Os fertilizantes desempenham um papel crucial na segurança alimentar global, contribuindo significativamente para o crescimento das colheitas em todo o mundo.
Em particular, os fertilizantes comerciais contribuem com quase metade do nitrogênio absorvido pelas colheitas do mundo. Essas colheitas, por sua vez, fornecem cerca de três quartos do nitrogênio em proteínas que os humanos consomem, diretamente através dos animais.
Em outras palavras, cerca de um terço das proteínas consumidas pela humanidade são o resultado direto do uso de fertilizantes.
Mas você sabe o que são fertilizantes, quais nutrientes eles podem fornecer, para que eles são utilizados e quais seus tipos de acordo com a legislação brasileira? Continue a leitura e entenda!
O que são fertilizantes e para o que servem?
Fertilizantes são substâncias naturais ou sintéticas que são aplicadas ao solo ou às plantas para fornecer nutrientes essenciais que melhoram o crescimento e a produtividade das plantas.
Em outras palavras, os fertilizantes são “alimentos” para as plantas: eles fornecem nutrientes para que as plantas cresçam e prosperem.
Estima-se que metade dos alimentos que consumimos seja produzida graças aos fertilizantes minerais.
Dentre os nutrientes fornecidos via fertilizante inclui-se os macronutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, bem como os micronutrientes como ferro, zinco e manganês.
Os fertilizantes são utilizados na agricultura com o propósito de:
- suplementar a disponibilidade natural do solo com a finalidade de satisfazer a demanda das culturas que apresentam um alto potencial de produtividade e levá-las a produções economicamente viáveis;
- compensar a perda de nutrientes decorrentes da remoção das culturas, por lixiviação ou perda gasosa.
- melhorar as condições adversas ou manter as boas condições do solo para produção das culturas.
Eles podem ser de origem orgânica, como esterco e compostagem, ou de origem sintética, como fertilizantes químicos produzidos industrialmente, que são amplamente utilizados na agricultura intensiva em grandes áreas de cultivo de grãos, frutas, vegetais e outras culturas comerciais.
Nutrientes essenciais às plantas fornecidos pelos fertilizantes
No total, as plantas necessitam de pelo menos 16 elementos, dos quais os mais importantes são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo, enxofre, potássio, cálcio e magnésio.
As plantas obtêm carbono da atmosfera e hidrogênio e oxigênio da água; outros nutrientes são absorvidos do solo.
A legislação da maioria dos Países aceita que as empresas vendam como “fertilizantes” apenas os nutrientes que são considerados essenciais ao desenvolvimento das plantas.
Existe, contudo, uma discussão mais recente no âmbito acadêmico de redefinir o que é nutriente essencial a fim de passar a considerar os nutrientes necessários na dieta humana. Isso incluiria como essencial nutrientes como iodo, cobalto e selênio, por exemplo (Figura 1). Isso influenciaria diretamente nas legislações de fertilizantes em diversos países.
A quantidade de fertilizantes a ser adicionada ao solo é definida em função de alguns parâmetros como:
- Quantidade de nutrientes disponíveis no solo (determinado através de análises químicas),
- Necessidade das culturas (estimado em função da quantidade de nutrientes extraída pela cultura para atingir determinada produtividade), e
- Estimativa de aproveitamento do nutriente pelas plantas (já considerando as possíveis perdas embutidas no sistema para cada nutriente).
Quais são os tipos de fertilizantes existentes de acordo com a legislação brasileira?
No Brasil, o mercado de fertilizantes é regulamentado principalmente pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que é responsável por estabelecer normas, regulamentos e padrões de qualidade para a produção, importação, comercialização e uso de fertilizantes no país.
O órgão supervisiona a indústria de fertilizantes e garante que os produtos atendam aos requisitos de segurança, eficácia e qualidade estabelecidos pelas autoridades brasileiras.
De acordo com a legislação brasileira, fertilizante é definido como: “substância mineral ou orgânica, natural ou sintética, fornecedora de um ou mais nutrientes de plantas”.
Vejamos a seguir quais são os tipos de fertilizantes existentes do ponto de vista químico: fertilizante mineral, orgânico ou organomineral.
Fertilizante mineral
“Produto de natureza fundamentalmente mineral, natural ou sintético, obtido por processo físico, químico ou físico-químico, fornecedor de um ou mais nutrientes de plantas.”
São os fertilizantes constituídos de compostos inorgânicos (compostos desprovidos de carbono). São também considerados fertilizantes minerais aqueles constituídos de compostos orgânicos (compostos que contêm carbono) sintéticos ou artificiais, como a ureia – CO(NH2)2, a calciocianamida e os quelatos.
Os fertilizantes minerais são subdivididos em três classes:
- Fertilizantes simples: são os fertilizantes constituídos fundamentalmente de um composto químico, contendo um ou mais nutrientes vegetais, quer sejam eles macro ou micronutrientes ou ambos. Exemplos: ureia, nitrato de amônio, cloreto de potássio, etc.
- Fertilizantes mistos ou misturas de fertilizantes: são os fertilizantes resultantes da mistura de dois ou mais fertilizantes simples. Exemplo: Fertilizantes NPK.
- Fertilizantes complexos: são misturas de fertilizantes resultantes de processo tecnológico em que se formam dois ou mais compostos químicos. São misturas produzidas com a participação de matérias primas (amônia – NH3, ácido sulfúrico – H2SO4, ácido fosfórico – H3PO4), as quais dão origem a compostos químicos como sulfato de amônio – (NH4)2SO4, fosfato monoamônico (MAP) – NH4H2PO4, fosfato diamônico (DAP) – (NH4)2HPO.
Fertilizante orgânico
“Produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matérias-primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais.”
Simplificadamente, são os fertilizantes constituídos de compostos orgânicos de origem natural, vegetal ou animal. Alguns tipos bastante utilizados são:
- Esterco animal (bovino, de aves)
- Produto de compostagem;
- Biofertilizantes;
- Farinha de ossos;
- Húmus de minhoca.
Normalmente este tipo de fertilizante possui baixíssimas concentrações de nutrientes minerais, sendo utilizados principalmente com o intuito de melhorar alguns atributos do solo, como aumento da porosidade, aeração, retenção de água, atividade microbiana e capacidade de retenção de cátions, melhorando assim, a qualidade do solo.
Dessa forma, os fertilizantes orgânicos promovem a melhoria das propriedades físicas, físico-químicas ou atividade biológica do solo – agindo como um condicionador de solo.
Fertilizante organomineral
“Produto resultante da mistura física ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos”.
O objetivo dessas misturas é enriquecer os materiais orgânicos de nutrientes vegetais.
Porém, sua aplicabilidade tem sido restrita porque só se consegue produzir essas misturas com concentrações relativamente baixas tanto do componente orgânico como do mineral.
Como os fertilizantes são produzidos?
Para produzir os fertilizantes, a indústria transforma milhões de toneladas de ar, gás natural e minérios extraídos em produtos de nutrição vegetal a base nitrogênio, fósforo e potássio, que são os principais nutrientes utilizados nos fertilizantes minerais.
Vejamos como ocorre essa produção:
NITROGÊNIO (N)
Para a produção de fertilizantes nitrogenados, o processo começa com a mistura de nitrogênio do ar com hidrogênio do gás natural a alta temperatura e pressão para criar amônia, produto gasoso, que é o intermediário da produção de todos os fertilizantes nitrogenados.
A amônia é usada para produzir ácido nítrico, com o qual é então misturada para produzir fertilizantes nítricos, como nitrato de amônio.
A amônia também pode ser misturada com dióxido de carbono líquido para sintetizar a ureia.
Ambos os produtos podem ser misturados com água para formar solução de URAN (ureia e nitrato amônio).
FÓSFORO (P)
Os fertilizantes fosfatados são produzidos a partir de minérios extraídos. A rocha fosfática é tratada principalmente com ácido sulfúrico para produzir ácido fosfórico, que é concentrado ou misturado com amônia para produzir uma gama de fertilizantes fosfatos (Figura 2).
POTÁSSIO (K)
Fertilizantes à base de potássio também são produzidos a partir de minérios extraídos (rochas potássicas). Vários processos químicos podem ser usados para converter a rocha de potássio em alimentos vegetais, incluindo cloreto, sulfato e nitrato de potássio (Figura 2).
Quais são os fertilizantes mais usados?
De acordo com a ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos) o Brasil vêm aumentando significativamente o consumo de K2O, que é, em quantidade, o nutriente mais utilizado no País (Figura 3). Dados da associação mostram que a demanda de KCl deve ser de 6.818 mil t de K2O na safra de 2023/2024.
Depois dele, grandes quantidades de P2O5 são utilizados anualmente nas nossas lavouras, dada a baixa disponibilidade deste nutriente nos solos tropicais, que sofre inúmeras reações que o tornam pouco disponível às plantas. A demanda de P2O5 no Brasil deve ficar ao redor de 6.420 mil t na safra 2023/24, de acordo com dados da ANDA.
O nitrogênio apesar de utilizado em elevadas doses para culturas como milho e batata, é suplementado todo por inoculação com bactérias que realizam a fixação biológica no nitrogênio em culturas como a soja.
Normalmente estes nutrientes são aplicados na forma de formulados NPK.
Os micronutrientes, como demandados em menores quantidades pelas plantas, são aplicados normalmente via foliar ou em formulados NPK complementados com micronutrientes.
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Referências
LOUREIRO, F.E.L.; MELAMED., R.G.; FIGUEIREDO NETO, J. (Editores). Fertilizantes agroindústria e sustentabilidade. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2009. 645p.
MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. DECRETO Nº 4.954 DE 14 DE JANEIRO DE 2004.
Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)