Entenda o que é um café conilon e robusta, qual a relação com o termo canephora, origem e porque esses cafés são muito cultivados no Brasil e no mundo. Conheça as principais diferenças entre o café conilon/robusta e o café arábica e descubra por que ele é um café mais em conta.
As duas espécies de café mais cultivadas no Brasil e no mundo são parentes próximas, mas a disputa entre elas na xícara revela diferenças marcantes e traça destinos diferentes para cada uma no mercado.
As duas espécies de café (C. arabica e C. canephora) mais cultivadas no Brasil são parentes próximas, mas a disputa entre elas na xícara revela diferenças marcantes e traça destinos diferentes para cada uma no mercado.
O consumo de café conilon e robusta no Brasil é grande e com certeza você já tomou esses cafés. Mas, você sabe o que é café conilon e/ou robusta? Consegue diferenciar a bebida de outros cafés? Será que a diferença é só na bebida?
Confira o texto abaixo e tire várias dúvidas sobre uns dos cafés mais importantes do mundo.
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Introdução
Tomar um bom cafezinho de manhã dá energia para começar o dia e já é tradição do brasileiro desde o Brasil Colônia.
Mas, você sabe que café não é tudo igual neh? Pois é! O mundo do café pode ser bem mais complexo do que você imagina.
Existem vários tipos de cafés, bem como espécies, variedades, cultivares e ‘terroirs’, que expressam diferentes aromas e aspectos sensoriais.
Os cafés conilon e robusta estão entre eles. Aliás, são cafés muito importantes no mercado nacional e internacional. Mas muita gente tem dúvidas sobre esses cafés e aqui nós vamos entender um pouco mais sobre eles.
Primeira delas: você sabe qual é a diferença entre café canephora, conilon e robusta? Será que é tudo a mesma coisa? Veja a seguir o que significa cada termo.
Canephora x Conilon x Robusta
O café é uma planta da família Rubiaceae e o gênero Coffea possui cerca de 100 espécies, das quais apenas duas são comercialmente relevantes.
A espécie C. arabica é a mais cultivada em todo o mundo e representa cerca de 55% na produção mundial. A segunda é a espécie C. canephora que representa cerca de 45% (USDA, 2023).
Bom, aqui você já entendeu que “canephora” define a espécie e essa espécie inclui inúmeras variedades como robusta, kouillou (chamada de conilon no Brasil), entre outras.
Resumindo: canephora é a espécie e robusta e conilon são variedades dessa espécie.
Veja a seguir as principais diferenças entre elas (Tabela 1).
Tabela 1. Principais diferenças entre café robusta e conilon.
| ROBUSTA | CONILON | |
| Hábito de crescimento | Ereto | Arbustivo |
| Caule | Maior diâmetro e pouco ramificado | Ramificado |
| Folhas | Maior tamanho | Mais alongada |
| Maturação | Tardia | Precoce |
| Doenças | Maior tolerância | Maior suscetibilidade |
Robusta é a variedade mais cultivada mundialmente, mas aqui no Brasil, a variedade conilon é a que predomina.
Genericamente, ambos os grupos, assim como os cafés por elas produzidos, são designadas como “Café Robusta”, tendo em vista ser o de maior expressão econômica no mundo.
Origem e cultivo do café conilon
O café conilon e robusta são variedades oriundas da África. Há indícios de que o seu cultivo começou por volta de 1870 no Congo e depois se espalhou para outros países (Figura 1).
Atualmente, os principais produtores globais são: Vietnã (36%), Brasil (28%), Indonésia (13%), Uganda (7%) e Índia (6%), que juntos produzem mais de 90% do robusta mundial (USDA, 2023).
Figura 1. Dispersão progressiva da espécie C. canephora de seu centro de origem (mostrado como um ponto verde na imagem) para o resto do mundo. Fonte: Herrera e Lambot, (2017), adaptado.
Desses produtores, Vietnã e Uganda são os principais exportadores de robusta. O Brasil retém parte significativa de sua produção para consumo interno.
O cultivo do café conilon não é tão complexo quanto o café arábica, mas, como todo cultivo, exige atenção em todos os aspectos agronômicos.
O plantio dessa variedade é mais simples, o crescimento é rápido, não apresenta muitos parasitas e é mais resistente às pragas o que reduz o custo de produção.
Regiões produtoras no Brasil
Os estados produtores do café canephora mais importantes do país são Espírito Santo, Rondônia e Bahia, os quais produzem as duas variedades: robusta e conilon.
O conilon é tipicamente cultivado no Espírito Santo (região Sudeste) e na Bahia (região Nordeste), enquanto o Robusta é produzido em Rondônia (região Norte) (Figura 2).
Figura 2. Principais estados produtores de canephora no Brasil (Espírito Santo, Bahia e Rondônia em cinza), com destaque para Matas de Rondônia (Robusta) na cor verde, onde a Terra Indígena “Sete de Setembro” está destacada em roxo, e “A Terra Indígena Rio Branco” está destacada em amarelo, assim como os selos de IG do Robusta Amazônico de Rondônia e do Conilon do Espírito Santo. Fonte: Baqueta et al., (2023).
O Espírito Santo, que é o maior produtor de café conilon do Brasil, é responsável por mais de 60% da produção nacional (CONAB, 2023).
Esse café é a principal fonte de renda em 80% das propriedades rurais capixabas. O Estado é referência brasileira e mundial no desenvolvimento da cafeicultura do conilon.
O maior produtor de café conilon do Espírito Santo é o município de Jaguaré, com cerca de 24 mil hectares de área plantada e a produção de 850 mil sacas de café por ano.
De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER) a produtividade média do café conilon no estado do ES é de 46 sacas ha-1.
Qual a diferença do café conilon/robusta para o café arábica?
Em relação ao aroma e a bebida ambos possuem diferenças marcantes.
O café arábica é mais complexo, encorpado, suave e, por isso, é considerado um café mais fino. Já o conilon ou robusta apresenta um forte amargor e é considerado um café mais neutro.
Visualmente é possível notar várias diferenças agronômicas entre o café conilon/robusta e o café arábica.
Enquanto o C. canephora apresenta vários caules (multicaule), o C. arabica apresenta um único caule (unicaule) (Figura 3).
Figura 3. Caule: multicaule da espécie Coffea canephora (A) e unicaule da espécie Coffea arabica (B). Foto: EMBRAPA (A) e Laís Teles (B).
Além disso, as folhas do café conilon/robusta (C. canephora) são maiores e apresentam uma coloração mais clara em comparação com as do café arábica. (Figura 4).
Figura 4. Folha: comparação entre folha de C. canephora e outras espécies. Observação: as folhas do café conilon são maiores e apresentam uma coloração mais clara em comparação com as do café arábica. Foto: World Coffee Research.
Os grãos de café, por sua vez, são menores e mais esféricos em comparação com os grãos de café arábica. (Figura 5).
Figura 5. Sementes de café de tamanhos diferentes. A – C. racemosa; B – C. canephora; C – C. arabica; D – C. liberica. A barra corresponde a 1 cm. Observação: as sementes de conilon são menores e mais esféricos em comparação com as sementes de café arábica. Fonte: Eira, et al., (2006).
Veja em outro artigo nosso um quadro comparativo exemplificando mais diferenças entre o café canephora e o café arábica.
Café conilon é mais barato? Por quê?
Normalmente sim!
Devido a sua maior rusticidade, menor exigência no cultivo e maior produtividade em comparação com o café arábica o custo de produção do café conilon/robusta é menor.
Isso faz com que esses cafés sejam mais baratos, geralmente em torno de 20% em relação ao café arábica.
Outro fator que os tornam mais baratos é a bebida que possui um sabor mais forte, amargo e com maior teor de cafeína em relação ao café arábica.
Essas características são típicas dos cafés mais tradicionais e, por isso, eles acabam sendo vistos como um café do tipo mediano.
Aliás, por conta disso o café conilon/robusta são geralmente utilizados como fonte de cafeína para a indústria de café solúvel e misturas (blends) com o café arábica, fazendo com que se tornem mais adocicados.
Conclusões
O café conilon/robusta diferem em vários aspectos agronômicos do café arábica, o mais consumido no mundo, e a bebida não é tão fina devido ao sabor mais amargo e alto teor de cafeína.
Mas esses cafés têm se destacado no mercado pela utilização em blends e cafés instantâneos. Por isso, a produção tem crescido nos últimos anos e, apesar de ter um preço menor, essas variedades têm o seu valor.
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BAQUETA, M. R.; MARINI, F.; ROCHA, R. B.; VALDERRAMA, P.; PALLONE, J. A. L. Authentication and discrimination of new Brazilian Canephora coffees with geographical indication using a miniaturized near-infrared spectrometer, Food Research International, Volume 172, 2023, 113216, ISSN 0963-9969, https://doi.org/10.1016/j.foodres.2023.113216.
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EIRA, M. T. S.; SILVA, E. A. A.; CASTRO, R.; DUSSERT, S.; WALTERS, C.; BEWLEY, J. D.; HILHORST, H. W. M. Coffee seed physiology. Brazilian Journal of Plant Physiology, 18(1):149-163, 2006.
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HERRERA, J. C.; LAMBOT, C. The Coffee Tree – Genetic Diversity and Origin. Editor: Britta Folmer, The Craft and Science of Coffee, Academic Press, 2017, p. 1-16. DOI: 10.1016/B978-0-12-803520-7.00001-3.
USDA (United States Department of Agriculture). Coffee: world markets and trade. Foreign Agricultural Service, Junho de 2023. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/coffee.pdf. Acesso em: 1 de agosto de 2023.
Sobre a autora:
Parabéns pela exposição, ficou muito bem explicado, amei, nota 10