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Foto: Revista Campos&Negócios

Sphenophorus levis: estratégias de controle para o bicudo da cana-de-açúcar

Este artigo destaca a importância do  Sphenophorus levis, também conhecido como bicudo da cana-de-açúcar, causador de danos significativos no canavial. Veja as características, hábitos, ciclo de vida, fatores de risco e condições para infestação da praga, além dos sintomas nos canaviais atacados e métodos de diagnóstico no campo.


O bicudo da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae) é uma praga primária comum na cultura da cana-de-açúcar e amplamente distribuída nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná, sendo uma das pragas de solo mais importantes e prejudiciais da cultura.

Identificado pela primeira vez em 1978 em canaviais de São Paulo, sua importância se acentuou com a proibição das queimadas na colheita, que antes ajudavam a controlar pragas de solo.

Suas larvas atacam os rizomas das plantas, levando à morte das touceiras em infestações severas, o que resulta em uma drástica redução na longevidade e produtividade do canavial, muitas vezes exigindo reforma.

As perdas são extremamente altas, atingindo entre 80% e 90% da produção, o que representa cerca de R$ 2 bilhões em prejuízos anuais. Segundo o levantamento da BIP (Business Intelligence Panel) da Spark Consultoria Estratégica, a infestação do Sphenophorus levis já ultrapassa 2 milhões de hectares no Centro-Sul do país.

Neste artigo, abordaremos o bicudo da cana-de-açúcar, destacando sua importância como praga na cultura. Discutiremos seus danos, características, ciclo de vida, fatores de risco para infestação, sintomas nas plantas, métodos de diagnóstico no campo e controle.

Boa leitura!

Importância do bicudo da cana

O gênero Sphenophorus é encontrado globalmente, incluindo várias espécies que danificam culturas de gramíneas. No Brasil, 14 espécies foram descritas, incluindo Sphenophorus levis (Figura 1), identificado em 1978. Sua importância como praga da cana-de-açúcar foi reconhecida em 1977, com danos graves detectados em várias regiões do estado de São Paulo desde então.

bicudo da cana-de-açúcar
Figura 1. Bicudo da cana-de-açúcar. Fonte: (Socicana, 2023).

Nos últimos anos, o aumento do uso do sistema de colheita da cana crua tem levado a explosões populacionais do bicudo da cana, pois o controle pelo fogo era essencial para reduzir sua população. A praga também se beneficia da palha como abrigo.

Controlar o bicudo da cana-de-açúcar é um desafio, uma vez que as suas larvas ficam protegidas no rizoma na planta, permanecendo no canavial após o corte dos colmos.

Sua disseminação ocorre principalmente através de mudas não monitoradas durante o transporte, alcançando áreas não infestadas. Diante dessas características, é crucial entender que uma única estratégia de controle não é eficaz.

Ecologia e modo de vida do Sphenophorus levis

As fêmeas do Sphenophorus levis colocam seus ovos na base das brotações, abaixo do solo, perfurando os tecidos saudáveis do rizoma com suas mandíbulas.

Após cerca de uma a duas semanas de incubação, as larvas eclodem e começam a criar galerias dentro da planta enquanto se alimentam, deixando uma serragem fina como resíduo (Figura 2).

larvas e adultos de sphenophorus levis (bicudo da cana)
Figura 2 – Larva do inseto (A) e adulto (B) do bicudo. Fonte: Revista Cultivar – mar. 2005.

I Larva (A): as larvas de Sphenophorus levis têm corpo cilíndrico e são de cor branca a creme. Elas têm uma cabeça proeminente com mandíbulas que usam para se alimentar e escavar galerias no interior das plantas hospedeiras.

II – Adulto (B): Os adultos do bicudo são besouros de tamanho médio, variando de alguns milímetros a cerca de um centímetro de comprimento. Eles possuem um corpo robusto de cor marrom escuro a preto, com asas que geralmente estão cobertas e não são usadas para voo significativo, pois o besouro tende a se mover principalmente abaixo do solo ou entre os detritos vegetais.

O desenvolvimento das larvas leva aproximadamente 50 dias, durante os quais elas constroem uma câmara com a serragem antes de se transformarem em pupas. Depois de mais uma semana a duas semanas, os adultos emergem, permanecendo no solo, embaixo de torrões e detritos vegetais ou entre os perfilhos das touceiras.

Os adultos vivem em média de 203 dias (machos) e 224 dias (fêmeas), com cada fêmea colocando entre 40 e 60 ovos durante esse período.

No canavial as espécies de bicudo (Sphenophorus levis e Metamasius spp.) são bastante confundidas. Quer entender a diferença entre essas espécies? Veja no vídeo abaixo as características únicas dessas duas espécies de pragas e como identificá-las!

Diferença Sphenophorus levis x Metamasius spp.

Danos causados pelo Sphenophorus no canavial

Os danos causados pelas larvas na cultura da cana-de-açúcar podem ser quantificados da seguinte forma:

  1. Redução da produtividade: perdas entre 20 e 30 toneladas de cana por hectare por ano;
  2. Danos nos rizomas e colmos: as larvas abrem galerias nos rizomas e colmos das plantas;
  3. Morte das plantas: o ataque das larvas pode resultar na morte das plantas, especialmente devido à falha nas brotações das soqueiras;
  4. Falhas nas brotações: as brotações das soqueiras podem ser afetadas, levando a uma redução no “stand” da cultura;
  5. Perdas cumulativas nos cortes: os danos repetidos nas áreas de soqueiras causam perdas cumulativas nos cortes subsequentes;
  6. Reformas precoces do canavial: as perdas acumuladas podem exigir reformas precoces do canavial, limitando muitas vezes a produção ao segundo corte;
  7. Sintomas visíveis: sintomas como clorose das folhas e secamento progressivo podem indicar o ataque das larvas;
  8. Aumento da proliferação de plantas invasoras: as falhas nos perfilhos aumentam os espaços disponíveis, favorecendo a proliferação de plantas invasoras.

Esses danos representam um grande impacto econômico e agrícola na produção de cana-de-açúcar, destacando a importância do controle eficaz dessa praga para a sustentabilidade do cultivo.

Bicudo da cana dentro do rizoma da planta danos causados pelo shenophorus
Figura 3 – Danos diretos da praga no canavial. Fonte: CHBAGRO, 2023.

Identificação e amostragem do Sphenophorus no campo

Amostragem

Realize a amostragem de forma sistemática em diferentes áreas do canavial, considerando tanto áreas com histórico de infestação quanto áreas aparentemente sem a presença da praga.

Para identificar a presença do bicudo, é necessário fazer a abertura de trincheiras na linha da cultura, removendo a touceira e seccionando os rizomas para visualização dos danos.

Adote métodos padronizados de amostragem, como a análise de um número mínimo de plantas por área amostrada, para garantir uma avaliação representativa da infestação.

Identificação no campo

Durante a amostragem, observe atentamente os sinais de infestação, como galerias nas touceiras, danos nos rizomas e presença de adultos do bicudo.

Utilize guias ou materiais de referência para auxiliar na identificação correta da praga e dos danos causados. Plano para identificação de pragas de solo e controle do bicudo (Sphenophorus levis) em usinas de cana-de-açúcar:

Figura 4 – Sugestão de método para avaliar a população e os danos causados pelo bicudo da cana-de-açúcar (Sphenophorus levis) em cinco pontos por hectare nas áreas de cana soca. Fonte: Almeida (2020).

A partir dos dados de amostragem e identificação, avalie a densidade populacional do bicudo no canavial. Considere fatores como o número de plantas atacadas por unidade de área e a presença de adultos.

Considere também o período mais adequado para aplicação das estratégias de controle, levando em conta o ciclo de vida da praga e as condições climáticas favoráveis para a eficácia das medidas adotadas.

Ao seguir essas etapas, é possível realizar um diagnóstico preciso da infestação pelo bicudo da cana-de-açúcar e tomar decisões estratégicas para o controle eficiente dessa praga na cultura.

Medidas de controle do Sphenophorus levis

  • Instalação de iscas tóxicas

Utilização de toletes de cana rachados e imersos em solução de Thiametoxan para monitorar e controlar adultos da praga. Análise das iscas após 20 dias para contagem dos adultos capturados e mortos.

  • Levantamento pré-corte de mudas

Avaliação da infestação, galerias e danos nas mudas antes do corte. Amostragem de 100 canas por talhão para verificar a sanidade das mudas.

  • Medidas de controle e manejo

Instalação de iscas tóxicas após destruição mecânica das touceiras durante a reforma da cana.

Evitar a aplicação de vinhaça em áreas infestadas para evitar aumento populacional da praga.

Realizar controle químico no plantio da cana e limpeza cuidadosa de máquinas para evitar transporte da praga.

  • Destruição mecânica das touceiras

Alinhamento da máquina nas linhas de cana para melhor destruição das touceiras. Aumento do corte de base e profundidade de trabalho para garantir a destruição da praga. Exposição dos restos de touceiras ao sol para secagem dos rizomas e mortalidade das formas biológicas da praga.

  • Avaliação pós-destruição

Avaliação da mortalidade das formas biológicas da praga e quantidade de brotos remanescentes após duas semanas da destruição. Mapeamento das áreas infestadas para orientar as operações de controle nas próximas áreas de reforma.

Uso do controle biológico

A Beauveria bassiana, fungo entomopatogênico é altamente eficaz no controle de pragas, sendo amplamente estudado e utilizado como inseticida biológico. Com capacidade para infectar mais de 700 espécies de insetos, ele se destaca por sua ação seletiva e por não deixar resíduos nocivos no ambiente ou nos alimentos.

Além disso, seu uso não representa risco de intoxicação humana e apresenta baixo potencial para o desenvolvimento de resistência por parte das pragas, tornando-o uma alternativa sustentável e eficiente para o controle de insetos nocivos na agricultura.

Por meio de contato direto, o fungo atua em todas as fases do ciclo de vida do inseto alvo. Após aplicado, o fungo germina na superfície do inseto, penetra no seu tegumento e coloniza internamente o hospedeiro.

Durante o processo de colonização, o patógeno libera toxinas que alteram os hábitos da praga, levando à sua morte. Esse ciclo completo costuma durar de 6 a 10 dias.

Inicialmente, o inseto sofre uma morte fisiológica, resultando na interrupção da alimentação, locomoção e reprodução. No estágio final do ciclo do patógeno, o inseto pode apresentar coloração esbranquiçada, assemelhando-se a uma pluma de algodão.

Para o controle de bicudo são encontrados vários produtos no mercado, como exemplo: Albatross, Altacor e Appalus 200 SC (manejo químico) e Atrevido, Bassi Control, Batu, Beauve 100, Beauve Protection, BeauveControl e BeauveOuro (controle biológico).

Conclusão

O controle do bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) é essencial devido aos danos graves que essa praga causa nos canaviais, levando a perdas significativas na produção.

Suas larvas atacam os rizomas das plantas, resultando em morte das touceiras, falhas nas brotações e redução da produtividade. Estratégias de controle incluem a identificação precisa da praga no campo, uso de métodos de amostragem, instalação de iscas tóxicas e aplicação de medidas de manejo como destruição mecânica das touceiras.

O controle biológico, especialmente com o fungo Beauveria bassiana, mostra-se uma alternativa eficaz e sustentável, reduzindo o impacto ambiental em comparação com métodos químicos. A integração dessas medidas ajuda a minimizar os prejuízos causados pelo bicudo e a garantir a sustentabilidade e produtividade dos canaviais.

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Referências

ARRIGONI, E. Perdas agrícolas e industriais ocasionadas por Sphenophorus levis (Coleoptera:Curculionidae), em condições de telado. Piracicaba: CTEP, 2000. Acesso em: 31 mar. 2024.

BADILLA, F.; ALVES, S. Controle do gorgulho da cana-de-açúcar Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera: Curculionidae) com Beauveria spp. em condições de laboratório e campo. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.20, n.2, p.251-263, 1991.

ALMEIDA, L. C. Bicudo da cana-de-açúcar: informação técnica. Piracicaba: Centro de Tecnologia Canavieira, 2005.

COUTINHO, G. V. et al. Bionomic data and larval density of Scarabaeidae (Pleurosticti) in sugarcane in the central region of Mato Grosso do Sul, Brazil. Revista Brasileira de Entomologia, Curitiba, v. 55, n. 3, p. 389-395, 2011.

TAVARES, F. M. et al. Efeito de Heterorhabditis indica e Steinernema sp. (Nemata: Rhabditida) sobre larvas do bicudo da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae), em laboratório e casa-de-vegetação. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v. 31, n. 1, p. 12-19, 2007.

Sobre o autor

Alasse Oliveira

Alasse Oliveira

Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)

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