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Etanol de milho no Brasil: 3 razões que impulsionam o crescimento

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A produção brasileira de etanol de milho deve alcançar 6 bilhões de litros na safra 2023/2024, uma alta de 36% em relação ao ano passado e de 800% nos últimos cinco anos, de acordo com projeções da União Nacional do Etanol de Milho (Unem).  

A produção de etanol de milho no Brasil tem chamado a atenção devido à sua rápida expansão nos últimos anos. O aumento da capacidade produtiva é resultante principalmente: 

  1. da ampliação do complexo industrial brasileiro – que têm seu número de usinas aumentado e ampliado nos últimos anos.  
  2. da adoção de tecnologias que aumentaram o rendimento industrial  
  3. do aumento da demanda internacional por biocombustíveis 

 

Projeção de crescimento na produção de etanol de milho até 2030 

Se em 2013 o Brasil tinha a modesta produção de 11 milhões de litros de etanol de milho, os dados dez anos depois, da safra de 2023 chegaram ao total de 4,5 bilhões de litros.  

Quando olhamos ainda mais além, até 2030, a estimativa da Unem é de 10 bilhões de litros de etanol do cereal produzidos no Brasil (Figura 1). 

Na safra atual, o etanol de cana-de-açúcar deverá produzir 27 bilhões de litros. 

O milho foi responsável por 15% de toda a geração de etanol no Brasil na safra 2022/23 e a estimativa da Unem é que o etanol de milho represente 20% do mercado de biocombustíveis no País até 2030. 

 No período, segundo a entidade, foram investidos mais de R$ 15 bilhões em parques industriais de etanol de milho (matéria publicada na revista Isto é). 

 

Histórico e projeção da produção de etanol de milho no Brasil

Figura 1. Histórico e projeção da produção de etanol de milho no Brasil. Dados: Unem. 

 

Esse crescimento é suportado pela crescente produção de milho no Brasil, principalmente com aumento de cultivo de milho de segunda safra, que domina a produção nacional desde 2011 (Figura 2) 

Figura 2. Evolução da produção de milho no Brasil – primeira e segunda safra. Fonte: Silva e o Castaneda-Ayarza, 2021. 

 

 

Usinas de etanol de milho operando no Brasil 

A produção de etanol de milho no Brasil teve início em 2012 com a inauguração de uma planta industrial operando no modelo flex, que possui uma estrutura para a produção de etanol usando cana e milho na mesma unidade industrial (Fava Neves, 2021).  

Outras unidades foram sendo inauguradas desde então e em 2017 foi inaugurada a primeira usina no modelo full, que produz etanol utilizando somente milho (Figura 3).  

linha do tempo das usinas de etanol de milho no Brasil

Figura 3. Linha do tempo das Usinas de etanol de milho no Brasil 

 

Onde estão as usinas de etanol de milho no Brasil?

O Brasil conta hoje, em 2023, com 18 usinas de etanol de milho em operação, de acordo com a União Nacional de Etanol de Milho (Unem). Dessas, 11 estão instaladas nos munícipios mato-grossenses de Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop, Nova Mutum, Poconé, Nova Marilândia, São José do Rio Claro, Jaciara, Campos de Júlio (Figura 4). 

Usinas de etanol de milho operando no Brasil 2023

Figura 4. Usinas de etanol de milho em operação no Brasil na safra de 2022/2023. Fonte: RDNews 

 

De acordo com a Forbes o próximo ano safra de etanol deve iniciar com 20 indústrias autorizadas para produção localizadas nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e São Paulo, duas a mais do que no ciclo 22/23. 

 

Modelos de usinas de etanol de milho operando no Brasil 

Existem três modelos de usinas de etanol de milho operando no Brasil (Figura 5): 

  • Full – processa exclusivamente milho para produção de etanol; 
  • Flex – usinas de cana-de-açúcar adequadas para produzir etanol de milho no período da entressafra da cana; 
  • Flex full – usinas de cana e milho que operam paralelamente. 

 

Modelos de usina de produção de etanol no Brasil

Figura 5. Modelos de usinas operando para a produção de etanol no Brasil.  

 

 

Nove usinas em fase de construção no Brasil 

A expectativa do setor para os próximos anos é ampliar para 19 o número de indústrias de etanol no Estado do Mato Grosso. 

Hoje, o Brasil conta com nove usinas de etanol de milho em processo de construção, de acordo com reportagem do canal rural desse ano. Seis delas estão localizadas em solo mato-grossense, nos municípios de Sorriso, Ipiranga do Norte, Campo Novo do Parecis, Primavera do Leste, Tabaporã e Vera. 

 

Maior produção de etanol de milho acontece na região centro-oeste 
Usina de produção de etanol de milho

Unidade de produção de etanol de milho da FS em Sorriso, no Mato Grosso: em três anos, produção saltou de 230 milhões de litros de etanol anidro para cerca de 1,5 bilhão de litros por ano — Foto: Divulgação 

 

Dos quase 4,5 bilhões de litros de etanol produzidos na última safra, mais de 90% foram produzidos na região Centro-Oeste do Brasil, especialmente nos estados de Mato Grosso e Goiás, onde há oferta elevada de milho e se concentram as usinas em operação no Brasil. 

O estado de Mato Grosso se consolida, cada vez mais, como um dos principais produtores de etanol do país e já ocupa o terceiro lugar no ranking de maior fabricante do biocombustível, ficando atrás de São Paulo e Goiás. Para comparação, faz somente 10 anos que a produção de Mato Grosso ultrapassou 1 bilhão de litros.  

Esse crescimento da última década está sendo sustentado pelo aumento da produção de etanol de milho, que hoje responde por cerca de 75% da produção de etanol do estado (Forbes Brasil).  

Mato Grosso deverá na safra 2023/24 produzir 4,16 bilhões de litros de etanol de milho. O volume representa quase 70% da produção brasileira prevista em seis bilhões de litros. As projeções são da União Nacional do Etanol de Milho (Canal Rural).  

No país o volume projetado significa um aumento de 36,7% na produção em comparação a safra 2022/23, que encerra neste mês de março, ou seja, um incremento de 1,5 bilhões litros na capacidade atual de produção e oferta. 

 

Adoção de tecnologias que aumentam a produção e o rendimento industrial 

Em sete anos, com a incorporação de novas tecnologias, a produtividade de etanol por tonelada de milho no Brasil teve ganho de eficiência de 20%, saindo de 380 litros por tonelada para 440 (Gazeta do Povo).  

 Esse número é muito superior ao da cana-de-açúcar, que produz em média 80 litros de etanol por tonelada de colmos. A grande diferença entre as culturas é a produtividade média por hectare, muito superior para a cana-de-açúcar (Figura 6). 

cana-de-açúcar, milho e sorgo para produção de etanol

Figura 6. Comparação entre diferentes fontes de etanol. 

 

Além disso, a adoção de tecnologias também permite que o Brasil aumente a produção de milho – matéria prima para produção do biocombustível. 

A partir do desenvolvimento de um novo processo de fermentação do milho (baseado no aproveitamento de células de leveduras provenientes da fermentação da cana-de-açúcar) que permite integrar o amido de milho ao melaço de cana-de-açúcar, uma série de vantagens está sendo oferecida às usinas convencionais brasileiras que operam exclusivamente com cana-de-açúcar.

Enquanto o processo de fermentação leva de 45 a 60 horas nas usinas americanas, a nova fermentação brasileira que combina cana-de-açúcar com milho leva em torno de 34 a 36 horas, em média 66% mais rápida que a fermentação americana (Silva e o Castaneda-Ayarza, 2021). 

 

Aumento da demanda internacional por biocombustíveis 

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), e considerando o Cenário Sustentável traçado internacionalmente, o consumo de biocombustíveis (incluindo etanol, biodiesel, biometano, óleo vegetal hidratado) poderá aumentar significativamente até 2030, o que exigiria um aumento de cerca de 165% na produção global desses produtos (Fava Neves, 2021; Figura 7). 

Produção de biocombustíveis no mundo

Figura 7. Biocombustíveis em 2018 em comparação com o consumo em 2030. Fonte: Fava Neves, 2021. 

 

Nos próximos anos, alguns fatores econômicos e políticas de governo, como a mistura obrigatória de 20% de etanol na gasolina no mercado indiano, que também está adotando a produção de carros flex (Udop), podem aumentar ainda mais a demanda internacional. 

A Índia é hoje o maior exportador mundial de açúcar e aumentar a produção de etanol no país pode resultar em maior demanda mundial de açúcar por parte do Brasil, que poderia suprir parte da demanda de etanol do mercado interno com o biocombustível produzido a partir do milho.  

  

Conclusão 

Em uma década, o etanol de milho se consolidou no Brasil como um produto valioso sob diversos ângulos. É uma opção a mais para o setor sucroalcooleiro, uma contribuição adicional para a sustentabilidade na indústria automobilística e uma via para o ingresso de investimentos e a geração de postos de trabalho no país.  

No modelo safra-safrinha, o milho complementa a cana e equaliza o mercado de etanol, mitigando riscos de desabastecimento (Fava Neves, 2021). 

Somando a ampliação do parque industrial brasileiro, que vem recebendo significativos investimentos, a produção crescente de milho no Brasil, a adoção de tecnologias que melhoram a eficiência produtiva de etanol e a crescente demanda internacional por biocombustíveis, o Brasil mais uma vez, vêm se destacando no cenário mundial. 

 

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Referências 

Fava Neves, M. Etanol de milho (livro eletrônico): cenário atual e perspectivas para a cadeia no Brasil. 1ª ed. Ribeirão Preto, SP: UNEM, 2021. PDF. 

Silva, A.L., Castaneda-Ayarza, J. A. Macro-environment analysis of the corn ethanol fuel development in Brazil. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 110387, 2021. DOI: 10.1016/j.rser.2020.110387. 

 

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

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