A análise de solo nos dá uma visão de como estão os parâmetros químicos do solo, ou a fertilidade do solo.
A partir dela entendemos se o solo está ácido (e precisa receber calcário para neutralizar essa acidez) e quais as quantidades de nutrientes presentes no solo – para determinar então quais nutrientes e em que quantidades devem ser fornecidos através da adubação.
E como isso é possível? A análise de solo nos revela:
- a quantidade de bases “boas” e de interesse presente no solo, ou os cátions básicos, como Ca2+, Mg2+, K+ (soma de bases, SB),
- a quantidade de bases “ruins” presentes no solo e que não são de interesse (os cátions acidificantes: H+ + Al3+também chamada de acidez potencial).
- A quantidade total de nutrientes catiônicos que aquele solo pode reter (CTC total do solo) – engloba os dois anteriores
- e o quanto as bases boas e de interesse representam da capacidade máxima do solo em reter os cátions (saturação por bases, V%)
A partir disso, conseguimos calcular qual a dose de corretivos que precisa ser utilizada na calagem (e/ou gessagem) para corrigir esses cátions ácidos e a quantidade de fertilizantes que precisa ser fornecido na adubação (definida conjuntamente com o critério de produtividade esperada).
Vejamos neste artigo como calcular soma de bases (SB), saturação por bases (V%) e capacidade de troca de cátion (CTC). Acompanhe!
Análise de solo: atenção às unidades!!
A análise de solo pode seguir diferentes metodologias de extração e determinação, de acordo com o laboratório em que a análise é feita.
No Estado de São Paulo, por exemplo, a determinação de nutrientes segue a recomendação do boletim 100, que faz a extração dos nutrientes pelo método da resina trocadora de íons. Com isso, todos os cátions (incluindo o potássio) são apresentados na mesma unidade (milimols de carga por decímetro cúbico de solo) do material seco, mmolc dm-3). Um exemplo de resultado entregue no Estado é encontrado na Figura 1 A.
Por outro lado, os laboratórios nos demais estados brasileiros realizam a extração dos cátions Ca e Mg com ácido clorídrico (KCl), enquanto o Mehlich-1 (mistura de ácido clorídrico e ácido sulfúrico) é utilizado para extração do K.
Com isso, os teores de Ca e Mg aparecem na unidade de cmolc dm-3 (centimols de carga por decímetro cúbico de solo), enquanto o K é apresentado em mg dm-3 (miligramas por decímetro cúbico de solo), conforme ilustrado na Figura 1B. Nesse caso as unidades são diferentes e precisam ser convertidas para serem somadas!!
Para calcular os valores de soma de bases (SB), capacidade de troca de bases (CTC) e saturação por bases (V%), o primeiro passo, portanto, é olhar as unidades que os nutrientes aparecem na análise de solo.
Após esclarecido esse importante detalhe, vamos aos cálculos.
Cálculo da Soma de Bases (SB)
É a soma dos cátions básicos de interesse presentes no solo: Ca, Mg e K (pode incluir o Na quando for uma região com solo mais salino):
- SB = Ca2+ + Mg2+ + K+ (+ Na+)
No caso das duas amostras de solo (A e B), temos o seguinte exemplo:
Amostra A: SB= 33 mmolc/dm³ + 10 mmolc/dm³ + 3,8 mmolc/dm3= 46,8 mmolc/dm³
Amostra B: SB = 0,65 cmolc/dm³ + 0,29 cmolc/dm³ + (31 mg/dm3/391)* = 1,02 cmolc/dm³
*para converter o potássio de mg/dm3 para mmolc/dm3, basta dividir o valor por 391. Essa fórmula simplificada leva em conta a massa molar do potássio (39,1 g/mol) e permite transformar diretamente a concentração em miligramas para milimols de carga, facilitando a conversão de forma prática e rápida.
Cálculo da Capacidade de Troca de Cátions a pH 7,0 (CTC)
A Capacidade de Troca de Cátions (CTC do solo), também chamada de CTC potencial (soma da CTC efetiva + CTC permanente) é a capacidade do solo de trocar cátions a pH 7,0. Em algumas análises de solo é representada pela letra T maiúscula (T)
- CTC (ou T) = SB + (H+Al)
Com base nos valores das análises de solo de exemplo, temos:
Amostra A: CTC = 46,8 mmolc/dm³ + 42 mmolc/dm³ = 88,8 mmolc/dm³.
Amostra B: T = 1,02 cmolc/dm³ + 10,3 cmolc/dm³ = 11,32 cmolc/dm³
Cálculo da CTC efetiva
A CTC efetiva (t) é a capacidade de troca de cátions do solo no seu pH natural.
- t = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Al3+ ou
- t = SB + Al3+
Na amostra A, como o teor de alumínio é zero, a CTC efetiva é igual a SB do solo (46, 8 mmolc/dm3) – ela não foi mostrada no resultado da análise.
Na amostra B, t = SB + Al → 1,02 cmolc/dm3 + 0,05 cmolc/dm3 = 1,07 cmolc/dm3.
Cálculo da saturação por bases (V%)
É a soma das bases trocáveis expressa em porcentagem de capacidade de troca de cátions.
- V% = (SB x 100) / CTC ou
- V% = (SB x 100) / T
Com base nos valores das análises de solo, temos:
Amostra A: V% = (46,8 mmolc/dm³ x 100) / 88,8 mmolc/dm³ = 52,7% (na análise o valor foi arredondado para 53%).
Amostra B: V% = (1,02 cmolc/dm³ x 100) / 11,32 cmolc/dm³ = 9,01%
Saturação dos cátions da CTC por bases desejada
A saturação por bases (V%) é um parâmetro importante na recomendação de calagem, pois indica a proporção de cátions básicos (Ca²⁺, Mg²⁺, K⁺) em relação à capacidade total de troca de cátions (CTC) do solo.
Em termos práticos, a saturação por bases desejada é o nível ideal de saturação que se deseja atingir para uma cultura específica, garantindo que as plantas tenham acesso adequado aos nutrientes essenciais e que o solo não apresente acidez excessiva.
Essa saturação desejada varia conforme a cultura, o tipo de solo e a profundidade do solo. Por exemplo, para culturas como soja, milho e cana-de-açúcar, uma saturação por bases próxima a 70% é recomendada para camada superficial do solo. Já para pastagens, que suportam solos com menos férteis devido à menor exigência nutricional da cultura, o valor desejado pode ser menor, em torno de 50% a 60%.
Esses valores são indicativos e podem variar conforme o boletim de recomendação agronômica utilizado.
Para deixar registrado aqui, o cálculo de calagem por saturação de bases é:
Considerando um caso fictício para a cultura da soja em que se usássemos um calcário com 85% de PRNT, teríamos para os nossos exemplos:
Amostra A:
NC = [(70%-53%) x (88,8mmolc dm-3/10*)]/85% = 1,8 t/ha
*como na análise de solo a CTC está em mmolc dm-3, basta dividir o valor por 10 para passar para cmolc dm-3.
Amostra B:
NC = [(70%-9%) x 11,3cmolc dm-3]/85% = 8,1 t/ha
Devido à alta dose de calcário necessária para a correção desse solo, o correto, neste caso, seria realizar o parcelamento da adubação em dois anos consecutivos ou mais. Apesar desse solo ter uma boa capacidade de retenção de cátions, aplicar 8 toneladas de uma só vez pode resultar em um aumento excessivo do pH, prejudicando a disponibilidade de micronutrientes.
Cálculo da saturação por alumínio (m)
Representa a porcentagem da CTC efetiva ocupada pelo cátion alumínio.
- m% = (Al x 100) / (SB + Al) ou
- m% = (Al x 100) / t
Com base nos valores da análise de solo, temos o seguinte exemplo:
Amostra A: m% = (0 x 100) / (46,8 mmolc/dm³ + 0) = 0 %
Amostra B: m% = (0,05cmolc/dm3 x 100) / 1,07 cmolc/dm3 = 4,7 %.
Porcentagem de saturação dos cátions Ca, K e Mg na CTC
Indica o percentual da CTC potencial ocupada pelo cátion de interesse.
- Cátion de interesse = (Teor do cátion de interesse / CTC) * 100 ou
- Cátion de interesse = (Teor do cátion de interesse / T) * 100
Com base nos valores das amostras de exemplo temos:
Saturação de cálcio: % Ca = (Ca2+/ CTC)* 100 ou % Ca = (Ca2+/ T)* 100
- Amostra A: (33 mmolc/dm3 / 88,8 mmolc/dm3) * 100 = 37,2%
- Amostra B: (0,65 cmolc/dm3/ 11,3 cmolc/dm3) * 100 = 5,8 %
Saturação de magnésio: % Mg = (Mg2+/CTC)* 100 ou % Mg = (Mg2+/T)* 100
- Amostra A: (10 mmolc/dm3 / 88,8 mmolc/dm3) * 100 = 11,3%
- Amostra B: (0,29 cmolc/dm3/ 11,3 cmolc/dm3) * 100 = 2,6 %
Saturação de potássio: % K = (K+/CTC)* 100 ou % K = (K+/T)* 100
- Amostra A: (3,8 mmolc/dm3 / 88,8 mmolc/dm3) * 100 = 4,3%
- Amostra B: [(31 mg/dm3/391)/ 11,3 cmolc/dm3) * 100 = 0,7 %
Importância da Calagem, Gessagem e Fosfatagem na Correção do Solo
Após calcular a soma de bases, a CTC e a saturação por bases, é fundamental aplicar as práticas de calagem, gessagem e fosfatagem de maneira correta. Essas práticas são essenciais para corrigir a acidez do solo, melhorar a disponibilidade de nutrientes e, consequentemente, aumentar a produtividade das culturas. A escolha dos corretivos deve ser feita com base nos resultados da análise de solo, garantindo uma correção eficiente e sustentável.
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Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)
Como citar este artigo:
BOSCHIERO, B.N. Como calcular soma de bases, CTC e saturação por bases na análise de solo? 2024. Blog Agroadvance. Disponível em: <https://agroadvance.com.br/blog-calculo-soma-de-bases-saturacao-por-bases/>. Data de acesso: xx Xxx 20XX.