A saúde do solo é a base de uma agricultura produtiva e sustentável. Com o aumento da preocupação com a conservação dos recursos naturais e a busca por sistemas agrícolas mais resilientes, as plantas de cobertura têm se destacado como uma ferramenta no manejo dos solos tropicais.
Essas culturas, quando utilizadas de forma estratégica promovem melhorias na estrutura do solo, aumentam a disponibilidade de nutrientes e auxiliam no controle de pragas e doenças, reduzindo em 15% a prevalência de patógenos fúngicos no solo (Bell et al., 2023).
No Brasil, país de solos e climas diversos, a escolha adequada de plantas de cobertura pode impactar diretamente na eficiência dos sistemas produtivos. Nesse sentido, utilização de espécies como braquiária, crotalária e milheto em sistemas de rotação de culturas demonstra resultados significativos na recuperação de áreas degradadas e no aumento da produtividade agrícola (Garba et al., 2024).
Mas como escolher a espécie certa para cada situação? Quais os critérios técnicos que devem ser considerados?
O manejo dessas culturas exige planejamento, desde a época de plantio até a dessecação. Afinal, cada planta de cobertura possui características próprias que podem potencializar ou limitar os resultados esperados no sistema de produção.
Neste artigo, vamos explorar as principais plantas de cobertura utilizadas no Brasil, suas características e aplicações práticas, oferecendo um guia para técnicos, produtores e interessados no tema.
Fique conosco e descubra como essas culturas podem transformar a forma como você cuida do solo e da sua lavoura.
O que são plantas de cobertura de solo?
Plantas de cobertura de solo são culturas plantas com o objetivo principal de proteger e melhorar as condições do solo.
Diferentemente das culturas comerciais, que visam a produção de grãos, fibras ou frutos, as plantas de cobertura têm funções agronômicas específicas, como prevenir a erosão, melhorar a fertilidade e a estrutura do solo, e contribuir para o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas.
São inseridas na lavoura durante os períodos de entressafra, quando o solo ficaria descoberto e mais suscetível à degradação.
Em sistemas de sucessão de culturas, as plantas de cobertura atuam para garantir a conservação do solo e a sustentabilidade dos sistemas produtivos.
As espécies escolhidas variam de acordo com as características do clima, solo e manejo. Entre as mais comuns estão leguminosas, como a crotalária, que fixa nitrogênio, e gramíneas, como o milheto, que ajuda na proteção contra a erosão.
Benefícios das plantas de cobertura para o solo e produtividade
Você já deve saber que o uso de plantas de cobertura é uma forma de manejo comprovada para promover melhorias no solo e aumentar a eficiência dos sistemas agrícolas.
Porém, esses benefícios vão além da proteção física e químicos. A plantas de cobertura também atuam na microbiologia do solo, deixa o ambiente mais vivo e propicio para o desenvolvimento de culturas agrícolas. Nesse tópico, destacamos para você sete pontos sobre os benefícios das plantas de cobertura:
1. Proteção do solo contra a erosão
Talvez esse seja o principal ponto quando se fala em plantas de cobertura, pois elas formam uma camada protetora na superfície do solo, reduzindo o impacto direto das gotas de chuva e o que previne o escoamento superficial, o que reduz a perda de sedimentos e nutrientes.
2. Melhoria da estrutura do solo
O sistema radicular das plantas de cobertura auxilia na descompactação das camadas superficiais e subsuperficiais do solo. Estudos de Echer et al. (2023) demonstraram que a braquiária, pode reduzir a compactação em solos arenosos, o que promove maior porosidade e facilita o crescimento radicular.
Além disso, a formação de bioporos aumenta a infiltração e retenção de água, melhora a aeração e proporciona condições ideais para o crescimento das culturas subsequentes.
3. Aumento da Matéria Orgânica (MO)
As plantas de cobertura contribuem para o aumento da matéria orgânica no solo através da decomposição de sua biomassa (OUÉDRAOGO et al., 2024).
Isso favorece a ciclagem de nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, além de melhorar a capacidade do solo de armazenar carbono, fundamental para o sequestro de gases de efeito estufa.
4. Controle de plantas daninhas
As plantas cobertura competem por luz, água e nutrientes, dificultando o crescimento de plantas invasoras. Além disso, algumas espécies possuem efeito alelopático, liberando compostos químicos que inibem a germinação de sementes de plantas daninhas.
5. Ciclagem de nutrientes
As raízes das plantas de cobertura, como braquiária, exploram camadas mais profundas do solo, trazendo nutrientes, como cálcio e magnésio, para a superfície. Isso aumenta a disponibilidade de nutrientes essenciais para as culturas principais, reduzindo a necessidade de fertilizantes.
Neste sentido, estudos de Li et al. (2020), mostram que os resíduos de leguminosas, como mucuna e feijão-guandu, apresentam taxas de mineralização de nitrogênio de até 33%, em comparação com 20% em não-leguminosas como milho e trigo.
6. Fixação biológica de nitrogênio
Plantas com a crotalária e o amendoim forrageiro, associam-se a bactérias fixadoras de nitrogênio, convertendo o nitrogênio atmosférico em formas utilizáveis pelas plantas.
Esse processo diminui os custos com fertilizantes nitrogenados e melhora a fertilidade do solo.
7. Redução de pragas e doenças
Conforme indica o estudo de Bell et al., (2023), as plantas de cobertura ajudam a quebrar ciclos de pragas e patógenos ao agir como culturas não hospedeiras. Além disso, algumas espécies, como o nabo forrageiro, são usadas no controle de nematoides, protegendo as culturas comerciais.
Rotação de Culturas e Plantas de Cobertura: Uma Estratégia Integrada
A integração de plantas de cobertura em sistemas de rotação de culturas potencializa os benefícios para o solo e aumenta a produtividade das culturas principais.
Para entender melhor como a rotação de culturas pode impactar positivamente o desenvolvimento radicular e a produtividade, recomendamos o vídeo abaixo. Ele aborda a relação entre diversificação de culturas e benefícios estruturais no solo:
Neste vídeo, é explicado como práticas como o uso de braquiária e mix de culturas favorecem o aprofundamento radicular, impactando diretamente a produtividade. Além disso, a diversificação das culturas é destacada como fundamental para reduzir estresses físicos, químicos e biológicos no solo.
Como escolher a cultura de cobertura mais adequada?
Como falamos, a escolha da cultura de cobertura exige uma análise de diversos fatores, como clima, solo, objetivo agronômico, sistema de produção e custos envolvidos. Na tabela 1 estão alguns dos principais critérios para você tomar essa decisão.
Tabela 1. Principais critérios para escolha da planta de cobertura
Critério | Descrição |
Condições climáticas | Espécies tolerantes ao calor incluem milheto, braquiária e crotalária, enquanto aveia-preta e nabo forrageiro adaptam-se melhor ao frio. |
Objetivos agronômicos | O objetivo principal define a escolha: controle de nematoides (crotalária, nabo forrageiro), fixação de nitrogênio (leguminosas), produção de biomassa (milheto, braquiária) e melhoria do solo (nabo, braquiária). |
Tipo de solo | Características do solo, como textura e fertilidade, devem ser consideradas: solos arenosos requerem espécies com raízes profundas (milheto, braquiária), enquanto solos argilosos se beneficiam de leguminosas para aeração e fertilidade. |
Sistema de Produção | O sistema de cultivo determina a escolha: rotação com espécies distintas (ex.: crotalária na soja), plantio direto (braquiária, aveia-preta) ou consórcios com gramíneas e leguminosas para múltiplos benefícios. |
Custo e disponibilidade de sementes | Leguminosas como crotalária e amendoim forrageiro têm custo elevado, mas oferecem benefícios econômicos. |
Janela de plantio | O tempo disponível entre safras é determinante: espécies de ciclo curto como nabo forrageiro e crotalária, são adequadas para janelas menores, enquanto braquiária e milheto são melhores para períodos extensos. |
7 Principais plantas de cobertura do solo
Na tabela 2 estão as 7 principais espécies de plantas de cobertura que podem ser utilizadas no Brasil, com suas respectivas características, vantagens e aplicações práticas.
Tabela 2. Principais plantas de cobertura a serem adotadas no Brasil
Espécie | Características | Vantagens | Aplicações Práticas |
Crotalária | Leguminosa de ciclo curto a médio. Fixação de nitrogênio. Produção de 5 a 7 t/ha de massa seca. | Controle de nematoides. Melhoria da fertilidade do solo. Rápido crescimento. | Rotação com soja e milho. Recuperação de áreas degradadas. |
Milheto | Gramínea de rápido crescimento e alta tolerância à seca. Produção de até 12 t/ha de massa seca. Raízes profundas. | Controle da erosão. Alta produção de biomassa. Reciclagem de potássio. | Solos arenosos e regiões de baixa disponibilidade hídrica. Consórcios com leguminosas. |
Aveia-preta | Gramínea adaptada a climas frios e úmidos. Produção de 5 a 8 t/ha de massa seca. Alta formação de palhada. | Controle de plantas daninhas (Conyza spp.). Melhoria da estrutura do solo. Persistência da palhada. | Cobertura de inverno no Sul do Brasil. Controle de erosão em áreas acidentadas. |
Sorgo | Gramínea anual de ciclo curto. Produção de 8 a 10 t/ha de massa seca. Alta resistência à seca e solos de baixa fertilidade. | Efeito alelopático. Produção de biomassa duradoura. Reciclagem de nutrientes. | Rotação com milho e soja. Alternativa para regiões com limitação hídrica. |
Braquiária | Gramínea perene com raízes profundas. Produção de 10 a 15 t/ha de massa seca. Alta tolerância ao pisoteio. | Descompactação do solo. Controle de nematoides. Formação de palhada eficiente. | Sistemas ILPF. Recuperação de áreas degradadas. |
Nabo Forrageiro | Brassicácea de ciclo curto (50-70 dias). Produção de 3 a 5 t/ha de massa seca. Raízes pivotantes profundas. | Descompactação do solo. Controle de nematoides. Alta ciclagem de nutrientes. | Solos compactados. Rotação com culturas de grãos. |
Amendoim Forrageiro | Leguminosa perene com crescimento prostrado. Produção de 3 a 4 t/ha de massa seca. Alta resistência ao pisoteio e adaptação a áreas sombreadas. | Fixação de nitrogênio. Redução de erosão. Aumento da biodiversidade. | Sistemas agroflorestais. Pastagens e recuperação de áreas degradadas. |
Como fazer o manejo correto das plantas de cobertura?
Como você já sabe, o manejo adequado é necessário para o sucesso de um sistema agrícola. Para isso, você deve levar em consideração a:
- época de plantio,
- dessecação,
- densidade de semeadura
- escolha do método de implantação.
Veja os principais pontos para um manejo eficiente:
Época de plantio
A época de plantio deve ser planejada considerando as condições climáticas da região, o ciclo da planta de cobertura e a rotação de culturas.
- Regiões tropicais: Cultivo predominantemente na primavera-verão, quando há maior disponibilidade hídrica.
- Regiões subtropicais: Plantio no outono-inverno para aproveitar temperaturas amenas e melhor retenção de umidade.
- Janela de plantio: Determinar o período entre a colheita da cultura principal e o estabelecimento da próxima é necessário. Espécies de ciclo curto, como nabo forrageiro, são indicadas para janelas reduzidas.
Densidade de semeadura
Nesse caso, a quantidade de sementes por hectare varia conforme a espécie e o método de plantio. Para isso, você deve estar atento as recomendações de cada cultura (Tabela 3):
Tabela 3. Densidade de semeadura das principais plantas de cobertura
Espécie | Taxa de Semeadura (em linha) | Taxa de Semeadura (a lanço) |
Crotalária | 10 a 20 kg/ha | 15 a 25 kg/ha |
Milheto | 10 a 15 kg/ha | 15 a 20 kg/ha |
Aveia-preta | 60 a 80 kg/ha | 80 a 100 kg/ha |
Braquiária | 5 a 7 kg/ha | Não aplicável |
Nabo Forrageiro | 10 a 15 kg/ha | Não aplicável |
Amendoim Forrageiro | 6 a 10 kg/ha | 15 a 20 kg/ha |
Métodos de implantação
- Semeadura em linha: Proporciona melhor distribuição das sementes e maior contato com o solo, favorecendo a germinação. Requer semeadoras ajustadas às características das sementes.
- Semeadura a lanço: Método mais rápido e econômico, ideal para grandes áreas. Exige atenção à uniformidade da distribuição.
- Consórcio com culturas comerciais: Plantio simultâneo ou intercalado, permitindo integração com culturas principais, como milho ou soja.
Dessecação
A dessecação é um manejo crucial para evitar a competição das plantas de cobertura com a cultura principal.
- Momento ideal: Realizar a dessecação 25 a 30 dias antes do plantio da próxima cultura, garantindo o tempo necessário para a decomposição da palhada.
- Herbicidas: Utilizar produtos como glifosato em combinação com 2,4-D para maior eficácia, especialmente em leguminosas. Respeitar o ciclo das plantas e evitar a produção de sementes viáveis.
- Alternativas mecânicas: Rolo-faca e roçagem podem ser utilizados como métodos de manejo em sistemas mais sustentáveis.
Manejo da palhada
- Distribuição uniforme: A palhada deve ser espalhada de forma homogênea para aumentar os benefícios, como retenção de umidade e controle de plantas daninhas.
- Quantidade ideal: 5 a 8 toneladas por hectare de biomassa seca são suficientes para um plantio direto eficiente.
Planejamento de rotação e consórcios
Combinar espécies com diferentes ciclos e características pode aumentar os benefícios no sistema:
- Mix de leguminosas e gramíneas: Combinações como crotalária com milheto promovem fixação de nitrogênio e produção de biomassa.
- Intercalar culturas: Plantar espécies como braquiária entre linhas de milho ou cana-de-açúcar para maior proteção do solo.
Principais desafios no uso de plantas de cobertura
Você sabia que por mais que as plantas de cobertura sejam aliadas poderosas para a saúde do solo e a sustentabilidade agrícola, sua implementação pode apresentar desafios?
Esses obstáculos, quando bem compreendidos, podem ser superados com planejamento e manejo técnico adequado.
Com dito anteriormente, as plantas de cobertura enfrentam desafios que exigem planejamento técnico para melhorar seus benefícios.
Os custos iniciais são relevantes, com sementes de espécies como crotalária e amendoim forrageiro apresentando valores elevados, além da necessidade de preparo do solo e equipamentos especializados. A integração ao sistema produtivo requer atenção à compatibilidade com herbicidas e planejamento de rotação de culturas para evitar pragas e doenças.
Além disso, fatores climáticos também limitam o uso, com déficit hídrico e temperaturas extremas impactando o estabelecimento, especialmente em solos arenosos. O manejo inadequado, como distribuição irregular de sementes e dessecação tardia, pode comprometer a eficácia, assim como a baixa produção de biomassa em solos pobres e a decomposição lenta de algumas espécies.
A falta de conhecimento técnico e a resistência à adoção são barreiras significativas, além do risco de algumas espécies hospedarem pragas, como cigarrinhas. Por fim, a logística, incluindo armazenamento adequado de sementes e custos de transporte, é um desafio para regiões remotas.
Conclusão
Neste artigo, você conheceu a importância das plantas de cobertura como aliadas na saúde do solo e na eficiência dos sistemas agrícolas. Aprendeu que sua adoção exige planejamento, desde a escolha da espécie até o manejo adequado, considerando fatores como clima, sistema produtivo e custos iniciais.
Fique atento aos desafios apresentados, como compatibilidade com herbicidas, manejo da biomassa e monitoramento de pragas.
Com capacitação técnica e estratégias bem planejadas, é possível superar essas barreiras e integrar as plantas de cobertura ao seu sistema, maximizando os benefícios agronômicos e promovendo uma agricultura mais sustentável e produtiva.
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Sobre o autor:
Jhonatah Albuquerque Gomes
Doutorando em Fitotecnia (ESALQ/USP)
- Engenheiro agrônomo (UFRA)
- Mestre em Fitotecnia (ESALQ/USP)
- MBA em Data Science e Analytics (USP)
GOMES, J.A. 7 Principais Plantas de Cobertura do Solo: características e aplicações. Blog Agroadvance. 2025. Disponível em: https://agroadvance.com.br/blog-plantas-de-cobertura/. Acesso em: xx Xxx de 20xx.