos inseticidas.
A lagarta do cartucho tem uma coloração variável. Ela possui quatro pares de falsas pernas abdominais e um par de pernas anais.
Ela também apresenta uma mancha em forma de Y na cabeça e quatro pontos pretos na parte dorsal do último segmento abdominal.
Principais características da lagarta do cartucho
Veremos a baixo quais as principais características dessa praga:
- A lagarta do cartucho é uma praga polífaga, que se alimenta de mais de 80 espécies de plantas, principalmente de gramíneas como milho, sorgo e arroz;
- Ela tem hábito noturno, se escondendo nas folhas durante o dia e se alimentando à noite;
- O ciclo de vida da lagarta do cartucho é composto por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. O tempo total do ciclo varia de 32 a 46 dias, dependendo da temperatura e da disponibilidade de alimento;
- A fêmea adulta pode colocar até 1500 ovos durante sua vida, que dura cerca de três semanas. Os ovos são depositados em massas na parte inferior das folhas;
- A larva passa por seis estádios de desenvolvimento, que duram de 14 a 30 dias. A larva tem uma coloração variável, podendo ser verde, amarela, marrom ou preta. Ela possui uma mancha em forma de Y na cabeça e quatro pontos pretos na parte dorsal do último segmento abdominal;
- A pupa é marrom e alongada, e fica dentro de um casulo no solo ou na planta. A pupa dura de 8 a 13 dias;
- O adulto é uma mariposa de cor cinza ou marrom, com uma envergadura de 3 a 4 cm. O adulto vive de 10 a 15 dias e se reproduz à noite.
Perdas de rendimento nas culturas agrícolas atacadas pela lagarta do cartucho
As perdas de rendimento das culturas causadas pela lagarta do cartucho podem variar de acordo com o nível de infestação, o estádio de desenvolvimento da planta, a variedade cultivada e as condições ambientais.
De acordo com dados da Embrapa, a lagarta do cartucho pode causar prejuízos ao sorgo forrageiro de 17 a 38,7% na produção, levando em conta fatores como o ambiente, a cultivar e o estádio de desenvolvimento das plantas (Oliveira et al. 2018).
Distribuição geográfica da Spodoptera frugiperda
A distribuição geográfica da lagarta do cartucho é muito ampla, abrangendo todo o continente americano, exceto as regiões mais frias (Figura 1).
Ela é nativa das áreas tropicais e subtropicais das Américas, onde se alimenta de diversas culturas agrícolas, principalmente de gramíneas como milho, sorgo e arroz. A lagarta do cartucho também realiza vôos migratórios anuais, que podem alcançar até o Canadá.
Além disso, a lagarta do cartucho tem se expandido para outras regiões do mundo, como a África, a Ásia e a Oceania. Ela foi detectada pela primeira vez na África em 2016, e desde então tem causado sérios danos às lavouras de milho e outros cereais.
Ela também foi encontrada na Ásia em 2018, onde se adaptou rapidamente às condições climáticas e aos hospedeiros locais. A lagarta do cartucho representa uma ameaça potencial para a segurança alimentar e a economia desses continentes.
Para prever a distribuição potencial da lagarta do cartucho em diferentes regiões, alguns estudos têm utilizado modelos matemáticos baseados em dados de ocorrência e variáveis ambientais. Este é um dos motivos que destacam a importância da modelagem agrícola nos sistema de produção.
Outras espécies do gênero Spodoptera
O gênero Spodoptera é composto por cerca de 30 espécies de mariposas, que se distribuem por todos os continentes, exceto a Antártica (Figura 2).
Essas espécies são consideradas pragas agrícolas importantes, pois suas larvas se alimentam de diversas plantas cultivadas, causando danos econômicos e reduzindo a produtividade.
Algumas das espécies mais conhecidas são a lagarta do cartucho (S. frugiperda), a lagarta militar (S. exigua), a lagarta da maçã (S. littoralis) e a lagarta rosca (S. litura).
A lagarta da maçã (Spodoptera littoralis), que é nativa da África, mas que se espalhou para outras regiões do mundo, como a Europa, a Ásia e a Oceania, onde se alimenta de diversas culturas, como algodão, milho, soja, feijão, batata, tomate e hortaliças.
Ela é considerada uma das pragas mais importantes do algodoeiro no Egito e em outros países do norte da África e do Oriente Médio.
Ela pode causar perdas de até 60% na produção de algodão e até 90% na produção de hortaliças. Ela também pode transmitir vírus que afetam as plantas.
A lagarta rosca (Spodoptera litura), que é nativa da Ásia, mas que se espalhou para outras regiões do mundo, como a África, a Europa e a Oceania, onde se alimenta de diversas culturas, como algodão, soja, arroz, milho, amendoim, batata e hortaliças.
Como identificar a Spodoptera frugiperda
A Spodoptera frugiperda se caracteriza por apresentar uma coloração variável, que pode ser clara, parda-escura, esverdeada ou quase preta.
Como vimos anteriormente, uma forma de identificar essa lagarta é observar a presença de quatro pontos no final do abdômen, dispostos em forma de quadrado, e uma marca em formato de Y invertido na cabeça.
Figura 3. Como identificar Spodoptera frugiperda. Fonte: Kenis et al. (2023).
Esses pontos podem ser brancos, amarelos ou pretos, dependendo da fase de desenvolvimento da lagarta.
Outra forma de reconhecer a Spodoptera frugiperda é verificar os danos causados nas plantas, como o rasgamento das folhas e a perfuração dos colmos e das espigas das culturas atacadas (como milho, sorgo e algodão).
Monitoramento e níveis de controle da lagarta do cartucho
O monitoramento e os níveis de controle para a lagarta-do-cartucho são importantes para evitar perdas na cultura do milho.
Existem diferentes métodos de monitoramento, que podem ser combinados para obter uma maior precisão e eficiência.
Iremos destacar alguns desses métodos:
Avaliação visual do dano e de lagartas em plantas: Consiste em verificar a presença de lagartas e os sintomas de ataque nas folhas, no cartucho, no colmo e nas espigas das plantas.
Recomenda-se amostrar cinco pontos ao acaso dentro de uma área de um hectare, e contar o número de plantas atacadas. O nível de controle é de 10% de plantas com sintomas iniciais de ataque.
Uso de armadilhas de feromônio: Consiste em instalar armadilhas do tipo Delta contendo feromônio sexual para atrair as mariposas da praga. Recomenda-se utilizar uma armadilha por hectare, e verificar a captura diariamente. O nível de controle é de três mariposas capturadas por armadilha.
O controle da lagarta-do-cartucho pode ser feito por meio de medidas preventivas, como o tratamento de sementes, a rotação de culturas e o uso de variedades geneticamente modificadas (Bt).
Além disso, pode-se utilizar inseticidas registrados para cada cultura, preferencialmente os sistêmicos, que têm maior eficiência no combate à praga.
Controle químico e biológico da lagarta do cartucho
O controle biológico e químico para a lagarta-do-cartucho é uma forma de reduzir os danos causados por essa praga nas culturas de milho, soja e algodão.
O controle biológico consiste em utilizar inimigos naturais da lagarta, como parasitoides, predadores e patógenos, que podem diminuir a população e a sobrevivência da praga.
Alguns exemplos de agentes de controle biológico são as vespinhas do gênero Trichogramma, que parasitam os ovos da lagarta, e os biopesticidas à base de Bacillus thuringiensis (Bt) e Baculovirus, que infectam as larvas da lagarta.
Como já vimos, o controle químico consiste em aplicar inseticidas registrados para cada cultura, preferencialmente os sistêmicos, que têm maior eficiência no combate à praga.
O controle químico deve ser usado em casos de alto ataque da lagarta, e pode ser combinado com o controle biológico, utilizando produtos compatíveis.
Para realizar o controle biológico e químico da lagarta-do-cartucho, é importante fazer o monitoramento da praga na lavoura, utilizando métodos como a avaliação visual do dano e das lagartas nas plantas, e o uso de armadilhas de feromônio para capturar as mariposas.
O monitoramento permite identificar o nível de infestação da praga e o momento adequado para aplicar as medidas de controle.
Lembre-se de consultar um agrônomo para usar estes métodos de controle.
Conclusão
A lagarta-do-cartucho é uma das principais pragas que atacam as culturas de milho, soja e algodão, causando perdas significativas na produção.
Para controlar essa praga, é necessário fazer o monitoramento da lavoura, utilizando métodos como a avaliação visual do dano e das lagartas nas plantas, e o uso de armadilhas de feromônio. O controle pode ser feito por meio de medidas preventivas, como o tratamento de sementes, a rotação de culturas e o uso de variedades Bt.
Além disso, pode-se utilizar o controle biológico, com inimigos naturais da lagarta, e o controle químico, com inseticidas registrados para cada cultura.
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Referências
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Sobre o autor
Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
Uma resposta
muito boa matéria