De 2006 a 2017, a área de Sistema de Plantio Direto (SPD) no Brasil aumentou 84,9%, de 17,9 para 33,0 milhões de hectares (Fuentes-Llanillo et al., 2021). O SPD representa uma inovação importante para a agricultura brasileira, promovendo métodos de cultivo que conservam o solo e a reduzem os impactos ambientais.
Ao evitar o revolvimento do solo, o SPD preserva nutrientes, retém umidade e reduzi a erosão, mantendo o solo em condições adequadas para o cultivo ao longo do tempo. Essa técnica também apoia o compromisso do Brasil com a redução de emissões de gases de efeito estufa, integrando-se ao Plano ABC, que promove práticas para uma agricultura de baixo carbono, o Sistema de Plantio Direto e contribui para as metas nacionais de mitigação das mudanças climáticas.
O SPD vem ganhando espaço no agronegócio brasileiro, consolidando-se como uma técnica que une produtividade e cuidado ambiental.
Com essa prática, o setor agrícola caminha em direção a um futuro que valoriza os recursos naturais e responde aos desafios climáticos, promovendo uma visão de sustentabilidade em longo prazo.
Vamos lá? Boa leitura!
História e evolução do plantio direto
O Sistema de Plantio Direto tornou-se fundamental para os cultivos de soja no Brasil, consolidando essa cultura como uma das principais a serem adotada sob essa prática.
As primeiras pesquisas sobre o plantio direto, conhecido internacionalmente como no-tillage datam de 1940, na Estação Experimental de Rothamsted, Inglaterra (Figura 1). Pioneiros como Herbert Bartz, Nono Pereira e Frank Dijkstra foram fundamentais para introduzir e expandir o SPD.
No Brasil, a introdução do SPD ocorreu no início da década de 1970, impulsionada por agricultores no Paraná, com o objetivo inicial de reduzir problemas de escoamento e erosão.
Esse método foi adotado como resposta à degradação intensa das áreas de produção de grãos, que sofria perdas críticas de solo devido ao preparo intensivo.
A prática se mostrou uma alternativa para manter a qualidade do solo, incluindo ações complementares que auxiliam na manutenção de áreas produtivas de forma contínua.
Durante o período, a área destinada ao SPD passou de 17,9 para 33,0 milhões de hectares, e a sua participação relativa em relação à área total de lavouras variou de 51,2% para 61,0%.
A difusão do SPD contribuiu para a adaptação da soja em regiões tropicais, ampliando a presença dessa cultura em novas áreas.
O que é plantio direto?
O Sistema de Plantio Direto é “uma prática avançada de manejo conservacionista para atividades agropecuárias, orientada para a rentabilidade sustentável e o pleno aproveitamento dos potenciais genético, do solo e do ambiente”.
Esse sistema inclui o preparo mínimo do solo, cobertura permanente com vegetação e diversificação de culturas, seja por rotação ou consorciação. Esses princípios mantêm o solo produtivo e reduzem a necessidade de recursos externos, como fertilizantes e herbicidas.
A implementação do SPD traz benefícios à qualidade do solo, da água e do ar, e proporciona uma base mais sólida para a estabilidade econômica no setor agrícola.
Diferente da semeadura direta, que muitas vezes envolve sequências simples de cultivos e espécies voltadas para a formação de cobertura, o SPD adota um conjunto de práticas agronômicas integradas, permitindo o plantio contínuo sem preparo prévio do solo, safra após safra.
A técnica inclui o preparo mínimo do solo apenas na linha de semeadura ou plantio, cobertura permanente com vegetação e a diversificação de espécies, seja por rotação ou consorciação, com intervalo reduzido entre colheita e nova semeadura.
A aplicação do SPD em sistemas de produção agrícola resulta em menor demanda por infraestrutura e mão de obra, reduz o consumo de combustíveis fósseis, diminui a erosão, e permite o uso mais eficiente de corretivos e fertilizantes.
Além disso, o SPD facilita o manejo integrado de pragas, doenças e plantas invasoras, consolidando-se como uma abordagem moderna e sustentável para a exploração agrícola.
Princípios do sistema de plantio direto
O primeiro princípio do Sistema de Plantio Direto é o revolvimento mínimo do solo, limitado apenas à sulcação para semeadura e aplicação de fertilizantes.
Essa prática preserva a estrutura natural do solo e mantém os resíduos vegetais da colheita anterior na superfície, criando uma barreira que protege contra a erosão.
Além disso, esses resíduos vegetais servem como uma fonte de nutrientes, promovendo a reciclagem natural e ajudando a manter o solo produtivo por mais tempo.
Outro princípio relevante é a rotação de culturas, que envolve o cultivo planejado de diferentes espécies em uma sequência estratégica.
Essa alternância de plantas interrompe os ciclos de pragas, doenças e plantas invasoras, favorecendo o equilíbrio do ambiente agrícola.
Nos casos em que se utilizam culturas economicamente valiosas, a rotação também contribui para uma renda mais constante e reduz o desgaste do solo, evitando os impactos de um sistema de monocultivo prolongado.
O uso de culturas de cobertura é o terceiro princípio que fortalece o SPD, garantindo uma proteção verde (ou morta, como palha) no solo ao longo do ano.
Essa cobertura contínua aumenta a biodiversidade e mantém o equilíbrio químico e biológico, com reflexos diretos na fertilidade e na proteção contra pragas.
Além disso, o uso dessas plantas de cobertura incrementa a matéria orgânica do solo, contribuindo para um sistema produtivo mais sustentável.
Benefícios do Plantio Direto
O Sistema de Plantio Direto (SPD) integra processos tecnológicos fundamentais para práticas de Agricultura Conservacionista, sendo voltado ao manejo de sistemas agrícolas que visam à sustentabilidade e produtividade.
O SPD também promove a cobertura contínua do solo com restos vegetais ou plantas vivas, ampliando a proteção do solo ao longo do ano.
Integração de novos manejos
Além disso, incentiva a diversificação de cultivos, por meio de rotação, sucessão ou consorciação de espécies, e a adição de palhada em quantidades adequadas para atender às demandas biológicas do solo.
Práticas como o plantio direto após a colheita, o controle do tráfego de máquinas e o uso preciso de insumos são fundamentais para a eficiência desse sistema.
Redução da erosão e a conservação
O SPD traz vantagens importantes para o manejo sustentável, como a redução da erosão e a conservação dos recursos hídricos.
Ele promove economias de combustível, tempo e mão de obra, além de aumentar as chances de semeadura no período adequado, o que é especialmente valioso em épocas de estiagem, pela maior retenção de umidade no solo.
Os efeitos positivos do SPD se refletem na melhoria da qualidade do solo, com o incremento de matéria orgânica e carbono, a elevação da fertilidade e a intensificação da reciclagem de nutrientes.
Favorece a germinação e estabelecimento do estande
O SPD também contribui para uma germinação mais uniforme, melhora a resposta das culturas às precipitações e favorece a eficiência de fertilizantes e corretivos, com uma menor variação de temperatura do solo, garantindo condições mais estáveis.
Diversidade do solo e lucro para o produtor
Esse sistema aumenta a estrutura física e a atividade biológica do solo, reduzindo sua compactação e promovendo maior infiltração de água, além de possibilitar a reposição de aquíferos.
Também gera um impacto positivo na economia rural, ao reduzir custos de produção e permitir a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), aplicável em propriedades de todos os tamanhos.
Cases de sucesso de plantio direto no Brasil
A adoção do Sistema de Plantio Direto (SPD) no Brasil trouxe inúmeros benefícios econômicos e ambientais, transformando o cenário agrícola do país.
Produtores e pesquisadores observaram melhorias significativas na conservação do solo, aumento da produtividade e redução de custos operacionais. Essas vantagens impulsionaram o crescimento do SPD, levando ao desenvolvimento de técnicas inovadoras que garantem a sustentabilidade a longo prazo.
Abaixo, destacamos alguns casos de sucesso que mostram como o plantio direto na palha está contribuindo para a excelência agrícola em diversas regiões e culturas.
1. Expansão de áreas agrícolas no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (MATOPIBA)
O Plantio Direto tem se consolidado como uma prática de destaque na região de MATOPIBA, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Esse sistema permitiu a expansão da cultura da soja nessas novas áreas tropicais, substituindo o preparo convencional e permitindo a ocupação sustentável de solos antes usados para pastagens.
O solo local, beneficiado pela técnica de Plantio Direto, alcança melhor retenção de umidade e proteção contra erosão, fatores necessários para a adaptação das lavouras ao clima dessa fronteira agrícola.
Essa expansão bem-sucedida reafirma a eficiência do Plantio Direto em regiões de elevada diversidade ambiental.
2. Comprovação do aumento de produtividade com Embrapa Soja
Pesquisas da Embrapa Soja evidenciam que o Plantio Direto pode aumentar a produtividade em até 30% em comparação ao cultivo convencional.
A técnica ajuda a conservar o solo e a reduzir perdas de água por evaporação, especialmente importante nos trópicos, onde a cobertura vegetal contribui para reter umidade e mitigar os efeitos climáticos adversos.
Esse sistema reforça a viabilidade técnica do Plantio Direto, mostrando sua capacidade de garantir um desenvolvimento mais eficiente e menos suscetível a oscilações climáticas.
3. Resultados de Alta Produtividade em Mauá da Serra
Em Mauá da Serra, o produtor Ademar Uemura implementou o Plantio Direto em sua propriedade, o que trouxe mudanças marcantes para a produtividade e a qualidade do solo.
Antes da adoção da técnica, problemas como erosão e perda de umidade comprometiam o desenvolvimento das culturas.
Com o Plantio Direto, houve uma melhoria notável na retenção de água e na proteção do solo contra processos erosivos, permitindo melhores safras.
Atualmente, a produção de soja na área de Uemura alcança 3.600 kg/ha, superando a média nacional em 400 kg.
Além disso, as safras de milho e trigo também obtiveram resultados expressivos, consolidando a prática como um fator de sucesso produtivo na região.
Como o SPD ajuda no estoque de carbono?
Os solos atuam como grandes reservatórios de carbono (C), acumulando de duas a três vezes mais carbono do que a vegetação ou a atmosfera.
Esse carbono está presente na matéria orgânica, componente essencial para manter a fertilidade e a qualidade do solo.
Sistemas produtivos e práticas de manejo que promovem maior produtividade das culturas também aumentam o aporte de carbono ao solo, através dos restos vegetais e raízes, dos quais parte se estabiliza na matéria orgânica.
Esse processo, em que o carbono é capturado da atmosfera pelas plantas e, posteriormente, incorporado e estabilizado no solo, é conhecido como “sequestro de carbono”.
Desafios do plantio direto
No sistema de plantio direto, há mais aspectos a serem monitorados e manejados em comparação ao sistema convencional, como o não revolvimento do solo, a cobertura com palhada e a rotação de culturas.
Os principais desafios incluem:
- A. Controle de plantas daninhas: no início, pode ser necessário um investimento maior em herbicidas para controlar certas plantas invasoras, pois a presença de palhada pode favorecer a germinação de algumas espécies;
- B. Compactação do solo: se o planejamento de drenagem ou descompactação do solo não for bem estruturado antes da implantação, pode surgir a necessidade de revolvimento ou nivelamento;
- C. Germinação de sementes: em períodos de semeadura muito úmidos, a combinação com palhada no solo pode dificultar a germinação adequada das sementes;
- D. Substituição de maquinário: implementos comuns, como arados e grades, tornam-se desnecessários, exigindo ajustes na estrutura de equipamentos da propriedade.
A implantação e a manutenção do plantio direto antes, durante e após a safra demandam maior conhecimento técnico e um planejamento agrícola mais detalhado por parte do produtor.
Conclusão
O plantio direto promove a sustentabilidade no sistema de produção de grãos no Brasil, abrangendo culturas como soja, milho, cana, café e algodão.
Apesar dos desafios iniciais, como o controle de plantas invasoras, compactação do solo e necessidade de adaptação em maquinário, essa prática contribui para a conservação do solo e maior retenção de umidade.
Com planejamento técnico e ajuste contínuo de manejo, o plantio direto se consolida como prática indispensável para uma produção agrícola equilibrada, permitindo ao Brasil ampliar sua capacidade de forma ambientalmente adequada.
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DENARDIN, J. E.; KOCHHANN, R.A. Agricultura sustentável: sistema plantio direto, uma bandeira consolidada. Jornal do CREA RS, v. 64, p. 8, 2001.
FANCELLI, Antônio Luiz e FAVARIN, José Laércio. Realidade e perspectivas para o sistema de plantio direto no estado de sao paulo. 1989, Anais.. Piracicaba: Fealq/Esalq-Usp, 1989. . Acesso em: 29 out. 2024.
FANCELLI, Antônio Luiz e FAVARIN, José Laércio. Desempenho da cultura do milho em plantio direto e convencional. 1989, Anais.. Piracicaba: Fealq/Esalq-Usp, 1989. . Acesso em: 29 out. 2024.
Fuentes-Llanillo, R., Telles, T. S., Soares Junior, D., Melo, T. R., Friedrich, T., & Kassam, A. (2021). Expansion of no-tillage practice in conservation agriculture in Brazil. Soil and Tillage Research, 208, 104877. https://doi.org/10.1016/j.still.2020.104877.
Sobre o autor:
Alasse Oliveira da Silva
Doutorando em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA) e Técnico em agronegócio
- Mestre e especialista em Produção Vegetal (ESALQ/USP)
SILVA, A.O. Sistema de Plantio Direto: da expansão à sustentabilidade no agronegócio brasileiro. Blog Agroadvance. 2024. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-sistema-de-plantio-direto-spd/. Acesso: xx Xxx 20XX.