O milheto (Pennisetum glaucum (L.)) é uma gramínea anual que tem apresentado expansão na área plantada nos últimos anos, especialmente nas regiões do Cerrado brasileiro.
Esse crescimento se deve ao seu alto potencial de cobertura do solo, fundamental para a prática do plantio direto, além de sua relevância como forrageira na pecuária de corte e leite.
Seu perfil nutricional é similar ao do sorgo e de outros cereais, e ele ganhou popularidade como alimento livre de glúten e rico em proteínas.
A cultura se destaca pela adaptação a diferentes condições climáticas, sendo cultivada principalmente em regiões como Ásia e Nigéria.
Sua resistência a secas e pragas, além da capacidade de se desenvolver em solos de baixa fertilidade, torna o milheto uma opção para a produção de grãos, cobertura do solo e forragem.
Existem aproximadamente 20 tipos de milheto, incluindo Pennisetum glaucum, Eleusine coracana, Setaria italica, Panicum miliaceum e Echinochloa utilis.
Seu cultivo vem ganhando espaço na agricultura brasileira, especialmente em sistemas de plantio direto e integração lavoura-pecuária, devido ao seu alto potencial de produção de biomassa e sua ciclagem de nutrientes.
Vamos entender mais sobre o uso e a aplicação do milheto?
Boa leitura!
O que é o milheto?
O milheto é um cereal pertencente à família Poaceae, também conhecida como família das gramíneas.
O plantio pode ser realizado tanto em linha quanto a lanço, exigindo definição precisa da época de semeadura, densidade populacional, quantidade de sementes, espaçamento entre linhas, profundidade de plantio e sistema de semeadura.
Além disso, fatores como manejo de plantas daninhas, pragas e doenças, fertilidade do solo e disponibilidade hídrica são determinantes para o sucesso da lavoura.
A interação dessas variáveis contribui diretamente para a produção de biomassa verde destinada à forragem, massa seca para cobertura morta no plantio direto e grãos utilizados na formulação de ração animal ou produção de sementes.
Considerado o sexto grão mais importante do mundo, suas propriedades nutricionais têm sido aproveitadas pela humanidade há milhares de anos, com registros que remontam à Grécia Antiga.
Atualmente, o milheto é utilizado na alimentação em alguns países da Ásia e África, bem como na produção de rações para animais de estimação, gado e pássaros.

Usos e Aplicações do Milheto
O milheto tem ampla aplicabilidade na agropecuária, sendo utilizado para diversas finalidades:
- Cobertura do solo e palhada no plantio direto: a rápida produção de biomassa e a estrutura radicular tornam o milheto eficiente na proteção e melhoria das condições do solo.
- Forragem e silagem: sua alta produtividade e qualidade nutricional fazem dele uma alternativa importante para a alimentação animal.
- Pastejo direto: pode ser utilizado em sistemas de pastagem rotacionada, oferecendo boa recuperação e persistência durante o ciclo produtivo.
- Produção de grãos: além do uso para alimentação animal, seus grãos podem ser incorporados em formulações de ração para aves, suínos, bovinos e peixes.

Benefícios do Milheto no Sistema Produtivo
O milheto se encaixa bem na rotação de culturas e no manejo sustentável da fertilidade do solo. Seus principais benefícios incluem:
- Alta resistência a estresses ambientais: o milheto é altamente tolerante à seca e a solos de baixa fertilidade, garantindo boa produtividade em condições adversas.
- Melhoria da estrutura do solo: seu sistema radicular profundo favorece a descompactação do solo, permitindo melhor infiltração de água e maior aproveitamento de nutrientes.
- Alta capacidade de ciclagem de nutrientes: a cultura acumula rapidamente nutrientes na parte aérea e no sistema radicular, contribuindo para a reposição de elementos essenciais para culturas sucessoras.
- Persistência da palhada: decomposição mais lenta, garantindo cobertura do solo por mais tempo, o que reduz a erosão e melhora a retenção de umidade (Figura 3).

- Quebra de ciclos de pragas e doenças: quando inserido na rotação de culturas, o milheto ajuda a reduzir a incidência de pragas e patógenos do solo, promovendo um ambiente mais equilibrado para o cultivo seguinte.
- Alta produção de biomassa: o milheto se destaca por sua rápida produção de matéria seca, podendo ultrapassar 12.000 kg/ha, o que contribui para a proteção do solo e a melhoria de sua fertilidade.
- Versatilidade na integração lavoura-pecuária: pode ser usado tanto como forrageira quanto como cultura de cobertura, eficiente no aproveitamento da terra e reduzindo custos de insumos.
- Eficiência na absorção de nutrientes: suas raízes finas e bem distribuídas permitem uma alta eficiência na extração de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, o que favorece a cultura subsequente (Figura 4).

Uso do milheto como planta de cobertura e forrageira
A definição da época de semeadura do milheto varia conforme seu objetivo dentro do sistema produtivo.
Seja como planta de cobertura ou forrageira, o planejamento adequado do plantio influencia diretamente a produtividade e a eficiência do manejo.
1. Milheto como Planta de Cobertura
Para uso como cobertura do solo no plantio direto, a semeadura deve ser realizada logo após a colheita da cultura principal, como soja ou milho, garantindo um rápido estabelecimento e produção de biomassa.
A melhor janela para semeadura ocorre entre janeiro e março, sendo que plantios realizados no início desse período apresentam maior acúmulo de biomassa e melhor ciclagem de nutrientes.
O milheto apresenta alta produção de biomassa verde, podendo atingir entre 20 e 70 t ha⁻¹, dependendo da época de plantio e das condições do solo.
Conforme a tabela 1, o período mais favorável para a produção de biomassa ocorre nos meses de setembro e outubro, enquanto plantios tardios, como após abril, resultam em menor acúmulo de matéria verde.
Tabela 1. Época de semeadura e massa verde produzida com milheto. Créditos: Bonamigo, 1993.
Época de Semeadura | Biomassa Verde (t ha⁻¹) |
Setembro/ outubro | 50 a 70 |
Fevereiro | 35 a 55 |
Março | 30 a 40 |
Abril | 20 a 25 |
2. Milheto como Planta Forrageira
Quando utilizado como forrageira, o milheto apresenta um ciclo curto e elevada capacidade de rebrota, permitindo múltiplos cortes ao longo da safra.
A época ideal para semeadura varia conforme o regime de chuvas e a necessidade de oferta de forragem. O plantio pode ser realizado de setembro a março, com melhores resultados para corte entre outubro e fevereiro.
O espaçamento ideal para cultivo forrageiro pode variar de 17 a 45 cm entre linhas, dependendo da densidade desejada e do sistema de manejo adotado.
O primeiro corte pode ser realizado entre 45 a 60 dias após a emergência, garantindo uma boa recuperação da planta para cortes subsequentes.
Em termos de produção de biomassa, o milheto pode alcançar até 52 t ha⁻¹ de biomassa verde quando manejado para múltiplos cortes, enquanto a produção em ponto de dessecação varia conforme a época de plantio:
Tabela 2. Parâmetros produtivos entre duas cultivares de milheto no Brasil. Créditos: Folder Sementes Adriana, 2003.
Parâmetro | ADR 300 | ADR 500 |
Massa verde (1 corte) | 22 – 41 t ha⁻¹ | 29 – 30 t ha⁻¹ |
Massa verde (3 cortes) | 52 t ha⁻¹ | 29 t ha⁻¹ |
Produtividade de grãos | 2.300 kg ha⁻¹ | 1.500 kg ha⁻¹ |
O milheto forrageiro se destaca pela alta digestibilidade e qualidade nutricional, sendo uma excelente alternativa para suplementação alimentar de bovinos de corte e leite.
Seu perfilhamento e boa resposta à adubação garantem um pasto de alta produtividade e boa persistência no campo.
Com um manejo adequado, a cultura do milheto pode ser integrada de forma eficiente à produção agropecuária, proporcionando benefícios tanto na recuperação do solo quanto na oferta de volumoso de qualidade para os rebanhos.
Cultivares de Milheto no Brasil
Milheto BRS 1502
A cultivar BRS 1502 destaca-se pela estabilidade produtiva e pelo bom desempenho em ambientes com restrição hídrica e temperaturas elevadas, sendo indicada para sucessão de culturas em regiões do Cerrado, como o Sudeste, Centro-Oeste e norte do Paraná.
Essa variedade pode ser utilizada tanto para a produção de grãos quanto para forragem e palhada de alta qualidade. Apresenta crescimento acelerado, elevada capacidade de rebrota e eficiência na extração de nutrientes do solo.
Além disso, possui boa resistência ao acamamento e quebramento, sendo pouco suscetível ao nematoide Meloidogyne javanica. O BRS 1502 pode ser cultivado em diferentes altitudes e se adapta bem tanto ao plantio da safra principal quanto ao cultivo na safrinha.

Milheto BRS 1503
A cultivar BRS 1503 é voltada principalmente para sistemas de plantio direto, onde se destaca pela alta produção de biomassa e bom potencial de colheita de grãos, podendo alcançar produtividade média de 2,5 t ha-1.
Possui crescimento vigoroso, forte capacidade de perfilhamento e um sistema radicular profundo, que favorece a reciclagem de nutrientes para as camadas superiores do solo.
Além disso, apresenta baixos índices de reprodução das principais espécies de nematoides, tornando-se uma opção interessante para rotação de culturas e melhoria da qualidade do solo.

Desafios e desvantagens do cultivo de milheto
Embora o milheto apresente diversas vantagens, é importante considerar os desafios e desvantagens associados ao seu cultivo:
- Baixo valor energético: apesar de seu elevado teor proteico, o milheto possui um valor energético inferior ao do milho, o que pode limitar seu uso em determinadas formulações de rações animais.
- Variabilidade na composição química: a composição química do milheto pode variar significativamente conforme as condições ambientais, afetando o teor de proteína, que pode oscilar entre 8% e 24%.
- Sensibilidade a pragas específicas: embora seja resistente a várias condições adversas, o milheto pode ser suscetível a pragas como lagartas e pulgões, exigindo monitoramento e manejo adequados.
- Necessidade de manejo específico para pastejo: o uso do milheto como pastagem requer manejo adequado, incluindo controle do momento de entrada e saída dos animais, para garantir a rebrota e a qualidade da forragem.
- Potencial de empobrecimento do solo em monocultivo: o cultivo contínuo de milheto sem rotação de culturas pode levar ao empobrecimento nutricional e à exaustão do solo, além de criar condições favoráveis para pragas e doenças.
- Necessidade de planejamento na rotação de culturas: a introdução do milheto na rotação de culturas exige um planejamento estratégico cuidadoso para atender aos objetivos agronômicos e econômicos da propriedade.
- Investimento em manejo e infraestrutura: a adoção do milheto pode demandar investimentos adicionais em manejo específico e infraestrutura, especialmente para pequenos produtores que buscam diversificação e sustentabilidade.
Milheto na formação de palhada e manejo de nematoides na soja
O milheto tem sido utilizado na formação de palhada e no manejo de nematoides em sistemas agrícolas, especialmente em regiões produtoras como Mato Grosso.
Em áreas com incidência dessas pragas, a introdução do milheto na rotação de culturas tem mostrado resultados positivos, reduzindo populações de espécies como Pratylenchus e Heterodera glycines (nematoide de cisto da soja).
Seu sistema radicular extenso favorece a estruturação do solo, melhorando a infiltração de água e promovendo a ciclagem de nutrientes, tornando-os mais acessíveis para a cultura sucessora.

Além disso, a formação de palhada densa contribui para a cobertura do solo e reduz a emergência de ervas daninhas, impactando na menor necessidade de herbicidas.
O milheto também apresenta boa adaptação ao déficit hídrico, permitindo que seja semeado em períodos mais amplos e garantindo cobertura do solo mesmo em anos com distribuição irregular de chuvas.
Com essa prática, produtores têm relatado melhor desempenho da soja cultivada em sucessão, além da redução do uso de insumos químicos no manejo de pragas e doenças.
Conclusão
O milheto é uma cultura de grande importância na agricultura, sendo amplamente utilizado como planta de cobertura no plantio direto e como forrageira na pecuária. Sua capacidade de ciclagem de nutrientes, resistência a condições adversas e produção de biomassa fazem dele uma escolha relevante para produtores que buscam melhorar a qualidade do solo e otimizar a rotação de culturas.
Além disso, seu uso contribui para o manejo de nematoides, ajudando na redução da população dessas pragas no solo.
Apesar dos diversos benefícios, o cultivo do milheto exige planejamento e manejo adequado, especialmente quando utilizado como forragem. Fatores como época de semeadura, controle de pragas e doenças, produção de biomassa e persistência da palhada devem ser observados para garantir melhores resultados.
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Referências
BRAZ, A. J. B. P. et al. ACUMULAÇÃO DE NUTRIENTES EM FOLHAS DE MILHETO E DOS CAPINS BRAQUIÁRIA E MOMBAÇA. Pesquisa Agropecuária Tropical, 2004.
MARTINS NETTO, D. A. M. A cultura do milheto. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 1998. 6 p. (Embrapa Milho e Sorgo. Comunicado Técnico, 11).
TEIXEIRA, C. M. et al. DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NUTRIENTES DAS PALHADAS DE MILHETO E MILHETO + CROTALÁRIA NO PLANTIO DIRETO DO FEIJOEIRO. Maringá, v. 31, n. 4, p. 647-653, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/asagr/a/XNjPp6rtWYCS9Qg6CWnPDqQ/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 12/03/2025.
Sobre o autor:

Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
Como citar este artigo:
SILVA, A.O. Cultivo do Milheto: opção como planta de cobertura ou forrageira.2025. Blog Agroadvance. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-cultivo-do-milheto/. Data de acesso: xx Xxx 20xx.