Você está visualizando atualmente Mofo branco e amarelecimento de Fusarium no feijão: como manejar?

Mofo branco e amarelecimento de Fusarium no feijão: como manejar?

O mofo branco e o amarelecimento do feijoeiro são doenças de difícil controle, pois seus agentes causais formam estruturas especializadas de sobrevivência, que resistem no solo por longos períodos. Fusarium

Mofo branco no feijão

Causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, esta doença leva a perdas de produção expressivas, quantificadas em 12 a 23 kg/ha a cada 1% de incidência da doença em condições de sequeiro (DEL RÍO; VENETTE; LAMEY, 2004).

Em cultivos irrigados, a doença pode ser um problema ainda mais sério, já que a umidade é favorável ao patógeno (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005).

micélio de mofo branco no feijão
Figura 1. Micélio de Sclerotinia sclerotiorum em feijoeiro. Fonte: Gerald Holmes.

O S. sclerotiorum pode afetar todos os órgãos aéreos da planta e causa lesões aquosas, que aumentam de tamanho rapidamente e se tornam amareladas e depois marrons; sob condições de alta umidade, é comum o crescimento do micélio branco cotonoso do fungo sobre o tecido doente (Figuras 1 e 2) (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005).

A partir do micélio o fungo produz estruturas de resistência chamadas escleródios (Figura 2), que sobrevivem no solo e em restos culturais (Figura 3).

micélio e escleródio do mofo branco ( Sclerotinia sclerotiorum) em feijoeiro
Figura 2. Micélio e escleródio de Sclerotinia sclerotiorum em feijoeiro. Fonte: Howard, F. Schwartz.

Os escleródios podem permanecer viáveis no solo e em restos culturais por um longo período e atuar como inóculo primário iniciando a infecção na mesma área em que foram produzidos, em outra época de cultivo, ou serem dispersados e iniciarem a doença em outras áreas, quando são carregados junto com as sementes ou pela movimentação de solo por máquinas.

Quando os escleródios germinam, podem produzir micélio (germinação miceliogênica) ou um corpo de frutificação chamado apotécio (germinação carpogênica) (BRUSTOLIN; REIS; PEDRON, 2016), onde são produzidos ascósporos, que são os responsáveis pelas epidemias da doença (GORGËN et al., 2008).

Temperaturas entre 11 e 20o C e a presença de umidade no solo favorecem a formação de apotécios, que permanecem produzindo ascósporos por até 10 dias (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005). Os ascósporos são ejetados e disseminados pelo vento, estabelecendo novas infecções em plantas suscetíveis. 

Figura 3. Escleródio de Sclerotinia sclerotiorum em restos culturais de feijoeiro. Fonte: Gerald Holmes.

Como manejar o mofo branco no feijoeiro?

Este fungo pode ser veiculado por sementes na forma de micélio dormente dentro das sementes ou como escleródios, acompanhando-as em um lote contaminado (TU, 1988), e por isso a primeira estratégia para evitar perdas devido ao mofo branco no feijoeiro é a aquisição de sementes sadias.

Sempre que houver dúvidas quanto à qualidade sanitária das sementes, deve-se enviá-las para a análise em um laboratório de patologia de sementes.

Outra medida importante para que o patógeno não seja introduzido ou não tenha sua população aumentada na área de cultivo é evitar ao máximo o tráfego de pessoas, máquinas e implementos vindos de campos infestados (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005).

O tratamento de sementes com fungicidas também é uma medida importante para impedir ou retardar a disseminação do fungo no campo de cultivo (GOULART, 2017).

Em áreas em que a doença já ocorre deve-se realizar a rotação ou ao menos a sucessão de culturas com gramíneas, que não são hospedeiras do fungo. A sucessão do feijoeiro por culturas como a soja ou o algodoeiro é contraindicada, já que elas também são parasitadas por S. sclerotiorum.

Uma ótima estratégia para reduzir o inóculo inicial em áreas altamente infestadas e evitar perdas de produção é a semeadura de Urochloa ruziziensis como cultura de cobertura junto com a aplicação de Trichoderma spp. (GORGËN et al., 2008), como já explicado no texto sobre o manejo do mofo branco do algodoeiro.

A nutrição equilibrada, principalmente em Nitrogênio, ajuda a evitar o crescimento excessivo da planta, evitando assim a formação de um microclima de maior umidade que favoreceria o patógeno (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005).

A preferência por cultivares com hábito de crescimento determinado e porte mais ereto, ou ainda, a adoção de um maior espaçamento entre plantas, também ajuda a evitar a formação deste microclima (LIMA, 2015). É por este mesmo motivo que em áreas irrigadas deve-se evitar a irrigação em excesso (LOBO JUNIOR et al., 2018).

No feijoeiro irrigado em área altamente infestada pelo patógeno, pode-se provocar o estresse hídrico na fase vegetativa da cultura reduzindo a lâmina de irrigação, buscando reduzir a severidade da doença (LOBO JUNIOR et al., 2018).

Deste modo, o desenvolvimento mais lento da cultura promove maior aeração entre as plantas, podendo ajudar a retardar o início da epidemia e a reduzir as perdas.

A aplicação de fungicidas em parte aérea também é parte do manejo desta doença e teve alta eficácia relatada utilizando duas pulverizações, uma no início do florescimento e outra na fase de florescimento pleno, utilizando boscalida (540 g/ha de ingrediente ativo, i.a.), fuazinam (300 g/ha i.a.), tiofanato-metílico (1210 g/ha i.a.) e fluopirame em associação com protioconazol (300 g/ha i.a.) (MCCREARY et al., 2016).

Amarelecimento de Fusarium

O amarelecimento ou murcha do feijoeiro é causado por Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli, que sobrevive no solo e em restos culturais, na forma de estruturas especializadas de resistência chamadas clamidósporos (HENRIQUE, 2012).

A doença ocorre inicialmente em reboleiras (Figura 4), podendo chegar a atingir toda a área depois de alguns anos de cultivo (FERNANDES; PRIA; SILVA, 2018). 

Figura 4. Sintomas do amarelecimento de Fusarium em reboleiras em lavoura de feijoeiro. Fonte: Howard F. Schwartz.

O patógeno infecta a planta invadindo-a pela raiz, por meio de ferimentos ou aberturas naturais, e coloniza os vasos do xilema, provocando o amarelecimento a partir das folhas mais velhas, menor desenvolvimento e morte prematura; os vasos ficam descoloridos ou pardo-avermelhados (Figura 5), podendo ser observada a murcha da planta (Figura 6) (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005).

Em condições de alta severidade da doença, a planta seca e morre e estruturas do patógeno de coloração rosada (micélio e conídios) podem se desenvolver sobre o caule (FERNANDES; PRIA; SILVA, 2018).

Condições de temperatura e umidade elevadas são favoráveis à doença (PEREIRA; RAMALHO; ABREU, 2011), assim como a presença de nematoides, que provocam ferimentos nas raízes das plantas, facilitando a infecção pelo fungo (FERNANDES; PRIA; SILVA, 2018).

caule de feijão infestado por Fusarium
Figura 5. Planta de feijoeiro colonizada por Fusarium. oxysporum f. sp. phaseoli. Fonte: Howard F. Schwartz.

Como manejar o amarelecimento de Fusarium no feijoeiro?

O uso de sementes livres do patógeno e evitar o tráfego de pessoas e maquinário que estiveram em áreas infestadas também são importantes para evitar a introdução deste patógeno na área de cultivo. Mesmo em áreas em que a doença já ocorre, estas medidas ajudam a não introduzir novas raças do patógeno e a não aumentar ainda mais a população de raças já existentes.

O tratamento de sementes com fungicidas para erradicar esporos do patógeno que estejam aderidos na superfície das sementes e para proteger o desenvolvimento inicial da plântula (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005).

O inóculo produzido na planta doente acaba ficando em seu interior e não é um grande problema na safra vigente, mas como é liberado no solo após a morte da planta e permanece viável na forma de clamidósporos, leva do desenvolvimento de epidemias nos ciclos de cultivo futuros. A pulverização de fungicidas em parte aérea não ajuda no manejo da doença.

O manejo de fitonematoides pode ajudar a reduzir a incidência da doença, pois reduz a ocorrência de ferimentos nas raízes. O uso de cultivares de feijoeiro resistentes ao amarelecimento, junto à rotação (ou pelo menos a sucessão) com culturas não hospedeiras, como o milho e o sorgo, também são fundamentais no manejo da doença (BIANCHINI; MARINGONI; CARNEIRO, 2005) e indispensáveis em áreas altamente infestadas.

—–

Ouça nosso PodCast om o Professor Antonio Fancelli sobre os Gargalos e Soluções na cultura do feijoeiro:

Baixe agora mesmo a nossa planilha gratuita de adubação do feijoeiro.

Referências

BIANCHINI, A.; MARINGONI, A. C.; CARNEIRO, S. M. T. P. G.  Doenças do feijoeiro. In: KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J. A. M; FILHO, A. B.; CAMARGO, L. E. A. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Ceres, 2005. cap. 55, p. 477-488.

BRUSTOLIN, R.; REIS, E. M.; PEDRON, L. Longevidade de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum na superfície do solo no campo. Summa Phytopathologica, v. 42, n. 2, p. 172–174, 2016.

DEL RÍO, L. E.; VENETTE, J. R.; LAMEY, H. A. Impact of white mold incidence on dry bean yield under nonirrigated conditions. Plant Disease, v. 88, n. 12, p. 1352–1356, 2004.

FERNANDES; E. C.; PRIA ;M. D.; SILVA, O. C. Podridões-Radiculares e Murcha-de-Fusarium. In: PRIA, M. D.; SILVA, O. C. Cultura do Feijão: Doenças e Controle. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2018, cap.7, p.107-116.

GOULART, A. C. P. Progressos no tratamento de sementes para o manejo e controle do mofo-branco em soja, algodão e feijão. In: FILHO, S. S. J.; HENNEBERG, L.; GRABICOSKI, E. M. G. Ponta Grossa: Toda Palavra, 2017. cap.21, p.237-242.

GORGËN, C. A.; CIVARDI, E., PERRETO, E. et al. Controle de Sclerotinia sclerotiorum com o manejo de Brachiaria ruziziensis e aplicação deTrichoderma harzianum. Planaltina: Embrapa Cerrados, 2008. 4p. (Circular Técnica, 81). Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPAF-2009-09/28171/1/circ_81.pdf> Acesso em 28/03/2021.

HENRIQUE, F. H. Melhoramento do feijoeiro para resistência ao Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli: identificação de raças e introgressão de resistência. 2012. Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) – Instituto Agronômico, Campinas, 2012.

HOLMES, G. Escleródio de Sclerotinia sclerotiorum em restos culturais de feijoeiro (Imagem). Strawberry Center, Cal Poly San Luis Obispo, Bugwood.org. Disponível em: <https://www.forestryimages.org/browse/detail.cfm?imgnum=5606932#> Acesso em 11/06/2021.

HOLMES, G. Micélio de Sclerotinia sclerotiorum em planta de feijoeiro (Imagem). Strawberry Center, Cal Poly San Luis Obispo, Bugwood.org. Disponível em: <https://www.forestryimages.org/browse/detail.cfm?imgnum=5606630> Acesso em 11/06/2021.

LIMA, R. C. Manejo integrado do mofo-branco do feijoeiro. 2015. Universidade Federal de Viçosa, 2015.

LOBO JUNIOR, M.; PAULA JUNIOR, T. J.; SILVEIRA, P. M.;  NAPOLEÃO, R. L. Efeitos da Irrigação sobre as Doenças. In: PRIA, M. D.; SILVA, O. C. Cultura do Feijão: Doenças e Controle. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2018, cap.2, p.195-211.

MCCREARY, C. M. et al. Fungicide efficacy of dry bean white mold [Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, causal organism] and economic analysis at moderate to high disease pressure. Crop Protection, v. 82, p. 75–81, 2016. Disponível em: <https://dx.doi.org/10.1016/j.cropro.2015.12.020>.

PEREIRA, M. J. Z.; RAMALHO, M. A. P.; ABREU, Â. de F. B. Reaction of common bean lines to Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli in controlled conditions. Ciencia e Agrotecnologia, v. 35, n. 5, p. 940–947, 2011.

SCHWARTZ, H. F. Sintomas de amarelecimento de Fusarium em lavoura de feijoeiro (Imagem). Colorado State University, Bugwood.org. Disponível em: <https://www.forestryimages.org/browse/detail.cfm?imgnum=5361414#> Acesso em 11/06/2021.

SCHWARTZ, H. F. Planta de feijoeiro colonizada por F. oxysporum f. sp. phaseoli (Imagem).  Colorado State University, Bugwood.org. Disponível em: <https://www.forestryimages.org/browse/detail.cfm?imgnum=5361417#> Acesso em 11/06/2021.

SCHWARTZ, H. F. Plantas de feijoeiro com sintomas de murcha causada por F. oxysporum f. sp. phaseoli (Imagem).  Colorado State University, Bugwood.org. Disponível em: < https://www.forestryimages.org/browse/detail.cfm?imgnum=5365366#> Acesso em 11/06/2021.

SCHWARTZ, H. F. Sintomas de mofo-branco em feijoeiro (Imagem). Colorado State University, Bugwood.org. Disponível em: <https://www.forestryimages.org/browse/detail.cfm?imgnum=5361385#> Acesso em 11/06/2021.

TU, J. C. The Role of White Mold-Infected White Bean (Phaseolus vulgaris L.) Seeds in the Dissemination of Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary. Journal of Phytopathology, v. 121, n. 1, p. 40–50, 1988. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1439-0434.1988.tb00951.x>.

Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.

Sobre a autora:

Ísis Tikami

Engenheira Agrônoma (ESALQ/USP)

Deixe um comentário

Não perca nenhuma novidade do agronegócio!

Fique por dentro das últimas tendências do agronegócio com a newsletter da Agroadvance. É gratuito e você ainda receba notícias, informações, artigos exclusivos, e-books e muito mais.