Para atender às crescentes necessidades nutricionais, o uso intensivo de fertilizantes químicos tornou-se comum, aumentando a produção agrícola. No entanto, essa prática trouxe efeitos negativos, como poluição ambiental e riscos à saúde pública. Além disso, a qualidade dos solos agrícolas também é afetada, resultando em desequilíbrios nutricionais para a lavoura.
Nesse contexto, os biofertilizantes aparecem como uma solução eficaz e sustentável. Desde 2020, o uso de biofertilizantes no Brasil tem crescido constantemente, oferecendo uma alternativa ecológica aos fertilizantes tradicionais. Biofertilizantes são produtos naturais que promovem a fertilização através de organismos vivos, enriquecendo o solo com nutrientes essenciais e melhorando a saúde das plantas. Eles atuam através de vários mecanismos de ação, incluindo:
- fixação de nitrogênio,
- solubilização de fósforo e
- produção de hormônios vegetais,
- além de aumentar a atividade microbiana no solo.
Este artigo explora os diferentes tipos de biofertilizantes, suas vantagens e aplicações. Vamos analisar como aminoácidos, substâncias húmicas, extratos de algas, extratos vegetais e outros compostos podem transformar a produtividade agrícola, promovendo práticas mais sustentáveis e reduzindo os impactos ambientais.
Boa leitura!
O que são os biofertilizantes?
A palavra “biofertilizante” deriva de duas partes: “bio“, que significa vida, e “fertilizante“, que indica uma substância que promove a fertilização ou fecundação. Portanto, biofertilizante refere-se à fertilização através de organismos vivos.
Segundo a legislação brasileira, “Biofertilizante é um produto que contém princípio ativo ou agente orgânico, isento de substâncias agrotóxicas, capaz de atuar, direta ou indiretamente, sobre o todo ou parte das plantas cultivadas, elevando a sua produtividade, sem ter em conta o seu valor hormonal ou estimulante“.
Os biofertilizantes são compostos complexos que incluem uma ampla gama de nutrientes ao desenvolvimento e crescimento das plantas. Entre esses nutrientes estão: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), zinco (Zn), molibdênio (Mo), ferro (Fe), manganês (Mn) e cobre (Cu).
Além dos nutrientes, os biofertilizantes contêm hormônios vegetais que promovem o desenvolvimento e aumentam a resistência das plantas a diversos estresses ambientais. Substâncias como álcool e fenol presentes nos biofertilizantes também desempenham um papel crucial ao auxiliar na formação e desenvolvimento das células vegetais.
Um componente essencial dos biofertilizantes são os microrganismos benéficos. Estes organismos vivos ajudam a melhorar a defesa natural das plantas contra patógenos e a aumentar a disponibilidade de nutrientes no solo, promovendo um ambiente adequado e produtivo para o crescimento das plantas.
Os biofertilizantes são produzidos utilizando diversos ingredientes disponíveis nas propriedades agrícolas, como esterco, leite, caldo de cana e cinzas.
Esses materiais podem ser enriquecidos com pó de rocha e microrganismos eficazes, entre outros aditivos, para aumentar seu valor nutritivo e sua eficácia. A produção de biofertilizantes não só recicla materiais orgânicos disponíveis localmente, como também promove práticas agrícolas sustentáveis e ecologicamente corretas.
Mercado de biofertilizantes
O mercado de biofertilizantes agrícolas tem apresentado um crescimento significativo nos últimos anos. Em 2022, o mercado foi avaliado em 2,8 bilhões de dólares, e as projeções indicam que ele deve atingir 5,2 bilhões de dólares até 2028, com uma taxa de crescimento anual composta de aproximadamente 10,9% durante o período estudado.
Além disso, em 2023, o tamanho do mercado está estimado em torno de 3,1 bilhões de dólares, refletindo a crescente adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis e a demanda por soluções ecológicas para a fertilização de culturas (Market-Reports, 2024).
Tipos de biofertilizantes
Os biofertilizantes são produtos naturais que contêm microrganismos vivos ou compostos orgânicos que promovem o crescimento das plantas através de diferentes mecanismos.
Eles podem ser classificados em vários tipos com base nos organismos ou compostos que contêm e nas suas funções específicas.
De modo geral, podemos agrupar em 4 categoriais principais (Figura 2), cada qual com várias subcategorias:
- biofertilizantes de microrganismos,
- biofertilizantes de compostos orgânicos,
- biofertilizantes compostos e
- outros biofertilizantes.
Produção de biofertilizantes
Existem dois principais métodos de produção de biofertilizantes: o aeróbico e o anaeróbico, cada um com suas características e vantagens específicas. A escolha entre esses métodos depende das condições ambientais e dos recursos disponíveis, bem como dos objetivos específicos do agricultor. Veja na tabela 1 essas diferenças.
Tabela 1. Diferença técnica entre os diferentes tipos de biofertilizantes
Característica | Biofertilizante Aeróbico | Biofertilizante Anaeróbico |
Contato com o ar | Preparados em contato com o ar | Preparados se contato com o ar |
Recipientes | Tambores de plástico, alumínio ou inox | Tambores de plástico, alumínio ou inox |
Processo de preparo | Ingredientes misturados com água e revolvidos constantemente | Ingredientes misturados com água e selados |
Cobertura | Recipientes cobertos para permitir a entrada de ar, mas impedir a entrada de água da chuva | Recipientes fechados com tampa furada para acoplar uma mangueira |
Nível de enchimento | Não especificado | Recipienre preenchido até 75% com ingredientes e água, deixando 25% de espaço vazio |
Mangueira | Não utilizado | Mangueira acoplada na tampa, com uma ponta dentro de uma garrafa com água |
Dica técnica Agroadvance
I – É crucial que os produtores orgânicos consultem a Organização de Controle Social (OCS) ou a Organização de Avaliação da Conformidade (OAC) para obter autorização antes de utilizar biofertilizantes, especialmente quando se trata da aplicação em partes comestíveis das plantas.
II – Além disso, é recomendável verificar as diretrizes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e buscar orientação de um profissional capacitado. Essa consulta garante que os biofertilizantes utilizados atendam aos padrões de segurança e eficácia, preservando a integridade orgânica da produção e a saúde dos consumidores.
CLASSIFICAÇÃO DOS BIOFERTILIZANTES PELO MAPA
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) classificou os biofertilizantes em vários grupos, conforme descrito a seguir:
- Biofertilizantes de Aminoácidos;
- Biofertilizantes de Substâncias Húmicas (ácidos húmicos, fúlvicos e huminas);
- Biofertilizantes de Extratos de Algas;
- Biofertilizantes de Extratos Vegetais;
- Biofertilizantes Compostos;
- Outros Biofertilizantes que venham a ser aprovados pela pesquisa brasileira oficial ou credenciada
Além disso, alguns biofertilizantes possuem microrganismos promotores de crescimento que auxiliam nas lavouras agrícolas, como demostrado na Figura 3, os principias grupos e benefícios diretos nas plantas.
Para que servem os biofertilizantes?
Os biofertilizantes são subprodutos obtidos a partir da fermentação anaeróbica de resíduos agrícolas ou dejetos animais durante a produção de biogás.
Sua principal função é fornecer nutrientes essenciais às plantas, como nitrogênio e fósforo, atuando também como defensivos agrícolas ao erradicar pragas e doenças.
Além disso, possuem um pH básico, atuando como corretivos do pH do solo, e promovem a saúde do solo ao aumentar a porosidade e a vida microbiana.
Existem dois tipos principais de biofertilizantes: líquidos e sólidos. O biofertilizante líquido pode ser aplicado diretamente na folhagem ou caules das plantas, enquanto o sólido, obtido por decantação ou filtração do líquido, é aplicado diretamente nas covas ou no solo.
Produção e aplicação de biofertilizantes
Para produzir biofertilizantes na propriedade, resíduos de lavoura ou dejetos animais são colocados em biodigestores sem a presença de ar, permitindo a fermentação anaeróbica.
O líquido resultante pode ser usado de diversas maneiras: pulverizado nas folhas e caules após regas ou chuvas, ou em horas mais frescas do dia.
O biofertilizante líquido deve ser diluído entre 2% a 10% conforme a necessidade da planta, com dosagens maiores para controle de pragas. Aplicações devem ser parceladas para evitar perdas de nutrientes e erosão.
Preparação simples de biofertilizantes
Para um biofertilizante simples, misture água com resíduos orgânicos em um recipiente fechado, deixando fermentar por algumas semanas.
Agite periodicamente para garantir a fermentação uniforme. Este biofertilizante pode ser diluído e aplicado conforme as necessidades das plantas.
Função dos biofertilizantes
Os biofertilizantes desempenham um papel fundamental na promoção do crescimento das plantas de maneira ambientalmente sustentável, além de aumentar a produtividade das colheitas. Estudos demonstram que a aplicação de biofertilizantes pode elevar o rendimento das culturas em até 16,2% em comparação com culturas não tratadas.
Esses biofertilizantes microbianos são essenciais para manter a fertilidade do solo e melhorar sua estrutura, promovendo a agregação das partículas do solo. Além disso, eles oferecem diversos benefícios adicionais, como:
- Melhoria na relação planta-água: biofertilizantes ajudam as plantas a utilizarem a água de forma mais eficiente, essencial em condições de seca.
- Proteção contra a seca: ao melhorar a retenção de água no solo, os biofertilizantes tornam as plantas mais resistentes a períodos de baixa precipitação.
- Redução de doenças: eles tornam as plantas menos suscetíveis a doenças do solo, incluindo aquelas causadas por fungos que produzem micotoxinas.
- Diminuição da incidência de pragas: o uso de biofertilizantes pode reduzir a presença de insetos-praga nas plantações.
Apesar desses benefícios, os biofertilizantes enfrentam alguns desafios, como a vida útil limitada, a necessidade de grandes quantidades para serem eficazes, e a sensibilidade a altas temperaturas.
As dificuldades de armazenamento e transporte também podem limitar sua competitividade em relação aos fertilizantes químicos.
No entanto, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para superar essas desvantagens, aumentando a viabilidade e eficiência dos biofertilizantes no setor agrícola.
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Sobre o autor:
Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)