Você está visualizando atualmente Silagem de milho: 8 cuidados da implantação da lavoura, à ensilagem e abertura dos silos

Silagem de milho: 8 cuidados da implantação da lavoura, à ensilagem e abertura dos silos

A silagem de milho é uma ótima opção para a suplementação animal na estação seca e deve ser vista como um produto de alto valor agregado que vai se transformar em carne/leite.  

Para garantir um produto de qualidade aos animais, diversos cuidados que vão da implantação da lavoura à abertura do silo devem ser tomados, como: escolha do híbrido correto, manejo nutricional, de pragas e doenças da lavoura, ponto ideal de amadurecimento do milho no momento da colheita, cuidados durante a ensilagem, uso de aditivos, fechamento e abertura do silo.  

Acompanhe nesse post cada um desses pontos de atenção. 

Silagem de milho cuidados

Silagem de milho  

A silagem de milho continua sendo uma das melhores opções de suplementação na estação seca, por diversos motivos, conforme enumerados por Restle et al. (2006): 

  • Alta capacidade de produção de matéria seca por unidade de área 
  • Alta produtividade de massa verde por hectare 
  • Boa qualidade da silagem 
  • Alta fermentabilidade durante o armazenamento  
  • Boa aceitação pelos animais  

A produtividade do milho no momento da colheita é muito importante, pois impacta diretamente nos custos de produção da silagem. Para produzir um alimento com qualidade nutricional ótima é importante que o produtor se atente a alguns cuidados: 

Cuidado na implantação e condução da lavoura

Os 2 principais cuidado na implantação e condução da lavoura para obtenção de uma silagem de milho de ótima qualidade são:

1. Escolha do híbrido a ser plantado  

Um híbrido de milho ideal para a produção de silagem deve apresentar bom volume de massa verde e de grãos.  

Porém nem todos os hídricos que produzem grande quantidade de grãos são bons para silagem.  

É necessário que o híbrido utilizado para silagem tenha alta digestibilidade: tanto dos grãos quanto das fibras – o que é favorecida em híbridos que apresentam grão do tipo dentado, que possuem amido mais farináceo (o que facilita a digestibilidade). 

A digestibilidade da fibra pode ser mensurada pela análise bromatológica através da Fibra em Detergente Neutro (FDB). FDN entre 38% e 45% da matéria seca são teores ótimos para a produção de uma boa silagem. 

Outro fator interessante a ser considerado na escolha do híbrido é a tolerância a pragas e doenças específicos de sua região produtora.  

Algumas empresas produtoras de sementes já possuem linhas de híbridos específicos para silagem.  

O importante é que o produtor esteja ciente das características desejáveis nos híbridos para às suas necessidades de suplementação: se a silagem de milho vai atender na produção de carne ou de leite; além das necessidades do ambiente/região produtora: altitude, época de plantio, tolerância do híbrido às principais pragas e doenças, além, é claro, do potencial produtivo e digestibilidade da fibra, para assim definir qual é o melhor híbrido para a sua condição específica.  

2. Manejo nutricional e manejo de pragas e doenças 

O corte das plantas inteiras de milho para produção de silagem resulta na remoção de grandes quantidades de nutrientes das áreas de cultivo, em montantes muito superiores aos exportados com a colheita apenas dos grãos. 

No milho silagem, o incremento nas taxas de exportação é substancialmente acentuado para nutrientes como K, Ca, Mg e alguns micronutrientes, que são alocados em baixas proporções na semente, e que por isso não seriam críticos nos programas de reposição de nutrientes em sistemas voltados somente à produção de grãos (Figura 1). 

Figura 1. Relação proporcional de exportação de nutrientes quando plantas inteiras de milho são cortadas para silagem (estádio R5), comparativamente à colheita apenas dos grãos após a maturação fisiológica (estádio R6). Valores entre parêntesis indicam quantas vezes é maior a remoção de nutrientes no milho silagem. Fonte: Resende et al. (2016). 

Embora as exportações de Ca, Fe e Mn sejam muito mais elevadas no milho silagem, não devem representar maior preocupação no manejo da fertilidade, pela abundância desses nutrientes ser normalmente suficiente para suprir a absorção pela cultura na maioria dos solos agrícolas com acidez corrigida (Ca e Mg em níveis adequados) e textura média a argilosa (mais ricos em óxidos fontes de Fe e Mn) (RESENDE et al., 2016).  

Por outro lado, nutrientes como N, S, Cu, Zn, e especialmente o K, devem inspirar mais critério nas decisões de manejo por parte dos profissionais de assistência técnica e produtores (RESENDE et al., 2016). 

É necessário que o produtor seja assistido por um profissional que recomendem uma adubação que atenda as exigências do híbrido.  

Além disso é essencial que seja feita o manejo integrado de pragas e doenças durante a condução da lavoura, visando sempre a qualidade do material vegetal, uma vez que a presença de fungos, bactérias e pragas irão diminuir drasticamente a qualidade da silagem.  

Cuidados na produção da silagem de milho

Os 6 principais cuidados para a produção de uma silagem de milho de boa qualidade durante o processo de ensilagem são:

3. Ponto ideal de amadurecimento do milho para colheita 

O teor de amido presente na lavoura no momento da colheita é primordial para a qualidade da silagem. À medida que os grãos de milho perdem água e vão ficando duro, eles acumulam amido. 

Um milho com 32% de matéria seca (MS) apresenta cerca de 32% de amido; enquanto 37% de matéria seca indica teor de amido próximo a 37%.  

O ponto ideal para realizar a silagem de milho é quando a planta apresentar 32-37% de matéria seca – é o momento em que ela vai apresentar a maior quantidade de matéria seca de melhor qualidade nutricional. 

De maneira visual, a campo, dizemos que isso ocorre quando o ponto da linha de leite estiver em 50%. Esse ponto ocorre após o ponto de pamonha, no estádio de farináceo duro, que ocorre em média 110 dias após o plantio (Figura 2).  

Figura 2. Potencial de produção (matéria seca) do milho conforme estágio de maturação. Fonte: Mahanna (1996). 

No ponto de 1/2 a 2/3 da linha do leite, a planta de milho já depositou aproximadamente 90% do amido total presente no grão e possui umidade adequada para uma fermentação de qualidade. Ou seja, o teor de matéria seca estará em torno de 35%.   

Fonte: Sementes Biomatrix 

Ainda assim, a percepção da linha do leite é muito visual e o ideal seria o produtor estimar o teor de matéria seca do milho antes do corte. Para isso ele pode utilizar metodologias simples como o uso de micro-ondas ou secadoras elétricas (air fryers) para remover a água e estimar o teor de massa seca do material vegetal. 

Como medir o teor de matéria seca no micro-ondas?  

O produtor pode coletar 5 ou 6 plantas aleatórias da lavoura: picar e pesar 100 gramas do material picado. Colocar um copo com água dentro no microondas juntamente com o material vegetal (em outro recipiente). Ligar o micro-ondas na potência máxima por 5 min, retirar e mexer o material picado; colocar mais 3 min e mexer. Repetir o processo de 1 em 1 min até estabilizar o peso do material picado. Ao final do processo, se o peso do material picado, for, por exemplo, 30 gramas, significa que eu tenho 30% de matéria seca.  

Lembrando que o desejado seria entre 32 e 37% de matéria seca. 

4. Colheita antecipada e tardia do milho 

Mas o que acontece se colhermos o milho antes ou após o ponto ideal?  

Na colheita antecipada, há menor quantidade de matéria seca na planta, e, portanto, maior teor de umidade e menor rendimento da lavoura. Essa maior umidade prejudica a compactação do material vegetal triturado, além de resultar em maior produção de chorume (maiores perdas de nutrientes da forragem) e prejudicar a fermentação do material vegetal.   

Quando a colheita é antecipada, a fermentação é direcionada para acúmulos expressivos de ácido acético e butírico, o que reduz o consumo dos animais e possui cheiro desagradável, principalmente devido ao ácido butírico.   

Na colheita tardia, por sua vez, a grande quantidade de matéria seca prejudica o corte do material em tamanho da partícula adequado (0,8 a 1,5 cm) e dificulta a compactação do material no processo de ensilagem. A fermentação é prejudicada e como resultado tem-se uma silagem de qualidade inferior.   

5. Altura de corte das plantas e tamanho de corte da forragem 

Além da colheita no ponto correto, outros dois fatores são extremamente importantes na colheita da cultura do milho para produção de silagem, de acordo com Carvalho et al. (2015) são:  

  • altura de corte das plantas – que deve ser entre 15 a 25 cm para evitar que partículas de solo sejam recolhidas pela ensiladeira; e  
  • tamanho de corte do material vegetal: a forragem deve ser picada em tamanho variando de 0,8 a 1,5 cm para facilitar a acomodação e compactação da forragem, bem como a retirada de ar, melhorando assim a fermentação da massa ensilada, a conservação e a qualidade da silagem. 

O tamanho de corte da silagem pode ser avaliado pela metodologia padrão, utilizando o Separador de Partículas Penn State (“Penn State Box”), desenvolvido pela Pennsylvania State University.  

Trata-se de um conjunto de bandejas perfuradas com malhas de diâmetros diferentes, dispostas umas sobre as outras. A superior tem orifícios de 19 mm; a segunda, de 8 mm; a terceira, de 4 mm; e a bandeja inferior não tem aberturas (fundo).  

A recomendação atual para a distribuição adequada de tamanhos de partículas para a silagem de milho e silagens pré-secadas é mostrada na tabela 1. 

Tabela 1. Recomendação de tamanho de partículas 

Peneiras Malha (mm) Silagem de milho (%) 
Peneira 1 19 mm 3 a 8 
Peneira 2 8 mm 45 a 65 
Peneira 3 4 mm 20 a 30 
Fundo – <10 

É importante que o produtor avalie o tamanho da forragem picada e se necessário realize os ajustes na picadora para atender as recomendações dos tamanhos de partículas ideais para a moagem da forragem. 

6. Enchimento do silo e compactação da forragem 

Chama-se ensilagem o processo de cortar a forragem, colocá-la no silo, compactá-la e protegê-la com a vedação do silo para que haja a fermentação.   

O principal vilão do silo é o oxigênio. O que precisamos durante a ensilagem é garantir que não haja ar (oxigênio) entre o material vegetal. 

Isso porque a presença de oxigênio promove fermentações oxidativas que degradam a qualidade final da silagem. 

Para garantir que não haja presença de oxigênio o produtor precisa realizar uma ótima compactação da forragem. E como que ele vai fazer isso? Colocando um trator mais pesado no silo. O correto é que o trator suba no silo, não desça! Isso aumentará a eficiência da compactação. 

Outro fator importante é o tempo de compactação. Quanto mais tempo o trator permanecer no silo, maior as chances de se eliminar todo o ar presente entre o material vegetal. 

Esse momento de compactação é importante porque a eficiência de compactação afetará diretamente a qualidade da forragem produzida. 

7. Uso de aditivos 

Para melhorar a qualidade da silagem, tanto do processo de fermentação, como do seu valor nutritivo, os produtores passaram a adicionar alguns aditivos na silagem antes do fechamento do silo. 

É considerado aditivo qualquer material adicionado às forragens ensiladas, para melhorar a fermentação ou para reduzir perdas oriundas de fermentação indesejáveis.   

Os aditivos para silagem geralmente se enquadram em uma ou mais de 4 categorias com base em seus efeitos na preservação da silagem (MUCK et al., 2018): 

(1) estimulantes da fermentação,  

(2) inibidores da fermentação,  

(3) inibidores da deterioração aeróbica, e 

(4) nutrientes e absorventes. 

Os estimulantes da fermentação são aditivos que melhoram a eficiência da fermentação e compreendem principalmente os inoculantes bacterianos, as enzimas e as fontes de substrato.  

Inoculantes bacterianos contêm principalmente culturas vivas de bactérias produtoras de ácido láctico dos gêneros Lactobacillus, Pediococcus, Enterococcus, Lactococcus

As principais enzimas utilizadas são amilase, hemicelulase, pectinase e xilanase, sendo a maioria delas subprodutos de fermentação microbiana. 

Os inibidores são usados para suprimir o crescimento de leveduras, mofos e bactérias aeróbicas como as clostrídia, e a ação das enzimas das plantas. 

 Exemplos de inibidores são os ácidos orgânicos e minerais como os ácidos fórmico, propiônico, acético, láctico, capróico, benzóico, hidroclorídrico e sulfúrico, amônia, uréia, cloreto de sódio, nitrato de sódio, dióxido de enxofre, formaldeido e paraformaldeido.  

Há uma série de aditivos disponíveis no mercado, o ideal é saber se é necessário utilizar aditivo na silagem, qual o modo de aplicação, sua dosagem, e como o aditivo beneficiará a silagem.  

8. Fechamento do Silo  

O fechamento do silo, que é a fase final do processo de ensilagem deve ser feito o mais rápido possível.  

O ideal é fechar o silo no mesmo dia da ensilagem, para evitar que fiquem bolsões de ar no silo e aconteçam as fermentações indesejadas. 

As lonas utilizadas para vedação devem ser novas e não devem conter furos os rasgos que permitam a entrada de ar no silo. 

O ideal é utilizar lonas grossas (200 micras ou mais) e de dupla-face, com proteção contra raios solares, para cobrir os silos. 

É importante deixar espaço para que o ar saia pela frente do silo, evitando bolsões de ar que causam aquecimento da forragem.  

Se o produtor for utilizar lona preta, uma camada uniforme de terra deve ser colocada em cima da lona para sua proteção.  

Devem ser feitas boas vedações nas laterais, evitando possíveis infiltrações e cercas de proteção ao redor dos silos. 

Qualidade da silagem após abertura do silo 

Quando for abrir o solo, é preciso retirar a camada superficial de silagem, que pode estar comprometida pela oxidação. Depois disso, a camada inferior da silagem deve ser retirada com rapidez, para evitar a entrada de ar.  

Ao abril o silo é possível mensurar se a qualidade da forragem está adequada: uma silagem de qualidade deve ter no máximo até 5% de perdas.  

A coloração cinza a preta é inadequada e indica que houve um processo de fermentação indesejado. Além disso, quando a silagem apresentar cheiro de azedo ela deve ser descartada e não oferecida aos animais.  

A realização de análise bromatológica é essencial para se elaborar a dieta dos animais e saber o que de fato tem na silagem produzida: teor de amido, digestibilidade da fibra, nível de proteína, entre outros. Com isso, o produtor pode economizar com uso de concentrados como milho, fubá e soja, que podem ser desnecessários dependendo da composição da sua silagem.  

Conclusão 

A produção de uma silagem de milho de qualidade depende de alguns cuidados por parte do produtor. 

Além dos manejos na condução da lavoura e no processo de ensilagem, o uso de aditivos parece ser uma boa alternativa para aumentar a qualidade da forragem e obter ganhos no rendimento, seja de leite ou de carne. 

Realizar as etapas da ensilagem com cuidado e atenção garantirá que o produtor consiga obter uma silagem de qualidade, com valor nutricional adequado. 


Conheça o nosso Curso: Expert em Soja e Milho

Referências 

CARVALHO, D.O.; CHAVES, F.F.; MIRANDA, J.E.C.; OLIVEIRA, J.S.; BERNARDO, W.F.; MAGALHÃES, V.M.A. Sete passos para uma boa ensilagem de milho. Embrapa, 2015, 32 p.  

MUCK, R.E.; NADEAU, E.M.G.; McAllister, T.A.; Contreras-Govea, F.E.; Santos, M.C.; Kung Jr., L. Silage review: Recent advances and future uses of silage additives. Journal of Dairy Science. v. 101, p. 3980-4000, 2018. 

RESENDE, A.V.; GUTIÉRREZ, A.M.; SILVA, C.G.M.; ALMEIDA, G.O.; GUIMARÃES, P.E.O.; MOREIRA, S.G.; GONTIJO NETO, M.M. Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem. Circular técnica 221, EMBRAPA, 2016. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/158562/1/circ-221.pdf. Acesso: 08/05/2023. 

RESTLE, J.  PACHECO, P.S.; ALVES FILHO, D.C.; FREITAS, A.K.; NEUMANN, M.; BRINDANI, I.L.; PÁDUA, J.T.; ARBOITTE, M.Z. Silagem de diferentes híbridos de milho para produção de novilhos super jovens. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 5, p. 2066-2076, 2006. 

Sobre a autora:

Beatriz Nastaro Boschiero

Beatriz Nastaro Boschiero

Especialista em MKT de Conteúdo na Agroadvance

Deixe um comentário

Não perca nenhuma novidade do agronegócio!

Fique por dentro das últimas tendências do agronegócio com a newsletter da Agroadvance. É gratuito e você ainda receba notícias, informações, artigos exclusivos, e-books e muito mais.