A degradação do solo tem sido amplamente estudada nas últimas décadas. Um dos fatores está relacionado ao aumento da população mundial associado a crescente demanda por alimentos, que tem ocasionado maior pressão aos recursos naturais.
Para formar poucos centímetros de solo, são necessários séculos. Mas, para ocorrer a degradação do solo, são necessários poucos dias ou meses.
Segundo a FAO, a formação de apenas 2-3 cm de solo pode levar até mil anos. Além disso, as camadas superiores do solo podem fornecer elementos minerais considerados essenciais para as plantas.
O solo é um recurso natural limitado e multifuncional. É um sistema dinâmico que presta serviços ecossistêmicos essenciais para os seres vivos e para o funcionamento dos ecossistemas.
Práticas sustentáveis são fundamentais na preservação e/ou recuperação deste recurso tão valioso e necessário para nossa qualidade de vida e segurança alimentar global.
“Neste artigo, vamos entender o que é degradação do solo, e quais as principais causas e as consequências da erosão. Além disso, vamos abordar algumas estratégias de recuperação de solo degradado.
Funções do solo
Com o objetivo de conscientizar a sociedade para a importância do solo como parte fundamental do meio ambiente, assim como os perigos associados à sua degradação, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou 2015 como o Ano Internacional dos Solos.
A ONU também definiu a década de 2021-2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas, a fim de estimular as lideranças políticas, do setor privado e da sociedade civil, a reforçarem compromissos com a recuperação de áreas degradadas.
Mediante a desafiadora realidade do aumento populacional, ocorrem desafios paralelos: aumentar a produção de alimentos; diminuir os impactos ambientais pelo manejo inadequado do solo, recuperar parte dos recursos naturais degradados; e preservar os sistemas naturais remanescentes.
Conforme demonstrado na figura 1, o solo é um corpo vivo, que provê serviços ambientais fundamentais para a manutenção da vida na Terra.
Apesar da importância deste recurso na prestação dos serviços ecossistêmicos, cerca de 33% do solo está moderado ou altamente degradado (FAO, 2021). Além disso, 20 a 37 bilhões de toneladas da camada superficial do solo são perdidos anualmente por erosão.
Esta estatística é alarmante, pois é sabido que o solo é um recurso limitado e não renovável, fazendo com que sua preservação se torne ainda mais emergente.
Como consequência, tem-se redução na capacidade de armazenamento de água e nutrientes; estoque de carbono; ciclagem de nutrientes; dentre outros.
Mas afinal de contas, o que é degradação do solo e quais as principais causas de sua degradação?
Degradação do solo: quais as principais causas?
O processo de degradação do solo pode acontecer de forma natural ou antrópica, e consiste em sua destruição gradual ou completa. Neste processo, ocorre a modificação de seus atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
Avaliar o solo por meio de indicadores de qualidade do solo possibilita medir o potencial produtivo do solo, estimar produtividade, monitorar alterações ao longo do tempo e auxiliar órgãos governamentais na formulação de políticas agrícolas e tomada de decisões com embasamento científico.
Um solo degradado tem a sua capacidade produtiva diminuída, devido a alteração em sua estrutura e agregação, menor estabilidade dos agregados e matéria orgânica, além da perda de nutrientes. Desta forma, as funções desempenhadas por ele, são comprometidas.
A degradação do solo pode se manifestar de diferentes formas, como: compactação, erosão, salinização, lixiviação, acidificação, contaminação e poluição. Vamos aprender quais são os 4 fatores que mais causam a degradação do solo na agricultura?
Compactação do solo
O tráfego de máquinas nas lavouras é a principal causa da compactação do solo. A modernização da agricultura proporcionou aumento do peso das máquinas e modernização dos equipamentos, além de intensificar o uso do solo.
Tais práticas resultam em alterações significativas na estrutura do solo, sobretudo quando o manejo é realizado de forma inadequada, com número excessivo de tráfego de máquinas e passadas fora do ponto de friabilidade do solo.
Na compactação do solo, ocorre rearranjo das partículas do solo, como diminuição da macroporosidade e aumento da densidade do solo. Desta forma, a raiz não consegue se desenvolver ao longo do perfil do solo (Figura 2), limitando o acesso da planta a água e nutrientes.
Com alteração dos atributos físicos do solo (redução da macroporosidade e maior densidade), o solo diminui a capacidade de armazenar e reter água, culminando em escoamento superficial da água.
Embora haja divergências na literatura a respeito do nível crítico de resistência à penetração, 2,0 MPa é considerado, pela maioria dos estudiosos, como valor restritivo ao desenvolvimento das plantas (TORMENA et al., 1998; SILVA et al., 2002).
Muitos fatores devem ser considerados ao avaliar a susceptibilidade de um solo à compactação, tais como: condições de umidade do solo durante a operação de campo, classe de solo, sistemas de rotação de culturas utilizados e tempo de uso dos diferentes sistemas de manejo.
Portanto, a mecanização na agricultura deve ser realizada mediante técnicas que possibilitam a mínima alteração da estrutura do solo, visando a sustentabilidade e menor degradação.
A compactação do solo também pode ser ocasionada pelo pisoteio de animais em pastagens, levando a compactação e degradação da estrutura do solo, dependendo da intensidade do pisoteio, umidade do solo, cobertura vegetal, inclinação da terra e tipo de uso da terra.
A compactação do solo por animais pode deteriorar as camadas iniciais do solo (5 a 20 cm) e afetar o volume de macroporos, a densidade, condutividade hidráulica e torna-lo altamente susceptível a erosão.
No Brasil, 109 milhões de hectares de pastagens encontram-se em algum nível de degradação. A recuperação destas áreas exigem investimento aproximado de R$ 600 bilhões.
Na COP 26, realizada em 2021, o Brasil assumiu o compromisso de recuperar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030.
Erosão
A erosão do solo é um processo natural, e ocorre mesmo em ecossistemas em equilíbrio, sendo resultado da ação do intemperismo. No entanto, os processos erosivos podem ser acelerados de acordo com a ação antrópica, a ponto de tornar visíveis os efeitos da erosão.
Devido à alta pressão sobre os recursos naturais, sobretudo ao solo, a erosão dos solos é considerada um problema mundial e está relacionado a uma série de problemas ambientais, sociais e econômicos (DECHEN et al., 2015).
A erosão é a forma mais prejudicial de degradação, e os danos gerados por ela podem ser locais e fora do local degradado. Como danos locais, tem-se: danos às plantações, perda da matéria orgânica, nutrientes e menor capacidade de armazenamento de água no solo.
Fora do local, os principais danos são: sedimentos gerando assoreamento de corpos hídricos, poluição das fontes de água gerada por elementos associados às partículas (por exemplo, fósforo oriundo de adubação) e danos à infraestrutura causados pelas inundações.
A erosão hídrica é um conjunto de três processos: desagregação do solo, transporte e deposição das partículas nas partes mais baixas do relevo (Figura 3), sendo condicionada pelos fatores: chuva, solo, topografia, cobertura e manejo e práticas conservacionistas.
A perda da camada superficial do solo é a principal forma de expressão desta erosão (Figura 4).
Ao longo do tempo, a preocupação com a perda de solo tem aumentado, não só pelos funções que o solo desempenha, mas pelo custo envolvido na recuperação deste recurso.
De acordo com a FAO (2017), cerca de 75 bilhões de toneladas de solo são perdidos por ano (em terras cultivadas), devido à erosão hídrica, gerando prejuízo de US$ 400 bilhões, aproximadamente.
Recuperar áreas desmatadas e degradadas requer alto investimento. Foi estimado em US$ 120 bilhões para a recuperação dos 40 milhões de hectares degradados – o que representa cerca de R$ 600 bilhões.
Salinização
A salinização do solo pode ser conceituada como “processo que envolve a concentração de sais solúveis na solução, resultado da acumulação dos sais do tipo Na+, Ca2+, Mg2+ e K+ no solo e impacta diretamente no desenvolvimento das plantas.
Este processo pode ocorrer naturalmente ou ser intensificado pela ação antrópica. Na forma natural, é resultado dos fatores de formação do solo e processos pedogenéticos, conforme ocorre ao longo da costa brasileira e aluviões e várzeas do Nordeste.
No caso da ação antrópica, a salinização resulta das práticas de drenagem e irrigação de solos localizados em condições ambientais que propiciem o acúmulo de sais no solo (climas áridos e semiáridos, com baixa precipitação, alta evapotranspiração, drenagem do solo deficiente).
Outros fatores que favorecem a salinização, são: lençol freático próximo a superfície, associados ao manejo inadequado da irrigação e aplicação de fertilizantes e defensivos com alta concentração de sais.
De acordo com a FAO, a salinidade afeta, aproximadamente, 833.000 quilômetros quadrados de terras em todo o mundo (Figura 5). Este valor representa 9% da superfície da Terra.
Entre 20% e 50% dos solos irrigados se tornaram improdutivos devido à salinização, impactando na qualidade da água, na biodiversidade e aumentando a erosão. Com isso, a segurança alimentar e o cultivo de alimentos de pelo menos 1,5 bilhão de pessoas é colocado em risco.
A salinização pode prejudicar a vegetação nativa, refletindo diretamente no equilíbrio do ecossistema, sendo necessária a adoção de medidas que possa atuar na prevenção deste processo.
Algumas estratégias de recuperação de solos degradados serão abordadas mais adiante.
Acidificação do solo
A acidificação dos solos é causada, principalmente, pela produção de íons H+ e a lixiviação de cátions básicos pela percolação da água. Além da ocorrência natural da acidez do solo, algumas práticas agrícolas também acentuam o problema.
Os principais processos responsáveis pela geração de íons H+ são: intemperismo das rochas pela chuva, hidrólise do alumínio, decomposição da matéria orgânica do solo, lixiviação, nitrificação do amônio, oxidação de enxofre e absorção de cátions pelas plantas.
A atividade humana também pode contribuir para a acidificação do solo, devido a utilização excessiva de fertilizantes químicos ou da emissão de poluentes atmosféricos.
Portanto, a acidificação dos solos é um problema comum em diversas regiões do mundo, podendo causar sérios impactos, não só na agricultura, mas na indústria e no meio ambiente.
É necessário entender as causas da acidificação dos solos e adequar soluções efetivas para estes solos possam se tornar férteis e produtivos.
Estratégias para recuperação de solos degradados
Todas as iniciativas de restauração de áreas degradadas são baseadas em melhorar a qualidade do solo, para potencializar as funções prestadas por ele.
Portanto, as estratégias de recuperação envolvem práticas que favorecem a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo, que visem melhorar a infiltração e armazenamento da água no solo, acúmulo de matéria orgânica e que estimule a biodiversidade.
Veremos algumas práticas a seguir:
Reflorestamento
O reflorestamento é uma técnica utilizada para formar novas florestas em áreas que foram desmatadas, sendo realizado em locais que perderam a capacidade de regeneração natural da vegetação nativa.
A importância do reflorestamento é uma das pautas mais discutidas nas reuniões de alta cúpula, como o G20 e a ONU, ressaltando a importância dos países se se preocuparem com as florestas e incentivarem esta prática pelos benefícios proporcionados por elas.
A florestas desempenham funções relacionadas à restauração dos ecossistemas, pois além de atuarem na recuperação de áreas degradadas, atuam na purificação da água e do ar, e reduzem o impacto do aquecimento global por meio do sequestro de carbono.
Apesar de todos os benefícios que as árvores proporcionam, o Brasil perdeu cerca de 71 milhões de hectares entre 1985 e 2017, mesma época que a agricultura triplicou o crescimento e a pecuária cresceu 43%, segundo levantamento do projeto MapBiomas.
Tem crescido as iniciativas com foco no reflorestamento em larga escala e muitos países firmaram compromissos com metas ambiciosas e planos para recuperar florestas e paisagens. Um deles é o compromisso global do Bonn Challenge de restaurar 350 milhões de hectares de áreas e florestas degradadas até 2030.
O Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, além de implantar a agricultura de baixo carbono em outros 10 milhões de hectares, sendo metade em integração Lavoura, Pecuária e Floresta e metade em recuperação de pastagens.
Para o reflorestamento, deve ser realizada uma análise de situação da área, com histórico de uso anterior do solo. Deve-se considerar, na recuperação do solo, as características locais, clima, tipo de solo e disponibilidade de água, além de selecionar espécies adaptadas.
Após a implantação do reflorestamento, o profissional deve monitorar a área e realizar controle e proteção contra incêndios, pragas e doenças, manutenção para garantir que a área esteja de fato, mitigando a erosão.
Rotação de culturas
A rotação de culturas é definida como “a alternância ordenada de diferentes culturas, em determinado espaço de tempo (ciclo), na mesma área e na mesma estação do ano”.
Essa prática promove inúmeros benefícios ao solo, dentre eles, aumento na concentração de carbono no solo pela decomposição da palhada oriunda das plantas de cobertura.
Por envolver o plantio de diferentes espécies vegetais, evita o esgotamento de nutrientes no solo e contribui para o ganho de fertilidade do solo. Por promover a aeração do solo e ajudar no controle de pragas e doenças, é uma técnica eficiente na recuperação do solo.
Conforme mencionado, a compactação tem sido reconhecida como a principal causa de degradação da qualidade física do solo. Desta forma, a rotação de culturas pode contribuir para melhorar os atributos físicos relacionados à estrutura do solo, tais como:
Diminuição da densidade do solo e resistência à penetração; aumento da porosidade total do solo; melhoria na capacidade de infiltração de água; melhor aeração e drenagem da água no solo; e maior condutividade hidráulica.
A adoção do Sistema Plantio Direto, junto a rotação de culturas com leguminosas, contribuiu para o aumento do rendimento das culturas, pelo aumento de estoques de C e N no solo, melhorando a capacidade produtiva e protegendo/recuperando o solo contra a erosão.
Por fim, a rotação de cultura deve ser planejada por profissional e, deve-se considerar: a cultura, condições do solo, topografia, clima, mão de obra, nível tecnológico e econômico do produtor, visando sempre o aproveitamento, a conservação e a recuperação do solo.
Adubação verde com leguminosas
O adubo verde pode ser conceituado como: “espécie vegetal que é cultivada em diferentes épocas do ano, seja solteira ou em consórcio, que ocasione melhorias aos atributos do solo, da água e/ou do sistema envolvido”.
As espécies utilizadas como cobertura verde, devem apresentar algumas características, tais como:
- Rápido crescimento inicial e alta cobertura do solo;
- Elevada quantidade de massa verde e matéria seca;
- Alto teor de N;
- elevada ciclagem de nutrientes;
- Tolerância à solos de baixa fertilidade;
- Adaptação às condições de solo degradado etc.
Em relação às raízes das leguminosas, favorecem: a estrutura e agregação do solo; a porosidade e aeração do solo; a infiltração da água no solo; e a penetração das raízes das espécies arbóreas (CHERUBIM, 2022).
O Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. Neste cenário, muitas espécies de leguminosas são utilizadas como adubação verde, pela capacidade em formar cobertura vegetal densa e eficiente.
Na degradação do solo, a melhoria de seus atributos depende do tipo, nível de degradação e tempo necessário de recuperação. Desta forma, considera-se a associação da adubação verde com outras práticas de manejo (exemplo: plantio direto, adubação mineral e orgânica).
Vale ressaltar que cada região, propriedade e condição de solo vai exigir que diferentes espécies sejam utilizadas, ou até mesmo uma combinação de espécies.
Conclusão
A degradação do solo tem sido amplamente estudada, diante da importância do solo para a prestação de serviços ecossistêmicos. Reforça-se a necessidade de práticas sustentáveis na preservação e/ou recuperação deste recurso tão valioso.
A Década de restauração dos ecossistemas é um desafio e oportunidade para que projetos e iniciativas de restauração e reflorestamento que já estão em andamento possam acelerar e ganhar escala na recuperação de áreas degradadas.
Por apresentarem diferentes estágios e níveis de degradação, é necessário que as abordagens, tempo e recursos sejam específicos para a recuperação dos ecossistemas. Deve-se, portanto, pensar em um complexo de planos e ações que, integrados, possam proporcionar os resultados esperados.
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Referências
CHERUBIN, M. R. Guia prático de plantas de cobertura: aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo [Apresentação]. Guia prático de plantas de cobertura: aspectos fitotécnicos e impactos sobre a saúde do solo, p. 126: il, 2022.
DECHEN, S.C.F.; TELLES, T.S.; GUIMARAES, M.F.; MARIA, I.C. Perdas e custos associados à erosão hídrica em função de taxas de cobertura do solo. Bragantia, Campinas, v. 74, p. 224-233, 2015.
LOURENÇO, L.; NUNES, A. Catástrofes Mistas. Imprensa da Universidade de Coimbra/Coimbra University Press, v. 9, 2019.
FAO -FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. Global Soil Partnership Endorses Guidelines on Sustainable Soil Management, 2017. Disponível em: http://www.fao.org/global-soil-partnership/resources/highlights/detail/en/c/416516/
SILVA, V.R.; REICHERT, J.M.; REINERT, D.J. Variabilidade espacial da resistência do solo à penetração em plantio direto. Ciência Rural, v.34, n.2, p.399- 406, 2004.
TORMENA, C.A.; SILVA, A.P.; LIBARDI, P.L. Caracterização do intervalo hídrico ótimo de um Latossolo Roxo sob plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 22, p. 573-581, 1998.
Sobre a autora:
Nayana Alves Pereira
Analista de Produtos Educacionais B2B na Agroadvance
- Engenheira Agrônoma (UFPI/Teresina)
- Mestra em Solos e Nutrição de Plantas (UFPI/Bom Jesus)
- Doutora em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP)