Percevejos da soja: como identificar e controlar as 4 principais espécies

Sumário

Saiba como identificar e controlar as 4 principais espécies de percevejos da soja, e quais são os danos e as medidas de manejo para cada uma delas.

Os insetos sugadores incluem as espécies de percevejos como Nezara viridula (percevejo-verde), Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno), Diceraeus spp. (percevejo-barriga-verde) e Euschistus heros (percevejo-marrom).

Esses insetos causam danos significativos na cultura da soja, desde o estádio vegetativo até o final do estádio reprodutivo.

Mas e aí? Você sabe como identificar as espécies de percevejo e como controlá-las? Vamos aprender!

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O que são percevejos?

Os percevejos são insetos de pequeno porte que possuem o aparelho bucal do tipo sugador labial tetraqueta (que permite perfurar a planta e sugar a sua seiva) e o primeiro par de asas características do tipo hemiélitro, tendo a parte basal mais rígida e a parte apical membranosa.

Há muitas famílias e espécies dentro da subordemHeteroptera, que apresentam diferentes modos de alimentação, podendo ser predadores, hematófagos, zoofitófagos ou fitófagos.

Os predadores se nutrem de outros insetos. Os hematófagos se nutrem de sangue. Os zoofitófagos são carnívoros, mas complementam a sua dieta com pólen, néctar e seiva de plantas.

Os percevejos fitófagos são os que prejudicam as culturas agrícolas, pois se nutrem de várias partes das plantas. As famílias de percevejos mais relevantes na agricultura incluem:

Família Pentatomidae: É a principal família das espécies consideradas importantes pragas agrícolas, conhecidos como sugadores de grãos. As espécies mais importantes desta são:  percevejo-verde, percevejo-verde-pequeno, percevejo-marrom, percevejo barriga-verde e percevejo da soja.

Família Cydnidae: são polífagos e sugadores de raízes de difícil controle, principalmente em lavouras com sistema de plantio direto. A espécie mais importante é: percevejo-castanho-da-raiz.

Família Alydidae: também são sugadores de grãos. Um exemplo dessa família é o percevejo-formigão.

Quais são os principais percevejos da soja?

Percevejo-marrom (Euschistus heros)

É a espécie mais comum e mais danosa à soja, pois se alimenta dos ramos, hastes e vagens em formação.

Essa espécie pode causar o abortamento de vagens e grãos, a diminuição do tamanho, massa e teor de óleo dos grãos, a redução do potencial de germinação e vigor das sementes, o aumento da percentagem de proteínas e ácidos graxos livres nas sementes e a transmissão de fungos que causam a doença conhecida como “soja louca”.

Estima-se que um percevejo por metro quadrado pode causar uma perda de 56 kg de grãos por hectare em um período de 35 dias.

Percevejo-verde (Nezara viridula)

É uma espécie polífaga, que se alimenta de diversas culturas, além da soja.

Essa espécie pode causar o aborto das sementes quando o ataque ocorre nas fases iniciais de formação, a redução do vigor e do potencial germinativo das sementes, a liberação de toxinas que provocam a redução drástica da massa dos grãos, deformando as sementes, e a facilitação da contaminação da soja por fungos e bactérias.

O impacto dos danos causados pelo percevejo-verde na soja é menor do que o do percevejo-marrom, mas ainda assim é significativo.

Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii)

É uma espécie que se adapta bem às condições climáticas do Brasil, sendo mais frequente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

A espécie se alimenta principalmente das vagens da soja, ocorrendo ocasionalmente no estádio reprodutivo (R5). Esse percevejo pode causar danos similares aos do percevejo-verde, mas com maior intensidade, pois tem um poder maior de penetração nas vagens.

Essa praga pode danificar até aproximadamente 73,5 kg de soja por hectare, com um percevejo por metro quadrado em um período de 35 dias. Ele é responsável por transmitir patógenos e provocar problemas fisiológicos, como a retenção foliar.

Percevejo-barriga-verde (Diceraeus spp)

É uma espécie que tem ganhado importância na soja com o aumento da safrinha de milho, pois se alimenta tanto da soja quanto do milho.

Ele pode causar danos menores do que as outras espécies na soja, mas ainda assim relevantes. Porém, é indicado realizar o manejo dessa espécie a fim de evitar a explosão populacional na cultura seguinte (que geralmente é o milho).

Este percevejo pode causar o abortamento de grãos, a redução da massa e do teor de óleo e o aumento da umidade, o que favorece o ataque de insetos secundários. Este inseto causa também a perfuração do colo das plântulas do milho, causando murchamento e morte das plantas.

Principais percevejos da soja
Figura 1. Principais percevejos na cultura da soja: ovos, ninfas e adultos. Fonte: Adaptado de Syngenta; AgroLink (2023).

Principais danos causados por percevejos na soja

Como vimos anteriormente, os percevejos da soja são pragas que se alimentam da seiva das plantas, causando diversos prejuízos à cultura.

Durante a fase reprodutiva inicial (R3) é onde ocorre a diminuição da produtividade e da qualidade das sementes de soja devido à ação dessas pragas.

No estágio R5, que marca o início do enchimento de grãos, ocorre o período crítico, no qual a população de percevejos aumenta, atingindo sua maior densidade populacional no estágio R6, que corresponde ao final do enchimento de grãos.

Os danos podem ser diretos ou indiretos, dependendo do estádio de desenvolvimento da soja e da espécie de percevejo.

Os danos diretos são aqueles que afetam o rendimento e a qualidade dos grãos, como:

  • Abortamento de vagens e grãos;
  • Diminuição do tamanho, da massa e do teor de óleo dos grãos;
  • Redução do potencial de germinação e vigor das sementes;
  • Aumento da percentagem de proteínas e ácidos graxos livres nas sementes.

Os danos indiretos são aqueles que facilitam a entrada de patógenos ou provocam problemas fisiológicos nas plantas, como:

  • Transmissão de fungos que causam a doença conhecida como “soja louca”;
  • Retenção foliar no final do ciclo, dificultando a colheita;
  • Aumento da umidade dos grãos, favorecendo o ataque de insetos secundários.

Os danos causados pelos percevejos na soja podem variar de acordo com a espécie, o período e a intensidade do ataque.

Além disso, alguns percevejos, como o verde-pequeno, têm um poder maior de penetração nas vagens e podem causar mais danos do que outros.

Para evitar esses prejuízos, é necessário realizar um manejo integrado dos percevejos na soja, que envolve medidas preventivas, culturais, biológicas e químicas. Veremos cada uma desses pontos à frente.

O monitoramento constante das áreas infestadas é fundamental para determinar o momento e a forma de controle mais adequados para cada situação. Em caso de dúvidas, contate sempre um Engenheiro Agrônomo!

Impactos causados por ninfas de percevejos da soja

As ninfas de percevejos são as formas imaturas desses insetos, que se desenvolvem em cinco ínstares até atingirem a fase adulta. As ninfas são parecidas com os insetos adultos, porém não apresentam asas e não se reproduzem durante a fase imatura.

ciclo do percevejo-marrom
Figura 2. Ciclo de vida do percevejo-marrom. Fonte: Promip (2023).

As ninfas se alimentam da seiva das plantas, assim como os adultos, mas causam mais danos à cultura da soja, pois têm maior capacidade de penetração nas vagens e nos grãos.

As ninfas e ovos de percevejos são mais difíceis de serem controlados pelos inseticidas, pois apresentam maior mobilidade e resistência.

Os ovos de percevejos apresentam uma diversidade de coloração e são depositados principalmente nas folhas e vagens da soja. Eles podem ser encontrados em grupos ou isolados, dependendo da espécie. Geralmente as posturas se assemelham a pequenos losangos, parecendo uma colmeia e são fortemente fixados às folhas.

O tempo de incubação dos ovos variam de 7 a 15 dias, conforme a temperatura e a umidade. As ninfas de percevejos têm coloração variada, conforme a espécie e o estádio de desenvolvimento e podem não remeter a coloração do inseto adulto.

Como vimos anteriormente, as ninfas se alimentam das vagens e dos grãos da soja desde o primeiro até o quinto ínstar.

As ninfas causam abortamento, redução do tamanho, do peso e do teor de óleo dos grãos, diminuição do potencial germinativo e do vigor das sementes, aumento da percentagem de proteínas e ácidos graxos livres nas sementes.

Estima-se que as ninfas sejam responsáveis por cerca de 70% dos danos causados pelos percevejos na soja.

Em caso de dúvidas, contate sempre um Engenheiro Agrônomo!

Manejo dos percevejos na soja

Para evitar esses prejuízos na lavoura, o produtor deve adotar diversas formas de manejo, veja alguns exemplos abaixo:

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) consiste no uso racional e combinado de diferentes métodos de controle, visando reduzir as populações de percevejos a níveis abaixo dos quais causem danos econômicos.

O MIP envolve medidas preventivas, culturais, biológicas e químicas, sendo que o controle químico é o mais utilizado pelos agricultores.

O uso de armadilhas é outra forma de monitorar e controlar os percevejos na soja. As armadilhas podem ser luminosas ou adesivas, e têm como objetivo atrair e capturar os insetos.

As armadilhas luminosas são instaladas nas bordaduras ou no interior da lavoura, e emitem uma luz que atrai os percevejos noturnos. As armadilhas adesivas são placas ou fitas cobertas por uma substância pegajosa (cola entomológica), que podem ser coloridas ou não, e que prendem os insetos que entram em contato com elas.

O nível de controle (NC) depende da espécie e do estágio de desenvolvimento do percevejo, bem como da fase fenológica da soja.

O NC é determinado a partir do monitoramento das infestações, que consiste na amostragem periódica dos percevejos nas lavouras, utilizando-se o pano de batida como método padrão.

A partir da contagem dos insetos no pano, é possível calcular a densidade populacional de percevejos por metro quadrado e compará-la com o NC.

Se a densidade for igual ou superior ao NC, recomenda-se a aplicação de inseticidas para o controle dos percevejos. O nível de controle é diferente quando a cultura se destina à produção de grãos ou de semente:

Nível de controle de percevejos na soja.
Nível de controle de percevejos na soja. Fonte: Roggia et al. (2020).

Como vimos, o período crítico de infestação dos percevejos na soja ocorre entre os estádios R3 (início da formação das vagens) e R7 (maturação fisiológica) da cultura.

Nesse intervalo, recomenda-se que o produtor realize o monitoramento semanal dos percevejos e aplique o controle químico sempre que a densidade populacional atingir ou ultrapassar o NC de cada espécie.

Dessa forma, é possível reduzir os danos causados pelos percevejos na soja e garantir uma produção sustentável e rentável.

A rotação de culturas é um dos princípios básicos para o sucesso do sistema de plantio direto (SPD), e consiste na alternância ordenada de diferentes culturas num espaço de tempo e na mesma área.

A rotação de culturas tem vários benefícios para o manejo dos percevejos na soja, ocasionando:

  • aumento do teor de matéria orgânica do solo;
  • melhoria e manutenção da fertilidade do solo;
  • estruturação e descompactação do solo;
  • e estabilização da produtividade das espécies vegetais cultivadas.

É importante rotacionar com culturas que não são hospedeiras alternativas dos percevejos que atacam a cultura da soja

O manejo das épocas de semeadura é uma estratégia que visa ajustar o ciclo da cultura da soja ao período mais favorável ao seu desenvolvimento, evitando a coincidência com as fases críticas de infestação dos percevejos, chamado de explosão populacional dos insetos.

O manejo das épocas de semeadura pode ser feito de forma escalonada ou antecipada, dependendo das condições climáticas e do histórico de infestação da área.

O escalonamento consiste em semear a soja em diferentes datas, criando um mosaico temporal que dificulta a dispersão dos percevejos entre as lavouras.

A antecipação consiste em semear a soja mais cedo, aproveitando a menor pressão dos percevejos no início da safra.

O controle químico do percevejo deve ser baseado na utilização de inseticidas registrados para a cultura, respeitando as doses, os intervalos de aplicação e as épocas recomendadas.

O momento ideal para a aplicação dos inseticidas é determinado pelo monitoramento das infestações, que consiste na amostragem periódica dos percevejos nas lavouras, utilizando-se o pano de batida como método padrão.

Existem vários inseticidas disponíveis no mercado para o controle do percevejo na soja, com diferentes modos e mecanismos de ação.

Alguns exemplos são:

  • Acetamiprido + Fenpropatrina (Bold – Ihara)
  • Imidacloprido + Beta-ciflutrina (Connect – Bayer)
  • Tiametoxam + Ciproconazol (Verdadero – Syngenta)

Cada produto tem suas vantagens e desvantagens, como eficiência, seletividade aos inimigos naturais, residual no campo, custo-benefício, resistência dos insetos, entre outros.

Por isso, é importante que o produtor consulte um Engenheiro Agrônomo para escolher o produto mais adequado para cada situação.

Além disso, deve-se integrar o controle químico com outras formas de manejo, como:

  • o uso de cultivares resistentes ou tolerantes aos percevejos,
  • a rotação ou sucessão de culturas,
  • a eliminação de plantas hospedeiras alternativas dos percevejos,
  • a conservação ou introdução de inimigos naturais dos percevejos (parasitoides e predadores),
  • o uso de armadilhas luminosas ou adesivas para captura dos percevejos,
  • entre outras.

Dessa forma, é possível reduzir os danos causados pelos percevejos na soja, preservar o meio ambiente, a saúde humana e garantir uma produção sustentável e rentável.

Conclusão

Os percevejos são insetos que se alimentam de diferentes fontes. Os que se nutrem de plantas podem prejudicar culturas de valor econômico como soja e milho.

O monitoramento da sua lavoura é fundamental para evitar infestações. Fique a atento a anamnese da sua área. Em caso de dúvidas, contate um Engenheiro Agrônomo.

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Referências

PANIZZI, A. R.; CORRÊA-FERREIRA, B. S. (Ed.). Percevejos no sistema de produção soja-milho. Londrina: Embrapa Soja, 2015. 248 p.

CORREA-FERREIRA, BEATRIZ S.; PANIZZI, ANTÔNIO R. Percevejos da soja e seu manejo. 1999.

PERCEVEJO barriga-verde: uma praga secundária na soja e principal na cultura do milho. Revista Cultivar, v. 22, n. 258, p. 34-35, 2020.

PANIZZI, A. R.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; HOFFMANN-CAMPO, et al. Manejo de percevejos nas culturas de soja e milho: documento online / editores técnicos Antônio Ricardo Panizzi … [et al.] . – Londrina: Embrapa Soja, 2015. 1 recurso online (248 p.): il. color. (Documentos / Embrapa Soja, ISSN 1516-781X; 367)

Sobre o autor:

Alasse Oliveira

Alasse Oliveira da Silva

Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)

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