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Foto: Portal R3

Produção de bioinsumos on farm: 8 pontos de atenção para garantir o sucesso da produção na fazenda

Muito se discute em relação a eficiência do método de produção de bioinsumos on farm. Confira 8 pontos críticos a serem observados, desde o planejamento logístico até o controle de qualidade para garantir a excelência na produção de insumos biológicos na sua fazenda.

O setor dos biológicos vem demonstrando avanços significativos, tanto econômicos quanto tecnológicos. A produção industrial já conta com tecnologia de ponta para atender a demanda crescente do mercado.

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Porém, visando a facilidade logística e economia de recursos, cada vez mais produtores têm optado pela multiplicação de microrganismos dentro da fazenda. Prática que pode render bons resultados, desde que o processo seja executado com excelência.

Para entender os principais pontos relacionados a produção de biológicos on farm, primeiramente é importante conhecer esses insumos mais de perto e seus processos de produção.

Neste artigo, mergulhamos a fundo nos bioinsumos e abordamos oito pontos críticos que você precisa de atentar para garantir o sucesso na produção on farm de forma sustentável e bem-sucedida! Continue a leitura e confira!

O que são bioinsumos? Quais são os métodos de produção?

Os bioinsumos são produtos que possuem em sua formulação organismos, ativos ou moléculas de origens diversas: desde vírus até plantas e insetos.

Dessa forma, são encontrados biológicos compostos por macro e microrganismos, hormônios vegetais, extratos de plantas ou de algas, feromônios, ácidos orgânicos, entre outros.

definições de produtos biológicos - produção de bioinsumos on farm
Figura 1.  Definições de produtos biológicos. Fonte: Dunham Trimmer – International Bio Intelligence (ABIM, 2018) Apud. Panutti, 2023.

Os bioinsumos podem agir na fertilização do solo, estímulo do metabolismo da planta ou como forma de controle de pragas, e não se limitam a uma função, podendo desempenhar múltiplos papeis quando aplicados nas lavouras.

Esse tipo de produto ganhou protagonismo justamente por sua diversidade de atuação na agricultura e baixo impacto ambiental. É muito utilizado no manejo integrado de pragas ou doenças (MIP ou MID), controle de nematoides e nas estratégias avançadas de nutrição das culturas agrícolas.

Atualmente o mercado de bioinsumos é o que mais cresce no âmbito global. É estimado que até 2030 os bioinsumos atinjam o marco de gerar cerca de 23 bilhões de dólares (Panutti, 2023), o que corresponde a aproximadamente 114 bilhões de reais atualmente.

mercado de bioinsumos no mundo

Figura 2.  Mercado global de bioinsumos em 2020 e projeções de taxa de crescimento até 2027. Fonte: Standard &PoorsCompustat, IHS Markit, IFA, World Bank, Markets and Markets [s.d.] Apud. Panutti 2023.

Em relação a legislação e regulamentação dos produtos biológicos, o governo lançou em 2020 o Programa Nacional de Bioinsumos que visa incentivar uma agricultura mais sustentável através do registro e regulamentação do uso de bioinsumos.

Além do crescimento acelerado desse mercado, outro ponto que gera dúvidas é a produção desses insumos.

Em seguida, iremos explicar de maneira simplificada a fabricação de bioinusmos. No geral, esse processo se dá de duas formas: industrial e on farm.

Tipos de produção de bioinsumos: industrial e on farm

A produção industrial, como o próprio nome diz, é aquela realizada por empresas especializadas e que resultam nos produtos comerciais que vemos nas empresas e revendas.

Os processos envolvidos nesse tipo de produção são bem estabelecidos, apresentam rigorosidade e são realizados em ambientes controlados e estéreis, para que o produto possa ser devidamente registrado e comercializado.

Desde a seleção das cepas ou estirpes a serem multiplicadas até a embalagem, todos os passos da formulação industrial devem seguir os padrões estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores, garantindo a qualidade e eficiência do insumo.

Já a produção de bioinsumos on farm (termo em inglês que quer dizer: na fazenda)é realizada diretamente na fazenda. Esse insumo produzido internamente, segundo a legislação vigente, deve ser para uso próprio não necessitando de registro em órgãos de fiscalização.

A multiplicação dos organismos desejados é realizada em biofábricas, que se referem ao conjunto de equipamentos utilizados em todas as etapas da formulação de um produto. A biofábrica on farm deve ser localizada, de preferência em um laboratório com condições ideais para garantir a eficiência dos processos.

As matérias primas para os bioinsumos on farm podem ser coleções de microrganismos específicos, garantindo a reprodução das espécies desejadas e um material com alta pureza.

Outros compostos (orgânicos ou produtos comerciais prontos) também são utilizados, porém a eficiência do insumo final pode ser afetada. Isso porque há presença de outros microrganismos, que não somente da espécie desejada, o que possivelmente reduzirá a pureza do produto biológico.

De uma maneira geral, esse processo de fabricação se inicia com a escolha do inóculo que será a matéria prima e o meio de cultura, ou seja, o material que servirá de “alimento” para os microrganismos e onde eles irão se reproduzir.

Com isso, ocorre a multiplicação e fermentação nos tanques. Essa etapa deve ser muito bem controlada e acompanhada para garantir condições favoráveis (temperatura, ar, pH, etc).

Saiba mais sobre o processo de multiplicação de boinsumos on farm clicando no vídeo abaixo:

8 pontos de atenção na produção de bioinsumos on farm: do planejamento ao controle de qualidade

O foco de todo o processo de fabricação de bioinsumos é gerar um produto de qualidade, que seja aplicável na lavoura e gere resultados.

Para isso é muito importante que o(a) proprietário(a) da biofábrica esteja atento(a) aos pontos críticos que podem causar perda de eficiência, tanto do processo quanto do produto em si.

Reunimos aqui os 8 pontos que merecem a atenção quando o assunto é produção de bioinsumos on farm e que garantem o sucesso do produto:

  •  Planejamento e logística

Um dos pontos principais que devem ser levados em consideração no início do processo é a logística.

Insumos produzidos na fazenda devem ser utilizados o mais breve possível na lavoura, evitando o armazenamento por longos períodos. Isso porque a composição deles é majoritariamente de microrganismos que precisam estar viáveis (vivos) para exercer as suas funções metabólicas e gerar os resultados esperados.

Por isso, é imprescindível um planejamento minucioso da escala de produção e de aplicação dos produtos. Assim não haverá desperdício de recursos, integrando as biofábricas com as operações do campo.

  •  Limpeza e sanitização

Para que o processo resulte em um material puro e altamente eficiente, a etapa da sanitização, tanto do local quanto dos equipamentos não deve ser negligenciada.

Assim que um ciclo de produção se encerra, ou até antes de começar um novo, a limpeza dos equipamentos deve ser realizada, garantindo que não existam patógenos, impurezas, outros microrganismos ou moléculas que atrapalhem o processo de multiplicação.

O local também deve receber sanitização garantindo um ambiente limpo e livre de contaminantes.

  • Qualidade da água

A água é utilizada em todas as etapas da produção de bioinsumos: seja no produto, que é composto por água em sua maioria, ou na limpeza dos instrumentos.

A água deve estar isenta de contaminantes, com pH ajustado, temperatura ideal, livre de cloro (ou outros compostos que possam inativar os microrganismos de interesse) e ser armazenada em local igualmente limpo.

Mais uma vez, é importante se certificar de que a água esteja livre de microrganismos patogênicos.

  • Qualidade do inóculo

A qualidade do inóculo é inegociável. Para obter um bom produto, você deve escolher uma boa matéria prima e começar com o pé direito.

Coleções puras (de uma só espécie) e reconhecidas pelos órgãos de fiscalização são as ideais para garantir que a produção gerará um produto confiável e com eficácia.

Lembrando que a multiplicação dos microrganismos deve ser feita por espécie, sendo isoladas umas das outras.

  • Meio de cultura

No mercado existem dois principais tipos de meio de cultura: o generalista (para várias espécies de microrganismos) e o específico (particularidades para cada espécie).

Os generalistas podem limitar o crescimento dos microrganismos, pois são de materiais que podem não atender às demandas da espécie que você deseja multiplicar.

Já os específicos são mais recomendados quando se é buscada alta eficiência no processo de multiplicação.

Para qualquer um dos tipos de meio de cultura, é importante ressaltar que deve ser realizada a esterilização do material.

  • Controle da temperatura e pH

A temperatura, durante o processo de fermentação, varia de acordo com a atividade metabólica dos microrganismos e devido ao próprio ambiente. Por isso, esse parâmetro deve ser controlado.

Na multiplicação de Bacillus thuringiensis por exemplo, em temperaturas mais baixas que o ideal o processo perde velocidade, e em temperaturas mais altas pode ocorrer a desnaturação de proteínas importantes. A faixa de temperatura ideal para essa espécie é aproximadamente entre 28 e 32°C (Coach, 2000 Apud. Embrapa, 2018).

O pH também varia de acordo com as etapas da fermentação. A tendência é que no início ele seja mais ácido, pois há liberação de piruvatos, lactatos e acetatos pelo crescimento vegetativo das bactérias, tendo como exemplo ainda a multiplicação de Bacillus thurigiensis. No final, o processo se caracteriza pela liberação de amônia, aumentando o pH e deixando o meio alcalino (Embrapa, 2018).

Dessa forma, é necessário manter o pH na faixa da neutralidade durante todo o processo, balanceando a adição de bases e ácidos para contrapor o pH do meio e manter o ambiente ideal.

  • Aeração e controle de espuma

Os processos que ocorrem dentro dos tanques de multiplicação são aeróbios em sua maioria, sendo assim a biofábrica deve conter um sistema de aeração que fornaça o oxigênio necessário para os microrganismos.

Importante ressaltar que o ar deve estar livre de impurezas!

A aeração no tanque aumenta a presença de bolhas de ar. E se elas apresentarem diâmetro grande contribuem para a formação da espuma.

A espuma pode atrapalhar o controle de temperatura, oxigenação e outros fatores que são importantes para e eficiência do processo. Além disso é a principal causa de vazamento nos tanques, podendo causar contaminação do local, e por isso deve ser eliminada.

  • Armazenamento e descarte

Os insumos biológicos produzidos on farm possuem um tempo de prateleira menor comparados aos produtos industriais, pois possuem menor concentração de estabilizantes e conservantes.

Por isso, os produtos biológicos resultantes do processo on farm devem ser armazenados em ambiente refrigerado. E ainda, é indicado que o transporte para lavoura seja feito através de veículos com proteção térmica ou refrigeração.

No caso de inviabilidade de uso do produto, seja por ultrapassar o tempo ideal de uso ou por constatação do controle de qualidade que existem contaminantes ou patógenos no insumo, é necessário realizar o descarte.

Para descartar produtos biológicos é importante seguir os protocolos estabelecidos pelos órgãos reguladores.

Além disso, vale ressaltar que se forem utilizados apenas produtos orgânicos no insumo é provável que não haja resíduos que impõem risco ambiental, facilitando o descarte.

Em alguns casos a inativação dos microrganismos é recomendada. Para saber qual o descarte correto para sua propriedade consulte um especialista.

Tudo se resume a: controle de qualidade

Além do controle de qualidade do produto em si, o qual pode ser feito com o auxílio de laboratório especializado e de equipe técnica treinada, é imprescindível que a manutenção da qualidade de todas as etapas seja assegurada.

Essa preocupação com o controle de qualidade é lógica, uma vez que tudo envolve organismos vivos, sensíveis às condições as quais são expostos.

Portanto, o treinamento da equipe responsável e o conhecimento, tanto técnico quanto da legislação, podem ser fatores que definem o sucesso de uma produção de insumos biológicos on farm.

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Referências 

EMBRAPA. Produção e controle de qualidade de produtos biológicos à base de Bacillus thuringiensis para uso na agricultura. Documento 360. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2018. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/185073/1/documentos-360Final.pdf. Acesso em: 30 ago. 2023.

PANUTTI, Luiz. 2023. Produção de Bioinsumos on farm [PowerPoint de apoio da aula do curso “Especialista em Bioinsumos: da produção ao manejo” ministrada na Agroadvance].

SANTOS, Adailson Feitoza de J. et al. O que é preciso saber para produzir microrganismos na fazenda – on farm com menores riscos e maior eficiência – Um Guia Técnico. 2023. 1. ed. Disponível em: https://www.linkedin.com/posts/adailson-feitoza-81668549_vale-a-pena-produzir-microrganismos-on-farm-activity-7023741004625195008-rVOy?utm_source=share&utm_medium=member_desktop. Acesso em: 04 set. 2023.

SANTOS, Adailson Feitoza de J. et al. Produção de microrganismos on farm: aspectos do controle de qualidade. 2023. 1. ed. https://www.linkedin.com/posts/adailson-feitoza-81668549_e-book-controle-de-qualidade-activity-7099486974549327873-KjLw?utm_source=share&utm_medium=member_desktop. Acesso em: 04 set. 2023

SOARES, Izadora Alves; MENEZES FILHO, Antonio Carlos Pereira de; VENTURA, Matheus Vinicius Abadia. Biofábricas no cenário atual agrícola brasileiro: revisão. Brazilian Journal Of Science, [S.L.], v. 2, n. 1, p. 16-33, 1 jan. 2023. Lepidus Tecnologia. http://dx.doi.org/10.14295/bjs.v2i1.246. Disponível em: https://www.brazilianjournalofscience.com.br/revista/article/download/246/136. Acesso em: 30 ago. 2023.

SOLUBIO. 10 Mandamentos da Produção de Bioinsumos OnFarm. 2022. Disponível em: https://www.solubio.agr.br/post/10-mandamentos-producao-bioinsumos-onfarm. Acesso em: 29 ago. 2023.

Sobre a autora:

Lívia Amaral

Lívia Amaral

Analista de Go-To-Market na Agroadvance

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