Entenda como a competição entre a cultura da soja e o capim amargoso pode afetar negativamente os produtores agrícolas.
Este artigo destaca a necessidade urgente de um controle eficaz e rápido dessa planta daninha agressiva, que apresenta resistência. Aprenda sobre as melhores práticas de manejo do capim-amargoso, incluindo a utilização de herbicidas pré-emergentes e pós-emergentes no pré-plantio, dois momentos importantes para se realizar o controle.
Saiba como garantir campos mais limpos e preservar a produtividade da cultura da soja para as próximas safras.
Não perca este guia abrangente para o controle precoce do capim amargoso e o manejo adequado na agricultura de soja.
Entendendo o problema
A soja é uma das principais culturas agrícolas do Brasil e apresenta posição de destaque no agronegócio brasileiro. O nosso país é maior produtor de soja do mundo, com produção de 135 milhões de toneladas, seguido dos Estados Unidos, com produção de 112 milhões de toneladas (CONAB, 2021).
A produtividade brasileira tem sido alavancada devido a melhores cultivares, manejo mais aprimorado da cultura e aumento das tecnologias, apresentando produtividade média aproximada de 3600 kg por hectare, porém com áreas superando 4800 kg ha-1.
O manejo de plantas daninhas é uma das técnicas necessárias para garantir altas produtividades e a qualidade de colheita da cultura, cujo a negligência no manejo poderá ocasionar em perdas sensíveis na produtividade.
As plantas daninhas afetam diretamente as culturas, competindo por luz, água, nutriente e espaço. Esse manejo representa grande parte do custo de produção da soja, enfatizando a necessidade de um bom e efetivo controle, podendo reduzir custos na produção.
Atualmente, dentre as plantas daninhas mais problemáticas da cultura da soja, destaca-se o capim-amargoso (Digitaria insularis). Esta gramínea apresenta crescimento agressivo e é altamente competitiva.
Um dos grandes entraves do controle de capim-amargoso é o fato da resistência da planta ao herbicida glyphosate. Considerando que o uso do glyphosate na cultura da soja é de extrema importância e de uso abundante, o controle do capim-amargoso se tornou um entrave para os produtores.
Competição do capim amargoso com a soja
O capim-amargoso é uma espécie perene que apresenta formação de touceiras e alta produção de sementes (Figura 1), podendo ser encontrada em todas as regiões produtoras de soja no Brasil.
Além disso, as sementes são revestidas por muitos pelos e são facilmente dispersadas pelo vento. O capim-amargoso é altamente adaptado as mais variadas regiões brasileiras e em diferentes épocas do ano (ANDRADE, 2019).
Devido as suas características, o capim-amargoso é uma gramínea altamente competitiva e de difícil controle: apenas seis plantas/m2 poderá diminuir a produtividade da soja em 44% (GAZZIERO et al., 2012).
Atrelado ao rápido crescimento e dispersão das sementes, o fato de o capim-amargoso apresentar resistência ao herbicida glyphosate acrescentou ainda mais dificuldades no controle para os produtores. O primeiro relato de resistência do capim-amargoso foi em 2006, no Paraguai (HEAP, 2017).
Figura 1. Touceira de capim-amargoso (CONCENÇO, G.; EMBRAPA, 2014).
O manejo das plantas daninhas na soja, em geral, era normalmente realizado pela aplicação de glyphosate de forma isolada, visto que é um herbicida seletivo para a cultura (com o advento das culturas geneticamente modificadas) e controlava eficientemente as principais plantas daninhas da cultura.
O capim-amargoso também é um problema para outras culturas, como o milho.
Desse modo, os produtores começaram a ter problemas no controle do capim-amargoso com o aumento das populações resistentes, havendo a necessidade de alterações no manejo da cultura.
Manejo do capim-amargoso na soja
O controle do capim-amargoso pode ser realizado com manejo cultural, mecânico ou químico.
Para a cultura da soja, o manejo mecânico e cultural geralmente compreendem as práticas de retirada de touceiras, a rotação de culturas, época de plantio, espaçamento de culturas e a cobertura do solo na entressafra.
No entanto, na grande maioria, o controle do capim-amargoso é realizado pelo manejo químico, utilizando herbicidas pré e pós-emergentes.
Manejo de capim amargoso com herbicidas pré-emergentes
Mesmo com o crescimento agressivo, o capim-amargoso, quando originário de sementes, apresenta desenvolvimento mais lento até os 45 dias, aumentando a eficácia do produto. Após esse período, a planta irá formar touceiras e criar mais massa, dificultando a eficácias dos produtos.
Em alguns casos é necessário a aplicação sequencial de herbicidas para alcançar o controle necessário. Além disso, deve-se buscar o controle antes da formação de sementes, diminuindo o banco destas para as próximas safras.
O período mais interessante para o produtor realizar o controle é na entressafra da cultura, podendo utilizar um maior número de herbicidas nesse período de ‘pré-plantio’.
Além disso, se há a presença de capim-amargoso, já perenizado e em grande densidade, recomenda-se aplicações sequenciais ou até mesmo a roçagem da área e aplicação após a rebrota das plantas, aumentando significativamente a eficiência das aplicações.
Pode-se utilizar no controle do capim-amargoso, em pós emergência na entressafra, graminicidas como o clethodim e haloxyfop, com doses de 0,5-1,0 L ha-1 e 0,5 – 1,2 L ha-1, respectivamente.
Também é recomendado utilizar o glyphosate (dose de 3-5 L ha-1), mesmo tendo plantas resistentes ao herbicida, buscando o controle das demais plantas daninhas presentes na área.
Além disso, pode-se utilizar o Glufosinato de amônio, com dose de 2,5 – 3,0 L ha-1. Já com os herbicidas pré-emergentes, o produtor tem a opção de utilizar os herbicidas flumioxazin (70 -120 g ha-1), o s-metolachlor (1,5 – 2,0 L ha-1), trifluralina (1,4 – 4,0 L ha-1), clomazone (1,6 – 2,0 L ha-1) e diclosulam (30 – 41 g ha-1).
Há no mercado algumas misturas de pré-emergentes, aumentando o espectro de controle e até mesmo aumento do residual.
Analisando o efeito residual de alguns herbicidas aplicados em pré-emergência no controle do capim-amargoso na cultura da soja, Andrade Junior et al. (2018) testou os pré-emergentes flumioxazin, imazethapir, diclosulan, clomazone e s-metolaclor.
Todos os herbicidas foram aplicados em mistura com o paraquat ou carfentrazone para o controle das plantas já emergentes (Tabela 1).
O maior controle residual do capim-amargoso foi observado nos tratamentos com imazetapyr + flumioxazin e no tratamento com s-metolachlor, apresentando controle residual de mais de 90%. Os tratamentos imazethapir, diclosulam e clomazone apresentaram controle entre 85 e 90%.
Tabela 1. Controle residual de capim-amargoso em função da aplicação de pré-emergente (JUNIOR ANDRADE et al., 2018)
O manejo das plantas daninhas na soja, em geral, era normalmente realizado pela aplicação de glyphosate de forma isolada, visto que é um herbicida seletivo para a cultura (com o advento das culturas geneticamente modificadas) e controlava eficientemente as principais plantas daninhas da cultura.
Desse modo, os produtores começaram a ter problemas no controle do capim-amargoso com o aumento das populações resistentes, havendo a necessidade de alterações no manejo da cultura.
Manejo de capim amargoso com herbicidas pós-emergentes
Já no controle em pós-emergência do capim-amargoso, após a emergência da soja, recomenda-se sobretudo o uso de inibidores de ACCase, como os graminicidas clethodim e haloxyfop. Além disso, pode-se usar associados ao herbicida glyphosate nas culturas RR (Roundup Ready) ou o glufosinato nas culturas LL (LibertLink).
É recomendável o controle do capim-amargoso até o estádio de três perfilho, com aproximados 30 dias após emergência.
Com o intuito de avaliar o controle do capim-amargoso em pleno florescimento, Zobiole et al. (2016) testaram o efeito dos herbicidas haloxyfop, clethodim, quizalofop e fluazifop, todos associados ao glyphosate. Devido a maturidade das plantas, todos os tratamentos apresentaram resultados insatisfatórios no controle.
No entanto, os autores também avaliaram a aplicação sequencial desses herbicidas, observando resultados satisfatórios (controle > 90%) quando os herbicidas foram aplicados de forma sequencial com 35 dias de distância, em associação ou não com glyphosate.
É sempre importante lembrar de seguir as recomendações do fabricante de cada produto. Outro ponto é seguir as recomendações no manejo de resistência das plantas daninhas, aprimorando as tecnologias de aplicação, observar as doses corretas, momento de aplicação e a rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas.
Ademais, observar e acompanhar os resultados das aplicações de herbicidas, procurando por escapes. Temos um artigo no nosso blog com muitas informações para o manejo de resistência de plantas daninhas.
Considerações finais
A competição entre a cultura da soja e do capim amargoso pode ser prejudicial para o produtor, evidenciando a necessidade de controle eficaz e rápido.
Além disso, considerando a agressividade dessa planta daninha, atrelado ao fato da resistência, aumenta a importância no manejo do capim-amargoso.
Por isso, o produtor deve estar atento ao controle precoce dessa planta, buscando o bom manejo no pré-plantio, lançando mão da utilização de herbicidas pré-emergentes e pós-emergentes, visando manter os campos mais limpos para as próximas safras e não prejudicar a produtividade da cultura da soja.
Referências
ANDRADE, Danillo Neiva de et al. Alternativas herbicidas para o controle em pré-emergência de capim amargoso. Dissertação IF, Rio Verde-GO, p.44, 2019.
Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. Safra Brasileira de Grãos- Monitoramento agrícola, agosto, 2021. Acesso em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos
CONCENÇO, G. Embrapa – Multimídia: Banco de imagens. Acesso em: https://www.embrapa.br/busca-de-imagens/-/midia/1435001/capim-amargoso
Gazziero, D. L. P.; Adegas, F. S.; Vargas, L.; Voll, E. 2012; Manejo Integrado de plantas daninhas In: Velini, E. D.; Carbonari, C. A.; Meschede, D. K.; Trindade, M. L. B. Glyphosate uso sustentável. Botucatu: FEPAF. p.185- 202.
JUNIOR, Eder Jorge Andrade et al. Controle Residual De Capim Amargoso Na Soja Cultivada Em Região De Cerrado. Científic@-Multidisciplinary Journal, v. 5, n. 3, p. 48-55, 2018.
ZOBIOLE, Luiz Henrique Saes et al. Controle de capim-amargoso perenizado em pleno florescimento. Revista Brasileira de Herbicidas, v. 15, n. 2, p. 157-164, 2016.
Esse texto é opinião do autor e não reflete, necessariamente, a posição da Agroadvance.
Sobre o autor:
Artigo atualizado por:
Beatriz Nastaro Boschiero
Chefe-editorial Agroadvance
Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu), Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)