Você já parou para pensar que, mesmo na entressafra, o solo precisa de atenção? Muitas vezes, quando a entressafra chega, pensamos que o solo está apenas ‘descansando’, mas a verdade é que este período é uma janela de oportunidade para cuidar dele de maneira estratégica.
O manejo adequado do solo vai muito além de uma simples prática -ele engloba um conjunto de técnicas que têm como objetivo preservar a saúde do solo, melhorar suas condições físicas, químicas e biológicas, e garantir a eficiência produtiva a longo prazo.
Neste artigo, vamos explorar em detalhes o que é o manejo do solo, as principais técnicas utilizadas e como aplicá-las de forma prática e eficiente no campo.
Vamos juntos aprofundar nesse tema e entender como as boas práticas podem fazer toda a diferença na entressafra e na safra seguinte.
Boa leitura!
O que é o Manejo do Solo?
O manejo do solo consiste em um conjunto de práticas que visam preservar e melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo. Ele é essencial para garantir a produtividade das culturas ao longo do tempo, prevenindo a degradação do solo e promovendo a sustentabilidade da produção.
A saúde ou qualidade do solo é resultado do equilíbrio entre suas propriedades, refletindo sua capacidade de sustentar as funções essenciais para o ecossistema agrícola e ambiental. Observe como esses aspectos se interconectam, destacando a influência do manejo integrado no controle de erosão, regulação climática, conservação da biodiversidade e outras funções importantes (Figura 1).

Um solo bem manejado é capaz de suportar condições adversas, como chuvas intensas, sem perder sua capacidade de produzir alimentos.
E o que significa o manejo adequado do solo?
O manejo adequado do solo vai além de simplesmente preparar o terreno para o plantio. Ele envolve práticas baseadas em conhecimento técnico, como:
- correção de fertilidade,
- controle de erosão,
- adubação planejada e
- rotação de culturas.
A integração dessas estratégias cria um ambiente propício para o crescimento das plantas e a conservação dos recursos naturais.
Na entressafra, essa abordagem é especialmente importante, pois o solo está mais suscetível à degradação devido à ausência de culturas que protejam sua superfície.
Quais são as práticas de manejo do solo?
Aqui, destacarei 5 práticas essenciais para o manejo sustentável do solo na entressafra, com exemplos técnicos e práticos que demonstram sua eficácia.
Amostragem e Análise de Solo
A amostragem e a análise do solo são etapas fundamentais para compreender as condições químicas, físicas e biológicas do terreno.
Essas práticas fornecem informações detalhadas sobre a fertilidade, textura, níveis de compactação, presença de nematoides e outros fatores críticos que impactam diretamente a produtividade das culturas.
Realizar essa etapa com precisão é importante para embasar decisões de manejo, garantindo principalmente a eficiência no uso de insumos.
- Divisão das áreas: Comece dividindo os talhões em áreas homogêneas, levando em conta fatores como tipo de solo, topografia e histórico de manejo. Essa divisão é crucial para que as amostras sejam representativas das condições reais do campo.
- Ferramentas adequadas: Use equipamentos como trados ou sondas para garantir uma coleta uniforme e livre de contaminações externas.
- Envio ao laboratório: Após a coleta, acondicione as amostras adequadamente e envie para um laboratório especializado e confiável, que realizará análises detalhadas de macronutrientes, micronutrientes, pH, matéria orgânica, textura e outros parâmetros relevantes.
Uma análise criteriosa do solo permite identificar deficiências nutricionais, avaliar a necessidade de correções e prever possíveis limitações ao crescimento das plantas.
Ao interpretar os resultados, é fundamental contar com a orientação de um agrônomo ou técnico especializado, garantindo que as recomendações sejam bem ajustadas à realidade de cada propriedade.
Correção do Solo
A correção do solo é uma prática indispensável para ajustar a fertilidade e melhorar as condições físicas e químicas, garantindo um ambiente favorável ao desenvolvimento das culturas.
Durante a entressafra, esse é o momento ideal para realizar intervenções corretivas, como a aplicação de calcário, gesso agrícola ou corretivos orgânicos, permitindo que esses insumos reajam com o solo antes do plantio da próxima safra.
- Correção da acidez com calcário:
O calcário é amplamente utilizado para neutralizar a acidez do solo, aumentando o pH e, consequentemente, a disponibilidade de nutrientes essenciais como cálcio (Ca) e magnésio (Mg). Para culturas que demandam solos menos ácidos, como soja e milho, essa prática é essencial. A escolha entre calcário calcítico (rico em cálcio) ou dolomítico (com maior teor de magnésio) deve ser baseada nos resultados da análise do solo.
Aplicação: Realize a distribuição uniforme do calcário na superfície do solo, de preferência com antecedência de três a seis meses antes do plantio, permitindo tempo suficiente para a reação química.
- Correção da acidez do subsolo com gesso agrícola:
O gesso é indicado para áreas com camadas subsuperficiais ácidas, pois sua ação é mais eficiente no perfil do solo em profundidade. Ele promove a lixiviação controlada de cátions como cálcio, que auxiliam no desenvolvimento do sistema radicular em camadas mais profundas, aumentando a resiliência das plantas em períodos de seca.
- Uso de corretivos orgânicos:
Produtos como esterco curtido, compostos orgânicos e biofertilizantes podem ser utilizados para melhorar a estrutura do solo, aumentar a matéria orgânica e ativar a microbiota benéfica. Esses corretivos são particularmente úteis em sistemas que visam práticas de agricultura regenerativa ou sustentável.
Controle de Plantas Daninhas
As plantas daninhas representam um grande desafio para a produtividade agrícola, pois competem diretamente com as culturas por recursos essenciais como água, luz e nutrientes.
Além disso, contribuem para o aumento do banco de sementes no solo, dificultando o manejo a longo prazo. O manejo de plantas daninhas na entressafra facilita o manejo das plantas infestantes na cultura de verão e ajuda no controle da buva (Conyza bonariensis, Conyza canadenses, Conyza sumatrensis) e para o capim-amargoso (Digitaria insularis), espécies que atualmente têm assumido grande importância nas áreas de produção de soja.
Controle químico e mecânico
- Controle químico: A aplicação de herbicidas deve ser feita no início da entressafra, utilizando produtos adequados à fase de desenvolvimento das plantas daninhas presentes. Herbicidas pré-emergentes são altamente recomendados para prevenir novas infestações, criando uma barreira química que impede a germinação de sementes daninhas.
- Controle mecânico: Em áreas com alta infestação, o controle mecânico, como a roçada ou o uso de grades leves, pode ser utilizado como medida complementar, reduzindo a densidade inicial de plantas daninhas e expondo o banco de sementes à degradação ambiental.
Planejamento e rotação de herbicidas
Evitar o uso repetido de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação é crucial para prevenir a seleção de plantas daninhas resistentes.
A rotação de produtos químicos, aliada à integração de métodos mecânicos e culturais, promove maior eficácia no controle e prolonga a vida útil dos herbicidas disponíveis.
Cobertura do solo
O uso de plantas de cobertura na entressafra também é uma técnica eficaz para o manejo de plantas daninhas.
Espécies como braquiária ou crotalária competem com as daninhas por luz e espaço, reduzindo naturalmente sua emergência e desenvolvimento.
Benefícios de um manejo integrado
Um controle bem planejado durante a entressafra não só reduz os custos diretos de manejo, mas também minimiza os impactos ambientais, melhora a eficiência do uso de insumos e garante um solo mais limpo e produtivo para o plantio da próxima safra.
Planejamento de Adubação
O planejamento da adubação é uma das etapas mais importantes para assegurar que os nutrientes essenciais estejam disponíveis no solo no momento certo, promovendo o desenvolvimento saudável das culturas e otimizando os resultados produtivos.
- Baseie-se na análise de solo:
A análise de solo é o ponto de partida para qualquer plano de adubação. Os resultados fornecem informações precisas sobre os teores de nutrientes disponíveis e as deficiências a serem corrigidas. Com base nesses dados, é possível calcular as doses ideais de fertilizantes, evitando tanto a subdosagem quanto a aplicação excessiva, que pode causar perdas econômicas e danos ao meio ambiente. - Selecione os fertilizantes adequados:
A escolha do tipo de fertilizante (mineral, organomineral ou orgânico) deve considerar as necessidades específicas da cultura, as características do solo e a estratégia de manejo adotada. Por exemplo, fertilizantes de liberação controlada podem ser vantajosos para fornecer nutrientes de maneira gradual, atendendo às demandas da planta ao longo do ciclo. - Adote técnicas de adubação de precisão:
Tecnologias de agricultura de precisão, como mapas de prescrição e sensores de solo, permitem a aplicação localizada e precisa dos insumos. Isso maximiza a eficiência do uso de nutrientes, reduzindo perdas por lixiviação ou volatilização e garantindo maior uniformidade no desenvolvimento das plantas. - Planeje o momento ideal para a aplicação:
A aplicação de fertilizantes deve ser sincronizada com as fases de maior demanda nutricional da cultura. Na entressafra, a aplicação de corretivos e fertilizantes de base é recomendada para preparar o solo para o próximo ciclo produtivo, enquanto os fertilizantes de cobertura devem ser reservados para momentos de maior exigência das plantas em crescimento.
Em sistemas que utilizam adubação de precisão, produtores têm relatado aumentos significativos na eficiência do uso de insumos e na produtividade, conforme descrito em estudos técnicos e casos práticos apresentados pela Embrapa.
Utilização de Plantas de Cobertura
As plantas de cobertura atuam como uma barreira natural contra a erosão, aumentam o teor de matéria orgânica, melhoram a estrutura do solo, protegem a temperatura e auxiliam no controle de pragas como nematoides.
Além disso, essas espécies contribuem para a reciclagem de nutrientes e o equilíbrio do ecossistema agrícola, preparando o solo para maior produtividade nas safras seguintes.
- Aveia preta e azevém:
Ideais para regiões de clima mais frio, essas espécies são eficientes em melhorar a estrutura do solo e aumentar a fertilidade. Além disso, atuam na proteção contra a erosão superficial e no aumento da retenção de água no perfil do solo. - Milheto e crotalária:
Amplamente adaptados ao Cerrado, essas plantas de cobertura são especialmente eficazes no controle de nematoides, uma das principais ameaças à saúde do solo em sistemas de produção intensiva. O milheto se destaca pela alta produção de biomassa e capacidade de reciclar nutrientes como potássio, enquanto a crotalária, uma leguminosa, fixa nitrogênio biologicamente, enriquecendo o solo e reduzindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados.

- Mix de cobertura:
A combinação de diferentes espécies de cobertura permite atender a múltiplos objetivos simultaneamente, como aumento da biomassa, fixação de nitrogênio e melhor controle de pragas. Um mix bem planejado pode equilibrar características complementares das espécies, otimizando os benefícios ao solo e à cultura subsequente.
Em uma propriedade agrícola no sudoeste goiano, a integração de crotalária com milheto em áreas destinadas ao cultivo de soja resultou na redução significativa da população de nematoides. Esse manejo foi relatado como essencial para melhorar a sanidade do solo e aumentar a produtividade da lavoura, reforçando o papel estratégico das plantas de cobertura em sistemas integrados.
Implementação prática: A escolha das espécies deve ser feita com base nas condições edafoclimáticas da região, no objetivo do manejo e no ciclo da cultura subsequente.
A importância de manter uma temperatura adequada no solo também é um dos principais benefícios do uso de plantas de cobertura.
Essas plantas formam uma camada protetora que reduz a incidência direta dos raios solares, ajudando a evitar o superaquecimento do solo e a perda de umidade.
Um exemplo prático desse benefício pode ser visto no vídeo O impacto da cobertura do solo na temperatura e saúde do solo, que demonstra como a cobertura vegetal pode reduzir significativamente as temperaturas superficiais, proporcionando melhores condições para o desenvolvimento das culturas.
Conclusão
O manejo sustentável do solo na entressafra não é apenas uma boa prática – é uma necessidade para garantir a longevidade da produção agrícola.
Adotar as boas práticas de manejo do solo é um investimento que retorna em produtividade, sustentabilidade e rentabilidade. Planeje, implemente e colha os benefícios de um solo bem cuidado.
Conheça a Pós-Graduação em Soja e Milho da AgroAdvance
Quer se destacar na produção e manejo das principais culturas do agronegócio? Conheça a Pós-Graduação em Soja e Milho da AgroAdvance! Um programa completo para profissionais que desejam dominar as melhores práticas em cultivo, tecnologia e sustentabilidade. Inscreva-se agora e eleve seu conhecimento ao próximo nível.
Referências
CHERUBIN, M.R.; CARVALHO, M.L.; RODRIGUES, M. Saúde do solo: entendendo os conceitos, relevância e sua aplicações na agricultura e meio ambiente. Informações agronômicas: Nutrição de plantas, NPCT, nº 18. Junho de 2023. p. 15-23. Disponível em: https://www.npct.com.br/publication/IASite.nsf/pub/available/IA-2023-18?OpenDocument&toc=2023/. Acesso: 11 jan 2024.
EMBRAPA. Manejo do Solo em Sistemas de Produção Agrícola no Brasil. Disponível em: https://www.embrapa.br. Acesso em: 10 mai. 2025.
LANA, A. M. Q.; AMADO, T. J. C.; DIAS, C. T. S. Manejo Sustentável do Solo e Água. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 44, e0200147, 2020.Disponível em: https://www.scielo.br. Acesso em: 10 mai. 2025.
REVISTA CULTIVAR. Como o uso de plantas de cobertura auxilia no combate a nematoides.Disponível em: https://revistacultivar.com.br/noticias/como-o-uso-de-plantas-de-cobertura-auxilia-no-combate-a-nematoides. Acesso em: 13 maio 2025.
EMBRAPA SOJA. Controle de Plantas Daninhas e Manejo do Banco de Sementes no Solo. Londrina: Embrapa, 2021.Disponível em: https://www.embrapa.br/soja. Acesso em: 13 mai. 2025.
Sobre a autora
Como citar este artigo:
DAMETO, S.C. Manejo do Solo na entressafra: 5 práticas que podem ser adotadas. Blog Agtroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-manejo-do-solo-na-entressafra/. Acesso: xx Xxx 20xx.