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Foto: CompreRural (2023).

Lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda): ecologia e estratégias de controle

Aprenda tudo sobre a lagarta do cartucho, uma das pragas mais importantes da cultura do milho. Saiba como identificar, monitorar e controlar essa praga com métodos biológicos e químicos.

O que é lagarta do cartucho?

A lagarta do cartucho é uma praga que pertence à ordem dos lepidópteros, que são insetos que possuem asas cobertas por escamas. O nome científico da lagarta do cartucho é Spodoptera frugiperda, que significa “fruto perdido”.

Esse nome se deve ao fato de que essa praga se alimenta de diversas culturas agrícolas, como milho, sorgo, algodão, arroz, soja, feijão e hortaliças.

A lagarta do cartucho tem esse nome porque ela se enrola nas folhas do milho, formando um tubo ou cartucho. Esse comportamento serve para protegê-la dos predadores e dos inseticidas.

A lagarta do cartucho tem uma coloração variável. Ela possui quatro pares de falsas pernas abdominais e um par de pernas anais.

Ela também apresenta uma mancha em forma de Y na cabeça e quatro pontos pretos na parte dorsal do último segmento abdominal.

Principais características da lagarta do cartucho  

Veremos a baixo quais as principais características dessa praga:

  • A lagarta do cartucho é uma praga polífaga, que se alimenta de mais de 80 espécies de plantas, principalmente de gramíneas como milho, sorgo e arroz;
  • Ela tem hábito noturno, se escondendo nas folhas durante o dia e se alimentando à noite;
  • O ciclo de vida da lagarta do cartucho é composto por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. O tempo total do ciclo varia de 32 a 46 dias, dependendo da temperatura e da disponibilidade de alimento;
  • A fêmea adulta pode colocar até 1500 ovos durante sua vida, que dura cerca de três semanas. Os ovos são depositados em massas na parte inferior das folhas;
  • A larva passa por seis estádios de desenvolvimento, que duram de 14 a 30 dias. A larva tem uma coloração variável, podendo ser verde, amarela, marrom ou preta. Ela possui uma mancha em forma de Y na cabeça e quatro pontos pretos na parte dorsal do último segmento abdominal;
  • A pupa é marrom e alongada, e fica dentro de um casulo no solo ou na planta. A pupa dura de 8 a 13 dias;
  • O adulto é uma mariposa de cor cinza ou marrom, com uma envergadura de 3 a 4 cm. O adulto vive de 10 a 15 dias e se reproduz à noite.

Perdas de rendimento nas culturas agrícolas atacadas pela lagarta do cartucho

As perdas de rendimento das culturas causadas pela lagarta do cartucho podem variar de acordo com o nível de infestação, o estádio de desenvolvimento da planta, a variedade cultivada e as condições ambientais.

De acordo com dados da Embrapa, a lagarta do cartucho pode causar prejuízos ao sorgo forrageiro de 17 a 38,7% na produção, levando em conta fatores como o ambiente, a cultivar e o estádio de desenvolvimento das plantas (Oliveira et al. 2018).

Distribuição geográfica da Spodoptera frugiperda

A distribuição geográfica da lagarta do cartucho é muito ampla, abrangendo todo o continente americano, exceto as regiões mais frias (Figura 1).

Ela é nativa das áreas tropicais e subtropicais das Américas, onde se alimenta de diversas culturas agrícolas, principalmente de gramíneas como milho, sorgo e arroz. A lagarta do cartucho também realiza vôos migratórios anuais, que podem alcançar até o Canadá.

Além disso, a lagarta do cartucho tem se expandido para outras regiões do mundo, como a África, a Ásia e a Oceania. Ela foi detectada pela primeira vez na África em 2016, e desde então tem causado sérios danos às lavouras de milho e outros cereais.

Ela também foi encontrada na Ásia em 2018, onde se adaptou rapidamente às condições climáticas e aos hospedeiros locais. A lagarta do cartucho representa uma ameaça potencial para a segurança alimentar e a economia desses continentes.

Figura 1. Distribuição geográfica da lagarta dos cartuchos. Fonte: EPPO Global Database (2023).

Para prever a distribuição potencial da lagarta do cartucho em diferentes regiões, alguns estudos têm utilizado modelos matemáticos baseados em dados de ocorrência e variáveis ambientais. Este é um dos motivos que destacam a importância da modelagem agrícola nos sistema de produção.  

Outras espécies do gênero Spodoptera

O gênero Spodoptera é composto por cerca de 30 espécies de mariposas, que se distribuem por todos os continentes, exceto a Antártica (Figura 2).

Essas espécies são consideradas pragas agrícolas importantes, pois suas larvas se alimentam de diversas plantas cultivadas, causando danos econômicos e reduzindo a produtividade.

Algumas das espécies mais conhecidas são a lagarta do cartucho (S. frugiperda), a lagarta militar (S. exigua), a lagarta da maçã (S. littoralis) e a lagarta rosca (S. litura).

A lagarta da maçã (Spodoptera littoralis), que é nativa da África, mas que se espalhou para outras regiões do mundo, como a Europa, a Ásia e a Oceania, onde se alimenta de diversas culturas, como algodão, milho, soja, feijão, batata, tomate e hortaliças.

Ela é considerada uma das pragas mais importantes do algodoeiro no Egito e em outros países do norte da África e do Oriente Médio.

Ela pode causar perdas de até 60% na produção de algodão e até 90% na produção de hortaliças. Ela também pode transmitir vírus que afetam as plantas.

A lagarta rosca (Spodoptera litura), que é nativa da Ásia, mas que se espalhou para outras regiões do mundo, como a África, a Europa e a Oceania, onde se alimenta de diversas culturas, como algodão, soja, arroz, milho, amendoim, batata e hortaliças.

Espécies de lagartas do gênero Spodoptera
Figura 2. À direita da imagem é possível visualizar fotos de espécies adultas de Spodoptera. Fonte: Kergoat et al. (2021).

Como identificar a Spodoptera frugiperda

A Spodoptera frugiperda se caracteriza por apresentar uma coloração variável, que pode ser clara, parda-escura, esverdeada ou quase preta.

Como vimos anteriormente, uma forma de identificar essa lagarta é observar a presença de quatro pontos no final do abdômen, dispostos em forma de quadrado, e uma marca em formato de Y invertido na cabeça.

 Como identificar a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda)

Figura 3. Como identificar Spodoptera frugiperda. Fonte: Kenis et al. (2023).

Esses pontos podem ser brancos, amarelos ou pretos, dependendo da fase de desenvolvimento da lagarta.

Outra forma de reconhecer a Spodoptera frugiperda é verificar os danos causados nas plantas, como o rasgamento das folhas e a perfuração dos colmos e das espigas das culturas atacadas (como milho, sorgo e algodão).

Monitoramento e níveis de controle da lagarta do cartucho

O monitoramento e os níveis de controle para a lagarta-do-cartucho são importantes para evitar perdas na cultura do milho.

Existem diferentes métodos de monitoramento, que podem ser combinados para obter uma maior precisão e eficiência.

Iremos destacar alguns desses métodos:

Avaliação visual do dano e de lagartas em plantas: Consiste em verificar a presença de lagartas e os sintomas de ataque nas folhas, no cartucho, no colmo e nas espigas das plantas.

Recomenda-se amostrar cinco pontos ao acaso dentro de uma área de um hectare, e contar o número de plantas atacadas. O nível de controle é de 10% de plantas com sintomas iniciais de ataque.

Uso de armadilhas de feromônio: Consiste em instalar armadilhas do tipo Delta contendo feromônio sexual para atrair as mariposas da praga. Recomenda-se utilizar uma armadilha por hectare, e verificar a captura diariamente. O nível de controle é de três mariposas capturadas por armadilha.

O controle da lagarta-do-cartucho pode ser feito por meio de medidas preventivas, como o tratamento de sementes, a rotação de culturas e o uso de variedades geneticamente modificadas (Bt).

Além disso, pode-se utilizar inseticidas registrados para cada cultura, preferencialmente os sistêmicos, que têm maior eficiência no combate à praga.

Controle químico e biológico da lagarta do cartucho

O controle biológico e químico para a lagarta-do-cartucho é uma forma de reduzir os danos causados por essa praga nas culturas de milho, soja e algodão.

O controle biológico consiste em utilizar inimigos naturais da lagarta, como parasitoides, predadores e patógenos, que podem diminuir a população e a sobrevivência da praga.

Alguns exemplos de agentes de controle biológico são as vespinhas do gênero Trichogramma, que parasitam os ovos da lagarta, e os biopesticidas à base de Bacillus thuringiensis (Bt) e Baculovirus, que infectam as larvas da lagarta.

Como já vimos, o controle químico consiste em aplicar inseticidas registrados para cada cultura, preferencialmente os sistêmicos, que têm maior eficiência no combate à praga.

O controle químico deve ser usado em casos de alto ataque da lagarta, e pode ser combinado com o controle biológico, utilizando produtos compatíveis.

Para realizar o controle biológico e químico da lagarta-do-cartucho, é importante fazer o monitoramento da praga na lavoura, utilizando métodos como a avaliação visual do dano e das lagartas nas plantas, e o uso de armadilhas de feromônio para capturar as mariposas.

O monitoramento permite identificar o nível de infestação da praga e o momento adequado para aplicar as medidas de controle.

Lembre-se de consultar um agrônomo para usar estes métodos de controle.

Conclusão

A lagarta-do-cartucho é uma das principais pragas que atacam as culturas de milho, soja e algodão, causando perdas significativas na produção.

Para controlar essa praga, é necessário fazer o monitoramento da lavoura, utilizando métodos como a avaliação visual do dano e das lagartas nas plantas, e o uso de armadilhas de feromônio. O controle pode ser feito por meio de medidas preventivas, como o tratamento de sementes, a rotação de culturas e o uso de variedades Bt.

Além disso, pode-se utilizar o controle biológico, com inimigos naturais da lagarta, e o controle químico, com inseticidas registrados para cada cultura.

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Referências

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OLIVEIRA, I.R.; ALMEIDA, J.P.S.; MENDES, S.M.; PIMENTEL, M.A.G.; CRUZ, I.; PESSOA, S.T. Associação dos controles biológico e químico para manejo da lagarta-do-cartucho na cultura do sorgo forrageiro. Comunicado Técnico 234. Sete Lagoas, MG: Embrapa, 2018, 16 p. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/189973/1/ct-234.pdf. Acesso: 31 de outubro de 2023.

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SYNGENTA. Lagarta do cartucho: como combater a principal praga do milho. Acesso em: 26 out. 2023.

Sobre o autor

Este post tem um comentário

  1. RINELDO PERIN

    muito boa matéria

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