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Glufosinato de amônio: como usar esse herbicida de maneira eficiente

Glufosinato de amônio: qual seu mecanismo de ação, culturas tolerantes e as melhores estratégias de aplicação do herbicida.

O interesse pelo uso do herbicida glufosinato de amônio cresce cada vez mais, especialmente pelo aumento de populações resistentes ao glifosato e após a proibição do paraquat no Brasil.

Embora seja um herbicida de amplo espectro e altamente eficaz, são necessários alguns cuidados para que realmente tenhamos um manejo eficiente de plantas daninhas na área.

É por isso que aqui respondemos as principais dúvidas referentes ao glufosinato de amônio, incluindo a diferença entre ele e o glifosato, estratégias de aplicação e muito mais. Confira!

O que é glufosinato de amônio?

O glufosinato de amônio é um herbicida de contato não seletivo, ou seja, pode matar todo tipo de planta (desde que aplicado corretamente), como plantas de folha estreita anuais e perenes, além das de folha larga.

Como o glufosinato deve entrar em contato com o tecido foliar em crescimento para controlar as plantas daninhas não há atividade pré-emergente nesse produto. Portanto, sua aplicação é apenas após as plantas emergirem sua eficiência de controle se dá em plantas jovens.

Glufosinato de amônio nomes comerciais

Existem vários produtos comerciais à base de glufosinato de amônio. Os nomes comerciais mais conhecidos são o Finale® (registrado pela Basf S.A.) e o Liberty® (registrado pela Bayer), mas também é vendido comercialmente como Ignite®, Rely®, Cheetah®, Interline® e outros nomes, dependendo do fabricante.

Mecanismo de ação do glufosinato de amônio

O glufosinato de amônio é um herbicida pós-emergente, sendo o único herbicida que atua no mecanismo de ação Inibidores da Glutamina Sintetase (GS).

O glufosinato controla plantas daninhas inibindo a glutamina sintetase (local de ação 10 do herbicida), uma enzima envolvida na incorporação de amônio no aminoácido glutamina.

A inibição desta enzima causa um acúmulo de amônia fitotóxica nas plantas, o que perturba as membranas celulares. Em geral, as causas da fitoxicidade sempre foram atribuídas ao acúmulo de amônia e à restrição da assimilação de carbono.

Porém, em estudos recentes de Takano et al. (2019) foi levantada a proposição de que o glufosinato é tóxico para as plantas não devido ao acúmulo de amônia nem à inibição da assimilação de carbono, mas à produção de espécies reativas de oxigênio que conduzem à peroxidação lipídica das membranas celulares e à rápida morte celular (Figura 1).

sintomas do glufosinato de amônio na folha
Figura 1. Evolução dos sintomas e suas causas em folhas após aplicação do glufosinato de amônio. Fonte: Takano et al., 2019.

Por ser tão tóxico para a planta o glufosinato de amônio é um herbicida de contato, já que ele possui características físico-químicas que permitiriam sua translocação na planta.

Dessa forma, ele é um herbicida de contato, fazendo com que sua eficiência seja de acordo com a cobertura da aplicação, o qual veremos com mais detalhes ao longo desse texto.

Se você quiser saber mais detalhes sobre o mecanismo de ação sobre o glufosinato de amônio veja esse vídeo completo da Profª Ana Lígia Giraldeli:

Herbicidas inibidores da glutamina sintetase: glufosinato de amônio

 

Estratégias de aplicação do glufosinato

Como comentamos sobre o mecanismo de ação, o glufosinato de amônio é um herbicida de contato já que não é translocado na planta, portanto, sua eficiência ocorre apenas em plantas pequenas.

Também nesse sentido é necessária uma cobertura completa da pulverização para um controle eficaz das plantas daninhas.

Alguns pontos importantes para aplicação do herbicida incluem:

  • A aplicação somente será eficaz em plantas de estágios iniciais: em geral, até 2- 4 folhas para as dicotiledôneas (plantas de folha larga) e 2 folhas até 1 perfilho para as monocotiledôneas (plantas de folha estreita);
  • Não aplicar quando houver orvalho intenso, neblina e neblina/chuva, já que a umidade da folha pode fazer com que o produto escorra e não tenha efeito;
  • O herbicida precisa de pelo menos 5 horas sem chuvas para a aplicação ser eficiente;
  • Em condições de estresse (especialmente de déficit hídrico) também não é recomendada a sua aplicação;
  • Temperaturas baixas ou longos períodos de nebulosidade também afetam a eficiência do glufosinato e diminuem seu efeito;
  • Imprescindível uma boa aplicação (boa cobertura da planta)

Confira na Figura 2 outras informações importantes para realizar uma boa aplicação, como o volume de calda, tamanho da gota, altura do voo, além de condições climáticas ideais para a aplicação, como temperatura, umidade do ar e velocidade do vento.

Condições ideias de aplicação do glufosinato de amônio
Figura 2. Condições adequadas para aplicação do glufosinato de amônio.
Fonte: BASF

Quanto tempo leva o glufosinato para fazer efeito?

Com uma cobertura de pulverização uniforme e completa, a necrose das folhas ocorre 2 a 4 dias após a aplicação de glufosinato.

Glufosinato de amônio como dessecante

O glufosinato pode ser utilizado como dessecante para o plantio direto, antes da implementação da cultura principal, sendo que a dose recomendada varia de 500 a 600 g i.a. ha-1, dependendo da infestação da área.

Além disso, pode ser utilizado como dessecante pré-colheita na soja, com sua aplicação ocorrendo cerda de 10 dias antes da colheita. Para esse tipo de dessecação seu uso vem aumentado bastante desde a proibição do Paraquat.

Estudos recentes mostraram que a dessecação da soja pré-colheita com glufosinato não prejudica a qualidade de grãos e sementes (Carmo et al., 2023).

Diferença entre glufosinato de amônio e glifosato

Muitos comparam os dois herbicidas já que em diversas situações o glufosinato de amônio entra no manejo para combater populações de plantas daninhas resistentes ao glifosato.

Porém, temos diferenças bastante significativas. O glifosato pode ser aplicado pós-emergência em culturas resistentes ao glifosato (Roundup Ready®), enquanto o glufosinato é seguro para aplicações pós-emergência em culturas resistentes ao glufosinato (LibertyLink®).

Em termos gerais, o glufosinato é mais eficaz em plantas daninhas anuais de folha larga, enquanto o glifosato é mais eficaz em gramíneas anuais. O glufosinato também é eficaz em muitas daninhas resistentes ao glifosato.

O glufosinato e o glifosato têm modos de ação diferentes, afetando diferentes enzimas vegetais para matar as plantas daninhas. O glufosinato é um herbicida de contato, enquanto o glifosato possui atividade sistêmica na planta.

Portanto, o glifosato consegue controlar plantas maiores, ao contrário do glufosinato. O glifosato também não é tão dependente de uma boa aplicação e cobertura como o glufosinato.

Os efeitos nas plantas podem ser observados em pouco tempo após a aplicação do glufosinato, enquanto o glifosato demanda mais tempo para o efeito completo.

 Em resumo, o glufosinato de amônio e o glifosato são bastante distintos, podendo ser utilizando em conjunto em um programa de controle de plantas daninhas e, em algumas situações, em substituição de um produto pelo outro.

Culturas resistentes ao glufosinato

Pelo fato de o glufosinato de amônio ser um herbicida não seletivo, ou seja, pode matar qualquer planta, é necessário que a cultura seja uma OGM tolerante a esse produto, assim como ocorre com o glifosato com as culturas RR.

No caso do glufosinato de amônio temos menos opções de variedades e híbridos tolerantes, porém o número vem aumentando ano a ano. São os chamados “LL” sigla proveniente de Liberty Link ®.

Abaixo na Figura 3 é possível observar o impacto da aplicação do glufosinato em plantas de soja tolerantes ou não a esse herbicida.

Figura 3. Glufosinato aplicado em plantas de soja tolerantes ao glifosato (RR) à esquerda e aplicado em plantas tolerantes ao glufosinato (LL) à direita. A soja tolerante ao glifosato foi morta, enquanto a soja tolerante ao glufosinato sobreviveu com danos transitórios.
Fonte: Everman e Jones, 2021.

Além da soja LL, temos também no mercado brasileiro a soja Enlist, algodão LL e diversos híbridos de milho tolerantes ao glufosinato de amônio, como aqueles com tecnologia VIP3, Leptra, Herculex e outros.

Importante ressaltar que antes das aplicações é válido saber da companhia de sementes se a variedade ou híbrido realmente é tolerante ao glufosinato de amônio.

Você pode conferir mais detalhes de recomendações para aplicações em culturas resistentes ao glufosinato de amônio neste site da BASF, empresa a qual detém o Liberty Link®.

Manejo da resistência ao glufosinato de amônio

Como em qualquer outro defensivo agrícola, o uso excessivo do glufosinato de amônio pode levar a problemas de resistência e por isso é importante usar um plano integrado de manejo de plantas daninhas para gerenciar os riscos.

Aqui estão algumas dicas para isso:

 Siga sempre as recomendações de aplicação na bula do defensivo agrícola e também da empresa de sementes a qual você adquiriu;

  • Utilize herbicidas com vários modos de ação, e não somente o glufosinato (especialmente pré-emergentes);
  • Plantas de cobertura reduzem o banco de sementes e também auxiliam no manejo da resistência;
  • Faça sempre o monitoramento da área e verifique a eficiência das aplicações;
  • Faça a rotação de culturas para diversificação do agroecossistema.

Conclusão

O glufosinato de amônio se caracteriza como um herbicida de contato para aplicação em pós-emergência de plantas daninhas em estádios iniciais, sejam elas de folha larga ou estreita.

Embora seja muito comparado com o glifosato, o glufosinato é bem distinto, especialmente nas recomendações de pulverizações.

Com os devidos cuidados, o glufosinato de amônio é uma excelente opção para compor um programa de manejo de plantas daninhas eficaz no sistema de produção agrícola.

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Referências

EVERMAN, W.; JONES, E. Glufosinate Injury on Soybean. Disponível em: https://content.ces.ncsu.edu/glufosinate-injury-on-soybean. Acesso em 21 dez. 2023.

TAKANO, H.K.; BEFFA, R.; PRESTON, C.; WESTRA, P.; DAYAN, F.E. Reactive oxygen species trigger the fast action of glufosinate. Planta. v. 249, p. 1837-1849, 2019. doi: 10.1007/s00425-019-03124-3.

CARMO, G. L.; CABRAL FILHO, F. R.; ANDRADE, C. L. L.; TEIXEIRA, M. B.; ALVES, D. K. M. Uso de Glufosinato de Amônio e Diquat em dessecação de campo na cultura de soja. Brazilian Journal of Science, v. 2, n. 4, p. 54-63, 2023.

Sobre a autora

Maiara Franzoni

Maiara Franzoni

Coordenadora de Go-To-Market na Agroadvance

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