Com uma vasta área plantada de cerca de 20 milhões de hectares anualmente e uma produção que alcança mais de mais de 110 milhões de toneladas, o Brasil se firma com um dos maiores produtores e exportadores de milho do mundo.
Este cereal não é só importante para a segurança alimentar nacional, como impulsiona também a economia do País, sendo fundamental para alimentação animal, para a indústria de biocombustíveis e para a exportação.
Das terras férteis do Sul, que cultivam principalmente o milho de primeira safra, às vastas planícies do Centro-Oeste, que expandem cada vez mais a segunda safra do milho, cada região contribui de maneira única para o sucesso do setor. O uso crescente de tecnologias de precisão, como o plantio direto e o uso de sementes geneticamente modificadas, elevou a produtividade média de 3,5 para 5,7 toneladas por hectare (95 sc/ha) nos últimos 20 anos. Contudo, as oportunidades de expansão ainda existem.
Vamos ver neste artigo, o histórico dos dados de área plantada, produção e produtividade de milho no Brasil. Vamos ver também quais são as oportunidades de melhoria e as inovações que podem ser utilizadas como estratégias para aumentar ainda mais o destaque da produção de milho no Brasil.
Acompanhe e boa leitura!
Panorama da produção de milho no Brasil
O milho (Zea Mays) é cultivado em praticamente todo o território brasileiro, embora a produção se concentre nas regiões Centro-Oeste (54% da produção), Sul (20% da produção) e Sudeste (9% da produção).
A participação dessas regiões vem se alterando drasticamente ao longo dos anos, principalmente com destaque para a região Centro-Oeste que passou ser a principal região produtora do País com o crescimento do plantio de milho de segunda safra, ou milho safrinha.
O Mato Grosso é o principal estado produtor de milho no Brasil, representando 33% de todo o milho produzido no Brasil na média das safras de 2019 a 2021, de acordo com dados da USDA (Figura 1).
Área plantada e produção total de milho no Brasil
Nos últimos 20 anos, a área plantada com milho no Brasil aumentou 74,6% – de 12,8 milhões de hectares em 2003 para 22,3 milhões de hectares em 2023, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), agência de abastecimento de alimentos e estatísticas do Brasil (Figura 2).
Neste mesmo período, a produção do grão cresceu 213% no país (de 42,1 para 131,9 milhões de toneladas), impulsionada principalmente pelo aumento da produção de milho de segunda safra, conhecido também como safrinha.
A segunda safra de milho é plantada logo após a colheita da soja e é geralmente colhido entre junho e agosto. Na safra 2022/2023, a safrinha correspondeu a 66% da produção total de milho no Brasil.
Além disso, o Brasil iniciou recentemente (safra 2018/19) a produção de uma terceira safra de milho no Nordeste. Embora essa safra ainda seja pequena, ela continua a crescer (Figura 2 e Tabela 1).
Para a safra 2023/2024, as projeções da Conab de julho de 2024, indicam uma queda de 6,3% na área plantada com redução de 12,1% na produção nacional, conforme indicam dados da Tabela 1.
Tabela 1. Comparativo de área, produtividade e produção de milho no Brasil na Safra 2022/23 e estimativa para a Safra 2023/24
Área (em mil hectares) | Produtividade (em Kg/ha) | Produção (em Mil t) | |||||||
Cultura | Safra 22/23 | Safra 23/24 | Var. (%) | Safra 22/23 | Safra 23/24 | Var. (%) | Safra 22/23 | Safra 23/24 | Var. (%) |
Milho 1ª Safra | 4.444 | 4.006 | (-9,9) | 6.160 | 5.852 | (-5,0) | 27.373 | 23.443 | (-14,4) |
Milho 2ª Safra | 17.193 | 16.199 | (-5,8) | 5.954 | 5.556 | (-6,7) | 102.365 | 90.007 | (-12,1) |
Milho 3ª Safra | 633 | 658 | +4,0 | 3.406 | 3.663 | +7,5 | 2.154 | 2.409 | +11,8 |
MILHO TOTAL | 22.269 | 20.863 | (-6,3) | 5.923 | 5.553 | (-6,2) | 131.893 | 115.859 | (-12,2) |
Os dados mostram que:
- Safra 2022/23:
- Produção de milho no Brasil: 131,9 milhões de toneladas
- Área plantada com milho no Brasil: 22,3 milhões de hectares.
- Safra 2023/24:
- Produção de milho no Brasil: 115,9 milhões de toneladas
- Área plantada com milho no Brasil: 20,9 milhões de hectares.
Para efeito comparativo, os Estados Unidos, maior produtor de milho do mundo, produziram 13,7 bilhões de bushels (equivalente a 348,4 milhões de toneladas) de milho na safra 2022/23, quase três vezes a do Brasil, segundo dados do USDA.
A Área plantada com milho nos EUA é próxima a 80 milhões de acres (equivalente a 32,4 milhões de hectares), somente 10 milhões de hectares a mais que o Brasil. Isso mostra que a média de produtividade americana é muito maior que a brasileira, como veremos a seguir.
Produtividade média do milho no Brasil e EUA
Nos últimos 20 anos, a produtividade média do milho no Brasil cresceu mais de 70%, mas ainda está muito atrás do rendimento nos Estados Unidos (Figura 2).
Na safra 2022/23, o rendimento do milho no Brasil foi de aproximadamente 98 sacos por hectare (ou 5,9 toneladas por hectare). Em comparação, nos Estados Unidos, o rendimento médio na mesma safra foi de cerca de 181 sacos por hectare (ou 10,9 toneladas por hectare).
A maior produtividade obtida pelos americanos é um reflexo de sua avançada tecnologia agrícola e das condições climáticas favoráveis ao cultivo do milho. Além disso, as extensas áreas cultiváveis nos EUA contribuem para que o país se mantenha com o maior produtor de milho do mundo.
Apesar de o Brasil ter elevado a produtividade média em mais de 70% ao longo dos últimos 20 anos (de 3,5 para 5,9 toneladas por hectare), ela ainda é baixa – menos de 100 sacas/ha. Em muitas áreas de cultivo, contudo, a produtividade é o dobro da média nacional. A utilização de práticas de manejo adequadas e de variedades cada vez mais produtivas revela que ainda é possível aumentar os patamares produtivos da média nacional de produção de milho.
Destino da produção brasileira de milho
E qual é o destino do milho produzido no Brasil? Atualmente, do total da produção brasileira de milho:
- cerca de 50% (65 milhões de toneladas) é consumida pela alimentação animal,
- 10% vão para as usinas produtoras de etanol (13 milhões de toneladas) no mercado interno.
- O restante, perto de 50 milhões de toneladas, seria o potencial para exportação.
Apesar de todo o cenário otimista existe alguns fatores que são extremamente desafiados para os produtores brasileiros, como veremos a seguir.
Brasil será o maior exportador de milho do mundo?
A hegemonia americana de maior exportador de milho do mundo está sendo ameaçada pelo Brasil. Em 2023, pela segunda vez na história, o Brasil ultrapassou os EUA e se tornou o maior exportador de milho do mundo.
As exportações brasileiras subiram sete vezes em 15 anos, saltando de 7 milhões de toneladas para 50 milhões de toneladas (Figura 4).
Colussi et al. (2024) avaliou que a tendência é que as taxas de crescimento da área plantada com milho no Brasil continuem ultrapassando as dos Estados Unidos nos próximos anos, impulsionadas pelo cultivo do milho na segunda safra.
Apesar do rendimento médio do milho brasileiro ter crescido nos últimos anos, ainda está longe do rendimento médio de milho nos Estados Unidos. Mesmo assim, a possível liderança brasileira na exportação de milho pode não ser temporária.
Fatores que impulsionam o crescimento da produção de milho no Brasil
A produção de milho no Brasil é impulsionada por vários fatores, que vão desde as condições climáticas e práticas de manejo até a demanda interna e externa pelo grão (Figura 3).
Os altos preços e lucros da Safra 2021/22, juntamente com a depreciação da moeda brasileira em relação ao dólar, motivaram os agricultores a aumentarem sua área plantada na safra passada.
Além disso, o Brasil está expandindo sua produção de etanol de milho. Atualmente, 18 usinas de etanol de milho estão em operação e outras cinco estão em construção, a maioria delas nos estados do centro-oeste, onde se concentra a segunda safra de milho. A maior demanda interna para produção e etanol de milho, portanto, também impulsiona o aumento da demanda.
Dentre as inovações tecnológicas e práticas de manejo que impulsionaram a produção nacional de milho até aqui, podemos citar:
- Biotecnologia e Sementes Geneticamente Modificadas (OGM): A introdução de sementes geneticamente modificadas na década de 1990 foi um divisor de águas para a produção de milho. Essas sementes aumentaram a resistência a pragas e doenças, reduzindo a necessidade de defensivos químicos e minimizando as perdas. Com a adoção massiva dessas sementes, o Brasil conseguiu aumentar sua produtividade significativamente sem a necessidade de expandir áreas agrícolas.
- Uso de Microrganismos na Agricultura: Soluções biotecnológicas, como o uso de microrganismos para fixação biológica de nitrogênio e solubilização de fósforo, têm melhorado a eficiência do uso de fertilizantes. Estes produtos aumentam a disponibilidade de nutrientes para as plantas, promovendo um crescimento saudável e sustentável. Essa inovação é crucial, especialmente considerando a dependência do Brasil em fertilizantes importados.
- Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc Milho): O Zarc Milho é uma ferramenta importante para mitigar os riscos associados às mudanças climáticas. Ele fornece informações detalhadas sobre a melhor época e condições para o plantio, ajudando os produtores a tomarem decisões mais informadas e reduzir perdas por eventos climáticos adversos.
Por fim, o apoio de políticas agrícolas ao agronegócio brasileiro (principalmente pelo fornecimento de créditos rurais e pela política de Preços Mínimos), também favorecem o aumento da produção nacional de milho.
Desafios da produção de milho no Brasil
Os desafios enfrentados na produção de milho no Brasil incluem:
1. Melhorar a produtividade nacional
Embora produtividades muito boas de milho (180 a 190 sacas por hectare) já sejam obtidas em algumas lavouras, a realidade brasileira é outra: a média nacional de produtividade é de menos de 100 sacas de milho por hectare. Mudar essa realidade e aumentar a produtividade média nacional é um grande desafio!
2. Clima e Variações Climáticas
Apesar das condições climáticas favoráveis em grande parte do país, variações climáticas extremas causadas pelas mudanças climáticas, como secas (como a que ocorreu por exemplo no Centro-oeste e sudeste brasileiro no ano de 2022), chuvas intensas (que ocorreram recentemente em maio de 2024 no Rio Grande do Sul) e ondas de calor, podem afetar negativamente a produtividade e a qualidade do milho.
3. Flutuações de Mercado e Preços
Pelo fato do milho ser uma commoditie agrícola, a volatilidade nos preços internacionais e flutuações cambiais podem impactar a rentabilidade dos produtores e a competitividade no mercado global.
4. Infraestrutura Logística
Ainda há deficiências significativas na infraestrutura de transporte e armazenamento de grãos, o que pode resultar em custos elevados e perdas pós-colheita. Além disso, o transporte rodoviário encarece bastante o custo de produção, reduzindo os retornos econômicos do produtor.
5. Desafios Fitossanitários
Pragas (como lagartas e sugadores) e doenças (como a mancha-branca, as ferrugens, a cercosporiose, as podridões de espigas e os enfezamentos) representam desafios constantes, exigindo manejo integrado e investimentos em pesquisa para desenvolvimento de variedades resistentes e controle sustentável.
6. Sustentabilidade Ambiental
A expansão das áreas de cultivo pode impactar negativamente o meio ambiente, levantando preocupações sobre o uso sustentável da terra, conservação dos recursos hídricos e perda de biodiversidade.
Superar esses desafios requer políticas públicas eficazes, investimentos contínuos em pesquisa e inovação agrícola, além de práticas sustentáveis que garantam a resiliência do setor frente às adversidades econômicas e ambientais.
Oportunidades e inovações na produção de milho
A produção de milho no Brasil passou por significativas transformações ao longo das décadas, impulsionada por inovações tecnológicas e práticas agrícolas sustentáveis. Este avanço contínuo tem aberto diversas oportunidades, contribuindo para o aumento da produtividade e a sustentabilidade da cadeia produtiva.
Dentre as oportunidades e inovações que mais se falam na atualidade para a produção de milho estão a:
- Aumento na produção de etanol de milho.
- Expansão do uso de produtos mais sustentáveis, como biodefensivos, biofertilizantes e bioestimulantes.
- Integração lavoura-pecuária
A produção de etanol a partir do milho é uma oportunidade crescente, especialmente no Centro-Oeste do Brasil. A instalação de usinas de etanol na região tem aumentado o consumo local de milho, agregando valor à produção e estabilizando os preços do grão.
O mercado de bioinsumos têm crescido rapidamente no Brasil, como abordado em artigo recente no nosso blog: Mercado de bioinsumos: 5 causas do crescimento acelerado. Este mercado oferece uma alternativa viável e sustentável para produtos químicos considerados tóxicos ao meio ambiente, promovendo uma agricultura mais ecológica.
Apesar de ser uma ideia bem antiga (porém ainda pouco implementada), a integração lavoura-pecuária tem potencial de trazer grandes melhorias ao sistema produtivo de milho.
Neste aspecto, é fundamental que os produtores e profissionais do setor estejam sempre atualizados e conheçam as tecnologias disponíveis. A busca constante por conhecimento e a adoção de práticas inovadoras são essenciais para manter a competitividade e a sustentabilidade da produção de milho no Brasil.
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A capacitação dos produtores e demais profissionais de campo é fundamental para atingirmos maiores produtividades na cultura do milho. Através de treinamentos, workshops e acesso a informações atualizadas sobre tecnologias e práticas agrícolas, os agricultores podem implementar técnicas mais eficientes e sustentáveis.
A educação contínua permite que os produtores adotem inovações, melhorando a gestão de suas propriedades e, consequentemente, aumentando a produtividade e a rentabilidade de suas colheitas. Iniciativas de capacitação, como as promovidas por organizações agrícolas e empresas do setor, são essenciais para garantir que os agricultores estejam preparados para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades do mercado agrícola global.
Para os produtores que desejam sempre maximizar a sua produção de milho no Brasil, estar atualizado com as mais recentes tendências, inovações e desafios do setor é essencial para garantir a competitividade e a sustentabilidade de suas operações. Uma excelente oportunidade para adquirir esse conhecimento e fortalecer a rede de contatos é realizar o nosso curso Expert em Soja e Milho. Aprenda com os mais renomados professores do agronegócio brasileiro e destaque-se com sua produção! Clique em “SAIBA MAIS” e não fique de fora da próxima turma!
Referências
COLUSSI, J.; SCHNITKEY, G.; PAULSON, N. “Will Brazil Emerge as the Number One Corn Exporting Nation?” farmdoc daily (13):48, Department of Agricultural and Consumer Economics, University of Illinois at Urbana-Champaign, March 16, 2023. Disponível em: https://farmdocdaily.illinois.edu/2023/03/will-brazil-emerges-as-the-number-one-corn-exporting-nation.html/. Data de acesso: 18 Jul 2024.
COLUSSI, J.; PAULSON, N.; JANSEN, J.; ZULAUF, C. U.S. Dominance in Corn Exports on the Wane Due to Brazilian Competition. ?” farmdoc daily (14):50, Department of Agricultural and Consumer Economics, University of Illinois at Urbana-Champaign, March 12, 2024. Disponível em: https://farmdocdaily.illinois.edu/2024/03/us-dominance-in-corn-exports-on-the-wane-due-to-brazilian-competition.html. Data de acesso: 24 Jul 2024.
CONAB, Compania Nacional de Abastecimento. Séries históricas das safras. Primeira, segunda e terceira safras de milho total. Brasília, DF. March 2023. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras/itemlist/category/910-Milho. Data de acesso: 17 Jul 2024.
CONTINI, E.; MOTA, M. M.; MARRA, R.; BORGHI, E.; MIRANDA, R. A. de; SILVA, A. F. da; SILVA, D. D. da; MACHADO, J. R. de A.; COTA, L. V.; COSTA, R. V. da; MENDES, S. M.
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Sobre a autora:
Beatriz Nastaro Boschiero
Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance
- Pós-doutora pelo CTBE/CNPEM e CENA/USP
- Mestra e Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)
- Engenheira Agrônoma (UNESP/Botucatu)