Você está visualizando atualmente Quando realizar o controle de plantas daninhas: Entendendo os 3 momentos críticos de intervenção

Quando realizar o controle de plantas daninhas: Entendendo os 3 momentos críticos de intervenção

O controle de plantas daninhas é um ponto chave na produção agrícola, permitindo manter altas produtividades das culturas com grande qualidade na colheita.  As plantas daninhas competem diretamente e indiretamente com as culturas e, se não controladas a tempo, podem causar grandes prejuízos para os agricultores.

As plantas daninhas podem interferir na produção das culturas de diversos pontos, entre eles, pela competição com a cultura por água, luz, nutriente e espaço, diminuição da produtividade e aumento do custo de produção, redução na qualidade de colheita, alelopatia (que são substâncias químicas de plantas vivas ou em decomposição liberadas em ambientes naturais ou cultivados, inibindo a germinação, crescimento e/ou desenvolvimento das plantas), por ser hospedeiros de pragas e doenças, causar risco de incêndios e por serem plantas tóxicas a humanos e animais.

Com isso, é imprescindível o bom manejo das plantas daninhas contando com todas as opções possíveis de controle, isto é, a integração do controle cultural, físico, químico e biológico.  Portanto, de modo a evitar as consequências negativas na produtividade e qualidade de colheita devido a mato-competição, além de todas as interferências citadas acima, é preciso fazer o controle no momento ideal.

E qual o momento ideal para realizar o controle de plantas daninhas?

O momento ideal para o controle de plantas daninhas é baseado no conhecimento do período de interferência em que os prejuízos em produtividade serão significativos e irreversíveis. Ou seja, o período (ou momento exato, em alguns casos) em que a cultura vai sofrer com reduções drásticas na produtividade, havendo prejuízos econômicos para o produtor.

PAI, PCPI e PCTI

Para melhor determinação dos períodos de interferência das plantas daninhas e maior precisão na tomada de decisão, há a definição de três períodos: PAI (período anterior a interferência), PTPI (período total de prevenção à interferência) e PCPI (Período crítico de prevenção à interferência) (PITELLI; DURIGAN, 1984). Esses períodos são normalmente expressos em dias após emergência, porém, podem ser apresentados também como estágio vegetativo da cultura em questão. Para melhor exemplificar cada um desses períodos, será apresentado os resultados publicados por Nepomuceno et al. (2007) na cultura da soja.

  PAI- Período a partir da semeadura, em que a cultura pode conviver com as plantas daninhas antes que a interferência se estabeleça e cause redução da produtividade.

  PTPI- Período total a partir da emergência em que a cultura deve ser mantida livre da presença das plantas daninhas para que a produtividade não seja afetada

  PCPI- Esse é o período de controle das plantas daninhas. Período anterior em que os recursos sejam competidos até o momento em que as plantas daninhas já não mais disputem mais os recursos com a cultura. Normalmente são compreendidos como o período entre o final do PAI e início do PTPI. Por exemplo, um PAI de 8 dias e PTPI de 50: PCPI de 8 a 50 dias para realizar o controle.            

Com base na figura 01, podemos notar que o PAI foi de 34 dias após emergência, ou seja, com 34 dias inicia o período em que há perdas significativas de produtividade devido a interferência das plantas daninhas. Seguindo, o PTPI foi de 76 dias: período em que esse cultivar deve ser mantido livre de plantas daninhas para que a produtividade não seja afetada, ou seja, a partir de 76 dias a cultura não sofrerá interferência pelas daninhas (seja por fechamento do dossel, estabelecimento da cultura, fase reprodutiva etc.).

Por fim, nota-se que o PCPI foi de 42 dias, entre 34 e 76 dias após emergência. Portanto, o momento ideal de aplicação é entre esse intervalo de tempo (dos 34 aos 76 dias), controlando as plantas daninhas antes da perda significativa da produtividade.

controle de plantas daninhas na soja
Figura 01. Produtividade de grãos de soja (cultivar M-SOY-6101) em resposta aos períodos de controle e de convivência com as plantas daninhas, considerando uma perda de 5% na produtividade (NEPOMUCENO et al., 2007).

Em alguns casos, pode-se encontrar cenários onde o PAI é maior que o PTPI. Nesses casos, não há o período crítico, o controle deve ser feito com o método momentâneo, ou seja, com herbicidas pós-emergentes seletivos ou mecanicamente, utilizando apenas uma vez dentro do período que vai desde o término do PTPI ao término do PAI, ou utilizando pré-emergente com longo efeito residual, ultrapassando o PTPI (CARVALHO; VELINI, 2001).

Quais os fatores que afetam os períodos de interferência?

São muitas as variáveis que vão alterar os períodos (PAI, PTPI, PCPI), sendo necessário avaliação dos períodos para cada cultura, variedades (cultivares, clones etc.) e espécies de plantas daninhas nas áreas. As principais variáveis que afetam essa diferença são: cultura ou material utilizado; espécies de plantas daninhas, densidade e pressão de plantas daninhas, características da cultura (espaçamento, adubação, cultivo); região climática; época de cultivo, objetivo de colheita, entre outros.

Como descobrir o momento certo para cada cultura ou planta daninha?

Há uma vasta quantidade de estudos científicos na literatura a respeito dos períodos de interferência. No entanto, a grande maioria dos estudos são para grandes culturas, como milho, soja, algodão, cana-de-açúcar, avaliando os períodos para os diferentes cultivares. Na tabela 01 pode-se encontrar alguns períodos de interferência que foram publicados.

Tabela 1.

controle de plantas daninhas

Nota-se que boa parte dos trabalhos são mais antigos e que, cada vez mais fica difícil encontrar esse tipo de estudo na literatura. Esse fato se deve pela dificuldade de realizar esses ensaios experimentais: são trabalhos à campo, que requerem muita mão-de-obra e tempo para serem produzidos. Por outro lado, são estudos práticos e não necessitam de laboratórios ou equipamentos específicos. Portanto, se um produtor quer determinar o período de interferência para certa cultura ou cultivar, ele pode realizar esses estudos baseando nos artigos científicos.

Conclusão

Saber o momento exato de controlar as plantas daninhas é dúvida comum entre os produtores, especialmente nos dias de hoje com a agricultura avançando tão rapidamente. Cada vez mais temos novas tecnologias, novos cultivares e melhorias nas conduções das culturas. Além dos períodos de interferência, devemos lembrar dos fatores relacionados à tecnologia de aplicação, procurando aplicar em momentos em que haverá maior eficiência de controle químico.

O controle de plantas daninhas é oneroso para o produtor: quanto mais eficiente for o manejo, melhor poderá ser a rentabilidade no final da safra. Os produtores devem sempre buscar o controle das plantas daninhas no momento certo, buscando aplicar sempre que possível entre o intervalo de PCPI, evitando reduções significativas da produtividade.

Referências

AMARAL, F.C.R. et al. Weed Interference Periods in Pre-Sprouted Sugarcane Seedlings.Planta daninha, Viçosa, v. 37, e019203772, 2019.  

BALBINOT, C.R. et al. “Período crítico de interferência das plantas daninhas na cultura do milho.” Unoesc Ci 7, no. 2, 211-8, 2016.

BRIGHENTI, A.M. et al. Períodos de interferência de plantas daninhas na cultura do girassol. Planta daninha, Viçosa, v. 22, n. 2, p. 251-257, June 2004.  

CARVALHO, F.T.; VELINI, E.D. Períodos de interferência de plantas daninhas na cultura da soja: I – cultivar iac-11. Planta daninha, Viçosa, v. 19, n. 3, p. 317-322, Dec.  2001.  

FREITAS, F.C.L. et al. Interferência de plantas daninhas na cultura do feijão-caupi. Planta daninha, Viçosa, v.27, n. 2, p. 241-247, June 2009.  

KOZLOWSKI, L.A. Período crítico de interferência das plantas daninhas na cultura do milho baseado na fenologia da cultura. Planta daninha, Viçosa, v. 20, n. 3, p. 365-372, Dec.  2002.  

MEIRELLES, G.L.S.; ALVES, P.L.C.A.; NEPOMUCENO, M.P. Determinação dos períodos de convivência da cana-soca com plantas daninhas. Planta daninha, Viçosa, v. 27, n. 1, p. 67-73, Mar.  2009.  

NEPOMUCENO, M., et al. “Períodos de interferência das plantas daninhas na cultura da soja nos sistemas de semeadura direta e convencional.” Planta Daninha 25, no. 1:43-50, 2007.

PITELLI, R. A.; DURIGAN, J. C. Terminologia para períodos de controle e de convivência das plantas daninhas em culturas anuais e bianuais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HERBICIDAS E PLANTAS DANINHAS, 15., 1984, Belo Horizonte. Resumos… Belo Horizonte: SBHED, 1984. p. 37.

RODRIGUES, A.C.P. et al. Períodos de interferência de plantas daninhas na cultura do sorgo. Planta daninha, Viçosa, v. 28, n. 1, p. 23-31, 2010.  

SALGADO, T.P. et al. Períodos de interferência das plantas daninhas na cultura do algodoeiro (Gossypium hirsutum). Planta daninha, Viçosa, v. 20, n. 3, p. 373-379, Dec. 2002.  

SILVA, M.R.M.; DURIGAN, J.C. Períodos de interferência das plantas daninhas na cultura do arroz de terras altas: I – Cultivar IAC 202. Planta daninha, Viçosa, v. 24, n. 4, p. 685-694, dez. 2006.  

SOARES, Maurício Robério Silva et al. Períodos de interferência de plantas infestantes na cultura da mandioca, submetida ou não à adubação NPK, em Vitória da Conquista-Ba. Rev. de Ciências Agrárias, Lisboa, v. 42, n. 1, p. 231-240, mar. 2019.

TAROUCO, Camila Peligrinotti et al. Períodos de interferência de plantas daninhas na fase inicial de crescimento do eucalipto. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 44, n. 9, p. 1131-1137, Sept. 2009.  

Este texto é opinião do autor, não reflete necessariamente opinião da Agroadvance.

Sobre o autor:

Deixe um comentário

Não perca nenhuma novidade do agronegócio!

Fique por dentro das últimas tendências do agronegócio com a newsletter da Agroadvance. É gratuito e você ainda receba notícias, informações, artigos exclusivos, e-books e muito mais.