A compactação do solo é um problema sério, limita nosso objetivo principal: GRANDES PRODUTIVIDADES. Opa! Meu solo está compactado o que fazer? Uso um escarificador ou subsolador?
Muitos são os desafios que nós mulheres e homens do campo enfrentamos todos os dias. A agricultura é realmente uma arte que requer paciência e observação. A compactação do solo é um grande desafio para o agricultor, pois prejudica todo o sistema solo-planta-atmosfera.
De modo geral a compactação pode ser entendida como descontinuidade da camada porosa do solo. Assim, como não temos essa rede de poros, para trabalhar, distribuído água e ar; ocorre a restrição no desenvolvimento das raízes das plantas, fazendo com que uma série de problemas apareçam nas nossas lavouras.
Para solucionar esse problema a descompactação mecânica deve ser levada em consideração. Dependendo da situação podemos trabalhar com duas operações a de subsolagem ou a escarificação.
Nesse artigo nossa busca é para compreender um pouco mais sobre a operação de descompactação mecânica do solo, ou seja, como é a dinâmica de uso de máquinas agrícolas, neste caso o subsolador e escarificador (na prática).
Boa leitura!
Por que devemos DESCOMPACTAR o solo?
O que é descompactar um solo?
Descompactar o solo torna-se necessário para o sucesso a agricultura moderna. Essa operação baseia-se em romper as camadas compactadas do solo.
Quando na umidade adequada hastes ou raízes promovem o rompimento tridimensional do solo. Esse rompimento modifica a porosidade total do solo. De modo que onde antes a cadeia porosa do solo estava interrompida pelo agrupamento das partículas do solo, voltamos a ter “espaços vazios” ou poros para que a água e o ar possam fluir dando condições de desenvolvimento para as plantas.
Qual a importância da descompactação?
Um solo equilibrado com uma boa aeração e fornecimento de água, garante o pleno desenvolvimento das plantas. Elas precisam consumir através das raízes os nutrientes e água. Assim, quando uma planta não encontra nenhum obstáculo físico (compactação) para seu desenvolvimento ela consegue explorar, com suas raízes, um volume maior de solo.
A descompactação do solo pode ser mecânica ou biológica. A descompactação biológica baseia-se na atividade da matéria orgânica do solo. Devemos compreender a matéria orgânica do solo como todo material de origem vegetal ou animal incorporados ao solo ou na sua superfície, vivos ou nos vários estágios de decomposição, excluindo-se a parte aérea das plantas (LAL, 2017). Diante disso, as raízes de plantas, microrganismos, fauna decompositora entre outros, tem essa capacidade de modificar a estrutura do solo e promover a ciclagem de nutrientes.
A descompactação mecânica compreende as operações mecanizadas, que consiste geralmente no uso de hastes.
Mas de onde vem a COMPACTAÇÃO?
Várias podem ser as causas da compactação do solo, dentre elas estão a/o:
- Tráfego intenso de máquinas e implementos,
- Decomposição da matéria orgânica do solo,
- Pisoteio de animais,
- Uso indiscriminado de insumos agrícolas,
- Irrigação inadequada.
Operação de descompactação mecânica do solo: devo usar escarificador ou subsolador para resolver o problema?
A descompactação mecânica do solo pode ser realizada através de equipamentos agrícolas específicos, como o subsolador ou o escarificador.
As partes que compõem esses implementos (tanto subsoladores quanto escarificadores) como hastes, ponteiras (ou botinha), sistemas de desarme, sistema vibratório, entre outros. São importantes pois existem várias possibilidades de trabalho para diferentes situações de campo por isso comprar esses implementos não é uma tarefa fácil.
É preciso pensar em aspectos como assistência técnica de preferência autorizada, peças de reposição (tem loja na região? Qual tempo que demora chegar via transportadora ou correios?).
Uso do subsolador para descompactação e preparo do solo
Os subsoladores (Figura 1) podem ser montados no terceiro ponto ou de arrasto. Eles podem ser constituídos de chassi, haste, ponteiras, rolos destorroadores, rodas, discos de corte, entre outros acessórios. Uma das suas principais características é a profundidade de atuação, em subsuperfície, variando de 35 a 100 cm.
Devido as maiores profundidades, a subsolagem é uma “operação cara”, pois exige um alto consumo energético (combustível). Além disso, ela requer alta demanda de potência. Por isso, antes de realizar essa operação é muito importante o diagnóstico correto da profundidade e da necessidade de uso desse implemento.
O que são escarificadores? Para que serve a escarificação do solo?
Os escarificadores são implementos usados para descompactar e preparar o solo. Podem ser constituídos de chassi, haste, ponteiras, rolos destorroadores, rodas, discos entre outros acessórios (Figura 2). A profundidade de atuação dos escarificadores pode chegar até 35 cm, sendo classificados em escarificação leve (5 e 15 cm) e escarificação pesada (15 e 35 cm).
A escarificação do solo serve para romper camadas compactadas, melhorar a aeração e a infiltração de água, e promover um ambiente favorável ao desenvolvimento das raízes das plantas.
O escarificador vem ganhando espaço nas fazendas em substituição ao preparo do solo convencional (aração e gradagem), uma vez que suas hastes revolvem menos o solo, sem destruir seus agregados, com preservação da cobertura do solo (Figura 3). Além disso, a escarificação pode ser mais econômica, consumindo até 60% menos combustível que o arado (Martuchi, 1985).
A operação e a regulagem desses implementos são similares, no entanto, sempre recomendo “dar uma olhada” no manual de instruções do equipamento. Lá estão todas as particularidades e problemas que podem se apresentar no seu uso.
Em geral a velocidade de trabalho varia de 2 a 6 km/h para subsoladores e 4 a 8 km/h escarificadores. A velocidade de trabalho depende muito das condições da lavoura e da quantidade de potência disponível para tracionamento do implemento.
Quantos cv preciso para tracionar um escarificador?
A potência requerida por haste varia muito de acordo com série de fatores (profundidade de trabalho, tipo de ponteira, granulometria do solo, umidade, velocidade, entre outros). O ideal é consultar o folheto ou manual do implemento, escarificadores costuma requerer entre 10 e 15 cv por haste. O ideal no momento da compra de um implemento desses é verificar a potência liquida do trator, confrontar com o máximo requerido de potência pelo implemento deixando entre 10-12% de potência de reserva.
Devemos nos preocupar com a profundidade de trabalho, onde a ponteira deve ultrapassar a camada compacta entre 5 a 10 cm. Por exemplo se eu tenho uma camada compactada a 15 cm, a minha profundidade de trabalho deve ser entre 20 a 25 cm.
Outro ponto crucial é o espaçamento entre hastes e tipo de ponteira (“famosa botinha”) (Figura 4). A largura da ponteira e a profundidade de trabalho é quem define espaçamento entre hastes.
- Para ponteira estreitas (4 a 8 cm) o espaçamento entre hastes deve ser 1 a 1,5 vezes profundidade de trabalho.
- Se eu tenho uma ponteira alada (acima de 8 cm) 1,5 a 2 vezes a profundidade de trabalho.
Após realizadas as regulagens é preciso verificar o nivelamento, quando tivermos equipamentos montados o procedimento é feito no terceiro ponto, quando de arrasto devemos checar o sistema próprio. No momento da operação, o operador deve conduzir o conjunto mecanizado poucos metros, sem levantar o implemento, o operador deve descer do trator e verificar e ajustar se necessário o nivelamento.
Vamos nos exercitar? Preciso descompactar um solo cuja camada compactada está a 60 cm, onde a largura da “botinha” é de 12 cm. Nesse caso a operação é uma subsolagem, que dever ser realizada na profundidade de 65 a 70 cm (adotaremos 1,5 vezes a profundidade) o espaçamento entre as hastes pode variar de 97,5 a 105 cm.
“Nossos causos: É RARO, MAS ACONTECE MUITO…”
Tem uma cabeça de bode enterrada nesse pivô – Certa vez estive em uma fazenda onde existia um pivô com pouco mais de 55 ha, problemático, extremamente difícil de manejar. Quando se falava em “um problema” do pessoal das atividades de campo ao dono da propriedade, esse pivô era a unanimidade.
Ao perguntar pelas estratégias de manejo o Gestor/Responsável Técnico, muito competente, relatava ter feito de tudo. Foram implementadas várias estratégias de manejo, rotação de culturas, pousio, escarificação, gradagem pesada, dentre outras.
Conversando sobre as características da área e o histórico de produção e preparo, consideramos o intenso tráfego de máquinas (com 2,5 safras/ano) e os problemas relatados: desenvolvimento afetado das plantas, baixas produtividades, alta taxa de nematoides em área total (associada também a alta incidência de reboleiras). Com as evidências apontando para a compactação do solo, escavamos algumas trincheiras e avaliamos as raízes das plantas milho. Foi verificada a existência da camada compactada entre a faixa de 30 a 35 cm (Figura 5).
Recomendamos uma gradagem leve com os objetivos:
- Quebrar um pouco as plantas daninhas e os restos culturais (evitar embuchamento),
- Facilitar o ganho de profundidade do subsolador (45 cm) e
- Reduzir os torrões (umidade não é homogênea no perfil do solo) seguida de uma subsolagem.
Após a subsolagem em área total, veio a grande resposta da cultura da soja ultrapassando as 110 sacas por ha. Esse é um grande exemplo da importância do diagnóstico correto do problema, se repetíssemos uma escarificação não teríamos uma resposta pois o alcance da profundidade não seria o suficiente para descompactar a faixa compactada.
Essas nossas andanças mostram como é importante compreender a operação e implemento mas, também é preciso buscar conhecimento sobre o comportamento do solo diante dessas operações (Molina Junior, 2017).
Conclusão
Os desafios estão se apresentam para gente cotidianamente, portanto, cabe a nós observarmos e diagnosticarmos para então trabalhar na resolução dos problemas.
Ambas as operações escarificação e subsolagem possuem sua devida aplicação, se encaixando muito bem em praticamente todos os tipos de sistema de manejo. Devemos utilizar nossos conhecimentos para propor soluções efetivas e de baixo custo material e ambiental.
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Referências
BALASTREIRE, L.A. Máquinas Agrícolas. Barueri. Manole LTDA., 1990. 307p.
ISHAQ, M.; IBRAHIM, M.; LAL, R. Compaction and crop yield. Encyclopedia of soil science, Lal R. (ed). Taylor & Francis, FL, p. 310-316, 2006.
MARTUCCI, F.G. Escarificador no preparo do solo. A Granja, v. 6, p.44-46. 1985.
MIALHE, L.G. Manual de Mecanização Agrícola. São Paulo: Ed. Ceres, 1974. 301p.
LAL, R. Encyclopedia of soil science. CRC Press, 2017.
Sobre a autora
Carla da Penha Simon
Consultora Agrícola - DRCS soluções inteligentes
- Engenheira Agrônoma (IFES - Campus Santa Teresa)
- Mestra em Agricultura Tropical (UFES - Campus São Mateus)
- Doutora em Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP)