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Fonte: Mascarin & Jaronski (2016)

Uso do fungo Beauveria bassiana no controle biológico de pragas

A Beauveria bassiana é um fungo entomopatogênico utilizado para o controle biológico de pragas agrícolas. Saiba como esse fungo pode ser usado como inseticida biológico para controlar diversas espécies de insetos-praga.

Você sabia que existe um fungo que pode ser usado como inseticida biológico para controlar mais de 700 espécies de insetos-praga que atacam as lavouras?

Esse fungo é o Beauveria bassiana, um microrganismo que ocorre naturalmente no solo e que é capaz de infectar e matar os insetos de forma seletiva e sustentável.

O fungo Beauveria bassiana é um dos principais agentes de controle biológico de pragas, sendo utilizado em diversas culturas agrícolas, como milho, soja, algodão, café, banana, cana-de-açúcar, entre outras.

O fungo produz esporos que aderem à superfície do corpo dos insetos e penetram na sua cutícula, se multiplicando no seu interior e causando a sua morte por destruição dos órgãos vitais e por liberação de toxinas.

Hoje você vai aprender como esse fungo funciona, quais são as suas vantagens, como aplicá-lo na lavoura e quais são os resultados obtidos com o seu uso.

Você vai ver que o fungo é uma alternativa eficiente e ecológica para o manejo integrado de pragas, reduzindo os danos causados pelos insetos e os custos com defensivos.

Para que serve o Beauveria bassiana?

Esse fungo é usado para controlar biologicamente os insetos-praga que causam danos às culturas agrícolas. É um inimigo natural de mais de 700 espécies de insetos, como lagartas, percevejos, pulgões, moscas, besouros, cigarrinhas, ácaros, entre outros.

Ele atua como um inseticida biológico, pois infecta e mata os insetos de forma seletiva e sustentável, sem causar problemas ambientais ou de saúde humana.

O fungo pode ser aplicado na forma de pó, líquido ou granulado, de acordo com a praga-alvo e as condições ambientais.

Além disso, pode ser usado de forma isolada ou integrada com outros métodos de controle, como o uso de defensivos químicos, o manejo cultural, a rotação de culturas, a resistência genética, entre outros.

O microrganismo Beauveria bassiana é uma alternativa eficiente e ecológica para o manejo integrado de pragas, pois reduz os danos causados pelos insetos e os custos com defensivos químicos, além de contribuir para a preservação do meio ambiente e da saúde humana.

Além dos seus benefícios para a agricultura, o fungo Beauveria bassiana é um aliado natural do produtor rural, que pode obter uma produção mais sustentável e rentável com o uso desse microrganismo.

Modo de ação do Beauveria bassiana  

Vimos inicialmente como se dá o processo de ação desse fungo com forma de controle biológico, porém, estudos de Jiménez (2015), mostram esse processo de maneira detalhada.  Veja abaixo:

O fungo produz esporos que aderem à superfície do corpo dos insetos e penetram na sua cutícula, se multiplicando no seu interior e causando a sua morte por destruição dos órgãos vitais e por liberação de toxinas.

Na Figura 1 é detalhado o processo de infecção do fungo em insetos-praga. Antes da infecção um conídio adere à cutícula do inseto hospedeiro para induzir a germinação (etapa 1). Subsequentemente ocorre a germinação e produção de um tubo germinativo (etapa 2).  

Há então o emprego de pressão mecânica e de secreção de enzimas para romper a cutícula (etapa 3). O fungo muda para o crescimento de blastosporos para colonizar a hemocele hospedeira (etapa 4), onde secreta toxinas e se alimenta de açúcares na hemolinfa (etapa 5).

Os blastósporos escapam ou superar as respostas imunes do hospedeiro e secretam toxinas que facilitam a morte do hospedeiro (etapa 6).

Após a morte do hospedeiro, o fungo rompe novamente a cutícula por dentro e esporula no cadáver (etapa 7), permitindo a dispersão dos conídios e o início de uma nova infecção.

Ciclo de infecção com o fungo Beauveria bassiana
Figura 1. Ciclo de infecção de Beauveria bassiana em insetos. Fonte: Jiménez et al; (2015).

Teoricamente o processo de infecção do fungo pode ser dividido em cinco etapas principais: adesão, germinação, penetração, colonização e emergência.

Cada etapa envolve genes e mecanismos específicos que influenciam a virulência do fungo. Alguns exemplos de genes e mecanismos envolvidos em cada etapa são:

Adesão: O fungo usa proteínas de superfície, como hidrofobinas e adesinas, para se ligar à cutícula do inseto. Essas proteínas são codificadas por genes como Bbhfb1, Bbhfb2, Bbadh1 e Bbadh2.

Germinação: O fungo usa enzimas, como quitinases e proteases, para degradar a cutícula e formar um tubo germinativo que invade o corpo do inseto. Essas enzimas são codificadas por genes como Bbchit1, Bbchit2, Bbpr1 e Bbpr2 .

Penetração: O fungo usa fatores de transcrição, como GATA e C2H2, para regular a expressão de genes envolvidos na adaptação ao ambiente interno do inseto. Esses fatores de transcrição são codificados por genes como Bbgat1, Bbgat2, Bbzf1 e Bbzf2 .

Colonização: O fungo usa genes, como Bbtox1 e Bbchit1, para sintetizar compostos que causam danos aos órgãos vitais do inseto e facilitam a digestão do seu tecido. Esses genes são responsáveis pela produção de toxinas, como a bassianolida, e de enzimas, como a quitinase.

Emergência: O fungo usa genes, como Bbmet1 e Bbcat1, para metabolizar os nutrientes liberados pelo inseto e preparar-se para a emergência. Esses genes são responsáveis pela produção de enzimas, como a metionina aminopeptidase e a catalase.

Produtos à base de Beauveria bassiana e pragas que podem ser controladas com seu uso

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), há atualmente 56 produtos comerciais que contêm Beauveria bassiana como ingrediente ativo.

Esses produtos podem ser formulados como pó molhável, granulado, líquido ou suspenso concentrado, e apresentam diferentes concentrações de conídios (esporos) viáveis do fungo por grama ou mililitro.

Alguns exemplos de produtos comerciais são: Boveril WP PL632, Beauve1003, Boveril SC1, Boveril WG1, Boveril GR1, Boveril PM1, entre outros.

As pragas que podem ser controladas pelos produtos à base de Beauveria bassiana dependem do produto em questão, da cultura, da dose e da época de aplicação.

É importante consultar a bula do produto antes de usá-lo, para verificar as indicações, as recomendações e as precauções de uso, por indicamos sempre consultar um engenheiro agrônomo.

Segundo o Agrofit, as principais pragas que podem ser controladas pelos produtos à base de Beauveria bassiana são:

  • Mosca-branca (Bemisia tabaci): um inseto sugador que ataca diversas culturas, como algodão, soja, tomate, feijão, entre outras. A mosca-branca pode causar danos diretos, pela sucção da seiva, e indiretos, pela transmissão de vírus e pela produção de fumagina.
  • Broca-do-café (Hypothenemus hampei): um besouro que perfura os frutos do cafeeiro e reduz a qualidade e a produtividade da cultura. A Beauveria bassiana é um fungo para combater a broca-do-cafe.
  • Ácaro-rajado (Tetranychus urticae): um ácaro que ataca diversas culturas, como algodão, soja, tomate, morango, entre outras. O ácaro-rajado pode causar danos pela sucção da seiva e pela formação de teias, reduzindo a fotossíntese e a qualidade das plantas.
  • Percevejo-marrom (Euschistus heros): um inseto sugador que ataca principalmente a cultura da soja, causando danos aos grãos e às vagens (Figura 2).
Figura 2. Fungo Beauveria bassiana no controle de ninfas e adultos do percevejo-marrom. Foto: Unioeste.
  • Gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus scutellatus): um besouro que ataca as folhas do eucalipto, causando desfolha e redução do crescimento das plantas.
  • Cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis): um inseto sugador que ataca a cultura do milho, causando danos diretos, pela sucção da seiva, e indiretos, pela transmissão de doenças, como o enfezamento e a risca.
  • Bicudo-da-cana-de-açúcar (Sphenophorus levis): um besouro que ataca as raízes e os colmos da cana-de-açúcar, causando danos ao sistema radicular e à brotação das plantas.
  • Cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta): um inseto sugador que ataca as pastagens, causando danos diretos, pela sucção da seiva, e indiretos, pela produção de fumagina e pela transmissão de doenças, como o mosaico.

Para essas pragas, o controle com Beauveria bassiana pode ser realizado com doses que variam de 0,5 a 2 kg/ha, dependendo do produto.

É importante ressaltar que o controle biológico com esse fungo deve ser feito de forma integrada com outras medidas de manejo, como o monitoramento, o uso de armadilhas, a rotação de culturas, a resistência genética, entre outras.

Fatores que afetam a eficácia do produto

Mesmo com tantos benefícios, existem alguns fatores que podem afetar negativamente a eficácia dos produtos à base do fungo Beauveria bassiana. Veja alguns exemplos:

A qualidade do produto: O produto deve ter uma boa qualidade, com uma alta concentração de conídios viáveis do fungo, uma boa formulação, um bom armazenamento e um bom transporte.

A dose do produto: O produto deve ser aplicado na dose adequada para a praga-alvo, de acordo com a bula do produto e as recomendações técnicas.

Uma dose muito baixa pode não ser suficiente para causar a infecção e a morte dos insetos, enquanto uma dose muito alta pode ser desnecessária ou prejudicial para o meio ambiente ou para os inimigos naturais das pragas.

A época de aplicação: O produto deve ser aplicado no início da infestação da praga, quando os insetos ainda estão em estágios jovens e mais suscetíveis ao fungo.

A aplicação tardia pode não ser efetiva, pois os insetos podem já ter causado danos às plantas ou ter desenvolvido resistência ao fungo.

As condições ambientais: O produto deve ser aplicado em condições favoráveis ao fungo (Beauveria bassiana), como temperatura, umidade, luminosidade e vento.

Condições adversas, como calor excessivo, umidade baixa, luz solar direta ou vento forte, podem reduzir a viabilidade, a germinação, a penetração ou a dispersão do fungo, diminuindo a sua eficácia no controle das pragas.

A compatibilidade com outros produtos: O produto deve ser compatível com outros produtos que possam ser usados na lavoura, como defensivos químicos, fertilizantes, adjuvantes, entre outros.

Alguns produtos podem ter efeitos negativos sobre o fungo, como inibir a sua germinação, a sua penetração, a sua colonização ou a sua emergência, ou reduzir a sua virulência, a sua estabilidade ou a sua dispersão.

Siga sempre as recomendações técnicas de aplicação, monitoramento e avaliação do produto, para obter os melhores resultados com o uso do fungo.

Conclusão

O fungo Beauveria bassiana é um inseticida biológico que pode auxiliar no manejo integrado de pragas, reduzindo os danos causados pelos insetos e os custos com defensivos químicos.

Além disso, o fungo contribui para a preservação do meio ambiente e da saúde humana, sendo uma alternativa sustentável e eficiente para o controle biológico de pragas.

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Referências

FENG, M. G.; POPRAWSKI, T. J.; KHACHATOURIANS, G.G. Production, formulation, and application of the entomopathogenic fungus Beauveria bassiana for insect control: current status. Biocontrol science and technology, v. 4, n. 1, p. 3-34, 1994.

WANG, C.; ST LEGER, R. J. Genes involved in virulence of the entomopathogenic fungus Beauveria bassiana. Journal of Invertebrate Pathology, San Diego, v. 121, p. 37-49, 2015. DOI: 10.1016/j.jip.2015.11.011

ZIMMERMANN, G. Review on safety of the entomopathogenic fungi Beauveria bassiana and Beauveria brongniartii. Biocontrol Science and Technology, v. 17, n. 6, p. 553-596, 2007. DOI: 10.1080/09583150701309006

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