A colheita de café é uma etapa importante do processo produtivo que garante a qualidade da bebida. O Brasil mantém uma posição de destaque global na produção de café, sendo reconhecido como um dos maiores produtores e exportadores desse grão essencial para muitas culturas ao redor do mundo.
Com sua vasta extensão territorial e condições climáticas favoráveis, o país se tornou um protagonista fundamental no mercado cafeeiro internacional. Em meio a projeções recentes, os números apontam para um aumento significativo na produção de café, tanto do tipo conilon quanto arábica, refletindo a resiliência e a competitividade do setor cafeeiro brasileiro.
De acordo com as previsões, a produção de café conilon está estimada em 17,33 milhões de sacas, representando um crescimento de 7,2% em relação ao período anterior. Já o café arábica, outro pilar importante da indústria cafeeira brasileira, está previsto para atingir 40,75 milhões de sacas, refletindo um aumento de 4,7%.
Somando ambos os tipos, a produção total de café no Brasil está projetada em 58,08 milhões de sacas, registrando um crescimento geral de 5,5%. Esses números evidenciam não apenas a expansão contínua da produção de café no país, mas também a sua relevância como um dos principais players do mercado global de café.
Desta forma, uma colheita eficiente do café no Brasil é crucial para garantir a qualidade do produto e maximizar os rendimentos dos produtores. Isso envolve o uso de técnicas modernas, equipamentos adequados e uma coordenação precisa dos períodos de colheita, considerando o estágio de maturação dos grãos. Investimentos em treinamento de mão de obra e tecnologias inovadoras também são essenciais para reduzir custos e aumentar a produtividade.
Boa leitura!
Produção de café no Brasil
A produção de café no Brasil é predominantemente concentrada na região Sudeste, com ênfase nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo.
Minas Gerais se destaca como o maior estado produtor de café do Brasil, contribuindo com mais de 50% da produção nacional, totalizando 27,8 milhões de sacas na safra de 2023.
Por outro lado, a variedade Robusta é cultivada em toda a área do estado de Rondônia, no Norte do país.
Época de colheita do café
A época de colheita do café no Brasil varia dependendo da região e do tipo de café cultivado (arábica ou robusta) e ocorre no estágio fenológico de grão cereja, conforme veremos adiante. Em geral, podemos dizer que a colheita ocorre durante os meses de maio a setembro. Mas vejamos abaixo mais detalhes para cada tipos de café:
A colheita do café arábica geralmente ocorre entre abril e setembro, variando conforme a região.
Esta variedade é predominantemente cultivada em altitudes mais elevadas e climas mais frescos. Os frutos do arábica amadurecem de forma mais gradual, estendendo o período de colheita ao longo de alguns meses.
Por outro lado, o café robusta é colhido em um intervalo de tempo mais breve, tipicamente entre maio e agosto.
Ao contrário do arábica, esta variedade é cultivada em altitudes mais baixas e em regiões com climas mais quentes, o que acelera o processo de amadurecimento dos frutos e concentra a colheita em um período mais específico.
Na tabela 1 são mostradas as principais diferenças agronômicas das espécies.
É importante ressaltar que esses períodos de colheita do café podem variar em algumas semanas, dependendo das condições climáticas locais e das práticas de manejo adotadas pelos produtores.
Tabela 1. Diferença entre café arábica e robusta.
Característica | Arábica | Robusta |
Família | Rubiáceas | Rubiáceas |
Espécies | Café Arábica | Café conilon |
Produção mundial | 75% | 30% – 40% |
Clima favorável | Subtropical úmido | Tropical |
Formato de feijão | Oval e alongado | Oval |
Cor antes de assar | Luz verde | Verde pálido |
Conteúdo de cafeína | 1,1% – 1,5% | 2% – 2,5% |
Notas sensoriais | Floral, Frutas, Especiarias | Terra, madeira, especiarias |
Fenologia do cafeeiro
No Brasil, onde a cafeicultura desempenha um papel crucial na economia, compreender esse ciclo é fundamental para os produtores maximizarem sua produção e garantirem a qualidade do café.
O ciclo começa com o “plantio das sementes” ou mudas, geralmente em viveiros, onde são cuidadosamente nutridas até atingirem o estágio adequado para o transplante para o campo.
Uma vez no local definitivo, as plantas passam pela fase de crescimento vegetativo, onde desenvolvem seu sistema radicular e estrutura foliar. Durante esse período, os cafezais requerem cuidados específicos, como irrigação adequada, controle de pragas e doenças, e adubação balanceada com base nas exigências nutricionais da cultura.
Após o crescimento vegetativo, as plantas entram na fase de floração (fase reprodutiva), que geralmente ocorre em resposta a mudanças sazonais na temperatura e luminosidade. Durante esse estágio, pequenas flores brancas surgem nos ramos, marcando o início do processo de formação dos frutos. A polinização das flores é crucial para o desenvolvimento dos frutos de café, e muitas vezes é facilitada pela presença de insetos polinizadores, como abelhas.
Após a polinização bem-sucedida, os frutos começam a se desenvolver, passando por uma série de transformações até alcançarem a maturidade. O tempo necessário para que os frutos atinjam a maturação varia de acordo com a variedade do café e as condições climáticas locais. Geralmente, os frutos mudam de cor, passando do verde para o vermelho ou amarelo, e adquirem características sensoriais específicas que indicam sua prontidão para a colheita do café.
Finalmente, chega o momento da colheita, onde os frutos maduros são cuidadosamente colhidos dos ramos. No Brasil, isso pode ser feito de forma manual, mecânica e/ou semimecânica, dependendo da topografia do terreno e das preferências dos produtores. Após a colheita, os frutos passam por processos de beneficiamento, que envolvem a “remoção da polpa” e a secagem dos grãos.
Classificação dos grãos de café
A coloração dos grãos de café é um indicador crucial da maturidade fisiológica dos frutos. Inicialmente, os grãos apresentam coloração verde, marcando o início do processo de maturação.
Conforme o processo avança, os grãos adquirem a coloração característica da variedade, que pode ser vermelha ou amarela (Figura 1 e 2). À medida que amadurecem, os grãos assumem uma coloração mais escura, perdendo teor de água até atingirem o estádio conhecido como “coco”, onde estão completamente secos.
A classificação dos grãos de café acordo com seu ponto de maturidade é essencial para a determinação do momento ideal de colheita:
- Café verde ou grãos verdes (teor de água de 60 a 70%): Nesta fase, os frutos estão no estágio de granação, com o endosperma tornando-se duro e os grãos exibindo coloração verde;
- Grãos verde cana (teor de água de 55 a 60%): Os grãos começam a mudar de coloração, tornando-se mais maduros e assumindo a coloração característica do cultivar;
- Grãos cereja (teor de água de 45 a 55%): Quando os frutos alcançam a coloração totalmente característica do cultivar, este é o momento ideal para a colheita;
- Grãos passa (teor de água de 30 a 45%): Indicando que os grãos passaram do ponto ideal de colheita, os tegumentos dos grãos começam a adquirir uma coloração escura;
- Grãos secos/coco (menos de 25%): Neste estágio, os frutos de café estão completamente secos, com baixa umidade;
- Grãos flutuantes: Grãos que flutuam na água devido ao seu menor peso, o que pode ser causado por má formação, imaturidade ou infestação por pragas como a broca do café.
Métodos de colheita de café
Os métodos de colheita do café são variados e utilizados em todo o mundo. Principalmente, eles se dividem em três categorias: manual, semimecanizada e mecanizada. Vamos examinar as particularidades e distinções de cada processo.
Método manual de colheita do café
A colheita manual consiste na remoção dos frutos das plantas de café de forma manual, visando evitar danos aos ramos que possam comprometer a produção futura. Este método demanda uma equipe numerosa e é mais dispendioso devido à necessidade de múltiplas idas ao campo. Além disso, em algumas regiões produtoras de café existe a limitação de pessoas para atuarem na colheita, o que desprende muito tempo para conseguir os trabalhadores sazonais e diaristas, fato este relatado por produtores de café em MG e ES.
Apesar dos custos adicionais, a colheita manual assegura uma qualidade mais uniforme do café, o que permite a obtenção de preços mais elevados que compensam os gastos com a mão de obra. Trata-se de um dos métodos mais tradicionais, ainda amplamente empregado nas plantações de café.
O processo de colheita manual envolve diversas etapas:
- A) – Arruação e varrição para coletar os frutos caídos;
- B) – Derriça realizada sobre panos ou peneiras;
- C) – Coleta, limpeza e transporte do café.
Os frutos são depositados sobre panos ou peneiras dispostos no solo, sendo posteriormente recolhidos e selecionados para a próxima fase do processo.
Método semimecanizado de colheita do café
A colheita semimecanizada pode ser conduzida de forma integral ou seletiva, empregando derriçadoras motorizadas portáteis que otimizam o trabalho e aumentam a eficiência dos trabalhadores.
Durante o processo, os operadores manejam as derriçadoras para agitar os galhos das plantas de café, promovendo a queda dos frutos mais maduros sobre telas ou panos dispostos no campo. A colheita semimecanizada segue os seguintes procedimentos:
- Na abordagem manual, quatro trabalhadores realizam a poda dos frutos sobre uma lona estendida no chão, removendo-os dos galhos;
- Na modalidade mecanizada, uma máquina equipada com uma lona similar é utilizada para colher os frutos e galhos, seguida pela trilhagem, que separa os frutos dos galhos de café.mimecanizada
Método mecanizado de colheita do café
Na colheita mecanizada de café, máquinas especializadas são empregadas para realizar o processo de forma automatizada, aumentando significativamente a eficiência e reduzindo a dependência de mão de obra manual.
Essas máquinas operam de diversas maneiras, como por exemplo:
Derriçadoras: Equipadas com sistemas de vibração, as derriçadoras sacodem os troncos das plantas, fazendo com que os frutos maduros se desprendam e caiam em coletores.
Colheitadeiras: algumas máquinas são projetadas para colher os frutos diretamente dos ramos, separando-os dos galhos por meio de escovas ou outros dispositivos.
O processo de colheita mecanizada oferece vantagens em termos de rapidez e eficiência, porém requer um investimento inicial significativo em equipamentos. Além disso, é importante que as máquinas sejam operadas por pessoal qualificado para evitar danos às plantas e garantir a qualidade do café colhido.
Secagem do café
A secagem do café é uma etapa crucial no processo de pós-colheita, que visa reduzir o teor de umidade dos grãos para níveis adequados de armazenamento e comercialização. Existem diversos métodos de secagem, cada um com suas particularidades e impactos na qualidade do produto final.
Um dos métodos mais tradicionais é a secagem ao sol, onde os grãos são espalhados em terreiros ou camas elevadas e expostos à luz solar direta. Esse processo pode levar vários dias e requer cuidados especiais para evitar fermentação ou contaminação por fungos.
Outra abordagem comum é a secagem mecânica, realizada em secadores industriais que controlam de perto a temperatura e a umidade do ar. Essa técnica é mais rápida e eficiente, mas pode resultar em uma perda sutil de sabor em comparação com a secagem ao sol.
Independentemente do método escolhido, é essencial garantir uma secagem uniforme e cuidadosa para preservar a qualidade do café. A umidade adequada dos grãos é fundamental para evitar mofo e deterioração durante o armazenamento, garantindo que o café mantenha seu aroma e sabor distintivos até chegar à xícara do consumidor.
Processamento e armazenamento do café
O processamento e armazenamento do café são etapas cruciais que influenciam diretamente na qualidade e no sabor final da bebida. Após a colheita, os frutos passam por diferentes processos para extrair os grãos de café e prepará-los para o armazenamento.
O processamento do café pode ocorrer de diversas maneiras, sendo os métodos mais comuns o processamento via seco e via úmido.
No processamento via seco, os frutos são espalhados em terreiros ou secadores naturais e deixados ao sol para secar. Durante esse processo, os frutos são periodicamente revirados para garantir uma secagem uniforme. Após a secagem, a casca é removida para extrair os grãos.
No processamento via úmido, os frutos passam por uma máquina despolpadora que remove a casca e a polpa, deixando apenas os grãos cobertos por uma mucilagem. Em seguida, os grãos são fermentados em tanques de água, onde a mucilagem é removida por meio de lavagem. Após a fermentação, os grãos são lavados e secos.
Após o processamento, os grãos de café são armazenados em condições adequadas para preservar sua qualidade. Isso inclui o armazenamento em sacos herméticos em locais frescos e secos, protegidos da luz solar e de qualquer fonte de umidade ou calor excessivo.
O armazenamento adequado é essencial para evitar a deterioração dos grãos e garantir que mantenham seu aroma e sabor característicos. Quando armazenados corretamente, os grãos de café podem manter sua qualidade por vários meses, proporcionando uma experiência de degustação excepcional aos consumidores.
Sustentabilidade na pós-colheita do café
Na fase pós-colheita do café, é crucial adotar práticas sustentáveis para assegurar a qualidade do produto e reduzir o impacto ambiental.
Uma abordagem sustentável envolve o uso de tecnologias inovadoras, como despolpadores que operam sem água, diminuindo assim o consumo desse recurso vital e preservando a qualidade do café.
Além disso, é importante considerar a utilização da biomassa gerada durante o processo para a produção de energia, o que reduz a dependência de combustíveis fósseis e minimiza as emissões de gases de efeito estufa.
Ao investir em equipamentos energeticamente eficientes e adotar práticas de gestão adequadas dos resíduos, os produtores podem promover uma produção mais limpa e sustentável.
Essas medidas não apenas beneficiam o meio ambiente, mas também contribuem para aumentar a competitividade e a rentabilidade do produtor.
Portanto, ao integrar essas práticas sustentáveis na fase pós-colheita, é possível não só garantir a qualidade do café, mas também promover um impacto positivo no ecossistema e na comunidade agrícola como um todo.
Conclusão
A colheita de café no Brasil está passando por uma transformação impulsionada por inovações tecnológicas e práticas sustentáveis. Com previsões de crescimento na produção tanto do café conilon quanto do arábica, o país mantém sua posição de destaque global na indústria do café.
Métodos de colheita manual, semimecanizada e mecanizada estão sendo adotados para maximizar a eficiência e reduzir os custos. A compreensão dos ciclos de crescimento e colheita é crucial para os produtores garantirem a qualidade do café.
Em última análise, a evolução da indústria do café no Brasil reflete o compromisso do país em fornecer produtos de alta qualidade enquanto promove práticas sustentáveis e inovações tecnológicas.
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Referências
CAMARGO, A.P.; CAMARGO, M.B.P. Definição e esquematização das fases fenológicas do cafeeiro arábica nas condições tropicais do Brasil. Bragantia, v. 60, n. 1, p. 65-68, 2001.
CARVALHO, J. Como o pós-colheita pode contribuir para a sustentabilidade na cafeicultura. Blog Perfect Daily Grind. 2023.Disponível em: https://perfectdailygrind.com/pt/2023/08/04/sustentabilidade-pos-colheita/. Acesso: 17 Mai. 2024.
PEZZOPANE, J.R.M., PEDRO JÚNIOR, M.J., THOMAZIELLO, R.A., CAMARGO, M.B.P. Escala para avaliação de estádios fenológicos do cafeeiro Arábica. Bragantia, v. 62, n.3, p.499-505, 2003.
Serasa Experian. Café brasileiro: campeão em produção e sustentabilidade. 2023. Disponível em: https://www.serasaexperian.com.br/conteudos/agronegocio/cafe-brasileiro-campeao-em-producao-e-sustentabilidade/. Data de acesso: 10 de maio de 2024.
USDA, United States Department of Agriculture. Coffee: World Markets and Trade. 2023. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/coffee.pdf. Acesso: 27 de abril de 2024.
Sobre o autor
Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)