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Café arábica: características e as 2 cultivares mais plantadas no Brasil

Entenda o que é um café arábica, quais as suas características e as diferenças com outros cafés. Saiba quais são as cultivares mais plantadas no Brasil e descubra por que esse fruto é tão apreciado.

Você sabia que café não é tudo igual? Pois é, existem vários tipos de cafés. Mas, tem um que é o preferido: o café arábica.

55% de todo o café produzido no mundo é arábica e o Brasil é o maior produtor desse fruto, responsável por 45% da produção mundial. Somos experts no cultivo e na qualidade dessa bebida.

Vem entender um pouco mais sobre o café, a bebida mais consumida no mundo depois da água.

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Origem do café arábica

Existem várias histórias sobre a descoberta do café arabica, mas a mais conhecida é a de um pastor, chamado Kaldi, que cuidava do seu rebanho nas colinas ao redor de um mosteiro, às margens do Mar Vermelho.

Ele notou que suas cabras ficavam saltitantes depois de mastigar frutos de uns arbustos que cresciam ali.

Um monge do mosteiro preparou uma bebida com aqueles frutos e deu a seus irmãos. Como resultado, eles ficavam mais alertas durante suas longas orações à noite.

Os primeiros cultivos observados pelos europeus foram ao sul da Península Arábica. Porém, evidências botânicas indicam que o café arábica é originário das regiões de altitude elevada na Etiópia, África.

O café se espalhou da Etiópia e Península Arábica para a Índia, Indonésia, Europa, América do Sul e várias outras partes do mundo (Figura 1).

Origem e disseminação do café arabica pelo mundo.

Figura 1. Origem e disseminação do café arabica pelo mundo. Círculo amarelo: origem da espécie. (1) Introdução do café arábica no Iêmen em 575 d. C. (2) Distribuição do cafeeiro para as Ilhas Reunião e levado da Índia para Java (Indonésia). (3) De Java, o café foi introduzido na Europa (1710). (4) Da Europa, o café foi levado para a América do Sul (Suriname). De lá se espalhou para outros países, inclusive o Brasil. Fonte: Ferreira et al., (2019).

O café arábica no Brasil: foi introduzido em 1727, no estado do Pará, por meio de sementes e mudas trazidas da Guiana Francesa pelo sargento-mor Francisco de Mello Palheta, as quais foram cultivadas em Belém do Pará.

Em seguida, o cultivo se expandiu pelo país e hoje a produção predomina na região Sudeste com destaque para o estado de Minas Gerais (Figura 2).

Regiões produtoras de café do Brasil.

Figura 2. Regiões produtoras de café do Brasil. Fonte: BSCA Cafés Especiais do Brasil.

O que é café arábica?

O café arábica não tem esse nome só porque seus primeiros relatos foram na Arábia (ou próximo dela). A palavra “arábica” identifica a espécie da planta que produz o café.

De acordo com a classificação botânica do cafeeiro, a planta é da família Rubiacea e do gênero Coffea que possui cerca de 100 espécies, das quais apenas algumas são comercialmente relevantes.

Essas espécies são agrupadas em quatro seções: Eucoffea, Mascarocoffea, Argocoffea e Paracoffea (Tabela 1).

A primeira – Eucoffea – é a de maior importância econômica, pois compreende as espécies que possuem cafeína e as mais cultivadas para o consumo do café, inclusive a espécie Coffea arabica.

Tabela 1. Subseções e espécies da seção Eucoffea.

SUBSEÇÕESESPÉCIES
ErythrocoffeaC. canephora
 C. arabica
 C. congensis
PachycoffeaC. abeokutae
 C. liberica
 C. klainii
 C. oyemensis
 C. dewevrei
MelanocoffeaC. stenophylla
 C. carissoi
 C. mayombensis
NanocoffeaC. humilis
 C. brevipes
 C. togoensis
MozambicoffeaC. schumanniana
 C. eugenioides
 C. kivuensis
 C. mufindiensis
 C. zanguebariae
 C. racemosa
 C. ligustroides
 C. salvatrix
Fonte: Clifford e Wilson (1985)

As espécies C. arabica e C. canephora (conhecido como robusta ou conilon) são as únicas cultivadas em larga escala nas regiões cafeeiras do mundo e representam, praticamente, 100% de todo o café comercializado.

A espécie C. arabica representa cerca de 55% na produção mundial, enquanto a espécie C. canephora representa cerca de 45% (USDA, 2023).

Características

Não é à toa que o café arábica é o mais cultivado e consumido.

Ele apresenta uma qualidade superior e uma bebida mais complexa e saborosa em relação ao robusta, cuja bebida é considerada neutra e mais utilizada para misturas (blends).

Os melhores cafés do mundo são da espécie C. arabica. Vários concursos mundiais destacam a superioridade da sua bebida e, por isso, esses cafés são considerados mais nobres e finos.

Vale destacar que o Brasil é o principal produtor de café arábica do mundo, responsável por 45% da produção mundial da espécie, seguido pela Colômbia (12%) e Etiópia (9%).

Aqui ele é cultivado em altitudes elevadas, consideradas ideais para a produção do café arábica. Além disso, nos últimos anos, os cafeicultores têm adotado inúmeras práticas com foco na qualidade do fruto/bebida.

Além da excelente bebida, existem outras características que diferem o café arábica do canephora, segundo mais produzido no mundo.

Veja na tabela 2 as principais diferenças entre o café arábica e o canephora.

Tabela 2. Principais diferenças entre Coffea arabica e Coffea canephora.

 Coffea arabicaCoffea canephora
N° cromossomos2n = 4x = 442n = 2x = 22
FecundaçãoAutopolinizada (+90% autógama)Cruzada (alógama)
PropagaçãoSexuada (semente)Assexuada (estacas)
BienalidadePresenteAusente
Temperatura ótima18 – 21 °C22 – 30 °C
Precipitação média1500-2000 mm2000-3000 mm
Umidade relativa70%85%
Altitude1000-2000 m0-700 m
Densidade plantioAltaBaixa
Formato do grãoOval / maiorArredondado / menor
Nível de cafeína1,7%3,4% (2x mais)
Teor de açúcar8%4%
Óleos essenciais15 – 17%10 – 12%
Sabor e aromaComplexo, doce e suaveConstante, amargo e marcante
Acidez e corpoMaior acidezCorpo intenso
LavouraExige mais cuidadosMais rústica e resistente
Produtividade média26 sacas ha-143 sacas ha-1
Custo de produçãoAltoBaixo
PreçoAltoBaixo
Fonte: Campuzano-Duque et al. (2021), adaptado.

O que é um café 100% arábica?

Quando você vir a informação “100% arábica” em uma embalagem de café significa que não há mistura com café robusta e que aquele produto é apenas da espécie arábica.

Você também já deve ter ouvido falar sobre cafés especiais.

Esses cafés se destacam por suas características sensoriais, apresentam notas acima de 80 pontos na escala de pontuação SCA (Specialty Coffee Association) e são 100% grãos de café arábica.

Diferença entre Variedade X Cultivar X Híbrido

Agora que você já sabe o que é um café arábica, deve estar se perguntando: “O que é uma variedade, cultivar ou um híbrido de café arábica?

Bom, cada espécie pode possuir diversas variedades, cultivares e/ou híbridos que são populações de plantas da mesma espécie, mas que apresentam algumas características diferentes entre si.

De maneira geral, a diferença entre essas classificações está bastante relacionada com o nível de características diferentes e como essas diferenças foram obtidas. Veja a seguir:

Variedade: é um posto na hierarquia taxonômica abaixo de espécie e subespécie e acima de forma (forma/variedade/subespécie/espécie/gênero/etc.).

Normalmente uma variedade retém a maioria das características da espécie, mas difere em alguns aspectos sutis. Apresenta uma aparência distinta de outras variedades, mas pode cruzar livremente com elas.

Cultivar: variedade produzida por técnicas de cultivo e não encontrada em populações naturais. O nome é uma junção das primeiras letras de ‘cultivated variety’. Podem ser selecionados a partir de cultivos existentes ou de populações selvagens.

É um grupo sistemático de plantas cultivadas, uniformes e estáveis em suas características. A maioria das variedades que conhecemos em café arábica são cultivares. Exemplo: Bourbon e Typica.

Híbrido: são criados por cruzamentos entre duas espécies, variedades, cultivares ou linhagens. Os híbridos podem ocorrer por reprodução natural ou seletiva. Exemplo: Catuaí (Mundo Novo x Caturra).

Para entender melhor, veja o diagrama abaixo que representa as relações entre as espécies, variedades e cultivares de café mais comuns.

Relações entre as espécies, variedades e cultivares de café mais comuns

Figura 3. Relações entre as espécies, variedades e cultivares de café mais comuns. Linhas e setas ligando grupos de plantas indicam o parentesco. As setas em direção às mutações representam as cultivares que resultaram de uma mudança genética espontânea no cultivo. As setas em direção às seleções indicam uma seleção feita por humanos que resultou em uma variedade ou cultivar diferenciada. No caso de C. arabica, houve um cruzamento híbrido natural que ocorreu na natureza. Fonte: Specialty Coffee Association.

As 2 Variedades de café arábica mais plantadas no Brasil

No Brasil, as duas cultivares de café arábica mais plantadas são Mundo Novo e Catuaí.

1- Mundo Novo – características:

cultivar mundo novo café arábica

Figura 4. Cultivar Mundo Novo. Foto: Laís Teles

Porte: alto

Cor do fruto: vermelho

Cor do broto: bronze ou verde

Vigor: alto

Maturação: precoce

Peneira: alta

Sensorial (geral): sabor doce e marcante, corpo médio, acidez média, notas de caramelo e chocolate.

2 – Catuaí – características:

cultivar catuaí - café arábica

Figura 5. Cultivar Catuaí amarelo. Foto: Laís Teles

Porte: baixo

Cor do fruto: vermelho ou amarelo

Cor do broto: verde

Vigor: alto

Maturação: intermediária

Peneira: média

Sensorial (geral): sabor suave e adocicado, pouco encorpado, acidez média, notas de caramelo e banana.

Apesar de as cultivares Mundo Novo e Catuaí serem as mais cultivadas no Brasil, vários outros materiais têm sido plantados pelos cafeicultores nos últimos anos.

Veja a seguir uma lista com outras cultivares:

cultivares de café arábica

Conclusões 

O café arábica tem uma importância significativa no mercado do café. Sua bebida é apreciada em todo o mundo devido a alta qualidade e sabor.

Essa espécie do gênero Coffea possui inúmeras variedades, cultivares e híbridos e o Brasil é o maior produtor do fruto, onde predominam lavouras das cultivares Mundo Novo e Catuaí.

Venha aprender mais conosco!

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Referências 

CAMPUZANO-DUQUE, L. F.; HERRERA, J. C.; GED, C.; BLAIR, M. W. Bases for the establishment of robusta coffee (Coffea canephora) as a new crop for Colombia. Agronomy, v. 11, 2021. DOI: 10.3390/agronomy11122550.

CLIFFORD, M. N.; WILLSON, K. C. Coffee: botany, biochemistry and production of beans and beverage. 1. ed. New York: Croom Helm in association with Methuen, Inc, 1985.

FERREIRA T.; SHULER J.; GUIMARÃES R. E FARAH, A. Introduction to Coffee Plant and Genetics. In: FARAH, A. Coffee: Production, Quality and Chemistry. 1. Ed. London: Royal Society of Chemistry, 2019, p. 3-25.

USDA (United States Department of Agriculture). Coffee: world markets and trade. Foreign Agricultural Service. Junho de 2023. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/coffee.pdf. Acesso em: 13 de julho de 2023.

Sobre a autora:

Este post tem 6 comentários

  1. Dimas de Almeida Borges

    Parabéns pelo artigo cheio de informações

    1. Beatriz Nastaro

      Obrigada Dimas!
      Continue nos acompanhando que traremos novos artigos sobre a cultura do café!

  2. Walter Adão

    Gostei muito do artigo. Sou pesquisador melhorista aposentado.
    É muito importante se conhecer e relembrar a origem do café que graças ao melhoramento genético e dedicação de pesquisadores a cultura se tornou viável técnica e economicamente. Basta saber escolher e utilizá-las, tecnicamente falando.

    1. Beatriz Nastaro

      Prezado Dr. Walter, agradecemos a sua apreciação e expressamos a nossa gratidão pela sua contribuição como pesquisador melhorista da EPAMIG, assim como a de outros pesquisadores melhoristas de todo o país, pelo excelente trabalho no melhoramento do café. É graças a dedicação e esforço de profissionais como você que a cultura do café tem avançado significativamente. Esperamos continuar compartilhando conhecimento e valorizando essa importante cultura.

  3. Antonio Carlos Coutinho

    Boa tarde!! Gostei muito da matéria muita valiosa parabéns!!

  4. Ivan Domingues

    Sensacional

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