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3 importantes plantas daninhas em milho: quais são e como controlá-las?

Capim amargoso, capim pé de galinha e buva conheça mais sobre essas 3 importantes plantas daninhas do milho e saiba como deve ser feito o manejo de controle  

aplicação de herbicidas nas plantas daninhas do milho

Fonte: Globo rural

As plantas daninhas são um problema na lavoura, pois competem com a cultura por água, espaço, luz e nutrientes, afetando negativamente a produtividade quando o seu controle não é eficiente.  

Segunda a Embrapa, no caso da produção de grãos, as perdas de produtividade em cada safra ficam próximas a 15% e podem chegar a até 85% em algumas áreas.  

Além do problema direto de competição, existe ainda o problema indireto das plantas daninhas serem hospedeiras de pragas e doenças que se disseminam para a próxima cultura. 

Eliminar as plantas daninhas tem sido um desafio cada vez maior, pois além da restrição de algumas moléculas de herbicidas, como é o caso do paraquat que teve seu uso banido no Brasil em 2020, ainda enfrentamos o problema de resistência das plantas daninhas aos herbicidas utilizados. 

No Brasil há hoje 28 espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas, em diferentes níveis, e existem 54 relatos de resistência (seja simples ou múltipla) feitos por produtores em diversas regiões brasileiras – cerca de 10% do total de relatos de resistência a herbicidas no mundo (Heap, 2023). 

Conhecer a planta daninha presente na lavoura e suas características é um dos primeiros passos para realizar o manejo correto visando seu controle. 

A seguir vamos abordar as três plantas daninhas mais problemáticas para a cultura do milho no Brasil, e elencar alguns manejos que podem ser utilizados no controle. 

 

Características das principais plantas daninhas na cultura do milho 

Pelo fato de o milho ser uma planta monocotiledônea, as plantas daninhas mais difíceis de se controlar na cultura são justamente as que pertencem à mesma classe botânica: as gramíneas, com destaque para o capim amargoso e o capim-de-galinha.

Isso pois, além da limitação nas moléculas de herbicidas que podem ser utilizadas, ainda enfrentamos o problema de resistência à herbicidas por ambas as espécies de daninhas. 

A Buva é um problema que aparece principalmente no final do ciclo de cultivo do milho e também apresenta manejo complexo devido à resistência da espécie a herbicidas.  

Vejamos abaixo algumas caraterísticas dessas plantas daninhas e como o controle pode ser realizado. 

 

Capim amargoso (Digitaria insularis) 

planta daninha em milho: capim amargoso

Fonte: Notícias agrícolas 

 

O capim amargoso (Digitaria insularis) pode ser caracterizado da seguinte maneira (Albrecht et al., 2021b): 

É uma planta nativa das regiões tropicais e subtropicais da América e ocorre com grande intensidade nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. 

Espécie com grande agressividade e rusticidade, que ocupa os mais diversos sistemas produtivos. 

Gramínea perene, entouceirada, rizomatosa e que se desenvolve em áreas cultivadas, de pastagens, terras abandonadas, terrenos baldios e margens de rodovias.  

Possui alta dispersão, podendo gerar mais de 50 mil sementes durante o ano, facilmente dispersas pelo vento e colhedoras. 

As plantas de capim amargoso podem se reproduzir de forma assexuada pela fragmentação do rizoma, ou de forma sexuada pela elevada produção de sementes. 

A dificuldade em seu controle está ligada principalmente a dois fatores: 

  • Às suas características botânicas (alta adaptabilidade, agressividade, propagação acentuada e perenização no ambiente produtivo: entouceira e gera rizomas),  
  • À resistência do capim amargoso à herbicidas, como o glifosato e inibidores da ACCase, além da resistência múltipla a glifosato e inibidores da ACCase (Tabela 1). 

 

Tabela 1. Casos de resistência de capim amargoso (Digitaria insularis) identificados no Brasil, segundo Heap, 2023. 

 

Capim pé de galinha (Eleusine indica) 

Plantas daninhas em milho: capim pé de galinha

Foto: Revista cultivar 

 

A espécie Eleusine indica (L.) conhecida como capim pé-de-galinha é uma gramínea de ciclo anual, com rápido crescimento, alta capacidade de competição com as culturas e que está presente em praticamente todas as regiões do Brasil e no restante do mundo.  

Assim como acontece com o capim amargoso, a capacidade de adaptação aos diversos ambientes, a produção de elevado número de sementes, além da evolução da resistência a herbicidas apresentadas pela espécie (Tabela 2) favorecem a ampla distribuição dessa planta daninha. 

O capim-de-galinha foi considerada a planta daninha mais importante em 42% dos campos agrícolas visitados em todo o país (LUCIO et al., 2019). 

 

Tabela 2. Casos de resistência de capim-pé-galinha (Eleusine indica) identificados no Brasil, segundo Heap, 2023. 

Buva (Conyza spp.) 

plantas daninhas em milho: buva

Fonte: Cocamar 

 

São três as espécies de buva encontrada no Brasil: Conyza canadenses, Conyza bonariensis e Conyza sumatrens.  

A espécie se propaga somente por meio de sementes, que são leves e numerosas – 100 a 200 mil por planta, podendo chegar a 500 mil sementes/planta.  

Estas sementes são fotoblásticas positivas, germinando apenas na presença de luz, característica muito favorecida em função do sistema de produção. A presença de palhada, por exemplo é uma boa estratégia de manejo para essa espécie. 

Sua germinação a campo coincide em parte com o final da cultura do milho e a entressafra, antes da semeadura da soja.  

A buva é uma das mais importantes infestantes na agricultura brasileira. O aumento na sua importância parece estar relacionado historicamente ao aumento da pressão de seleção imposta pela limitada alternância de mecanismos de ação de herbicidas nos sistemas de cultivo (Tabela 2).   

 

Tabela 3. Casos de resistência de buva (Conyza spp.) identificados no Brasil, segundo Heap, 2023. 

A buva foi considerada a planta daninha mais importante em 49% dos campos agrícolas de soja visitados em todo o país, tendo apresentado maior importância dentre todas as espécies de plantas daninhas avaliadas (LUCIO et al., 2019). 

Um levantamento realizado por pesquisadores brasileiros mostra que a buva apresenta resistência múltipla a três ou até quatro mecanismo de ação em importantes regiões produtora de grãos do país (Figura 1) 

Distribuição geográfica da buva apresentando resistência múltipla a três ou quatro mecanismos de ação

Figura 1. Distribuição geográfica da buva apresentando resistência múltipla a três ou quatro mecanismos de ação, para os biótipos estudados durante as safras 2017/2018, 2018/2019 e 2019/2020. Fonte: Albrecht, 2021a 

 

 

Estratégias de manejo de Plantas Daninhas no milho 

O manejo das plantas daninhas na cultura do milho deve ser pensado muito antes da implantação da cultura no campo. 

A maior parte do milho cultivado no país é de 2ª Safra, ou seja, é semeado logo após a colheita da soja (muitas vezes no mesmo dia). Assim, é importante que nesse momento não haja planta daninha na área, principalmente no que se refere à presença de gramíneas, que tem seu controle dificultado. 

Para o milho plantado na janela da safra principal (bastante utilizado para silagem, por exemplo) o manejo de plantas daninhas é mais simples. Isso porque o controle pode ser realizado na entressafra, se atentando principalmente com o efeito residual de herbicidas na cultura. 

Em ambos os casos é importante o produtor conhecer e se atentar ao histórico de plantas daninhas da área para poder lidar melhor com o problema, principalmente quando falamos em controle de plantas daninhas que apresentam resistência a herbicidas.  

De modo geral, podemos dizer que para o adequado manejo das plantas daninhas nos sistemas de cultivo se faz cada vez mais necessário a adoção do manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), que envolva, de acordo com Albrecht et al (2018): 

  • Rotação de culturas – incluindo consórcios que gerem palhada no sistema: a cobertura do solo é fundamental no manejo de plantas daninhas, 
  • Evite o pousio sem cultura de cobertura e realize o manejo de plantas remanescentes; 
  • Utilização de híbridos apropriados e uso de transgênicos 
  • Evitar a disseminação de plantas daninhas através das colhedoras  
  • Realizar o controle de plantas daninhas na entressafra: utilizar pré e pós emergentes.  
  • Uso racional de herbicidas, que inclui:  
    • dessecação antecipada feita o quanto antes,  
    • Associação de produtos,  
    • Aplicações sequenciais,  
    • Rotação de mecanismos de ação,  
    • Uso de pré-emergentes,  
    • Uso de doses cheias,  
    • Adequação de adjuvantes,  
    • Atenção ao volume de calda (utilizar um volume mínimo de 100 litros/ha para produtos sistêmicos e 150 litros/ha para produtos de contato), e  
    • Atenção aos estádios de aplicação da planta daninha e  
    • Atenção aos períodos de interferência. 

 

Estratégia específica para controle de plantas daninhas monocotiledôneas (gramíneas) 

O controle de gramíneas como o capim amargoso na cultura do milho é mais difícil do que o controle na cultura da soja, por exemplo.

A utilização de herbicidas residuais é determinante para o manejo de populações de capim amargoso e capim pé-de-galinha resistentes ao glifosato.   

A associação de misturas de glifosato com herbicidas inibidores da ACCase constitui uma das principais ferramentas para o controle de capim amargoso resistente ao glifosato (Takano et al., 2017). 

Além disso uma estratégia interessante para controle de plantas daninhas monocotiledôneas é o uso de variedade de milho tolerante a glufosinate, ou seja, o milho LL que apresente o gene pat. Para o milho LL o glufosinate pode ser utilizado em associação com herbicidas do FSII, carotenóides e até nicosulfuron (Albrecht, 2022). 

O 2,4-D também é uma alternativa interessante, porém é preciso ter muito cuidado com dose, estádio e híbrido utilizado, pois alguns híbridos são sensíveis a esse herbicida (Albrecht, 2022). 

 

Estratégia específica para controle de buva 

Estudos mostram que para a buva (Conyza spp.) herbicidas como dicamba, halauxifeno, glufosinato, saflufenacil, diclosulam, especialmente em combinações, podem ser utilizados como opções de controle nos casos de resistência (Cantu et al., 2021). 

Atenção especial deve ser dada à utilização do 2,4-D para o controle de buva. Durante um longo período a associação de glifosato e 2,4-D foi utilizada em dessecações para o controle de plantas daninhas.  

Entretanto a utilização do 2,4-D para controle da buva passou a não surtir desejada eficiência, principalmente em estádios mais avançados do seu desenvolvimento, devido aos mecanismos de resistência desenvolvidos pela espécie daninha: a rápida necrose. 

A rápida necrose pode ser uma resposta de resistência da planta ao herbicida, pois após a rápida necrose, o caule das plantas continua verde promovendo em alguns casos o rebrote da buva.  

Com a rápida morte do tecido, a translocação dos herbicidas é limitada, podendo afetar a eficiência de herbicidas aplicados em mistura, prejudicando o manejo de plantas daninhas resistentes ao glyphosate e 2,4-D (Silva e Mendes, 2021). 

Por isso o desenvolvimento de necrose rápida logo após sua aplicação (em menos de duas horas em condições adequadas de radiação solar e temperatura) é um sinal alerta para a resistência da planta daninha ao herbicida.

 

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Referências consultadas:

Albrecht, A.J.P.; Barroso, A.A.M.; Pellizzaro, E.C.; Thomazini, G.; Lorenzetti, J.B.; Albrecht, L.A.; Danilussi, M.T.Y. Buva resistente a Paraquat: situação atual e perspetivas. Revista Plantio Direto, v. 166, 2018. Disponível em: https://www.plantiodireto.com.br/edicoes?page=3&id=24. Acesso: 16/03/2023. 

Albrecht, A.J.P.; Albrecht, L.P. Mapeamento da buva (Conyza spp.) com resistência a herbicidas. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – HRAC-BR, Informativo técnico, v.2, 2021a. DOI:10.13140/RG.2.2.24379.69925 

Albrecht, A.J.P.; Albrecht, L.P. Mapeamento do capim-amargoso (Digitaria insularis) com resistência a herbicidas. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – HRAC-BR, Informativo técnico, v.2, 2021b. DOI:10.13140/RG.2.2.18507.67363 

Albrecht, L.P. Identificação e manejo integrado de plantas daninhas. Aula ministrada no curso Expert Proteção de Plantas da Agroadvance. 2022.  

Cantu RM, Albrecht LP, Albrecht AJP, Silva AFM, Danilussi MTY, Lorenzetti JB. Herbicide alternative for Conyza sumatrensis control in pre-planting in no-till soybeans. Adv Weed Sci. 2021;39:e2021000025. 

Heap, I.  The International Herbicide-Resistant Weed Database.  Online.  Thursday, March 16, 2023 .  Available  http://www.weedscience.org/. Acesso: 16/03/2023. 

Lucio, R.R. et al., (2019) Dispersal and frequency of glyphosate-resistant and glyphosate-tolerant weeds in soybean-producing edaphoclimatic microregions on Brazil. Weed Technology. V. 33, p. 217-231, 2019. DOI:10.1017/wet.2018.97 

Silva, L.B.X.; Mendes, K.F. Rápida necrose: um novo mecanismo de resistência de plantas daninhas a herbicidas. Manejo Integrado de Plantas Daninhas – UFV, 2021. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/355576421_RAPIDA_NECROSE_UM_NOVO_MECANISMO_DE_RESISTENCIA_DE_PLANTAS_DANINHAS_A_HERBICIDAS. Acesso: 17/03/2023. 

Takano, H.K.; Oliveira Jr, R.S. Constantin, J. Alternativas viáveis. Cultivar Grandes Culturas, v. 220, 2017. Disponível em: https://issuu.com/grupocultivar/docs/cultivar_220__4_. Acesso: 17/03/2023. 

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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