Na busca por soluções agrícolas mais sustentáveis e eficazes, os biopesticidas ou biodefensivos emergem como uma alternativa promissora no controle de pragas.
Estes defensivos biológicos, derivados de ingredientes ativos naturais, oferecem uma abordagem inovadora que visa equilibrar a proteção das culturas com a preservação do meio ambiente.
Neste artigo, exploraremos o papel dos biodefensivos na agricultura moderna, destacando suas vantagens, aplicações e contribuições para uma prática agrícola mais sustentável e responsável.
O que é biodefensivos? ou o que são biopesticidas?
Os defensivos biológicos (biodefensivos), também chamados de biopesticidas, são produtos agrícolas derivados de agentes biológicos, comumente de baixa toxicidade, que visam controlar pragas, doenças, nematoides, plantas daninhas e moluscos de forma eficaz sem causar danos ao meio ambiente.
Estes produtos permitem a preservação de insetos benéficos na cultura, reduzindo a necessidade de aplicação frequente de outros produtos agressivos.
Por que usar biopesticidas?
O uso de biopesticidas oferece uma abordagem mais sustentável, segura e eficaz para o controle de pragas na agricultura, contribuindo para a produção de alimentos de forma mais responsável e ambientalmente consciente (Figura 1).
Para deixar mais clara a diferença entre os defensivos químicos, tradicionalmente utilizados na agricultura e os biodefensivos, vejamos alguns pontos importantes apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Diferença entre defensivos químicos e os biodefensivos de acordo com a literatura
Defensivos químicos | Biodefensivos | |
1 | Diminuição de insetos benéficos devido a sua toxicidade a pragas não-alvo alterando a biodiversidade de áreas e afetando o balanço biológico natural | São não-tóxicos e não-patogênicos a organismos não alvo, assim, não afetam diretamente animais benéficos como predadores e parasitoides. |
2 | Deixam resíduos químicos nos alimentos, seja por aplicação direta ou por bioacumulação, causando problemas de saúde como problemas de pele, irritação nos olhos, dor abdominal, câncer, etc. | Os resíduos de biodefensivos não são perigosos e são seguros o tempo todo, mesmo próximo aos períodos de colheita da cultura. Nenhum resíduo prejudicial permanece nos alimentos, na ração e nas fibras. |
3 | Devido ao seu uso contínuo na agricultura, os químicos podem descer até os aquíferos e contaminar os corpos de água | Têm persistência limitada no campo e vida útil curta, e devido à sua biodegradabilidade, se decompõem rapidamente. Portanto, são mais seguros para os seres humanos e o meio ambiente. |
4 | Pesticidas químicos são formados por uma mistura de muitos químicos sintéticos | Biodefensivos geralmente são produtos e bioprodutos de organismos que ocorrem naturalmente como plantas, animais e microrganismos. |
5 | Perigo de envenenamento para operadores de pesticidas considerando a exposição excessiva: embora dependa da concentração, toxicidade, sensibilidade e duração da exposição. | Efetivo em concentrações ou quantidades baixas, resultando em menor exposição do operador. |
6 | Resistência de pragas devido ao uso excessivo de pesticidas químicos. | É esperado que as pragas não desenvolvam resistência aos biopesticidas |
7 | Natureza do controle: curativa | Natureza do controle: preventiva |
8 | Efeito rápido na redução da população da praga. | Leva tempo para reduzir a população de pragas |
9 | Redução no mercado global | Aumento no mercado internacional |
10 | Alto custo de produção | Baixo custo de produção |
Classificação dos produtos biológicos
No Brasil existem diversas classes registradas como biodefensivos no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
As duas classes principais são os agentes biológicos de controle e as substâncias químicas naturais, que apresentam duas outras subdivisões cada, com suas respectivas classes, conforme esquematizado na Figura 2.
São considerados ativos biológicos de diferentes biodefensivos:
- Agentes microbiológicos: microrganismos como bactérias, vírus, fungos e protozoários (frequentemente formulados).
- Agentes macrobiológicos: macrorganismos como ácaros, Insetos e nematoides que se alimentam ou parasitam outras pragas.
- Semioquímicos: por definição, é um sinal químico produzido por um organismo, geralmente insetos, que causa uma mudança comportamental em um indivíduo da mesma ou de uma espécie diferente. Para a proteção das culturas, os semioquímicos mais amplamente utilizados são os feromônios de insetos, que servem como um sinal para se comunicar com outros da mesma espécie por uma série de razões e são sintetizados para o controle de pragas por meio da interrupção do acasalamento, sistemas de atração e captura e armadilhas em massa. feromônios
- Bioquímicos: utilizam substâncias de ocorrência natural usadas para controlar pragas por meio de um mecanismo não tóxico. Inclui hormônios reguladores de crescimento e enzimas.
Biodefensivos registrados no Brasil
Atualmente, em março de 2024, o AGROFIT aponta que o Brasil possui registro de um total de 785 biopesticidas (Figura 3), sendo:
- 295 Inseticidas microbiológicos
- 114 Fungicidas microbiológicos
- 78 Nematicidas microbiológicos
- 53 Acaricidas microbiológicos
- 5 Bactericidas microbiológicos
- 94 Agentes biológicos de controle
- 48 Feromônios
Agentes biológicos de controle registrados no Brasil
Vejamos a seguir quais os agentes microbiológicos e macrobiológicos de controle temos disponível para o controle biológico de pragas no País:
Microbiológicos
Os agentes microbiológicos constituem 69,4% de todos os produtos registrados para o controle biológico no Brasil. Todos os microrganismos com registro estão listados na Figura 4.
Os principais agentes microbiológicos de controle são:
- Fungo Beauveria bassiana: presente em 103 biodefensivos
- Fungo Metarhizium anisopliae: presente em 96 biodefensivos
- Fungo Trichoderma harzianum: presente em 54 biodefensivos
- Bactéria Bacillus thuringiensis: presente em 54 biodefensivos
- Bactéria Bacillus amyloliquefaciens: presente em 43 biodefensivos
- Bactéria Bacillus subtilis: presente em 39 biodefensivos
- Bactéria Bacillus velezensis: Presente em 20 biodefensivos
- Vírus: Baculovirus: presente em 14 biodefensivos
Macrobiológicos
Os agentes macrobiológicos registrados para o controle biológico no Brasil são apresentados na Figura 5.
Os agentes macrobiológicos de maior destaque estão listados na Tabela 2, juntamente com algumas informações como classificação, grupo, número de produtos registrados e principais alvos.
Tabela 2. Detalhes de alguns agentes macrobiológicos e seus usos
Espécie | Classificação | Grupo | Produtos registrados | Principais alvos: |
Heterorhabditis bacteriophora | Nematoide | Parasitoide | 4 | Bicudo-da-canaPercevejo-castanhoLagarta-militarVaquinha |
Steinernema carpocapsae | Nematoide | Parasitoide | 3 | Bicudo-da-canaLagarta-militar |
Chrysoperla externa | Inseto | Predador | 6 | Pulgão |
Orius insidiosus | Inseto | Predador | 4 | Tripes |
Cryptolaemus montrouzieri | Inseto | Predador | 3 | Cochinilha-rosada |
Cotesia flavipes | Inseto | Parasitoide larval | 28 | Broca-da-cana |
Habrobracon hebetor | Inseto | Parasitoide larval | 2 | Traça de produtos armazenados |
Trichogramma pretiosum | Inseto | Parasitoide de ovos | 13 | Lepidópteros |
Telenomus podisi | Inseto | Parasitoide de ovos | 10 | Percevejo-marrom |
Trichogramma galloi | Inseto | Parasitoide de ovos | 9 | Broca-da-cana |
Tetrastichus howardi | Inseto | Parasitoide de ovos | 2 | Broca-da-canaLagarta-thyrinteina |
Neoseiulus californicus | Ácaro | Predador | 5 | Ácaro-rajado |
Phytoseiulus macropilis | Ácaro | Predador | 2 | Ácaro-rajado |
Stratiolaelaps scimitus | Ácaro | Predador | 2 | Fungus gnats |
Amblyseius tamatavensis | Ácaro | Predador | 1 | Mosca-branca |
Conclusões
À medida que enfrentamos desafios crescentes relacionados à sustentabilidade e à segurança alimentar, os biodefensivos emergem como uma solução promissora para o controle biológico de pragas na agricultura.
A diversidade de agentes microbiológicos e macrobiológicos disponíveis no mercado brasileiro reflete o potencial significativo desses produtos na promoção da saúde das plantas e na redução do impacto ambiental. Desde bactérias e fungos até insetos e ácaros predadores, uma gama variada de agentes biológicos oferece soluções específicas para diferentes desafios enfrentados pelos agricultores.
No entanto, é importante ressaltar que o sucesso dos biodefensivos depende não apenas da disponibilidade desses produtos, mas também de práticas agrícolas integradas e da conscientização dos produtores. A educação sobre o manejo adequado e a integração eficaz dos biodefensivos com outras estratégias de controle de pragas são fundamentais para maximizar seus benefícios e garantir resultados sustentáveis a longo prazo.
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Referências
CropLife Brasil. Biodefensivos, cada vez mais presentes no campo. Disponível em: https://croplifebrasil.org/noticias/biodefensivos-cada-vez-mais-presentes-no-campo/. Acesso: 29 Fev. 2024.
ESSIEDU, J.A.; ADEPOJU, F.O.; IVANTSOVA, M.N. Benefits and limitation in using biopesticides: a review. AIP Conference Proceedings 2313, 080002. 2020. DOI: 10.1063/5.0032223.
EMMANUEL O. FENIBO, E.O.; IJOMA, E.N.; MATAMBO, T. Biopesticides in sustainable agriculture: current status and future prospects. In: MANDAL, S.D.; RAMKUMAR, G.; KARTHI, S.; JIN, F. New and Future Development in Biopesticide Research: Biotechnological Exploration. pp. 1-53, 2023.
Informativo Técnico Agroadvance. Biodefensivos (biopesticidas):
o que temos disponível no Brasil para o controle biológico? N. 12, março 2024. Disponível em: https://agroadvance.com.br/informativo-tecnico/
Sobre a autora
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)